quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

A DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (DIT)

  Um dos grandes acontecimentos do século XX foi o fim dos impérios coloniais entre 1945 e 1975. As novas nações independentes, em sua maioria localizadas na África e na Ásia, passaram a fazer parte do grande bloco de países subdesenvolvidos, então chamados Terceiro Mundo, do qual também faziam parte as antigas colônias da América, com exceção dos Estados Unidos e do Canadá.
  Nesse contexto, estabeleceu-se a Divisão Internacional do Trabalho (DIT), denominação clássica que caracterizava as relações entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos não industrializados.
  A DIT é uma divisão produtiva em âmbito internacional. Os países emergentes ou em desenvolvimento que obtiveram uma industrialização tardia e que possuem economias ainda frágeis e passíveis de crises econômicas, oferecem aos países industrializados um leque de benefícios e incentivos para a instalação de indústrias, tais como a inserção parcial ou total de impostos, mão de obra abundante e barata, entre outros.
  Com a independência política do então Terceiro Mundo e a oligopolização dos mercados, as empresas multinacionais, hoje chamadas, mais apropriadamente, transnacionais, mantiveram a sede em seu país de origem e abriram unidades de produção em países subdesenvolvidos para conseguir menores custos de matéria-prima, mão de obra, incentivos fiscais e mercado consumidor. Isso criou condições para que esses países se industrializassem. Foi o que aconteceu com Brasil, México, Argentina, Índia e África do Sul, em uma primeira etapa, e, mais tarde, com Cingapura, Taiwan, Coreia do Sul e Hong Kong, os chamados Tigres Asiáticos.
  Com a industrialização de alguns países subdesenvolvidos e a crescente movimentação de capitais na economia mundial, outra Divisão Internacional do Trabalho passou a vigorar com a DIT clássica, expressando as relações entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos industrializados.
  Essa nova DIT é muito mais complexa, pois envolve o fluxo de mercadorias e de capital, de ambos os lados, isto é, os novos países industrializados deixaram de ser unicamente fornecedores de matéria-prima para os países desenvolvidos.
  A DIT direciona uma especialização produtiva global, já que cada país fica designado a produzir um determinado produto ou partes do mesmo, dependendo dos incentivos oferecidos em cada país. Esse processo se expandiu na mesma proporção que o capitalismo. Nesse sentido, um exemplo que pode ser dado é a montagem de um automóvel realizado na Argentina, porém, com componentes oriundos de diferentes países, como a parte elétrica e eletrônica de Taiwan, borrachas da Indonésia e assim por diante. Isso ocorre porque cada país oferece atrativos. Desta forma, o custo do produto final será menor, aumentando os lucros.
  Em meados do século XX, com a superação da crise, a economia retomou seu crescimento, fazendo com que a concentração empresarial se tornasse mais complexa. Foi quando surgiram os conglomerados, constituídos por empresas que diversificam sua produção para dominar a oferta de determinados produtos ou serviços. Geralmente, esses conglomerados são administrados por holdings (empresa criada para administrar outras), que pode ser definida como o estágio mais avançado do capitalismo monopolista.
  Também nesse período surgiram nova invenções, como os primeiros computadores (1946), o transistor (componente eletrônico utilizado como amplificador e interruptor de sinais elétricos) e os satélites artificiais, e novos materiais, como diversos tipos de plástico (desenvolvidos pela indústria petroquímica), fertilizantes agrícolas e inúmeros outros produtos que envolvem tecnologia de ponta e vultosos investimentos controlados por grandes corporações empresariais.
  Como consequência da utilização de novas tecnologias, o capitalismo foi se tornando informacional e incorporou cada vez mais o conhecimento à atividade produtiva, levando a economia a iniciar sua jornada rumo à globalização, aprimorando cada vez mais a DIT.
  Após a segunda metade do século XX, os computadores e as tecnologias de comunicação se aperfeiçoaram e permitiram o armazenamento de dados e a transmissão de informação com velocidade cada vez maior. Isso tornou possível a reestruturação do modo de produção capitalista, fazendo com que esse sistema entrasse na era informacional.
  A partir da década de 1970, o conhecimento tornou-se tão importante que empresas passaram a investir bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Nessa nova etapa da DIT, os avanços tecnológicos podem agregar mais valor aos produtos fabricados ou serviços oferecidos e proporcionar melhorias na produção por meio do processamento de informações e da expansão das atividades que fazem parte do setor terciário, como atividades financeiras, os transportes e os serviços em geral.
  Surge, assim, uma sociedade pós-industrial, chamada sociedade da informação, que se torna parte de uma economia global, devido às novas tecnologias de comunicação e de transporte. Os principais componentes dessa economia, como consumo, circulação, trabalho, matéria-prima, tecnologia e mercado funcionam em escala mundial, daí chamarmos globalização esse processo de fortalecimento do capitalismo.
  Assim, a dependência econômica dos fluxos informacionais garante poder a quem domina e controla suas tecnologias, tornando as regiões excluídas cada vez menos importantes no cenário da economia global e consolidando uma nova Divisão Internacional do Trabalho, na qual é possível distinguir:
  • produtores de alto valor, que mantêm seus negócios com base no trabalho informacional: centros industriais de alta tecnologia (informática, biotecnologia, robótica, telecomunicações, aeroespaciais, etc.), os chamados tecnopolos, como Bangalore (Índia), Campinas, São Carlos e São José dos Campos - SP (Brasil), Vale do Silício (Estados Unidos), Tsukuba (Japão), Taedok (Coreia do Sul), dentre outras;
  • produtores de grandes volumes, com trabalho de menor custo: países e regiões que obtêm grande produção com mão de obra não qualificada (de baixo custo), como México, Brasil, Argentina, China, dentre outros;
  • produtores de matérias-primas que são recursos naturais: a maioria dos países da África, da América Latina e da Ásia, que são produtores e exportadores de minérios e de produtos agrícolas. Esse grupo enfrenta também o fato de as matérias-primas estarem desvalorizadas em relação aos produtos de alta tecnologia;
  • produtores cujo trabalho perde valor nesse sistema: regiões nas quais o desemprego é expressivo e crescem o trabalho informal e o subemprego.
Bangalore - Índia
  Assim, a nova DIT não segue as fronteiras nacionais. As diversas categorias podem ser encontradas em um mesmo país, seja ele desenvolvido, seja ele em desenvolvimento. Um exemplo disso é o Brasil, que apresenta centros de alta tecnologia (Campinas, São José dos Campos e São Carlos); regiões com agroindústrias, como o planalto ocidental paulista, onde se encontram as cidades de Araçatuba, Presidente Prudente, Catanduva, entre outras; e centros produtores de matérias-primas minerais e agrícolas, como o Complexo de Carajás, no Pará.
Unidade de produção de laticínios da Nestlé, em Araçatuba - SP
  Três fatores conjugados dão aos lugares a diversificação de excelência: o conhecimento de altas tecnologias, o nível educacional da população e a mão de obra qualificada.
  A Divisão Internacional do Trabalho também provoca desigualdades. Os países emergentes ou em desenvolvimento, como México, Argentina, Brasil e outros, adquirem tecnologias a preços altos, enquanto que os produtos exportados pelos países citados não atingem preços satisfatórios, favorecendo os países ricos.
REFERÊNCIA: Almeida, Lúcia Marina Alves de
Fronteiras da globalização / Lúcia Marina Alves de Almeida, Tércio Barbosa Rigolin. -- 3. ed. --São Paulo: Ática, 2016.

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