domingo, 31 de julho de 2016

OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A CRISE ECONÔMICA NA ARGENTINA

  No início de 2000, a Argentina atravessou a mais grave crise econômica de toda a sua história. Para um país que já teve uma economia de destaque e um nível social e cultural diferenciado de toda a América Latina, essa situação foi dramática e provocou transformações significativa no país.
  A crise econômica argentina foi uma situação financeira que afetou a economia do país durante a década de 1990 e início da década de 2000. O período crítico começou com a queda do PIB real em 1999 e terminou em 2002 com o retorno do crescimento do PIB. Porém, as origens do colapso da economia argentina e seus efeitos sobre a população, podem ser encontradas em ações anteriores.
Centro de Buenos Aires - capital da Argentina
ANTECEDENTES DA CRISE
  Diante das crescentes críticas ao governo de Carlos Menem acerca da corrupção e da incapacidade de combater o desemprego, ocorreu o surgimento de uma força política estabelecida a partir de um acordo entre a União Cívica Radical e a FREPASO, uma confederação formada pelos partidos Frente Grande, Socialista Popular, Socialista Democrático e Democrata Cristão. Em 1997, esses partidos passaram a fazer parte da "Aliança para o Trabalho, a Justiça e a Educação", mais conhecida como "Alianza".
  De suas frentes saiu a chapa Fernando de la Rúa - Carlos Chacho Álvarez, vencedora a eleição presidencial realizada em 24 de outubro de 1999, com 48,5% dos votos e 10,5% à frente do candidato justicialista Eduardo Duhalde.
  A campanha havia se baseado no combate ao desemprego, a purificação da corrompida estrutura política argentina e a garantia da manutenção da Lei de Convertibilidade do primeiro mandato de Menem. Em 10 de dezembro, de De la Rúa assumiu o poder com grande apoio popular, em clima de esperança.
Córdoba - segunda maior cidade da Argentina
  Após a sua posse, Fernando de la Rúa anunciou uma série de medidas, como aumento de impostos e ajuste da estrutura estatal de considerável magnitude. A situação econômica do país era muito delicada: elevada taxa de desemprego (que superava os 15%) e que subia implacavelmente. Insegurança nas ruas, desconfiança de parte do mercado financeiro internacional e uma gigantesca dívida externa eram alguns dos principais temas urgentes na agenda do governo.
  O Ministério da Economia havia traçado certas medidas financeiras com a finalidade de barrar o déficit fiscal, buscando principalmente novos empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI).
  Em meados de dezembro de 1999, iniciaram-se alguns protestos de classes populares em algumas cidades das províncias, organizados principalmente pelos piqueteros.
  A partir de 19 de dezembro de 2001, iniciaram-se as manifestações populares conhecidas como panelaço a favor do impeachment, que terminaram com a renúncia do presidente De la Rúa. Durante o dia, em diferentes pontos do país, mas com maior intensidade em Buenos Aires, graves distúrbios e revoltas sociais ocorreram. Diante das constantes manifestações, às 16 horas do dia 20 de dezembro, De la Rúa anunciou a sua renúncia.
Rosário - terceira maior cidade da Argentina
  A crise econômica foi responsável pelo fechamento de várias empresas e pelo aumento expressivo de desempregados e da população de pobres e miseráveis do país. No entanto, o movimento social argentino foi às ruas e buscou novas formas de se organizar para vencer as diversidades vividas. Dentre os movimentos, destacaram-se os piqueteros e os ocupas, símbolos de resistência do povo argentino.
Mendoza - quarta maior cidade da Argentina
OS PIQUETEROS
  Movimento de desempregados, os piqueteros argentinos ganharam visibilidade pública ao adotarem ações de grande impacto político. Seu objetivo era chamar a atenção das autoridades públicas e da sociedade civil para suas reivindicações. Dessa forma, muitas vezes, obstruíram estradas e vias de importante circulação.
  Diversos grupos de piqueteros mantêm uma rede social intensa e desenvolvem atividades nas comunidades nas quais estão inseridos. Desse modo organizam refeições populares, centros educativos e empreendimentos produtivos, como hortas comunitárias com venda direta, sem intermediários. Também se dedicam à elaboração de artesanatos, tecidos, entre outras atividades, cuja renda é revertida para a própria comunidade.
  Essas entidades são organizadas de forma autogestionária e cooperativa, ou seja, para que tenham êxito necessitam da participação ativa dos membros da comunidade, mesmo que, às vezes, não haja consenso na gestão dos recursos e ocorram discussões internas sobre a autossustentação desses empreendimentos.
Piqueteros argentinos protestam contra a situação do país, em 2001
OS OCUPAS
  Após a grave crise econômica argentina, muitos trabalhadores que perderam seu emprego por causa do fechamento de fábricas organizaram e começaram a ocupá-las para reativar seu funcionamento. Assim surgiu o movimento dos ocupas, que fez renascer frigoríficos, indústrias de plástico, têxteis, metalúrgicas, entre outras.
  A transição da empresa para o comando dos trabalhadores impunha um conjunto de questões jurídicas e acordos com provedores de matérias-primas ou de mercadorias para que fosse possível obter um mínimo de capital para reiniciar a produção.
  Os trabalhadores não estavam acostumados a gerir sua produção e planejá-la, pois essa atividade competia aos empresários ou aos cargos diretivos das empresas. Isso era um desafio ao movimento dos trabalhadores, que passaram a organizar a produção de forma menos hierarquizada, sem exploração da força de trabalho e sem as tradicionais formas de opressão verificadas nos ambientes de trabalho.
San Miguel de Tucumán - quinta maior cidade da Argentina
A GUERRA SUJA
  Entre 1976 e 1983, a Argentina viveu um dos momentos mais dramáticos de sua história. Governado por militares, o país passou pela chamada Guerra Suja, responsável pelo desaparecimento de mais de 30 mil pessoas que contestavam as práticas autoritárias do governo.
  Tais práticas incluíam a detenção de supostos opositores e a aplicação de tortura, que visava subjugar física e moralmente os presos para que dessem informações sobre movimentos contrários à ditadura militar.
  Essa estratégia utilizada pelos militares argentinos ocorreu também em outros países da América Latina, entre os anos de 1960 e 1980, como Brasil, Uruguai, Chile, Paraguai, Peru e Bolívia.
La Plata - sexta maior cidade da Argentina
  A supressão dos direitos políticos por meio da instalação de uma ditadura fazia com que todos aqueles que se manifestassem contrariamente a algum ato do governo fossem perseguidos e detidos.
  Desde 1977, um grupo de mulheres argentinas, conhecidas como Mães da Praça de Maio, se reúne uma vez por semana em frente à Casa Rosada - sede do governo argentino - para reivindicar informações sobre seus filhos desaparecidos durante o regime militar.
  Levando cartazes com fotos dos filhos desaparecidos e fraldas amarradas na cabeça, símbolo do movimento, essas mulheres ficaram conhecidas internacionalmente pela tenacidade com que reivindicam que os crimes praticados pelos militares não permaneçam impunes. Alguns as chamam de "loucas".
Mar del Plata - sétima maior cidade da Argentina
REFERÊNCIA: Tempo, espaço e cultura: ciências humanas: ensino médio: Educação de Jovens e Adultos. 1. ed. - São Paulo: Global, 2013. - (Coleção viver, aprender).

terça-feira, 19 de julho de 2016

CHAPADA GAÚCHA (MG): A CHAPADA DA SOJA

  A cidade de Chapada Gaúcha, localizada no estado de Minas Gerais, além de abrigar o Parque Grande Sertão Veredas, abriga também propriedades que se especializaram na produção de soja.
  Na entrada da cidade ergue-se o barracão da Cooperativa dos Produtores de Soja. As ruas não são calçadas, mas por elas circulam enormes caminhões e tratores.
  O município de Chapada Gaúcha, antiga Vila dos Gaúchos, teve seu povoamento por volta de 1976, quando chegaram os primeiros moradores, vindos do Rio Grande do Sul, por meio do projeto PADSA (Projeto de Assentamento Dirigido à Serra das Araras), que integrava os municípios de Formoso, Arinos, Januária e São Francisco.
Plantio direto de soja na palha capim, em Chapada Gaúcha - MG
  No ano de 1994 aconteceu um plebiscito na Vila dos Gaúchos com o objetivo de escolher o nome do novo Distrito e os nomes mais votados foram: Novo Horizonte, Chapada Gaúcha e Serra Gaúcha. Como já tinha outros distritos com a denominação Novo Horizonte, prevaleceu o segundo, Chapada Gaúcha. Neste mesmo ano, a Câmara Municipal de São Francisco aprovou a Lei nº 1.523 de 19 de dezembro de 1994 criando o novo Distrito de Chapada Gaúcha, tendo seu território desmembrado do Distrito remanescente de Serra das Araras. Em 28 de janeiro de 1995, foi instalado o Distrito de Chapada Gaúcha, na antiga Vila dos Gaúchos; neste mesmo ano começou o processo de emancipação do distrito, se tornando o único povoado mineiro que virou Distrito e Município no mesmo ano. Pela Lei nº 12.030, de 21 de dezembro de 1995, ocorreu a junção dos Distritos de Chapada Gaúcha e Serra das Araras e a criação do município de Grande Sertão Veredas, tendo o Distrito de Serra das Araras como distrito. Em 1996 ocorreu a primeira eleição municipal e, em 1º de janeiro de 1997, instalou-se a primeira administração municipal.
Visão aérea da cidade de Chapada Gaúcha
  A partir da promulgação da Lei Orgânica, que ocorreu em 7 de novembro de 1997, estabeleceu-se 25 de julho para comemorar o aniversário do município, por ser dia do agricultor (colono/trabalhador rural) e dia do motorista, devido o município ser essencialmente agrícola.
GEOGRAFIA
  O município de Chapada Gaúcha apresentou, no censo do IBGE de 2010, uma população de 10.805 habitantes. Em 2015, segundo estimativas do IBGE, sua população era de 12.495 habitantes, distribuídos numa área de 3.255,189 km².
  Chapada Gaúcha está localizado na microrregião de Januária, pertencente à mesorregião do Norte de Minas Gerais. Faz divisa com os municípios de São Francisco, Urucuia, Januária, Pintópolis, Arinos e Formoso (todos em Minas Gerais) e Cocos, na Bahia, estando distante cerca de 700 quilômetros da capital mineira, Belo Horizonte. Sua altitude é de 624 metros acima do nível do mar.
  A vegetação predominante no município é o Cerrado, e o clima dominante é o tropical típico, com duas estações bem definidas: verão chuvoso e inverno seco.
Paisagem de Chapada Gaúcha - MG
ECONOMIA
  Economicamente, o município de Chapada Gaúcha é o que mais cresce no estado de Minas Gerais, graças ao setor agro-silvo-pastoril.
  A principal atividade econômica de Chapada Gaúcha é a agricultura extensiva, com destaque para a produção de soja e de sementes de brachiárias. Vem despontando atualmente, a agricultura familiar, a pecuária e o comércio.
  O município possui um forte potencial para o turismo ecocultural, graças à presença no seu território, de muitas áreas de conservação, como o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, o Parque Estadual da Serra das Araras, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari e várias RPPN's (Reservas Particular do Patrimônio Natural). No município há muitas cachoeiras e uma grande diversidade de fauna e flora do cerrado.
Campo de semente de Brachiária brizhanta, em Chapada Gaúcha - MG
  No entorno da sede do município de Chapada Gaúcha predomina a agricultura extensiva, mecanizada com implementos agrícolas avançados, cujos proprietários são, em sua grande maioria, agricultores oriundos do Rio Grande do Sul, que nos últimos anos vêm investindo no agronegócio em vários estados, como São Paulo, Mato Grosso, Bahia e no norte e noroeste de Minas Gerais, cuja produção é quase toda voltada para a exportação.
  Nas comunidades tradicionais ainda permanece a forma rudimentar de trabalhar a terra. Nelas, produtores independentes estão envolvidos em atividades econômicas de pequena escala, como o extrativismo, a agricultura, a pesca, a coleta e o artesanato. Os pequenos agricultores produzem para o consumo próprio e, no caso de excedentes, estes são comercializados.
Cultivo de soja, em Chapada Gaúcha - MG
  Cerca de 20 comunidades se organizam para colher e comercializar produtos feitos com variados frutos nativos ao longo do ano, ajudando a manter porções selvagens do mais ameaçado bioma brasileiro, o Cerrado.
  Além do agronegócio, dos parques estaduais e das belezas naturais, outro fator que chama atenção no cenário nacional, é a moeda social (a vereda), que circula no município.
Fazenda em Chapada Gaúcha - MG
PARQUE NACIONAL GRANDE SERTÃO VEREDAS
    O Parque Grande Sertão Veredas está cercado de soja por todos os lados. Situa-se na divisa dos estados de Minas Gerais e Bahia, com sede localizada no município de Chapada Gaúcha. Possui uma área de 231.668 hectares e é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
  O nome do parque é uma homenagem a João Guimarães Rosa, um dos maiores escritores da literatura brasileira, cuja obra-prima foi Grande Sertão: Veredas, onde destaca a luta dos sertanejos. O parque preserva parte do planalto chamado Chapadão Central, que divide as bacias dos rios São Francisco e Tocantins.
  A vegetação do parque é o Cerrado, fazendo dele o maior do país com essa predominância. Há mata de galeria nas margens dos rios, onde podem ser encontrados muitos buritis. São comuns o pacari e o ipê-amarelo.
  Dentre a fauna, destaca-se a presença de emas, do tamanduá-bandeira, do lobo-guará e do veado-campeiro, entre outras espécies. A caça, as carvoarias e os desmatamentos constantes são os principais problemas do parque.
Parque Nacional Grande Sertão Veredas, em Chapada Gaúcha - MG
PARQUE ESTADUAL DA SERRA DAS ARARAS
  O Parque Estadual da Serra das Araras é outro parque localizado no município de Chapada Gaúcha. Possui uma área de 11.137 hectares e se destaca pelos seus paredões e diversos ecossistemas, sendo considerado um área de preservação permanente (veredas, matas ciliares, nascentes e topos de morros). Seus sítios geomorfológicos, funcionam como habitat e criadouro natural de espécies de araras ameaçadas de extinção (como a arara-vermelha e a arara-canindé).
  A região é preenchida por inúmeras veredas (cabeceiras pouco profundas), que fornecem abrigo e servem de reprodução de treze espécies de faunas ameaçadas de extinção, além de abrigar paisagens naturais de grande valor.
  A vegetação é formada predominantemente pelo Cerrado e ecossistemas associados. Dentre as espécies da flora destacam-se a fava-d'anta, a mangabeira, o pequi, o jatobá-de-cerrado, o araçá, a gabiroba, dentre outros. Nas veredas e matas ciliares há presença marcante da palmácea buriti e da pindaíba.
  Na fauna, além das araras, destacam-se o veado-galheiro ou sussuapara, espécie extremamente rara em Minas Gerais, que ocupa as áreas alagadas das veredas, do veado-campeiro, da onça-parda, da jaguatirica, do gato-mourisco, da lontra, do tatu-canastra, do tamanduá-bandeira e uma variedade de outras espécies.
Parque Estadual Serra das Araras, em Chapada Gaúcha - MG
RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL VEREDAS DO ACARI
  A Reserva de Desenvolvimento Sustentável (REDS) Veredas do Acari está localizada no Distrito de Serra das Araras, município de Chapada Gaúcha. Possui uma área de 60.975 hectares e sua criação se deu através do Decreto sem número de 21 de outubro de 2003.
  A reserva trata-se de um complexo de veredas que tem como principal uma vereda chamada Acari, a qual cedeu o nome à unidade de conservação (UC) e, ao longo do seu percurso, transforma no rio Acari, que deságua diretamente no rio São Francisco.
  Suas belas veredas é uma área de proteção especial devido a sua importância para o regime hídrico do rio São Francisco. Existem belas paisagens, lindas cachoeiras e lagoas, as quais contêm várias espécies de animais do bioma Cerrado, alguns ameaçados de extinção, como o lobo-guará, a onça-parda, o suçuapara, a ema, a anta, o tatu-canastra, o tatu-bola, o veado-campeiro, a arara-vermelha, a arara-amarela (canindé), entre outros.
  O objetivo dessa reserva é proteger e conservar o bioma Cerrado na bacia do rio São Francisco e trazer benefícios para as populações tradicionais que habitam o entorno de referida UC, através do uso de áreas de uso sustentável no seu interior, além de proteger a biodiversidade e os aquíferos e promover a pesquisa do pequi, da fava-d'anta e de outros frutos do Cerrado, que são disponibilizados para extração pelas populações tradicionais do entorno.
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari, em Chapada Gaúcha - MG
REFERÊNCIA: Terra, Lygia
Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil / Lygia Terra, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. - 2. ed. - São Paulo: Moderna, 2013.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

VANUATU: O PAÍS DA POPULAÇÃO MAIS FELIZ DO MUNDO

  Antiga Novas Hébridas, Vanuatu foi administrado pelo Reino Unido e pela França, tornando-se independente em 1980. Localizada na Oceania, o território de Vanuatu é formado por 83 ilhas que ocupam o arquipélago das Nova Hébridas. O país não possui fronteiras terrestres e as nações mais próximas são as Ilhas Salomão ao norte, e Fiji a leste.
  Situado em uma zona de convergência entre placas tectônicas, Vanuatu é frequentemente atingido por erupções, terremotos e tsunamis.
  Em 1887, franceses e britânicos iniciaram a colonização do arquipélago das Novas Hébridas, que conquistou a independência em 1980, adotando a nomenclatura atual - Vanuatu. Desde então, o país passou a integrar a Comunidade Britânica de Nações (Commonwealth). As heranças do processo de colonização estão presentes nos idiomas oficiais do país: inglês, francês e bislama, que é uma adaptação regional do inglês. Além dessas três línguas oficiais, existem mais de cem dialetos tribais.
Localização de Vanuatu na Oceania
HISTÓRIA
  A pré-história de Vanuatu é um pouco incerta. A teoria mais aceita, baseia-se em evidências arqueológicas de que povos que falavam línguas austronésias habitaram as ilhas entre 4.000 e 6.000 anos atrás. Fragmentos de cerâmica encontrados datam de 1.300 a.C.
  A primeira ilha de Vanuatu descoberta pelos europeus foi a ilha de Espírito Santo, em 1606, quando o explorador português Pedro Fernandes de Queirós avistou-a e pensou tratar-se de um continente do sul. Os europeus retornaram às ilhas em 1678, quando o explorador francês Louis Antoine de Bougainville redescobriu as ilhas. Em 1774, o capitão inglês James Cook, nomeou as ilhas de Novas Hébridas, nome que permaneceu até a independência do arquipélago.
  Em 1825, o comerciante francês Peter Dillon descobriu madeira de sândalo na ilha e Erromango, iniciando uma corrida que terminou em 1830 após um confronto entre trabalhadores imigrantes polinésios e melanésios autóctones.
Lenakel - com uma população de 2.826 habitantes (estimativa 2016) é a quarta maior cidade de Vanuatu
  Durante a década de 1860, fazendeiros da Austrália, de Fiji, da Nova Caledônia e de Samoa, que necessitavam de mão de obra, incentivaram o comércio de trabalhadores, que foram contratados por um longo tempo, chamado de "blackbirding" ("pássaro preto", em português). No auge do blackbirding, mais da metade da população adulta masculina das ilhas foram trabalhar no exterior.
  No século XIX, missionários católicos e protestantes chegaram às ilhas, além de colonos em busca de terra para as plantações de algodão. Quando os preços do algodão entraram em colapso no mercado mundial, esse cultivo foi substituído por plantações de café, cacau, banana e, principalmente, por coco.
  Inicialmente, súditos britânicos da Austrália formaram a maioria dos colonos que chegaram às ilhas, mas a criação da Companhia Caledônia das Novas Hébridas, em 1882, fez com que a maioria da população passasse a ser de colonos franceses.
  Os interesses de franceses e britânicos pelas ilhas provocou uma disputa entre os dois países, que desejavam anexar este território. Em 1906, França e Reino Unido concordaram em administrar conjuntamente as ilhas. Chamado de Condomínio Franco-Britânico, era uma forma única de governo, com distintos sistemas governamentais que se reuniram em um tribunal comum. Melanésios foram impedidos de adquirir a cidadania tanto britânica quanto francesa. No início dos anos 1940, vários protestos foram realizados contra essa forma de governo.
Isangel - com uma população de 2.741 habitantes (estimativa 2016) é a quinta maior cidade de Vanuatu

  Durante a Segunda Guerra Mundial, a chegada de norte-americanos, com sua conduta informal e relativa riqueza, promoveu a ascensão do nacionalismo nas ilhas. A crença em uma figura mística messiânica chamada John Frum era a base para um culto à carga indígena (um movimento para tentar obter bens industriais através da magia), que prometia a libertação da Melanésia. Atualmente, John Frum é uma religião e um partido político com um membro no Parlamento de Vanuatu.
  O primeiro partido político foi estabelecido no início de 1970 e, originalmente, chamava-se Partido Nacional das Novas Hébridas, que teve como um dos fundadores o padre Walter Lini, que mais tarde se tornou primeiro-ministro. Renomeado Pati Vanua'aku em 1974, o partido iniciou o movimento pela independência. Em 1980, em meio a uma breve guerra civil, chamada de Guerra do Coco, foi criada a República de Vanuatu.
  Durante a década de 1990, ocorreu uma instabilidade política, resultando em um governo mais descentralizado. Em 1996, o Vanuatu Mobile Force, um grupo paramilitar local, tentou dar um golpe de Estado por causa de uma disputa salarial. Houve denúncias de corrupção no governo do presidente Maxime Carlot Korman. Em novembro de 1997, o presidente Jean Marie Leye dissolveu o Parlamento. Em 14 de março de 2015, o arquipélago foi devastado pelo ciclone Pam, que causou dezenas de mortes.
Parte de Porto Vila após a passagem do ciclone Pam, em 2015
GEOGRAFIA
  Vanuatu é um arquipélago composto por 83 ilhas relativamente pequenas, das quais duas - Matthew e Hunter - são reclamadas pelo departamento francês de Nova Caledônia. Geologicamente recentes, as ilhas são de origem vulcânicas, espalhadas a uma distância de 1.300 km no sentido norte-sul. O ponto mais elevado de Vanuatu é o Monte Rabwemasana, localizado na ilha de Espírito Santo, com uma altitude de 1.879 metros.
  A maioria das ilhas de Vanuatu são íngremes, com solos instáveis e com pouca reserva permanente de água doce. As terras também são, em sua maioria, impróprias para a agricultura. O litoral é geralmente rochoso, com recifes de franja e sem plataforma continental.
Monte Rabwemasana - ponto culminante de Vanuatu
  Existem vários vulcões ativos em Vanuatu, destacando-se o Monte Yasur, o vulcão acessível mais ativo do mundo, bem como o Lopevi e vários outros vulcões submarinos. A atividade vulcânica é comum, sendo constante a ocorrência de erupções. Uma erupção submarina bem recente ocorreu em novembro de 2008, com uma magnitude de 6,4 graus, mas não houve vítimas.
  Vanuatu é reconhecido como uma distinta eco-região terrestre, conhecida pelas suas florestas tropicais. É parte da ecozona da Austrália, que inclui Nova Caledônia, Ilhas Salomão, Austrália, Papua Nova Guiné e Nova Zelândia.
Monte Yasur em atividade em 2006
  A população crescente de Vanuatu está aumentando a pressão sobre os recursos naturais locais por causa da agricultura, do pastoreio, da caça e da pesca. Cerca de 90% da população vanuatuense consome peixe, o que causou intensa pesca perto das aldeias e o esgotamento das espécies de peixes perto da costa.
  O clima de Vanuatu é quente e chuvoso - tropical no norte e subtropical no sul. A estação chuvosa vai de novembro a abril, mas súbitos aguaceiros podem acontecer em qualquer época do ano.
Paisagem de Vanuatu
  Embora bem florestada, a maioria das ilhas já mostram sinais de desmatamento. Eles têm sido registrado (especialmente de madeira de maior valor) em grande escala decorrente do corte e queima para a agricultura, convertidos em plantações de coco e em criações de gado, e mostram sinais de aumento da erosão do solo e deslizamentos de terra.
  A água doce é cada vez mais escassa e as bacias de terra firme estão sendo desmatadas e degradadas. Outra questão ambiental refere-se a disposição inadequada dos resíduos sólidos e a poluição. A falta de oportunidades de emprego nas indústrias e nas áreas urbanas e a inacessibilidade aos mercados contribuem para aumentar a pobreza no país.
Sola - com uma população de 2.419 habitantes (estimativa 2016) é a sexta maior cidade de Vanuatu
POPULAÇÃO
  Apesar de apresentar alguns problemas socioeconômicos, os habitantes de Vanuatu são considerados os mais felizes do mundo. Um dos principais motivos para esse feito são as belezas naturais que o país abriga. Essa constatação ocorreu em 2006, quando uma Organização Não Governamental do Reino Unido pesquisou o nível de felicidade da população em 178 país, e os vanuatuenses lideraram o ranking.
  Cerca de 92% da população de Vanuatu é composta por nivanuatus (um grupo melanésio), 6% é composto por outros grupos melanésios e 2% é formada por europeus e/ou outros grupos.
  Existem três idiomas oficiais em Vanuatu: o inglês, o francês e o bislama (um idioma crioulo que evoluiu do inglês), além de mais de 100 línguas faladas nas ilhas.
  O cristianismo é a religião predominante, que está dividido em várias denominações. A Igreja Presbiteriana é a maior delas, que abarca um terço da população.
Saramatha - com uma população de 2.323 habitantes (estimativa 2016) é a sétima maior cidade de Vanuatu
CULTURA
  A ilha de Tanna está povoada completamente por melanésios, que seguem um tipo de vida mais tradicional que os de muitas outras ilhas. Em algumas das aldeias a cultura é conhecida como kastom (do inglês custom, costume), onde estão proibidos os inventos modernos. Os homens usam kotekas (pênis bainha, tradicionalmente usadas pelos nativos do sexo masculino para cobrir seus órgãos genitais) e camisas de grama, e os meninos não vão à escola. Os vanuatuenses amam o seu país e desejam que os visitantes o desfrutem ao máximo.
Vanuatuenses usando koteka
  O príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth, é um deus no sul do Pacífico. A tribo Yaohnanen, de Vanuatu, acredita que o príncipe é um ser divino, filho de um espírito da montanha que viajou pelos mares para um lugar distante, se casou com uma mulher poderosa, e retornará à sua terra um dia.
  Existe um movimento do tipo "culto a produtos", onde as tribos se focam na obtenção de bens materiais trazidos das nações industrializadas. Eles vêem esses materiais avançados como tendo sido criados por espíritos ou ancestrais para eles, e que foram injustamente "apreendidos" por outras nações. A maioria desses cultos a produtos foram iniciados durante a Segunda Guerra Mundial, quando grandes quantidades de mercadorias eram trazidas pelos militares para a região. Quando a guerra terminou e as bases se fecharam, as entregas acabaram, fazendo com que os nativos criassem falsos aeroportos e equipamentos de rádio com cocos, na esperança de atrair mais entregas, imitando o que tinham visto. Assim, quando o casal real fez uma visita oficial a Vanuatu em 1974 (levando presentes), a lenda do príncipe Philip cresceu mais ainda.
Vídeo sobre Vanuatu
ECONOMIA
  A economia de Vanuatu está baseada principalmente na agricultura de subsistência ou de pequena escala, que emprega cerca de 65% da população economicamente ativa. A pesca, os serviços financeiros de bancos estrangeiros e o turismo, são outras importantes fontes de renda. Não há no país reservas minerais e os derivados de petróleo vem de outros países, principalmente da Austrália.
Lorevilko com uma população de 2.210 habitantes (estimativa 2016) é a oitava maior cidade de Vanuatu
  O desenvolvimento econômico de Vanuatu depende exportações. O país é prejudicado devido à vulnerabilidade aos desastres ambientais e as longas distâncias entre os principais mercados e as ilhas.
Lakatoro - com uma população de 1.854 habitantes (estimativa 2016) é a nona maior cidade de Vanuatu
ALGUNS DADOS DE VANUATU
NOME: República de Vanuatu
INDEPENDÊNCIA: do Reino Unido e da França, em 30 de julho de 1980
CAPITAL: Porto Vila
Centro de Porto Vila
GENTÍLICO: vanuatuano, vanuatuense
LÍNGUA OFICIAL: bislama, inglês e francês
GOVERNO: República Presidencialista
LOCALIZAÇÃO: Oceania (Melanésia)
ÁREA: 12.189 km² (158º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2016): 270.950 habitantes (189°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 22,22 hab./km² (160°). Obs: a densidade demográfica, densidade populacional ou população relativa é a medida expressa pela relação entre a população total e a superfície de um determinado território.
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - Estimativa 2015): 2,38% (37°). Obs: o crescimento vegetativo, crescimento populacional ou crescimento natural é a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade de uma  determinada população.
CIDADES MAIS POPULOSAS (Estimativa 2016):
Porto Vila: 47.598 habitantes
Porto Vila - capital e maior cidade de Vanuatu
Luganville: 21.235 habitantes
Luganville - segunda maior cidade de Vanuatu
Norsup: 5.633 habitantes
Norsup - terceira maior cidade de Vanuatu
PIB (FMI - 2015): US$ 765 milhões (178º). Obs: o PIB (Produto Interno Bruto), representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano).
PIB PER CAPITA (FMI 2015): US$ 3.081,00 (123°). Obs: o PIB per capita ou renda per capita é o Produto Interno Bruto (PIB) de um determinado lugar dividido por sua população. É o valor que cada habitante receberia se toda a renda fosse distribuída igualmente entre toda a população. 
IDH (ONU - 2015): 0,594 (134°). Obs: o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais, variando de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da população) e PIB per capita. A classificação é feita dividindo os países em quatro grandes grupos: baixo (de 0,0 a 0,500), médio (de 0,501 a 0,800), elevado (de 0,801 a 0,900) e muito elevado (de 0,901 a 1,0).
  acima de 0,900
    0,850-0,899
   0,800-0,849
   0,750-0,799
   0,700-0,749
  0,650–0,699
   0,600–0,649
   0,550–0,599
   0,500–0,549
   0,450–0,499
  0,400–0,449
   0,350–0,399
   0,300–0,349
   abaixo de 0,300
   Sem dados
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2015): 72,4 anos (118º). Obs: a expectativa de vida ou esperança de vida, expressa a probabilidade de tempo de vida média da população. Reflete as condições sanitárias e de saúde de uma população.
TAXA DE NATALIDADE (ONU - 2015): 22,35/mil (86º). Obs: a taxa de natalidade é a porcentagem de nascimentos ocorridos em uma população em um determinado período de tempo para cada grupo de mil pessoas, e é contada de maior para menor.
TAXA DE MORTALIDADE (CIA World Factbook 2015): 7,82/mil (109º). Obs: a taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um índice demográfico que reflete o número de mortes registradas, em média por mil habitantes, em uma determinada região por um período de tempo e é contada de maior para menor.
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2015): 49,45/mil (174°). Obs: a taxa de mortalidade infantil refere-se ao número de crianças que morrem no primeiro ano de vida entre mil nascidas vivas em um determinado período, e é contada de menor para maior.
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook - 2015): 3,25 filhos/mulher (49º). Obs: a taxa de fecundidade refere-se ao número médio de filhos que a mulher teria do início ao fim do seu período reprodutivo (15 a 49 anos), e é contada de maior para menor.
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2015): 74,0% (167°). Obs: essa taxa refere-se a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2015): 74,2% (166°). Obs: essa taxa refere-se a porcentagem da população que mora nas cidades em relação à população total.
MOEDA: Vatu
RELIGIÃO: cristianismo (92,8%, sendo 51,6% de protestantes, 17,1% de anglicanos, 14,4% de católicos, 9,7% de outras religiões cristãs), crenças tradicionais (3,5%), outras religiões (3,1%), sem religião ou ateus (0,6%).
DIVISÃO: Vanuatu está dividido em seis províncias, que são: Malampa, Penama, Sanma, Shefa, Tafea e Torba.
Mapa de Vanuatu
REFERÊNCIA: Adas, Melhem
Expedições geográficas / Melhem Adas, Sérgio Adas. - 2. ed. - São Paulo: Moderna, 2015.

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