sexta-feira, 30 de maio de 2014

ANGOLA: PAÍS AFRICANO DE LÍNGUA PORTUGUESA E COM FORTE LIGAÇÃO COM O BRASIL

  Localizada na porção sudoeste do continente africano, na costa do Atlântico, Angola tem uma antiga relação com o Brasil. Durante mais de trezentos anos, cerca de 3 milhões de homens e mulheres angolanos foram escravizados e trazidos para trabalhar no Brasil. Assim, grande parte da população brasileira tem raízes angolanas.
  A língua oficial do país é o português, pois Angola foi colônia de Portugal desde o século XVI até 1975, quando proclamou sua independência, depois de quase quinze anos de luta. O povo angolano teve de enfrentar ainda mais de 25 anos de guerra civil até conquistar a paz em 2002 e iniciar um período de reconstrução e considerável crescimento econômico.
  Angola chama a atenção pelo tamanho do seu território, pelo extenso litoral atlântico, pela riqueza do solo e diversidade de vegetação - o país tem floresta tropical, matas de transição, vastas savanas e estepes. Mesmo com essas vantagens naturais, Angola vive um drama de enormes dimensões.
Imagem de satélite de Angola
HISTÓRIA DE ANGOLA
  O atual território de Angola, que pesquisas recentes de investigadores franceses comprovam ter sido habitado desde o Paleolítico Inferior, foi alvo ao longo de sua história de muita movimentação populacional, com sucessivas levas de povos bantos que migraram para o sul e para leste do território. Essas migrações mantiveram-se mais ou menos regulares até o fim do século XIX.
  Com o tempo, estas populações constituíram o povo bakongo, de língua kikongo. Outras populações fixaram-se inicialmente na região dos Grandes Lagos Africanos e, no século XVII, deslocaram-se para oeste, atravessando o Alto Zambeze até o Cunene (província no sul de Angola): esses grupos são designados atualmente de ngangela, ovambo e xindonga.
  No ano de 1568, entrava um novo grupo pelo norte, os jagas, que combateram os bakongo, empurrando-os para o sul, para a região de Kassanje. Por volta do século XVI, os nhanecas entraram pelo sul de Angola, atravessaram o Cunene e instalaram-se no planalto da Huíla. Nesse mesmo século, os hereros abandonaram suas terras, nos Grandes Lagos, e fixaram-se entre o deserto da Namíbia e a serra da Chela, no sudoeste angolano.
Migração do povo bantu
  A chegada dos primeiros europeus data de fins do século XV, mais precisamente em 1482, quando o navegador português Diogo Cão aportou na foz do rio Congo, onde no início do século XVI fundam a cidade de São Paulo da Assunção de Luanda, atual Luanda, capital do país.
  No século XVIII, entraram os ovambos, grandes técnicos na arte de trabalhar o ferro, que deixaram a sua região de origem no baixo Cubango e vieram estabelecer-se entre o alto Cubango e o Cunene. No mesmo século, os quiocos abandonaram o Catanga e atravessaram o rio Cassai. Instalaram-se inicialmente na Luanda, no nordeste de Angola, migrando depois para o sul.
  No século XIX, apareceu o último povo que veio instalar-se em Angola: os cuangares, que vieram do Orange, na África do Sul, em 1840, instalando-se no Alto Zambeze, sendo chamados de macocolos.
Rio Zambeze, em Angola
  As guerras entre estes povos eram frequentes. Os migrantes mais tardios eram obrigados a combater os que já estavam estabelecidos para lhes conquistar terras. Para se defenderem, os povos construíram muralhas em volta das sanzalas (povoações). Atualmente, há muitas ruínas de antigas muralhas de pedra. Essas muralhas são mais abundantes no planalto do Bié e no planalto do Huíla, onde se encontram, também, túmulos de pedra e galerias de exploração de minério, testemunho de civilizações mais avançadas do que geralmente se supõe. Em Angola existe a cidade de Mbanza Congo, localizada no norte do país, onde o rei angolano da época recebeu os portugueses como amigos e deixou-se converter ao cristianismo, recebendo o nome de Afonso I.
Encontro dos portugueses com a família real do Reino do Kongo
  Por volta de 1700, os portugueses dominavam uma área de cerca de 65 mil quilômetros quadrados, a partir do litoral de Luanda e Benguela até cerca de 200 quilômetro para o interior, objetivando manter aberta as rotas dos escravos a partir do planalto.
  Durante os séculos XVIII e XIX, a situação não se altera de maneira significativa, aumentando apenas a área de captura de escravos, que estendeu-se para o planalto central.
  No final do século XVIII, sob o comando do Marquês de Pombal, o todo-poderoso ministro do Rei de Portugal, ocorreu uma tímida tentativa de exploração de algumas riquezas do país. Essa tentativa fracassou por falta de apoio local e da própria metrópole, que estava mais interessada no desenvolvimento do Brasil com base nos escravos angolanos, obrigando Angola a continuar a manter o seu título de "mina da escravaria" e o seu papel de fornecedora de escravos para as plantações brasileiras.
Principais rotas de escravos para o Brasil
  No início do século XIX, começa a colonização efetiva do interior de Angola, motivada principalmente pela independência do Brasil e o fim do tráfico de escravos. A ocupação do interior tinha como objetivo inibir às pretensões de outras potências europeias que tinham interesse no continente africano, como Inglaterra, França e Alemanha.
  Devido à ausência de vias de comunicação terrestres, as campanhas de ocupação do interior são feitas através dos cursos fluviais, por meio das bacias dos rios Cuango, Cuanza, Cubango, Cunene, Alto Zambeze, entre outros.
  Em 1823, em Benguela, surgiu a Conferência Brasílica, um movimento com a finalidade de juntar Angola ao recém-independente Brasil. Esse movimento foi formado por colonos e soldados de Benguela, que em boa parte provinham do território brasileiro. O governo colonial, trouxe soldados de Portugal e esmagou essa revolta. No final do século XIX ocorre a definição das fronteiras do território de Angola.
Figura de Luanda por volta de meados do século XIX
  Em 1910, após a implantação de um regime republicano em Portugal, começa uma nova fase da colonização de Angola. Os republicanos haviam reclamado do abandono das colônias por parte de Portugal e, após chegarem ao poder, incentivaram o desenvolvimento das suas colônias, principalmente criando escolas.
  No final da década de 1930, Portugal inicia o cultivo de novos produtos em Angola, como café, sisal, cana-de-açúcar, milho, entre outros. O cultivo desses produtos tem como objetivo atender ao mercado externo. As fazendas produtoras e as indústrias transformadoras desses produtos se concentravam entre as cidades de Luena e Benguela.
  A partir da década de 1940, inicia-se com maior intensidade a exploração de minério de ferro. Em 1957, funda-se a Companhia Mineira do Lobito, que explorava as minas de Jamba, Cassinga e Txamutete.
Exploração de minério de ferro na mina de Cassinga - Angola
  A partir da década de1950, começa o movimento de descolonização afro-asiática. Nesse contexto, em 1956, é publicado o primeiro manifesto do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
  A partir de 1972, começa um novo ciclo econômico em Angola, após a descoberta e o início da exploração petrolífera na colônia.
Guerra de Independência de Angola
  A Guerra de Independência de Angola, também conhecida como Luta Armada de Libertação Nacional, foi um conflito armado entre as forças independentistas de Angola (UPA/FNLA - União das Populações de Angola e Frente Nacional de Libertação de Angola, respectivamente -, UPNA - União das Populações do Norte de Angola-, MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola - e, posteriormente, a UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola) e as Forças Armadas de Portugal. Essa guerra teve início em fevereiro de 1961, quando um grupo de cerca de 200 angolanos, ligados ao MPLA atacou a Casa de Reclusão Militar, em Luanda, a Cadeia da 7ª Esquadra da Polícia, a sede dos CTT (Correios de Portugal) e a Emissora Nacional de Angola.
Membros da Unita
  Em 1954, o governo português cria o Estatuto do Indigenato, que dividia a população entre dois grupos: os "civilizados", vulgo cidadãos, e os "indígenas". Desta forma, os africanos das províncias ultramarinas não possuíam direitos políticos, não podiam formar partidos nem sindicatos, podiam estabelecer associações de caráter cultural, porém, sempre sob supervisão da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado). Por outro lado, o estatuto permitia que os jovens africanos viajassem para Portugal para estudar nas universidades. Essa dupla situação forçou muitos cidadãos angolanos e moçambicanos a se organizarem na clandestinidade, definindo a luta armada como meio de atingir a independência.
Soldados portugueses nas matas de Angola
  Em Portugal, o Governo criou a Associação Casa dos Estudantes do Império, com o objetivo de formar elites a partir de naturais das províncias ultramarinas. Nesta associação, passaram vários estudantes, que mais tarde seriam líderes das guerrilhas de libertação, escritores e políticos, como Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Eduardo Mondlane, Luandino Vieira, Marcelino dos Santos, Mário Pinto de Andrade, dentre tantos outros. Em 1961, cerca de cem estudantes africanos fogem de Lisboa para a França, onde uns foram estudar e outros se juntar aos movimentos independentistas.
  Dos três movimentos nacionalistas - UPA/FNLA, UPNA e MPLA - o MPLA era o de natureza mais elitista, pois nas suas fileiras a maioria eram membros dos estudantes que tinham ido para Portugal e que faziam parte de famílias afro-portuguesas de elite, não tendo origem étnica.
Soldados da MPLA
  Em 1961, o Estatuto do Indigenato chega ao fim, e os angolanos "indígenas" passam a ter cidadania portuguesa, sem qualquer tipo de discriminação. Um ano depois, Adriano Moreira, ministro do Ultramar (responsável pela administração civil dos territórios ultramarinos sob domínio colonial português), revogou o Código do Trabalho dos Indígenas, criado em 1956. Este código estabelecia que o sistema de exploração econômica iria ser sustentado pela mão de obra indígena, em geral com baixos salários. Com a revogação, os indígenas passaram a trabalhar espontaneamente e a escolher para quem trabalhar, bem como ter acesso à função pública. Teve também o fim da obrigatoriedade das culturas específicas e foi criado os mercados rurais dos produtores angolanos.
  Nessa época, várias colônias europeias do Reino Unido, França, Alemanha e Bélgica se tornaram independente, porém, Portugal não permitiu que esse episódio acontecesse com suas colônias, contribuindo para o surgimento de vários movimentos independentistas em Angola, como o UPA/FNLA, MPLA, Unita, entre outros menores. Essas três organizações que combatiam a presença portuguesa em Angola, nunca chegaram a trabalhar juntas, o que poderia fortalecer o movimento, pelo contrário, combateram entre si, enfraquecendo a hipótese de saírem vitoriosos do conflito.
Embarque das tropas portuguesas rumo à Angola
  Em abril de 1974, aconteceu em Portugal a Revolução dos Cravos, um golpe militar que pôs fim à ditadura em Portugal. Os novos detentores do poder proclamaram de imediato a sua intenção de permitir a independência das colônias portuguesas.
  A perspectiva de independência provocada pela Revolução dos Cravos e a cessação imediata dos combates por parte das forças militares portuguesas em Angola, levou a uma acirrada luta armada pelo poder entre os três movimentos e seus aliados: a FNLA entrou em Angola com um exército regular, treinado e equipado pelas forças armadas do Zaire, com o apoio dos Estados Unidos; o MPLA conseguiu mobilizar rapidamente a intervenção de milhares de soldados cubanos, com o apoio logístico da União Soviética; a Unita obteve o apoio das forças armadas do regime do apartheid, que dominava a África do Sul. Os esforços do novo regime português para que se constituísse um governo de unidade nacional não tiveram êxito por causa das disputas entre os grupos guerrilheiros angolanos.
Mulher angolana guerrilheira do MPLA
  O conflito armado provocou a saída de milhares de portugueses radicados em Angola, além de provocar o colapso na economia angolana.  Os Ovimbundu (um dos maiores grupos étnicos de Angola) tinham sido recrutados pela administração colonial para trabalhar nas plantações de café e tabaco e nas minas de diamantes do Norte, decidiu voltar às suas terras de origem no planalto central.
  No dia 11 de novembro de 1975 foi proclamada a independência de Angola, pelo MPLA em Luanda, e pela FNLA e Unita, em conjunto no Huambo. Com isso, as forças armadas de Portugal que ainda permaneciam no território angolano, regressaram para seu país.
O presidente do MPLA, Antônio Agostinho Neto, proclama a independência de Angola
Guerra Civil Angolana
  Com a independência de Angola começaram dois processos que se condicionaram mutuamente. Por um lado, o MPLA - que em 1977 adotou o marxismo-leninismo como doutrina - estabeleceu um regime político e econômico inspirado pelo modelo então em vigor nos países do "bloco socialista", ou seja, monopartidário e baseado numa economia estatal, de planificação central.
  Por outro lado, iniciou-se logo após a declaração de independência a Guerra Civil Angolana entre os três movimentos, uma vez que a FNLA e, sobretudo, a Unita não se conformaram nem com a sua derrota militar nem com a sua exclusão do sistema político. Esta guerra durou até 2002 e terminou com a morte, em combate, do líder histórico da Unita, Jonas Savimbi.
Jonas Savimbi após ter sido morto em 2002
  Essa guerra provocou a morte de milhares de mortes e feridos e destruições em aldeias, cidades, infraestruturas (estradas de ferro, rodovias, pontes). Uma parte da população rural, especialmente a do Planalto Central e algumas regiões do Leste, fugiu para as cidades ou para países vizinhos. Com a decadência do socialismo, o MPLA decidiu abandonar a doutrina marxista-leninista e mudar o regime para um sistema de democracia multipartidária e uma economia de mercado. A Unita e a FNLA aceitaram participar do novo regime, concorrendo às primeiras eleições no país, em 1992, do qual o MPLA saiu vencedor. Essa vitória foi contestada pela Unita, alegando fraudes, retomando de imediato a guerra, apesar de ao mesmo tempo, participar do sistema político.
  Com a morte de seu líder, Jonas Savimbi, a Unita abandonou as armas, e seus militares foram desmobilizados ou integrados nas Forças Armadas Angolanas, passando a concentrar-se na participação política, como partido, no parlamento e outras instâncias políticas.
Parlamento de Angola
  Com o acordo de paz, Angola, depois de quatro décadas de conflito armado, começou a reconstrução e, graças a um notável crescimento da economia, o país teve um crescimento econômico bastante acentuado, porém, ainda existe fortes disparidades regionais e desigualdades sociais.
  Como resultado da guerra civil que assolou o país desde que se tornou independente de Portugal, em 1975, as condições de vida são bastante precárias. Com uma população de mais de 20 milhões de habitantes, a sua grande maioria vive em péssimas condições. A fome e a miséria são os problemas mais sérios, seguidos de elevado número de crianças e jovens que diariamente são mutilados pela explosão de minas espalhadas pelo território. Angola detém um dos altos índices de mortalidade infantil do planeta: a cada mil nascimentos morrem 130 crianças antes de completar um ano de idade.
Edifício na cidade de Huambo - marcas da guerra civil angolana
GEOGRAFIA DE ANGOLA
  Angola situa-se na costa atlântica sul da África, entre a Namíbia e a República do Congo, fazendo fronteira também com a República Democrática do Congo e com Zâmbia. O país encontra-se dividido entre uma faixa costeira árida, que se estende desde a Namíbia chegando até aproximadamente à Luanda, um planalto interior úmido, uma savana seca no interior sul e sudeste, e a floresta tropical no norte e em Cabinda. O rio Zambeze e vários afluentes do rio Congo têm as suas nascentes em Angola.
  A faixa costeira é temperada, influenciada pela corrente de Benguela, originando um clima semelhante ao da costa do Peru ou da Baixa Califórnia. Existe uma estação de chuvas curta, que vai de fevereiro a abril. Os verões são quentes e secos e os invernos são temperados. As terras altas do interior têm um clima suave, com uma estação chuvosa que vai de novembro a abril, seguida por uma estação seca, mais fria, que vai de maio a outono.
Mapa climático de Angola
  Ao sul de Luanda, no município de Samba, existe um conjunto de falésias denominado de Miradouro da Lua. Ao longo do tempo, a erosão provocada pelo vento e pela chuva foi criando a paisagem de tipo lunar, sendo bastante visitada por turistas do mundo inteiro.
Miradouro da Lua
  Na hidrografia, Angola é atravessada por importantes rios que descem do interior em vales profundos, alargando-se depois nas proximidades do oceano, formando baías e portos naturais, como os de Luanda, Lobito e Namibe.
  As principais bacias hidrográficas são as dos rios Zaire, Mbridge, Cuanza (a maior do país), Queve, Cunene e Cuanza. O principal lago existente no território angolano é o lago Dilolo.
  As altitudes variam bastante, variando entre 1.000 e 2.000 metros. O ponto culminante do país é o Morro de Moco, com 2.620 metros de altitude.
Morro de Moco - ponto culminante de Angola
DEMOGRAFIA DE ANGOLA
  A população angolana possui uma composição bastante complexa. Cerca de 95% dos angolanos são africanos bantu, pertencentes a uma diversidade de etnias. Entre essas etnias, a mais importante é a dos ovimbundu, que representa 37% da população, seguidos dos ambundu com 25%, os bakongo 13%, e os 25% restantes pertencem a outros grupos, como côkwes, ovambos, mbundas. Os 5% da população pertencem a europeus, chineses, mestiços, e várias outras minorias.
Mapa étnico de Angola
  A densidade demográfica de Angola é baixa (18,07 hab./km²) e extremamente desigual: as áreas urbanas, em constante expansão, contrapõem-se a grandes extensões pouco habitadas. A expectativa de vida também é baixa (49,62 anos) e há um elevado índice de mortalidade infantil (104,30/mil nascidos vivos). O crescimento vegetativo também é elevado (2,78% ao ano). Esses números refletem diretamente na pirâmide etária do país, que possui uma base larga e um topo estreito, significando que há um elevado número de crianças e adolescentes e poucos idosos.
Pirâmide etária de Angola
  Apesar da taxa de alfabetização ser baixa (67,4%), é um dos melhores do continente africano neste quesito, fruto do regime marxista-leninista.
ECONOMIA DE ANGOLA
  A economia angolana baseia-se na exploração de petróleo e na extração de diamantes. O país tem atraído muitos investimentos de diversos países, incluindo o Brasil.
  Até a década de 1970, a economia de Angola era dependente basicamente da atividade agrícola, que foi bastante afetada pela guerra civil, colocando o país, juntamente com Guiné-Bissau entre os mais pobres do planeta. Com o fim da guerra, o país vem apresentando boas taxas de crescimento, apoiadas principalmente pelas exportações de petróleo.
Agropecuária
  O café foi o principal produto de exportação de Angola. Apesar de perder importância por causa do petróleo, no setor agrícola ainda é o principal produto do país. Outros cultivos comerciais são cana-de-açúcar, algodão, fumo, cacau e borracha. No sistema de subsistência são cultivados sisal, milho, óleo de coco, arroz, batata, banana e amendoim. Na pecuária, os maiores rebanhos são de bovinos, caprinos e suínos.
Cultivo de batatas em Angola
Mineração
  Angola é rica em minerais, especialmente diamantes, petróleo e minério de ferro. Possui também jazidas de cobre, manganês, fosfato, sal, mica, chumbo, estanho, ouro, prata e platina. As minas de diamantes estão localizadas perto de Dundo, na província de Luanda Norte. O petróleo começou a ser explorado em 1966 e hoje é o principal produto de exportação do país. A produção petrolífera encontra-se quase toda na costa litorânea. Atualmente, Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África Subsaariana, perdendo apenas para a Nigéria.
  Em 1975, foram localizados depósitos de urânio perto da fronteira com a Namíbia.
Plataforma de petróleo em Angola
Indústria
  As principais indústrias do território angolano são as de beneficiamento de oleaginosas, cereais, carnes, algodão e fumo. Destaca-se também a produção de açúcar, cerveja, cimento e madeira, além do refino de petróleo. Outras indústrias importantes são as de pneus, fertilizantes, celulose, vidro e aço. O parque fabril angolano é alimentado por cinco usinas hidrelétricas, que dispõem de um potencial energético superior ao consumo.
Sede da Sonangol - estatal angolana do ramo petrolífero
Setor terciário
  O sistema ferroviário de Angola compõe-se de cinco linhas que ligam o litoral ao interior. A mais importante delas é o Caminho de Ferro de Benguela, que faz a conexão com as linhas de Catanga, na fronteira com a República Democrática do Congo. A rede rodoviária, em sua maioria constituída de estradas de segunda classe, liga as principais cidades do país. Os portos mais movimentados são os de Luanda, Benguela, Lobito, Namibe e Cabinda. O aeroporto de Luanda é o centro de linhas aéreas que põem o país em contato com outras cidades africanas, europeias e o resto do mundo.
Estrada de ferro em Huambo - Angola
Construção civil
  Após décadas de guerra, Angola teve sua infraestrutura bastante danificada. Após a chegada da paz e as divisas provenientes da exploração petrolífera, o setor da construção civil obteve um grande crescimento nas últimas décadas, sendo responsável por cerca de 29% dos investimentos externos do país. O crescimento do setor se deu graças à reconstrução da infraestrutura nacional e ao setor imobiliário. Dentre as empresas desse setor, destacam-se as portuguesas Mota-Engil, Teixeira Duarte, Soares da Costa, Somague ou Edifer, e as brasileiras Odebrecht, Camargo Corrêa, Genea Angola, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez.
Novos condomínios residenciais no sul de Luanda
  A reconstrução de Angola, contudo, ainda tem muito que avançar. Apesar do alto crescimento econômico, existem problemas muitos graves, como a pobreza da maioria de sua população e os serviços públicos, como saúde e educação, que ainda são muito precários.
ALGUNS DADOS DE ANGOLA
NOME OFICIAL: República de Angola
CAPITAL: Luanda
Visão noturna da orla marítima de Luanda
GENTÍLICO: angolano (a), angolense
LÍNGUA OFICIAL: português
GOVERNO: República Presidencialista
INDEPENDÊNCIA: de Portugal, em 11 de novembro de 1975
LOCALIZAÇÃO: África Meridional
ÁREA: 1.246.700 km² (22°)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2015): 13.228.357 habitantes (68°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 10,61 habitantes/km² (185°). Obs: a densidade demográfica, densidade populacional ou população relativa é a medida expressa pela relação entre a população total e a superfície de um determinado território.
CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativas 2015):
Luanda: 3.007.653 habitantes
Luanda - capital e maior cidade de Angola
Huambo: 1.304.423 habitantes
Huambo - segunda maior cidade de Angola
Lobito: 872.137 habitantes
Lobito - terceira maior cidade de Angola
PIB (Banco Mundial 2013): US$ 114,833 bilhões (60°). Obs: o PIB (Produto Interno Bruto), representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano).
IDH (ONU 2014): 0,526 (149°). Obs: o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais, variando de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da população) e PIB per capita. A classificação é feita dividindo os países em quatro grandes grupos: baixo (de 0,0 a 0,500), médio (de 0,501 a 0,800), elevado (de 0,801 a 0,900) e muito elevado (de 0,901 a 1,0).
Mapa do IDH dos países
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU 2012): 52,4 anos (184°). Obs: a expectativa de vida ou esperança de vida, expressa a probabilidade de tempo de vida média da população. Reflete as condições sanitárias e de saúde de uma população.
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU 2005-2010): 2,78% (20°). Obs: o crescimento vegetativo, crescimento populacional ou crescimento natural é a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade de uma determinada população.
TAXA DE NATALIDADE (ONU 2005-2010): 44,51/mil (8°). Obs: a taxa de natalidade é a porcentagem de nascimentos ocorridos em uma população em um determinado período de tempo para cada grupo de mil pessoas, e é contada de maior para menor.
TAXA DE MORTALIDADE (CIA World Factbook 2007): 24,2/mil (4°). Obs: a taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um índice demográfico que reflete o número de mortes registradas, em média por mil habitantes, em uma determinada região por um período de tempo e é contada de maior para menor.
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook 2013): 104,3/mil (188°). Obs: a taxa de mortalidade infantil refere-se ao número de crianças que morrem no primeiro ano de vida entre mil nascidas vivas em um determinado período, e é contada de menor para maior.
TAXA DE FECUNDIDADE (Nações Unidas 2015): 5,79 filhos/mulher (5°). Obs: a taxa de fecundidade refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início ao fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos), e é contada de maior para menor.
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook 2014): 70,4% (167°). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook 2013): 57,6% (100°). Obs: essa taxa refere-se a porcentagem da população que mora nas cidades em relação à população total.
PIB PER CAPITA (FMI 2013): US$ 5.845 (90°). Obs: o PIB per capita ou renda per capita é o Produto Interno Bruto (PIB) de um determinado lugar dividido por sua população. É o valor que cada habitante receberia se toda a renda fosse distribuída igualmente entre toda a população.
MOEDA: Kwanza
RELIGIÃO: em Angola existem cerca de mil religiões, que estão organizadas em igrejas ou formas análogas. Cerca de metade da população seguem a religião católica, uma quarta parte seguem o protestantismo. Os praticantes de religiões tradicionais africanas são minorias. Há em torno de 1 a 2% de islâmicos. Em 2013, Angola se tornou o primeiro país do mundo a proibir o islamismo. Cerca de 94,3% dos angolanos são cristãos, 4,7% seguem seitas tradicionais, e 1% são ateus ou sem religião.
Igreja católica em Benguela
DIVISÃO: Angola tem a sua divisão administrativa composta por 18 províncias. A divisão administrativa do território mais pequena é o bairro na cidade, enquanto que nos meios rurais é a povoação. Os números correspondem as províncias no mapa: 1. Bengo 2. Benguela 3. Bié 4. Cabinda 5. Kuando Kubango 6. Kwanza Norte 7. Kwanza Sul 8. Cunene 9. Huambo 10. Huíla 11. Luanda 12. Lunda Norte 13. Lunda Sul 14. Malanje 15. Moxico 16. Namibe 17. Uíge 18. Zaire.
FONTE: Sampaio, Fernando dos Santos. Para viver juntos: geografia, 7° ano: ensino fundamental / Fernando dos Santos Sampaio, Marlon Clóvis de Medeiros. - 3. ed. - São Paulo: Edições SM, 2012. - (Para viver juntos)

sábado, 24 de maio de 2014

CIGANOS: A MAIOR MINORIA EXCLUÍDA DA EUROPA

  Ciganos é um exônimo para roma e designa um conjunto de populações nômades que têm, em comum, a origem indiana e uma língua (o romani) originária do noroeste do subcontinente indiano. Também são conhecidos pelos termos boêmios, gitanos, calons (no Brasil), judeus (em Minas Gerais), quicos (também em Minas Gerais e em São Paulo), calés e calôs. Essas populações constituem minorias étnicas em inúmeros países do mundo.
  Grande parte da população cigana reside na Europa. Pouco se sabe sobre a origem e os costumes desse povo, além dos estereótipos amplamente difundidos. É fato, no entanto, que há muito tempo a população cigana sofre perseguição e discriminação em todo o mundo.
  Além de migrarem voluntariamente, esses grupos também foram historicamente submetidos a processos de deportação, subdividindo-se em vários clãs, denominados segundo antigas profissões, procedência geográfica, que falam línguas ou dialetos diferentes.
Ciganos romenos
HISTÓRIA
  Muitos, quando ouvem a palavra "cigano", pensam em povos nômades que preveem o futuro. Há diversas teorias sobre a origem destes povos, pois não existem muitos registros sobre sua história inicial.
  Somente a partir de meados do século XVIII, os primeiros livros sobre os ciganos europeus foram publicados e, quase todos os autores reforçaram ainda mais os estereótipos negativos. Muitos acreditam que sua origem vem do Egito, outros  da Índia ou do Paquistão. No final do século XVIII, antropólogos culturais levantaram a hipótese da origem indiana dos roma, baseada na evidência linguística - o que foi posteriormente confirmado pelos dados genéticos, tendo originados de populações do noroeste do Subcontinente Indiano, das regiões do Punjab e do Rajastão, tendo sido obrigados a emigrar em direção ao ocidente entre os anos 500 e 1.000 d.C. A saída da Índia provavelmente, foi motivado pelas invasões do sultão Mahmud de Ghazni. Mahmud fez várias incursões no norte da Índia, capturando os povos que ali viviam.
  Por volta de 1019-1020, o sultão saqueou a cidade sagrada de Kannauj, que era então, uma das mais antigas e letradas da Índia, capturando milhares de pessoas e vendendo-as em seguida aos persas. Estes, por sua vez, venderam os prisioneiros como escravos na Europa.
Rotas migratórias do povo cigano na Europa
  No Leste Europeu, cerca de 2.300 deles foram para as zonas dos principados cristãos ortodoxos da Transilvânia e da Moldávia, onde foram convertidos em escravos do príncipe, dos conventos e dos latifúndios.
  Em 1422, chegam a Bolonha, na Itália, em 1428 a França e a Suíça e, em 1500, ao Reino Unido.
  No século XV, vários povos, como judeus, muçulmanos e ciganos são perseguidos na Europa. Na Alemanha e nos Países Baixos, os ciganos eram exterminados a tiros por caçadores pagos por cabeça.
  Atualmente, eles vivem espalhados pelo mundo, e grande parte deles se concentra na Europa, continente no qual sofreram o maior massacre de sua história. A Romênia, com cerca de 2,5 milhões de ciganos, é o país que abriga o maior contingente dessa minoria no mundo.
Porcentagem da população cigana em cima da população total na Europa
  No período da Alemanha nazista, os ciganos foram um dos principais alvos do massacre contra minorias. Além dos judeus, os ciganos foram exterminados durante o holocausto (1939-1945) e alguns historiadores apontam que 25% da população cigana desapareceu. Entre 200.000 e 500.000 ciganos europeus teriam sido exterminados nos campos de concentração nazistas. Os ciganos também foram reprimidos e perseguidos em outros locais da Europa como Itália e Espanha.
  Os ciganos fazem parte de uma das minorias étnicas mais marginalizadas da Europa. A Suíça foi um dos primeiros países a instituir leis contra os ciganos em seu território, por volta de 1470.
Ciganas húngaras
  Com o fim da Segunda Guerra Mundial, grande parte da população cigana migrou para os Estados Unidos, país que aglomera cerca de 1 milhão de ciganos.
  O Relatório do Banco Mundial (BM) de 2008 afirmou que em alguns casos os ciganos são até dez vezes mais pobres que o resto da população europeia. Sua expectativa de vida é entre 10 a 15 anos menor que a média e sofrem altos níveis de discriminação nos setores de educação, trabalho, casa e saúde.
  Em 2006, o Conselho Europeu iniciou uma campanha para tentar combater a questão.
  No dia 2 de abril de 2009, o presidente do Parlamento Europeu, Hans-Gert Pöttering, recebeu um prêmio pelo trabalho desenvolvido na defesa dos direitos da comunidade cigana na Europa.
  No final de julho de 2010, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, decidiu, após dois incidentes envolvendo membros franceses da comunidade cigana, promover o retorno em massa dos ciganos à Romênia e Bulgária, o que suscitou uma grande polêmica.
Ciganas francesas
  Sempre que a situação fica mais difícil, os ciganos voltam a ser perseguidos. Embora a situação geral tenha melhorado com o fim do comunismo há mais de 20 anos e o ingresso da Romênia na União Europeia, para a minoria, as mudanças trouxeram retrocesso. Na era comunista, os ciganos eram integrados ao sistema de produção, embora em profissões simples. Muitos trabalhavam como ajudantes na construção civil. Com a privatização e o fechamento de empresas, foram os primeiros a serem demitidos em consequência da baixa qualificação.
Policial observa ciganos que embarcam para a Romênia, no aeroporto de Marselha - França
A RELIGIÃO DOS CIGANOS
  Os ciganos não têm uma religião própria, um Deus próprio, sacerdotes ou cultos originais. O mundo do sobrenatural para eles é constituído pela presença de uma força benéfica, Del ou Devél, e de uma força maléfica, Beng, contrapostas, numa espécie de zoroastrismo, provável resíduo de influências que esta crença teve sobre grupos que, em época remota, atravessaram o Irã.
  As crenças ciganas incluem uma série de entidades, cuja presença se manifesta sobretudo à noite. Em geral, os ciganos parecem ter-se adaptados, ao longo da história, às confissões vigentes nos países que os hospedaram, embora sua adesão pareça ser exterior ou superficial, com maior atenção aos aspectos coreográficos das cerimônias, como as procissões e as peregrinações, próprias de uma religiosidade popular, sobretudo católica.
Ciganas em ritual de Umbanda
CULTURA
  Os ciganos não representam um povo compacto e homogêneo. Mesmo pertencendo a uma única etnia, existe a hipótese de que a migração desde a Índia tenha sido fracionada no tempo e que, desde sua origem, eles fossem divididos em grupos e subgrupos, falando dialetos diferentes, ainda que afins entre si. O acréscimo de componentes léxicos e sintáticos das línguas faladas nos países que atravessaram no decorrer dos séculos, acentuou fortemente tal diversificação, a tal ponto que podem ser tranquilamente definidos como dois grupos separados, que reúnem subgrupos muitas vezes em evidente contraste social entre si.
Ciganas brasileiras
  As diferenças de vida, a forte vocação ao nomadismo de alguns, contra a tendência à sedentarização  de outros pode gerar uma série de contrastes que não se limitam a uma simples incapacidade de conviver pacificamente.
  Muitas pessoas de origem cigana tornaram-se famosos. Dentre eles se destacam ou destacaram: Juscelino Kubitschek, ex-presidente do Brasil, Zlatan Ibrahimovic, jogador sueco, Ricardo Quaresma, jogador da seleção portuguesa, dentre outros.
Juscelino Kubitschek - primeiro presidente de origem cigana do Brasil
FONTE: Projeto Araribá: geografia / organizadora Editora Moderna: obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna; editor responsável Fernando Carlo Vedovate. - 3. ed. - São Paulo: Moderna, 2010.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

A REVOLUÇÃO CUBANA E A CRISE DE MÍSSEIS

  A Revolução Cubana ou Ditadura Cubana foi um movimento armado e guerrilheiro que culminou com a destituição do ditador Fulgêncio Batista de Cuba pelo Movimento 26 de Julho, liderado pelo então revolucionário Fidel Castro.
  O termo Revolução Cubana é genericamente utilizado como sinônimo do castrismo, governo autoritário, mas que em sua origem notabilizou-se pela implantação de uma série de programas assistencialistas sociais e econômicos, notadamente alfabetização e acesso à saúde universal.
  O primeiro dia do ano de 1959 marcou a vitória da Revolução Cubana, com a tomada da capital Havana. Depois de três anos de combates, os rebeldes comandados por Fidel Castro conseguiram derrubar o governo de Fulgêncio Batista. Hostilizado pelo governo dos Estados Unidos, os cubanos foram se aproximando cada vez mais da União Soviética, tonando-se o único país comunista das Américas.
Muro alusivo à Revolução Cubana, em Havana - Cuba
COMUNISTAS NA AMÉRICA
  Do século XVI até 1898, Cuba foi uma colônia da Espanha. Cuba estivera marginalizada no sistema espanhol até a última década do século XVIII, quando produtores franceses se transferiram para a ilha devido as revoltas dos escravos no Haiti. As feições escravista e latifundiária seriam definidas na sociedade cubana tardiamente, em relação ao restante do império colonial espanhol.
  O haitianismo encontrou eco em Cuba, desencorajando o radicalismo político das elites locais, que não se engajariam em lutas pela independência, como ocorrera na América do Sul, provocando um desinteresse pela ideia independentista nos anos de 1810 a 1820.
  As insatisfações cubanas seriam encaminhadas para o favorecimento da anexação pelos Estados Unidos nos anos 1840. Após a Guerra de Secessão, que culminou com a abolição da escravatura nos Estados Unidos, os escravistas cubanos se desinteressaram pela anexação.
Mapa de Cuba
  Em 1898, os Estados Unidos apoiaram um movimento de revoltosos cubanos contra a ocupação espanhola. As forças dos Estados Unidos venceram, forçando os espanhóis a deixarem a ilha.
  Ao final da Guerra Hispano-americana, os cubanos não participaram da negociação de paz e teriam que aceitar seus termos.
  Os Estados Unidos governaram Cuba até 1902, quando os cubanos puderam formar um governo próprio. Mas os estadunidenses continuaram presentes na ilha, onde construíram uma grande base naval na baía de Guantánamo, que mantêm até os dias atuais.
  De 1902 até 1959, Cuba foi governada por presidentes eleitos ou por ditadores totalmente dependentes do governo dos Estados Unidos e das empresas estadunidenses instaladas na ilha.
  Nesse período, Cuba tinha problemas políticos, mas não tão grandes quanto aqueles que viriam a acontecer. Fulgêncio Batista foi eleito presidente democraticamente pela primeira vez em Cuba, mas a sua presidência foi marcada por corrupção e violência.
Fulgêncio Batista (1901-1973)
  Entre 1906 e 1921, Cuba passaria por novas intervenções estadunidenses. O antiamericanismo se tornaria uma constante no quadro político do país.
  Nos anos de 1920, a revolta dos estudantes em meio a grave crise econômica culminou na vitória do liberal Gerardo Machado em 1924. Seu programa de diversificação econômica falhou. Houve mais protestos estudantis que foram reprimidos.
  Após anos de tensão, os estudantes chegariam ao poder, através de Ramón Grau San Martín. Uma revolta de suboficiais, do qual Fugêncio Batista participou, entregou o poder aos estudantes. Seguiram-se expropriações de engenhos, limitação da jornada de trabalho e outros atos políticos relevantes. A Revolução de 1933, ou Revolta dos Sargentos, deixou Cuba numa das piores crises de sua história. Após quatro meses de governo de Ramón Grau San Martín, Fulgêncio Batista toma o poder, instalando uma ditadura que duraria de 1933 a 1944.
Ramón Grau San Martín (1881-1969)
A REVOLUÇÃO CUBANA
  Em 1953, um grupo comandado pelo ex-líder estudantil Fidel Castro organizou uma rebelião contra o governo do ditador Fulgêncio Batista. O movimento fracassou e Fidel foi preso e condenado a 20 anos de prisão, levando ao desaparecimento do movimento. Em 1954, Batista foi reeleito como governador e, posteriormente, em um ato de reconciliação, Fidel, depois de cumprir parte da pena, foi solto e saiu de Cuba, indo para o México.
  No México, Fidel Castro reuniu um grupo de 82 homens treinados e armados que passou a se separar para começar uma revolução em Cuba. Entre eles estavam seu irmão, Raúl, Camilo Cienfuegos e o médico argentino Ernesto (Che) Guevara. Os guerrilheiros foram gradualmente se tornando populares, com dois novos líderes: Raúl Castro e Juan Almeida.
Fidel Castro com um grupo de guerrilheiros
  Em 2 de dezembro de 1956, a bordo do iate Granma, o grupo desembarcou em um porto do litoral sul de Cuba dois dias depois do previsto porque o barco estava carregado demais, frustrando todas as esperanças para um ataque coordenado com o llano, o "plano do movimento". Mas logo ao desembarcar os invasores foram atacados pelo exército de Batista. Dos 82 rebeldes, apenas doze sobreviveram, entre eles os principais líderes: Fidel, Raúl, Cienfuegos e Guevara.
  Os sobreviventes se esconderam na mata e, com o apoio de camponeses locais, chegaram à serra Maestra. Lá organizaram uma guerrilha, que contou com a adesão cada vez maior da população cubana. Em dois anos, o movimento guerrilheiro cresceu de tal maneira que as forças do ditador Batista conseguiam defender apenas algumas cidades. Ao mesmo tempo, grupos rebeldes atuavam também na capital, Havana, e nas principais cidades.
Fidel Castro e dois guerrilheiros no esconderijo em serra Maestra
  Em 13 de março de 1957, um grupo distinto dos revolucionários - o Diretório Revolucionário -, invadiu o Palácio Presidencial, na tentativa de assassinar Batista e pôr fim ao regime. O ataque foi suicida. O líder do DR, o estudante José Antônio Echeverría, morreu em um tiroteio com as forças de Batista.
  Insatisfeito com o governo cubano, os Estados Unidos impuseram um embargo econômico a Cuba e chamou o seu embaixador, enfraquecendo o governo Batista. A ajuda de Batista estava limitada aos comunistas, porém, os mesmos começaram a retirar seu apoio a longo prazo.
  O regime recorreu a métodos muitas vezes letais para manter as cidades de Cuba sob o controle de Batista. Mas nas montanhas de Sierra Maestra, Fidel, auxiliado pro Frank Pais, Ramos Latour, Huber Matos e vários outros guerrilheiros, encenaram ataques bem-sucedidos em pequenas guarnições do exército de Batista.
Fidel Castro na prisão, em julho de 1953
  Apesar do exército de Castro ser bem pequeno (inferior a 500 guerrilheiros) em relação ao exército cubano (que contava com mais de 30 mil homens), sempre provocava o recuo das tropas de Batista, graças ao embargo de armas ao governo de Cuba pelos Estados Unidos.
  As forças de Batista responderam aos guerrilheiros com um ataque nas montanhas chamado Operação Verano, onde cerca de 12 mil soldados (dos quais a metade eram recrutas inexperientes) foram derrotados pelos guerrilheiros.
  Na Batalha de La Plata, que durou de 11 de julho a 21 de julho de 1958, as forças de Castro derrotou um batalhão inteiro, capturando 240 homens, perdendo apenas três dos seus guerrilheiros.
  No dia 29 de julho, o pequeno exército de Fidel foi quase destruído na Batalha de Las Mercedes. Com suas forças presas pelos números superiores, Castro pediu e foi concedido um cessar-fogo temporário no dia 1 de agosto. Nos sete dias seguintes, enquanto as negociações não chegavam a um consenso, as forças de Castro escaparam e voltaram para as montanhas, terminando em fracasso a Operação Verano.
Sierra Maestra - local de refúgio das tropas de Fidel Castro
  No dia 21 de agosto de 1958, após a derrota da "ofensiva" de Batista, as forças de Castro começaram a sua ofensiva. Foram quatro frentes na província de Oriente, que estava dividido em Santiago de Cuba, Granma, Guatánamo e Holguín, tendo à frente os irmãos Fidel  e Raúl Castro e Juan Almeida Bosque, proporcionando uma série de vitórias dos guerrilheiros. No lado oeste, foram formados três colunas, tendo à frente Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Jaime Vega.
  No dia 31 de dezembro de 1958, ocorreu a Batalha de Santa Clara, provocando uma derrota das tropas de Batista, que amedrontado, fugiu de Cuba para a República Dominicana.
  No dia 1 de janeiro de 1959, o exército de Batista foi completamente derrotado. Os guerrilheiros tomaram toda a ilha e Fidel foi nomeado primeiro-ministro.
  A maioria da população apoiou a Revolução. Mas milhares de pessoas deixaram o país e se exilaram no sul dos Estados Unidos, sobretudo na Flórida, onde formaram uma força política que tenta de todas as formas derrubar o governo de Fidel Castro.
Percurso dos guerrilheiros até conseguirem tomar o poder em Cuba
DEPOIS DA REVOLUÇÃO
  Com a vitória da revolução, os guerrilheiros que ajudaram Fidel Castro a tomar o poder receberam cargos em seu governo. Che Guevara tornou-se presidente do Banco Central, ministro da Indústria e, mais tarde, percorreu diversos países em missão diplomática. Os opositores e críticos da revolução fugiram para os Estados Unidos ou foram presos.
  O governo de Fidel Castro fez uma reforma agrária em Cuba, transferindo para o Estado as terras dos latifundiários, incluindo as da própria família de Fidel. Os meios de produção, como hotéis, refinarias de petróleo e outras empresas existentes no país, foram estatizados.
  Uma ampla campanha nacional, com o envio de professores para o campo, permitiu o fim do analfabetismo no país. A educação básica tornou-se obrigatória. Foram garantidas vagas nos cursos superiores a todos os interessados. Os serviços de saúde também foram estendidos a toda a população; os médicos passaram a visitar regularmente todas as famílias em suas casas.
Guerrilheiros junto com a população de Havana comemoram a vitória da Revolução
  Essas transformações puderam ser realizadas em grande parte por causa do apoio recebido da União Soviética.
  Em 1960, Fidel Castro foi a Nova York para explicar a Revolução Cubana na assembleia da ONU. Ele pretendia solicitar o apoio do governo estadunidense, mas não foi recebido por Dwight Eisenhower, então presidente dos Estados Unidos. Entretanto, o governante soviético Nikita Kruschev, também presente à reunião, aceitou conversar com Fidel e convidou-o a visitar a União Soviética.
  A aproximação com o governo soviético e as atitudes nacionalistas de Fidel Castro incomodaram o governo dos Estados Unidos e os donos das empresas e dos bancos que tinham propriedades em Cuba. Mas John Kennedy, o novo presidente dos Estados Unidos se recusou a comprar o açúcar cubano, principal produto de exportação do país. Mas a pressão econômica dos EUA não funcionou, pois os soviéticos se ofereceram para comprar açúcar e fornecer petróleo a Cuba.
Che Guevara com Fidel Castro
  Em abril de 1961, seis aviões dos EUA, pintados com as cores da Força Aérea Cubana, bombardearam aeroportos da ilha. Apenas três aviões foram atingidos em terra, mas sete civis cubanos foram mortos. No enterro dos civis, Fidel Castro declarou que a Revolução Cubana era socialista.
  A repercussão desse acontecimento foi péssima para o governo Kennedy. Em vez de abalar o poder de Fidel Castro, fortaleceu ainda mais o apoio à Revolução Cubana.
  Ainda em abril de 1961, exilados cubanos que viviam nos EUA desembarcaram na baía dos Porcos para tentar derrubar o governo de Fidel Castro. O governo Kennedy não cumpriu a promessa de enviar apoio aéreo, temendo agravar os problemas causados pelo bombardeio anterior. Sem a ajuda prometida, em apenas três dias os exilados cubanos foram vencidos pelas forças leais a Fidel.
Mapa da Baía dos Porcos
A CRISE DOS MÍSSEIS
  Ainda em 1961, o espião soviético Oleg Penkovsky entregou ao governo dos Estados Unidos uma cópia dos planos de instalação de armas nucleares soviéticas em Cuba. Em outubro do ano seguinte, um avião dos EUA sobrevoou Cuba e fotografou bases de mísseis nucleares.
  No dia 22 de outubro de 1962, o presidente John Kennedy fez um pronunciamento na televisão, informando a população sobre a existência de mísseis nucleares soviéticos em Cuba, capazes de destruir Nova York em 15 minutos. No mesmo dia, o espião Oleg Penkovsky foi preso em Moscou, onde seria executado no ano seguinte. Diante das pressões e das ameaças dos Estados Unidos, o ministro das Relações Exteriores da União Soviética, Andrei Gromiko, foi a Washington para negociar a retirada dos mísseis de Cuba.
  Como não conseguiram um acordo com o governo soviético, os EUA decretaram um bloqueio naval a Cuba, impedindo que qualquer armamento ingressasse na ilha. Esse bloqueio foi chamado pelos Estados Unidos de quarentena, para disfarçar uma intervenção em águas internacionais, que era tão ilegal quanto a instalação dos mísseis em Cuba. Navios soviéticos continuaram sendo enviados à ilha, apesar do bloqueio. Muitas pessoas acreditavam que a tão temida guerra nuclear iria começar quando os navios soviéticos fossem interceptados pelo bloqueio.
Míssil nuclear SS-4
  A crise se agravou no dia 27 de outubro, quando um avião dos Estados Unidos sobrevoou Cuba para fotografar novamente as bases de mísseis e foi derrubado. Para evitar uma guerra nuclear, o primeiro-ministro soviético, Nikita Kruschev, propôs trocar a retirada dos mísseis soviéticos de Cuba pela retirada dos mísseis estadunidenses instalados na Turquia, que ameaçavam o território soviético. O governo estadunidense aceitou, mas pediu que os soviéticos guardassem segredo.
  Na manhã do dia 28 de outubro, Kruschev anunciou que os mísseis seriam retirados de Cuba. No ano seguinte, os EUA removeram silenciosamente seus mísseis da Turquia. Assim, os governos dos Estados Unidos e da União Soviética reafirmaram o pacto informal que existia desde a Segunda Guerra Mundial: a América (com exceção de Cuba) seria dominada apenas pelos norte-americanos; em compensação, o Leste europeu seria controlado pelos soviéticos.
Área de alcance dos mísseis instalados em Cuba
FONTE: Cardoso, Oldimar. Leituras da história, 9º ano / Oldimar Cardoso. -- São Paulo: Escala Educacional, 2012. -- (Leituras da história).

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