sexta-feira, 21 de junho de 2013

O ISLAMISMO

  A construção de um Estado árabe ocorreu juntamente com a criação do islã ou islamismo, religião monoteísta fundada por Maomé (570-632). Os seguidores do islamismo são chamados de muçulmanos (do árabe muslim, que significa "entrega a Deus").
  Quando jovem, Maomé era um comerciante de Meca, como muitos outros árabes do seu tempo. Ele trabalhava em caravanas e, em suas viagens pela península, encontrava frequentemente pessoas que seguiam religiões monoteístas, como judeus e cristãos.
  Conhecendo bem sua comunidade e os costumes dos povos vizinhos, Maomé era um crítico das pessoas que só se preocupavam em acumular riquezas na Arábia daquela época.
Profeta Maomé recitando o Alcorão em Meca (gravura do século XV)
  Pela versão tradicional dos muçulmanos, um anjo (chamado Gabriel) apareceu a Maomé quando este, com idade de 40 anos, meditava nas proximidades de Meca. O anjo lhe teria dito que ele (Maomé) era um emissário de Alá (palavra árabe que significa "o Deus", ou seja, o único e verdadeiro Deus).
  Maomé iniciou, então, suas pregações religiosas. Ele dizia que as representações de divindades (os ídolos) existentes na Caaba deviam ser destruídas, porque Alá era o único Deus.
Gravura otomana retratando o momento da revelação pelo anjo Gabriel do Alcorão para o profeta Maomé
  Isso provocou a reação de sacerdotes, pois Maomé atacava as religiões representadas por eles, e comerciantes da cidade, porque esse ataque podia prejudicar seus negócios, já que as cerimônias politeístas atraíam muita gente a Meca, beneficiando o comércio.
  Por causa desse conflito, Maomé foi obrigado a deixar Meca em 622 e refugiar-se em Yatreb, que mais tarde passou a ser chamada de Medina, a "cidade do profeta". Esse episódio marca o início do calendário muçulmano e é conhecido como Hégira - palavra de origem árabe que significa fuga ou emigração.
Maomé nos braços da mãe, Amina, em miniatura turca
A FORMAÇÃO DA ARÁBIA ISLÂMICA
  Maomé, porém, não se rendeu. Ele e seus seguidores difundiram a nova religião em Medina, onde construíram a primeira mesquita de que se tem notícia. Também organizaram um exército composto de fiéis.
  Em 630, esse exército invadiu e conquistou Meca. Os ídolos da Caaba foram destruídos e ela foi transformada em um centro de orações, onde passou a ser proibido adorar os deuses antigos. Desde aquele momento até hoje, o único objeto sagrado mantido dentro do templo é a Pedra Preta, mas só Alá pode ser cultuado.
  A partir de então, o islamismo difundiu-se por toda a Arábia, e seus habitantes foram se unificando em torno da nova religião. Assim, por meio dessa identidade religiosa, criou-se uma nova organização política e social entre os árabes. Era o primeiro Estado muçulmano a ser formado.
Mesquita de Quba, a primeira mesquita construída por Maomé em sua chegada à Medina
FUNDAMENTOS DO ISLAMISMO
  A religião islâmica prega a submissão dos fiéis à vontade de Alá. Essa submissão é chamada de islã ou islão.
  Os fundamentos do islamismo encontram-se no Corão. Este apresenta Alá como criador do Universo, bom e justo, a quem as pessoas devem obedecer sem questionamentos. Mas elas também podem ignorar seus mandamentos e seguir o caminho do mal, induzidas por Satã (Iblis, o anjo caído).
  Segundo o Corão, a recompensa aos bons e o castigo aos maus virão no dia do Juízo Final, quando todos os mortos ressuscitarão e serão julgados pelo que fizeram em suas vidas. Os maus irão para o inferno e os bons para o paraíso, onde permanecerão por toda a eternidade.
Alcorão - livro sagrado do islamismo
  De acordo com os ensinamentos básicos do islamismo, todo fiel deve:
  • crer em Alá e em Maomé (o grande profeta);
  • fazer cinco orações diárias com o rosto voltado para Meca;
  • ser generoso com os pobres e fazer caridade;
  • ir em peregrinação à Meca pelo menos uma vez na vida;
  • cumprir o jejum religioso durante todos os dias de determinado mês do Ramadã. Esse jejum vai do nascer ao pôr do sol.
  O Corão também inclui normas jurídicas, morais e políticas que orientam a vida dos muçulmanos.  Por ele, os fiéis estão proibidos de comer carne de porco, consumir bebidas alcoólicas, praticar jogos de azar, entre outros. O roubo deve ser severamente punido.
Jabal al-Nour, em Meca - local onde Maomé teria recebido a primeira revelação de Deus.
  Com relação à escravidão, o Corão proibiu o muçulmano de escravizar outra pessoa da mesma religião. Assim, a partir do século VII, os escravos que se convertiam ao islamismo eram libertos. Isso criou uma rede de fraternidade entre os membros do islamismo.
  Mas a escravidão continuou a existir entre os árabes, pois estes passaram a escravizar não muçulmanos, como os negros da África ao sul do Saara. Além disso, os ex-escravos convertidos ao islamismo mantiveram-se em uma condição social inferior, subordinados aos seus antigos senhores.
A peregrinação (hajj) a Meca, é um dos cinco pilares do islamismo
SUNITAS E XIITAS
  Com a morte de Maomé, em 632, o Estado muçulmano passou a ser governado por califas. Isso provocou desacordos políticos e religiosos entre os muçulmanos, provocando uma divisão entre os islâmicos.
  Os principais grupos muçulmanos são os sunitas e os xiitas.
  • Sunitas - defendem que o chefe de Estado muçulmano (o califa) deve ser homem honrado e trabalhador e respeitar as leis. Além do Corão, aceitam como fonte de ensinamentos religiosos os atos e as palavras atribuídos a Maomé e seus companheiros. Esses atos e palavras foram transmitidos pela tradição (denominada Suna) e seu registro é chamado de hadic ou hadith.
  • Xiitas - defendem que o Estado muçulmano só pode ser chefiado por um descendente legítimo ou aparentado de Maomé. Acreditam que o Corão deve ser a única fonte sagrada da religião. Afirmam ainda que os chefes das comunidades  islâmicas (aiatolás) são inspirados diretamente por Alá, sendo que todos os fiéis devem obedecê-los.
  Atualmente, os xiitas vivem principalmente em países como o Irã, Iraque e o Iêmen. Nas outras regiões do mundo islâmico predominam os sunitas, que correspondem a aproximadamente  84% dos muçulmanos.
Nações que têm o islamismo como religião estatal:
  Islamismo (Sunita ou Xiita)
  Sunitas
  Xiitas
LUGARES SAGRADOS DOS MUÇULMANOS
  Além de Meca, que é o principal centro sagrado dos muçulmanos, outros lugares são considerados santos por eles, e que estão vinculados de alguma maneira a essa cidade.
  Um desses lugares é Jerusalém, que teria sido visitada pelo próprio Maomé graças a um milagre de Alá. De acordo com o islamismo, enquanto Maomé rezava na Caaba, ele teria sido transportado para Jerusalém pelo anjo Gabriel. Depois de pousarem num templo, teriam subido até o céu e encontrado os outros profetas: Adão, Jesus, Moisés e Abraão.
Miniatura persa que retrata a ascensão de Maomé ao céu
  Após a morte de Maomé, um califa quis marcar exatamente o lugar onde o profeta islâmico esteve em Jerusalém. Para isso, mandou construir o Domo ou Templo da Rocha, também conhecido como Mesquita de Omar.
  A crença no caráter sagrado do território de Jerusalém está presente também no judaísmo e no cristianismo. Essa semelhança entre essas três religiões, fez com que Jerusalém seja disputada por seus seguidores ao longo dos séculos, desde a Idade Média até os dias atuais.
Parte antiga de Jerusalém, com destaque para a Cúpula da Rocha e o Muro Ocidental
A EXPANSÃO ISLÂMICA
    Após o falecimento de Maomé, os árabes muçulmanos deram início a um processo de expansão que excedeu os limites da península Arábica. Sob a liderança dos califas, promoveram diversas guerras com outros povos, deixando de ser senhores apenas do território onde viviam.
  Entre os motivos que estimularam essa expansão, destacam-se:
  • o crescimento populacional;
  • a busca de terras férteis;
  • o interesse em ampliar o comércio;
  • a luta contra os que não seguiam o islamismo, a guerra santa (jihad) contra os "infiéis".
Al Masjid e Al-Haram, em Meca - considerado o maior centro de peregrinação do mundo
TERRITÓRIOS CONQUISTADOS
  Inicialmente, os exércitos muçulmanos guerrearam contra os habitantes do Império Bizantino e conquistaram a Síria, a Palestina, o Egito e outras regiões do norte da África.
  Em uma segunda etapa, dirigiram-se para o Oriente e dominaram a Pérsia, parte da Índia, da China e da Ásia Central. Avançaram, também, sobre a Europa, dominando quase toda a península Ibérica.
  Quando tentaram estender-se em direção ao Reino dos Francos, foram detidos pelos soldados comandados por Carlos Martel, na Batalha de Poitiers, em 732.
  Os invasores se mantiveram, porém, na península Ibérica, onde sustentaram uma dominação que durou cerca de 700 anos. Nesse período, muitos aspectos da cultura muçulmana foram transmitidos aos habitantes dessa região. O principal centro econômico, político e artístico era a cidade de Córdoba, onde viviam cerca de 200 mil pessoas durante o século X.
Mapa da expansão do islamismo
  Expansão até a morte de Maomé, 622-632

  Expansão durante o Califado Rashidun, 632-661

  Expansão durante o Califado Omíada, 661-750


AS ATIVIDADES ECONÔMICAS
  Os conquistadores árabes também desenvolveram inúmeras atividades econômicas nas diversas regiões ocupadas, implantando suas técnicas e conhecimentos.
  Uma delas referem-se às obras de irrigação, transformando terras estéreis e pobres em áreas produtivas. Desenvolvendo uma agricultura variada, cultivaram produtos adaptados ao clima de cada região, como trigo, algodão, arroz, linho, cana-de-açúcar, café, azeitona e diversos tipos de frutas (laranja, tâmara, banana, figo e damasco).
Tâmara - uma das frutas mais apreciadas pelos árabes
  Ao mesmo tempo em que ampliavam seus territórios e promoviam uma centralização política, os muçulmanos expandiram seus negócios, levando a um crescimento do comércio. Eles dominaram, durante muitos séculos, as rotas comerciais terrestres e marítimas que uniam territórios da Índia à Espanha, passando pelo norte da África e pelo mar Mediterrâneo.
  Comerciantes habilidosos, os árabes criaram diversos recursos usados até hoje na realização dos negócios: cheques, letras de câmbio, recibos e sociedades comerciais.
Porcentagem da população muçulmana por país
  Com o crescimento do comércio, desenvolveu-se também a produção artesanal. O artesanato é uma das principais mercadorias comercializadas pelos árabes. Várias cidades ou regiões dominadas pelos muçulmanos destacaram-se pela criação de distintos produtos, como:
  • Bagdá - onde os artesãos faziam joias, vidros, cerâmicas e sedas;
  • Damasco -  onde se fabricavam armas e ferramentas de metal, além de tecidos de seda e linho (um dos quais tomou emprestado o nome da cidade);
  • Toledo - onde se produziam espadas cobiçadas pelos cavaleiros medievais - inclusive os que lutariam nas Cruzadas contra os próprios muçulmanos.

Bagdá - capital do Iraque
OS CALIFADOS INDEPENDENTES
  Iniciado no século VII, a expansão muçulmana atingiu seu apogeu no século XI. No entanto, desde o século VIII o poder central já enfrentava crises internas nas várias áreas que tinham sido conquistadas.
  Uma das causas dessas crises eram as rivalidades entre os califas. Com o tempo, essas disputas levaram à divisão do Estado muçulmano, criado por Maomé e seus seguidores, em vários califados independentes, como o de Córdoba (Espanha) e o de Cairo (Egito). Isso aos poucos foi enfraquecendo o império muçulmano.
Córdoba - Espanha
O DECLÍNIO DO DOMÍNIO ISLÂMICO
  A Idade Média da civilização islâmica corresponde, mais especificamente, ao período entre os séculos XI e XIV, quando há um declínio no domínio islâmico.
  Nesse período, diversos povos nômades passaram a atacar áreas dominadas pelos seguidores do islamismo. Entre esses povos, destacaram-se:
  • os berberes - originários do deserto do Saara, conquistaram o norte da África;
  • os turcos - vindos da Ásia Central, controlaram áreas antes dominadas por bizantinos e árabes, como o Egito, a Mesopotâmia (atual Iraque), a Síria, a Palestina e a Ásia Menor, formando um império que sobreviveu até o século XX;
  • os mongóis - liderados por Genghis Khan, saquearam Bagdá (a principal cidade muçulmana desse período).
Genghis Khan
  Nessa época, também aconteceram reações dos povos conquistados contra a dominação muçulmana. Um desses exemplos ocorreu na península Ibérica, onde os cristãos se uniram para expulsar os muçulmanos, em um movimento que ficou conhecido como Reconquista.
  No século XIV, o mundo muçulmano também viveu uma crise semelhante à sofrida pelas populações da Europa cristã no mesmo período:
  • o poder político se fragmentou, formando-se vários Estados muçulmanos independentes e inimigos;
  • seus governantes se envolveram em guerras;
  • milhões de pessoas foram levadas à morte por epidemias, o que provocou uma diminuição da população do Oriente Médio e do norte da África.
  No entanto, apesar das perdas mencionadas, governantes muçulmanos ainda lideraram seus exércitos em novas conquistas em direção à Índia e sobre os territórios ocupados pelas populações negras do sul do Saara (África).
A Mesquita Azul, em Istambul - Turquia
FONTE: Cotrim, Gilberto, 1955 - Saber e fazer história, 6º ano / Gilberto Cotrim, Jaime Rodrigues. - 7. ed. - São Paulo: Saraiva, 2012.

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