segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O RELEVO BRASILEIRO

  O Brasil é um país de altitudes modestas. Cerca de 40% do seu território encontra-se abaixo de 200 metros de altitude, 45% entre 200 e 600 metros, 12% entre 600 e 900 metros e 3% acima dos 900 metros. O Brasil não apresenta grandes formações montanhosas, não encontrando nenhum dobramento moderno no país.
  Tradicionalmente, o relevo do Brasil é dividido de acordo com a classificação de Ab'Saber. Essa classificação identifica dois grandes tipos de unidades de relevo no território brasileiro: planaltos e planícies.
  A primeira classificação do relevo brasileiro foi feito na década de 1940 pelo geógrafo Aroldo de Azevedo (1910-1974), que formulou o primeiro mapa do relevo brasileiro, quando não havia a tecnologia que existe atualmente. Aroldo, dividiu o Brasil em planícies e planaltos. Ele classificou o relevo da seguinte maneira:
  • Planícies: até 200 metros;
  • Planaltos: acima dos 200 metros.
   Aroldo baseou seu trabalho nas informações produzidas sobre o território até então e em trabalhos de campo, partindo para a observação direta do relevo. Ele dividiu o Brasil em quatro planaltos e quatro planícies:
  • Planaltos: Planalto das Guianas, Planalto Atlântico, Planalto Central e Planalto Meridional.
  • Planícies: Planície Amazônica, Planície do Pantanal, Planície Costeira e Planície do Pampa ou Gaúcha.
Classificação do relevo brasileiro segundo Aroldo Azevedo
  No final da década de 1950, o professor Aziz Nacib Ab'Saber aperfeiçoou a divisão do professor Aroldo de Azevedo (1924-2012), introduzindo critérios geomorfológicos, especialmente as noções de sedimentação e erosão. As áreas nas quais o processo de erosão é mais intenso do que a sedimentação foram chamados de planaltos. As áreas em que o processo de sedimentação supera o de erosão foram chamadas de planícies. Essa classificação não leva em conta as cotas altimétricas do relevo, mas os aspectos de sua modelagem.
  Os planaltos, de acordo com os critérios adotados por Ab'Saber são divididos em Planalto das Guianas e Planalto Brasileiro. O Planalto Brasileiro está subdividido em: Planalto Central, Planalto Meridional, Planalto Nordestino, Planalto do Maranhão-Piauí, Planalto Uruguaio Sul-Riograndense e Serras e Planaltos  do Leste e Sudeste. As planícies são: Planície e Terras Baixas Amazônica, Planícies e Terras Baixas Costeira e Planície do Pantanal.
Classificação do relevo segundo Ab'Saber
  Em 1989,o professor Jurandyr Ross elaborou uma outra classificação do relevo, dessa vez usando como critério três importantes fatores geomorfológicos: 
  • a morfoestrutura - origem geológica;
  • o paleoclima - ação de antigos agentes climáticos;
  • o morfoclima - influência dos atuais agentes climáticos.
  Trata-se de uma divisão inovadora, que conjuga o passado geológico e o passado climático com os atuais agentes escultores do relevo. Com base nesses critérios, Jurandyr Ross classifica três tipos de relevo:
  • planaltos - porções residuais salientes do relevo, que oferecem mais resistência ao processo erosivo;
  • planícies - superfícies essencialmente planas, nas quais o processo de sedimentação supera o de erosão;
  • depressões - áreas rebaixadas por erosão que circundam as bordas das bacias sedimentares interpondo-se entre estas e os maciços cristalinos.
  Esses três tipos de relevo compõem, em conjunto, 28 unidades geomorfológicas.
Mapa do relevo brasileiro segundo Jurandyr Ross
O RELEVO DO CENTRO-SUL
  Em decorrência da intensa atividade econômica, da boa qualidade das terras para a agricultura, do desenvolvimento da pecuária, da maior densidade populacional, das elevadas taxas de industrialização e urbanização, entre outros fatores, são muitos e diversos os problemas ambientais no Centro-Sul.
Pico da Bandeira - localizado entre o Espírito Santo e Minas Gerais, é o terceiro ponto mais elevado do Brasil, com 2.891,98 metros
  Os planaltos e as serras do Atlântico-Leste-Sudeste, com suas terras altas (acima de 500 metros de altitude, em média), são a forma de relevo predominante em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, estendendo-se em trechos de São Paulo, do Espírito Santo, do Paraná e de Santa Catarina. Sua origem está relacionada a sucessivos ciclos de dobramentos, ocorridos há cerca de 2 bilhões de anos, e ao soerguimento de toda a faixa oriental da América do Sul. Os dobramentos, bastante antigos, sofreram intensos processos erosivos, que originaram - em razão de sua estrutura rochosa rígida - formas de relevo com topos convexos, semelhantes a uma "meia laranja". Um exemplo dessa formação é o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro.
Morros do Pão de Açúcar e da Urca no Rio de Janeiro
  O soerguimento das rochas ocasionou a formação de serras e planaltos, como as serras do Mar, da Mantiqueira e do Espinhaço, e os planaltos e serras de Goiás-Minas. Por entre os planaltos e serras do Centro-Sul estendem-se algumas depressões, como a São-franciscana e a Periférica.
  Ao sul da serra do Espinhaço, próximo de Belo Horizonte, localiza-se o Quadrilátero Ferrífero, constituída por Mariana, Belo Horizonte, Santa Bárbara e Congonhas, de onde se extraem riquezas minerais, como o ferro, o manganês, a bauxita, entre outras.
Serra da Mantiqueira, no município de Passa Quatro - MG
  No sentido leste-oeste, do litoral em direção ao Mato Grosso do Sul, a estrutura rochosa predominantemente cristalina dos planaltos e serras do Atlântico-Leste-Sudeste vai dando lugar a uma estrutura predominantemente sedimentar. É a Depressão Periférica, que se prolonga longitudinalmente até o litoral sul de Santa Catarina; seguindo para oeste, encontra os planaltos e chapadas da bacia do Paraná.
Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina - maior cadeia de montanhas do sul do Brasil
 Nos planaltos e nas chapadas da bacia do Paraná, nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, oeste de Minas Gerais e de São Paulo, as altitudes raramente ultrapassam os mil metros e o relevo apresenta-se mais plano, favorecendo a mecanização das atividades agrícolas.
  Em direção ao sul do país, a partir do Paraná, ocorre um aumento gradativo de altitude, atingindo os 1,5 mil metros, no nordeste do Rio Grande do Sul, onde se encontram as escarpas dos planaltos e das chapadas da bacia do Paraná. Essas escarpas apresentam-se recortadas em forma de gargantas ou estreitos profundos denominados cânions.
Cânion de Itaimbezinho - RS
  Na parte sul dessa unidade de relevo, incluindo o oeste paulista e o sul do Mato Grosso do Sul, verifica-se a ocorrência do solo de terra roxa - formado pela decomposição do basalto proveniente dos derramamentos vulcânicos ocorridos na região. Esse solo serviu de base para a expansão cafeeira da região e, desde a década de 1970, vem sendo largamente ocupado pelas culturas da cana-de-açúcar e da soja.
Cataratas do Iguaçu, no Paraná
  Os trechos de planície litorânea no Centro-Sul são restritos e estreitos, apresentando-se de forma mais extensa apenas no estado do Espírito Santo. Em outros trechos são conhecidos como baixadas. A baixada Fluminense (RJ) e a baixada Santista (SP), são amplamente ocupadas, apresentando altas densidades demográficas.
São Vicente - SP. Cidade localizada na Baixada Santista
  Nas encostas da serra do Mar, próximo a essas baixadas, são frequentes os deslizamentos de terra, decorrentes da ocupação desordenada e da poluição atmosférica, responsáveis pela destruição da cobertura vegetal das encostas.
  Trechos das porções oeste e norte do Centro-Sul são dominados pelos planaltos e chapadas da bacia do Paraná e planaltos e serras de Goiás-Minas. Nos primeiros, são marcantes as extensas superfícies planas, principalmente nos planaltos.
  Nos planaltos e chapadas da bacia do Paraná, as superfícies planas chegam a atingir entre 900 e mil metros de altitude. É o caso da chapada dos Guimarães, no sudeste do Mato Grosso.
Véu de Noiva, no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
  É a topografia plana dessas unidades que permitiu a intensa mecanização agrícola de vastas áreas do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul ocupadas com o cultivo da soja.
  No extremo oeste do Centro-Sul há uma área de baixas altitudes (entre 100  e 150 metros, que equivale ao Pantanal Mato-grossense ou planície do Pantanal. Ela é formada por terrenos recentes, encontrando-se ainda em processo de sedimentação. Atravessado pelo rio Paraguai, o Pantanal constitui uma planície inundável, em razão das enchentes desse rio e de sua baixa altitude.
Pantanal Mato-grossense
  Em meio à planície do Pantanal, localiza-se um maciço rico em minérios de ferro e manganês: o maciço de Urucum.
  O maciço do Urucum ou Morro do Urucum, recebeu esse nome devido a cor de suas terras que se assemelha ao urucum. É um morro localizado na zona rural de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Famoso por ser a maior e mais culminante formação rochosa do Estado, possui uma altitude de 1.065 metros. Em razão da natureza das suas rochas, o maciço do Urucum se destaca na produção de manganês tipo pirolusita e criptomelana (maior reserva do Brasil e uma das maiores do mundo) e de ferro do tipo hematita e itabirita (terceira maior do Brasil).
Maciço de Urucum
O RELEVO DA AMAZÔNIA
  A maior parte do relevo da Amazônia é dominada pelas depressões. No estado do Tocantins, estendem-se as depressões do Tocantins e do Araguaia; no centro e sul do Pará e de Rondônia, a depressão Sul-amazônica; no norte do Pará e do Amazonas, no Amapá e em Roraima, a Norte-amazônica; no Acre e na maior parte do Amazonas, a da Amazônia Ocidental.
  Principalmente nas faixas de terras mais próximas dos grandes rios, as depressões apresentam baixas altitudes e topografia caracterizada por colinas com cerca de 20 metros de altura.
Depressão Tocantins na cidade de Lizarda - TO
  Os planaltos ocupam áreas restritas dos estados do Pará, Amapá, Rondônia e Amazonas. A porção norte do estado de Roraima é ocupada pelos planaltos Norte-amazônicos, que configuram o divisor de águas das bacias hidrográficas dos rios Orinoco (Venezuela) e Amazonas. Esses planaltos são caracterizados pelas formas tabulares, como o Monte Roraima. Nessa unidade, localizam-se alguns dos pontos culminantes do território brasileiro, como o Pico da Neblina, o ponto mais elevado do Brasil.
Monte Roraima
  O Pico da Neblina está localizado no norte do Amazonas, na Serra do Imeri. É o ponto mais alto do Brasil, com 2.993,78 metros de altitude. No local onde está localizado o Pico da Neblina foi criado o Parque Nacional do Pico da Neblina. O pico localiza-se no município de Santa Isabel do Rio Negro e a cidade mais próxima é São Gabriel da Cachoeira. Próximo ao Pico da Neblina, já na fronteira com a Venezuela, localiza-se o segundo ponto mais elevado do país, o Pico 31 de Março, com 2.972,66 metros de altitude.
Em primeiro plano o Pico 31 de Março e em segundo plano o Pico da Neblina - os pontos mais elevados do território brasileiro
  Na região amazônica, são as planícies fluviais que apresentam áreas mais extensas, situada ao longo das margens dos grandes rios. Elas estão associadas a depósitos de materiais bastante recentes na história geológica da Terra, sendo conhecidas por planícies interioranas.
  Antes dos trabalhos de campo desenvolvidos pelo projeto Radam, acreditava-se que essas faixas de terra fossem planícies fluviais. A copa das árvores da região confundia o observador que as sobrevoava, impedindo a identificação correta.
Planície do rio Amazonas
O RELEVO DO NORDESTE
  Na configuração do relevo nordestino encontram-se duas formas predominantes: planaltos e depressões.
  Praticamente por toda a extensão do Maranhão, Piauí e extremo oeste da Bahia estendem-se os planaltos e as chapadas da bacia do Parnaíba. Na porção sul dessa bacia localiza-se a chapada das Mangabeiras, onde as altitudes atingem mais de mil metros, correspondendo ao divisor de águas dos rios São Francisco e Tocantins.
Chapada das Mangabeiras
  Os outros planaltos da região são os da Borborema e os do Atlântico-Leste-Sudeste. Ao norte desses últimos localiza-se a chapada do Araripe, que separa as duas depressões do Nordeste: a Sertaneja, ao norte, e a do São Francisco, ao sul. Essas depressões apresentam altitudes entre 200 e 500 metros. No caso dos planaltos e chapadas, as altitudes variam entre 500 e 900 metros.
Depressão Sertaneja Setentrional no estado do Ceará
  O planalto da Borborema, também conhecido como Serra da Borborema ou Serra das Russas - antigamente era denominada de Serra da Copaoba -, é uma região montanhosa brasileira localizada no interior do Nordeste. Mede aproximadamente 250 km de norte a sul, localizando-se nos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. O termo Serra da Borborema e Planalto da Borborema são sinônimos. Borborema, na língua indígena, quer dizer "terra infértil, estéril".
Planalto da Borborema em Gravatá - PE
  O planalto da Borborema (com quase mil metros de altitude) exerce influência sobre o clima da região. Por sua localização, atua como uma barreira para os ventos úmidos que vêm do Atlântico. Isso faz com que esses ventos depositem toda sua umidade na encosta oriental, chegando à outra encosta completamente secos. Essa ausência de umidade torna a área sertaneja - que se inicia logo após o Borborema - a mais seca da região, afetando diretamente a vida da população que habita o local.
Pico do Barbado - localizado entre os municípios de Rio do Pires e Abaíra - BA, é o ponto mais elevado do Nordeste, com 2.033 metros.
  A chapada do Araripe é um planalto localizado entre a divisa dos estados do Ceará, Piauí e Pernambuco. Essa chapada abriga uma floresta nacional, uma área de proteção ambiental e um geoparque.
  A chapada do Araripe é considerada um oásis, pois o seu subsolo apresenta um extenso reservatório de água. As espécies de vegetação que vivem próximo à chapada são abundantes. Dentre essas espécies da flora destacam-se os visgueiros, a faveira e o pequi. As extensas regiões que se situam ao redor da chapada apresentam altitude inferior aos 400 metros.
Chapada do Araripe no município de Crato - CE
  É comum no Nordeste a ocorrência de inselbergs. Os inselbergs são uma forma residual que apresenta feições variadas, como crista, cúpula e domo, cujas encostas mostram declives acentuados, dominando uma superfície de aplainamento superior.
  O termo inselberg, do alemão "monte ilha", foi introduzido pelo geólogo alemão Friedrich Wilhelm Conrad Eduard Bornhardt em 1900 para caracterizar montanhas pré-cambrianas, geralmente monolíticas, de gnaisse e granito que emergem abruptamente do plano que as cerca.
  Esses relevos são considerados "testemunhos", pois resistem ao processo de pediplanação e pedogênese.
Serrote do Espinho Branco - inselberg localizado no município de Patos - PB
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Geografia: homem & espaço, 7° ano / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco. - 20. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.

2 comentários:

Unknown disse...

Como o professor Jurandyr Ross dividiu o relevo do estado de Rondônia?

Marciano Dantas de Medeiros disse...

Minha cara Aldilene Santos, muito obrigado por acessar o meu blog. Segundo Jurandyr Ross, o estado de Rondônia é dividido geologicamente em:Planície e Pantanal do Rio Guaporé, Depressão Marginal Sul-Amazônica e Planaltos e Chapadas do Parecis.

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