domingo, 27 de maio de 2012

RIO+20

  Neste ano, completam-se duas décadas da realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ou Eco-92. Em comemoração aos 20 anos dessa conferência, o Brasil sediará entre os dias 13 e 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, apelidada de Rio+20, que reunirá líderes do mundo todo para discutir meios de transformar o planeta em um lugar melhor para se viver. A proposta brasileira de sediar a Rio+20 foi aprovada pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, em sua 64ª Seção, em 2009.
  O objetivo da conferência é a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes.
Reunião da Eco-92
A Conferência terá dois temas principais:
  • A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e na erradicação da pobreza; e
  • A estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.
  A Rio+20 será composta por três momentos. Nos primeiros dias, de 13 a 15 de junho, está prevista a III Reunião do Comitê Preparatório, no qual se reunirão representantes governamentais para negociações dos documentos a serem adotados na Conferência. Em seguida, entre 16 e 19 de junho, serão programados eventos com a sociedade civil. De 20 a 22 de junho, ocorrerá o Segmento de Alto Nível da Conferência, para o qual é esperada a presença de diversos Chefes de Estado e de Governo dos países-membros das Nações Unidas.
O desenvolvimento sustentável será um dos principais temas da Rio+20
Os preparativos para a Conferência
  A Resolução 64/236 da Assembleia-Geral das Nações Unidas determinou a realização da Conferência, seu objetivo e seus temas, além de estabelecer a programação das reuniões do Comitê Preparatório (conhecidas como "PrepComs"). O Comitê vem realizando seções anuais desde 2010, além de "reuniões intersessionais", importantes para dar encaminhamento às negociações. Além das "PrepComs", diversos países têm realizado "encontros informais" para ampliar as oportunidades de discussão dos temas da Rio+20.
Rio de Janeiro
  O processo preparatório é conduzido pelo Subsecretário-Geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais e Secretário-Geral da Conferência, Embaixador Sha Zukang, da China. O Secretário da Conferência conta ainda com dois Coordenadores-Executivos, a Senhora Elizabeth Thompson, ex-Ministra de Energia e Meio Ambiente de Barbados, e o Senhor Brice Lalonde, ex-Ministro do Meio Ambiente da França. Os preparativos são complementados pela Mesa Diretora da Rio+20, que se reúne com regularidade em Nova York e decide sobre questões relativas à organização do evento. Fazem parte da Mesa Diretora, representantes dos cinco grupos regionais da ONU, com a co-presidência do Embaixador Kim Sook, da Coreia do Sul, e do Embaixador John Ashe, de Antígua e Barbuda. O Brasil, na qualidade de país-sede da Conferência, também está representado na Mesa Diretora.
Sha Zukang - Subsecretário-Geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais
  Os Estados-membros, representantes da sociedade civil e organizações internacionais tiveram até o dia 1° de novembro de 2011 para enviar ao Secretário da Conferência propostas por escrito. A partir dessas contribuições, o Secretário preparará um texto-base para a Rio+20, chamado "zero draft" ("minuta zero" em inglês), o qual está sendo negociado em reuniões ao longo do primeiro semestre de 2012.
  A ideia da realização dessa Conferência no Brasil foi do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em 2007, fez a proposta para a ONU.
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - idealizador da Rio+20
  No mesmo período da reunião oficial da Rio+20, o Rio de Janeiro sediará, também, a Cúpula dos Povos: um evento que contará com debates, palestras e uma porção de outras atividades, sobre os mesmos temas da Conferência da ONU, mas que serão promovidos por grupos da sociedade civil - como ONGs e empresas.
  A ideia é que todos os setores da sociedade discutam, ao mesmo tempo, maneiras de transformar o planeta em um lugar melhor para vivermos.
FONTE: www.rio20.gov.br

sábado, 26 de maio de 2012

ENTENDA A CRISE ECONÔMICA NA IRLANDA

  A situação financeira da Irlanda está no topo da agenda de um encontro entre autoridades da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Entre temores de que uma crise na economia irlandesa possa desencadear um contágio no resto do continente, o governo tem sido pressionado a aceitar ajuda do bloco comum.
  Apelidada de "Tigre Celta" por causa do seu elevado ritmo de crescimento econômico, a Irlanda foi do boom ao desastre financeiro em um espaço de três anos. Muito da expansão do período pode ser atribuída à expansão do mercado imobiliário, que desde 2008 se retraiu dramaticamente.
  O preço dos imóveis caiu entre 50% e 60% e os empréstimos de risco - sobretudo na forma de crédito para as construtoras - se acumularam no portfólio dos principais banco do país.
  Só para ajudar essas instituições foram necessários recursos de emergência da ordem de 45 bilhões de euros, o que deixou um déficit no orçamento do governo irlandês equivalente a 32% do PIB. As finanças do país também estão sendo afetadas pela queda na arrecadação de impostos. A diferença  entre o que o governo gasta em serviços públicos e o que recebe em impostos e taxas atinge o insustentável patamar de 12% do PIB. À medida que a economia se retrai, cresce o desemprego e aumentam os temores de que o país esteja à beira de uma volta à recessão.
  A situação financeira da Irlanda preocupa especialmente os países financeiramente menos sólidos da zona do euro, como Espanha e Portugal, que também estão com as finanças apertadas. O temor é que esses países não sejam capazes de pagar os seus credores, que por sua vez tendem a restringir os empréstimos.
  O maior impacto dessa desconfiança é a elevação dos custos de empréstimos no mercado internacional. Por ora, esta não é uma preocupação da Irlanda, que se diz plenamente capacitada a honrar seus pagamentos até pelo menos meados do ano que vem. Entretanto, outros países têm recorrido ao mercado para levantar recursos e assim são afetados pelas incertezas que rondam as contas públicas irlandesas.
  Se recursos dessas intituições forem usados, a Grã-Bretanha pagará uma parte da conta. Por outro lado, se a economia irlandesa colapsar, as empresas britânicas perderão negócios de um cliente que compra delas mais mercadorias que Brasil, Rússia, Índia e China juntos.
Manifestante empunha a bandeira da Irlanda na capital, Dublin
  A república se orgulha de sua solvência e de sua independência financeira, e uma ajuda europeia seria vista como sinal de uma humilhante dependência em relação ao bloco. A Irlanda teme que, junto com a UE, venham condições como a elevação de seu imposto sobre pessoa jurídica que, em 12,5%, é um dos principais instrumentos para atrair investimentos externos. Por outro lado, uma grande preocupação são os bancos privados. Como vários foram parcialmente nacionalizados, a dívida que era das instituições também passou a ser assumida pelo governo. Estes bancos estão tendo dificuldades para levantar empréstimos no mercado e dependem do suporte do Banco Central Europeu.
  Uma estimativa do banco britânico Barclays Capital indica que mais de 10% de todos os empréstimos e financiamentos feitos pelos bancos irlandeses estão sendo financiados com recursos do BCE. Há indícios de que o BCE pretende convencer a Irlanda a aceitar a ajuda de emergência, que poderia então ser investida nos bancos para blindá-los contra possíveis perdas no futuro.
  Para ser bem-sucedido, a ajuda teria de ser volumosa o suficiente para afastar os temores de contágio da economia europeia por possíveis perdas registradas no futuro pelo sistema financeiro irlandês. Algumas estimativas indicam que o montante teria de chegar a 80 bilhões de euros. Há diversas possíveis fontes de financiamento, incluindo o Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (EFSM, na sigla em inglês), que poderia prover até 60 bilhões de euros, e o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF), constituído por 440 bilhões de euros em garantias de governos da zona do euro. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já afirmou que poderia entrar no pacote, emprestando até 50% do total provido pela União Europeia.
  Outras fontes de financiamento podem aparecer, na medida em que os países devem tentar evitar que os recursos de fundos como o EFSM sejam esgotados em uma única operação de salvamento. Há ainda o caso de países europeus que não fazem parte da zona do euro, como a Grã-Bretanha, que contribui para o caixa da União Europeia e do FMI.
  O governo irlandês tem buscado traçar uma linha clara entre o que são os problemas de seu sistema financeiro e as preocupações envolvendo as suas próprias contas. A administração acredita que as medidas já anunciadas e as ainda por anunciar reforçarão a confiança na economia do país.
FONTE: globo.com
BBC Brasil

quarta-feira, 23 de maio de 2012

ENTENDA A CRISE EM PORTUGAL

  Em grave crise econômica, Portugal seguiu o exemplo da Grécia e da Irlanda e pediu ajuda financeira à União Europeia.
  Corrupção, má utilização de recursos financeiros e de fundos econômicos europeus, levou Portugal a uma situação semelhante a que passou pelos anos de 1910. Atualmente, aquele país tem um déficit em torno de 125% do Produto Interno Bruto (PIB), conforme disse ao MONITOR MERCANTIL Miguel Soares Domingues, estudioso do assunto com Licenciatura em Ciências Públicas pela Universidade de Lisboa, Portugal, para quem essa má gestão econômica levou a "jovem democracia portuguesa à bancarrota".
  A má utilização de recursos públicos, segundo esse português que vive em Paris há dois anos - fato que vem acontecendo com milhares de compatriotas seus, que estão fugindo para vários países da Europa, inclusive os velhos que estão vendendo suas propriedades e tentando a sorte fora -, não contribuiu "exclusivamente" em nada para as empresas e nem para a população. Gerou apenas, de acordo acordo com ele, a destruição dos setores econômicos (primário, secundário e terciário). Atualmente, diz, Portugal não produz nada, importa quase 100% de suas necessidades. Como exemplo, citou o pescado que, segundo ele, 100% do produto consumido naquele país, assim como toda a logística de distribuição são oriundos da vizinha Espanha.
  - Todas as elites políticas se aproveitaram dessas facilidades e se venderam em benefício próprio. Empresas de de pequeno e médio porte, que realmente geram empregos, estão fechando em, no máximo, um ano. Isso sem mencionar que cerca de 20% da população ativa portuguesa está desempregada - comentou, ressaltando que o atual PIB de Portugal não pode ser medido segundo os parâmetros tradicionais, uma vez que o país "não cria valor agregado em seus produtos (Índice de Valor Agregado - IVA) - "Portugal hoje vive de esmola dos estrangeiros (União Europeia). A situação se agravou em função de decisões equivocadas, levando o país a uma forte dependência econômica. Portugal só foi independente economicamente com os regimes autoritários" - lamentou.
  Miguel Soares Domingues lembrou que, desde 1974, seu país passou por várias fases econômicas, com destaque para dois grandes períodos. O primeiro, segundo ele, foi antes da integração europeia (1981/82), na presidência de Mário Soares. Antes, porém, a economia portuguesa era estatal. Esse período durou oito anos. Depois, ocorreu a abertura para os mercados financeiros como forma de integrá-lo no mercado europeu. Com isso, Portugal recebeu ajuda financeira dos países da Europa (França, Alemanha, Itália e Grã-Bretanha).
Mário Soares - ex-presidente de Portugal
  - Do ponto de vista estatal, ocorreu um desenvolvimento econômico e social baseado num crédito exterior (endividamento). Desde então, houve três grandes remessas de dinheiro da União Europeia por vários governos progressistas, com base ideológica de centro-esquerda que, em sua maioria estão nos centros de decisões da Europa - comentou, acrescentando que desde 1964 Portugal deixou de ser um país soberano para ser um Estado que se submete a decisões econômicas que flutuam com os mercados financeiros do mundo - "Não tem uma estratégia política nem financeira para enfrentar essa situação adversa. Apenas estruturou uma estrutura para ganhar votos dos eleitores como, por exemplo, a realização de grandes obras nacionais, estradas, aeroportos, entre outras. Tudo isso resultou num gigantesco espiral descendente".
Construção de obras estruturantes - uma marca do governo Mário Soares
  Como perspectiva para o futuro, Miguel aponta dois caminhos. O primeiro, segundo ele, é o da "cruz", de muito sofrimento. Terá que negar-se a si próprio para ser um país que pode beneficiar o seu povo, ou aproveitar qualquer espaço da política econômica para ver o que acontece. Como forma de achar uma luz no "fim do túnel", o estudioso diz que o governo português precisa lançar mão dos meios que não são moralmente bem visto, ou seja, utilizar os mercados financeiros para o bem de Portugal, com prioridade para a produção nacional e ter o acessoramento de profissionais honestos. E frisou que a ajuda financeira do Fundo Monetário Internacional (FMI) só vai gerar mais déficit e inflação. Em grave crise econômica, Portugal seguiu o exemplo da Grécia e Irlanda e pediu ajuda financeira à União Europeia.
  O governo português vinha tentando evitar pedir auxílio -- que o primeiro-ministro José Sócrates descreveu como o "último recurso" -- mas finalmente admitiu que não poderia financiar sozinho a dívida pública.
José Sócrates
O QUE DEU ERRADO EM PORTUGAL?
  Diferentemente de outros países, não houve qualquer estouro de bolha em Portugal. O que houve foi um processo gradual de perda de competitividade, com o aumento dos salários e redução das tarifas de exportações de baixo valor da Ásia para a Europa.
  Enfrentando um baixo crescimento econômico, o governo português tem enfrentado dificuldades para obter a arrecadação necessária para arcar com os gastos públicos.
  Os gastos do governo têm sido relativamente altos, devido em parte a uma sucessão de projetos caros -- especialmente de melhora no setor de transportes, tendo em vista o aumento da competitividade. Assim, quando estourou a crise financeira global, Portugal passou a enfrentar uma grande dívida pública, que ficou cada vez mais difícil de ser financiada.
POR QUE PORTUGAL PRECISA DE AJUDA?
  Portugal tem tido crescentes dificuldades para administrar a sua dívida, com o aumento das taxas de juros que é obrigado a pagar, devido às preocupações de investidores de que o país será incapaz de pagar seus empréstimos. Para aumentar a confiança na economia, o primeiro-ministro José Sócrates, tentou adotar medidas de austeridade para reduzir os gastos do governo. O pacote incluía cortes no pagamento de pensões, aumentos de impostos e altas nas tarifas do transporte público.
  No entanto, a oposição considerou as medidas drásticas demais e as derrubou no Parlamento, em março. Com isto, Sócrates renunciou ao cargo, permanecendo interinamente até as eleições de 5 de junho.

  Isto mostrou que a confiança na economia caiu ainda mais, com o ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, chegando a sugerir que o governo provisório não tinha autoridade para negociar um pacote de ajuda financeira.
Fernando Teixeira dos Santos
  Para tentar reverter a situação, o governo realizou um leilão de títulos da dívida, visando obter recursos. No fim, Portugal teve que pagar tanto dinheiro para tomar empréstimos, mesmo no prazo de um ano, que teve de admitir que precisaria de ajuda externa.
O QUE ACONTECE AGORA?
  A grande questão é se um pacote de ajuda financeira adequado pode ser negociado com um governo interino.
  Financiamentos concedidos tanto pela União Europeia quanto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) dependem da concordância do país receptor em adotar medidas como cortes de gastos e aumentos de impostos.
  Apesar da falha do governo português em fazer isto, um representante da Comissão Europeia afirmou que, mesmo assim, ocorrerá o diálogo com as autoridades que ainda estão no poder em Portugal.
  A ideia é chegar a um acordo, tanto com o governo provisório quanto com a oposição, ou então realizar um empréstimo de curto prazo ao país até que este realize eleições.
POR QUE PORTUGAL NÃO DECRETA A MORATÓRIA DA DÍVIDA?
  Se Portugal não fizesse parte da zona do euro, ele poderia ser levado a decretar a moratória, fosse se negando a pagar os juros da sua dívida, fosse insistindo que seus credores aceitassem receber parcelas menores, além de perdoar parte da dívida.
  No caso de Portugal, isto seria muito difícil. A taxa de juros que os governos da zona do euro pagam já tem sido mantida baixa, sob o argumento de que a UE e o Banco Central Europeu (BCE) dariam assistência aos países da região para evitar moratórias.
  Se não fosse este o caso, o custo de tomar empréstimos por parte dos países menores da UE -- alguns dos quais já encarando problemas para saldar suas dívidas -- aumentaria significativamente.
  Assim, se Portugal decretasse moratória, provavelmente a Irlanda e a Grécia também fariam o mesmo -- o que traria grandes problemas para os bancos que emprestaram dinheiro a estes países.
  Se todos estes bancos tivessem problemas, isto seria um grande teste para os recursos do BCE, que já emprestou dinheiro às instituições envolvidas com os países em crise. É provável que a UE continue ajudando os países para evitar moratórias.
QUE FORMATO TERIA O PACOTE DE AJUDA A PORTUGAL?
  O pacote seria um empréstimo feito por outros países europeus e possivelmente o FMI, que também se envolveu nas ajudas a Grécia e Irlanda.
  Há dois diferentes fundos europeus de onde pode sair o dinheiro. O maior é o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, de 440 bilhões de euros, mantidos por integrantes da zona do euro. O segundo, chamado de Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira, é mantido por um grupo mais amplo de nações europeias. Depois da ajuda à Irlanda, este fundo ficou reduzido a 37,5 bilhões de euros.
  Este empréstimo terá de ser pago junto de uma taxa de juros pré-fixada. O novo governo irlandês está tentando mudar esta taxa. Os termos do empréstimo à Grécia já foram modificados.
FONTE: folha.uol.com.br

domingo, 20 de maio de 2012

ENTENDA A CRISE NA GRÉCIA

  A Grécia tem enfrentado dificuldades para financiar suas dívidas e despertado preocupação entre investidores de todo o mundo sobre sua situação econômica. Mesmo com seguidos pacotes de ajuste e ajuda financeira externa, o futuro da Grécia ainda é incerto.
  O país tem hoje uma dívida equivalente a cerca de 142% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, a maior relação entre os países da zona do euro. O volume de dívida supera, em muito, o limite de 60% do PIB estabelecido pelo pacto de estabilidade assinado pelo país para fazer parte do euro.
  A Grécia gastou bem mais do que podia na última década, pedindo empréstimos pesados e deixando sua economia refém da crescente dívida. Nesse período, os gastos públicos foram às alturas, e os salários do funcionalismo praticamente dobraram. Enquanto os cofres públicos eram esvaziados pelos gastos, a receita era afetada pela evasão de impostos - deixando o país totalmente vulnerável quando o mundo foi afetado pela crise de crédito de 2008.
  O montante da dívida deixou os investidores relutantes em emprestar mais dinheiro ao país. Hoje, eles exigem juros bem mais altos para novos empréstimos que refinanciem sua dívida.
AJUDA E PROTESTOS
  Em abril de 2010, após intensa pressão externa, o governo grego aceitou um primeiro pacote de ajuda dos países europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI), de 110 bilhões de euros ao longo de três anos. Em contrapartida, o governo grego aprova um plano de austeridade fiscal que inclui alta no imposto de valor agregado (IVA), um aumento de 10% nos impostos de combustíveis, álcool e tabaco, além de uma redução de salários no setor público, o que sofre forte rejeição da população.
Protestos da população grega contra as medidas adotadas pelo Governo
  Apesar da ajuda, a Grécia segue com problemas. Em meados de 2011, foi aprovado um segundo pacote de ajuda, em recursos da União Europeia, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do setor privado. A contribuição do setor privado foi estimada em 37 bilhões de euros. Um programa de recompra de dívidas deve somar outros 12,6 bilhões de euros vindos do setor privado, chegando a cerca de 50 bilhões de euros.
  Em outubro, ainda com o país à beira do colapso financeiro, os líderes da zona do euro alcançaram um acordo com os bancos credores, que reduz em 50% a dívida da Grécia, eliminando o último obstáculo para um ambicioso plano de resposta à crise. Com o plano, a dívida grega terá um alívio de 100 bilhões de euros após a aceitação, pela maior parte dos bancos, de uma redução superior a 50% do valor dos títulos da dívida.
  No mesmo mês, o país enfrentou violentos protestos nas ruas. A população se revoltou contra um novo plano de cortes, previdência e mais impostos, demissões de funcionários públicos e redução de salários no setor privado, pré-requisito estabelecido pela União Europeia e pelo FMI para liberar uma nova parcela do plano de resgate, de 8 bilhões de euros.
  Muitos servidores públicos acreditam que a crise foi criada por forças externas, como especuladores internacionais e banqueiros da Europa Central. Os dois maiores sindicatos do país classificaram as medidas de austeridade como "antipopulares" e "bárbaras".
PLEBISCITO E TURBULÊNCIAS NO MERCADO
  Em 1° de novembro, o então primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, provocou novas turbulências nos mercados e na zona do euro ao anunciar que convocaria um referendo sobre o novo pacote de ajuda da União Europeia, perguntando aos eleitores se querem adotá-lo ou não.
  A expectativa do premiê era que o plebiscito "validasse" as medidas de austeridade necessárias para receber a ajuda financeira. Uma pesquisa, no entanto, mostrou que aproximadamente 60% dos gregos exergam a cúpula dos líderes europeus, que acertaram um novo pacote de ajuda de 130 bilhões de euros, como negativa ou provavelmente negativa.
George Papandreou
  A convocação do plebiscito enfrentou rejeição da oposição e dos membros do próprio partido de Papandreou. Com isso, o governo ficou enfraquecido, e Papandreou terminou deixando o cargo, sendo substituído por Lucas Papademos.
CALOTE
  Como membro da zona do euro, a Grécia enfrenta pressão dos demais membros para colocar suas contas em ordem e evitar a declaração de moratória - o que signifcaria deixar de pagar os juros das dívidas ou pressionar os credores a aceitar pagamentos menores e perdoar parte da dívida.
  No caso da Grécia, isso traria enormes dificuldades. As taxas de juros pagas pelos governos da zona do euro têm sido mantidas baixas ante a presunção de que a UE e o Banco Central Europeu proveriam assistência a países da região, justamente para evitar calotes.
Lucas Papademos
  Uma moratória grega, além de estimular países como Irlanda e Portugal a fazerem o mesmo, significaria um aumento de custos para empréstimos tomados pelos países menores da UE, sendo que alguns deles já sofrem para manter seus pagamentos em dia.
  Se Irlanda e Portugal seguissem o caminho do calote, os bancos que lhes emprestaram dinheiro seriam afetados, o que elevaria a demanda por fundos do Banco Central Europeu.
  Um calote grego pode fazer com que investidores questionem se a Irlanda e Portugal não seguirão o mesmo caminho. O problema real diz respeito ao que acontecerá com a Espanha, que só tem conseguido obter dinheiro no mercado a custos crescentes.
  A economia espanhola equivale à soma das economias grega, irlandesa e portuguesa. Seria muito mais difícil para a UE estruturar, caso seja necessário, um pacote de resgate para um país dessa dimensão.
FONTE: Globo.com
noticias.uol.com

quinta-feira, 17 de maio de 2012

TERRA: ESPAÇO FÍSICO E TERRITÓRIO POLÍTICO

  O homem espalhou-se pelo planeta, evoluiu e adquiriu as capacidades que o tornaram um dos principais agentes de transformação da Terra. As comunidades humanas não prosperaram da mesma forma e esse processo não se deu com a mesma intensidade em todos os lugares. Um dos aspectos mais importantes foi a aquisição da habilidade para domesticar as plantas e os animais, seguida pela adoção da vida sedentária.
  A vida das comunidades em um lugar fixo tornou-se possível quando elas adquiriram meios para alterá-lo, já que não mais se mudariam de um lugar para outro, em busca do ambiente mais adequado. Dessa forma, o transcorrer da história mostra o aumento da capacidade do homem para alterar o meio em que vive, transformando-o na medida do possível, em um lugar mais adequado para viver. Essa apropriação dos espaços e sua transformação de acordo com as necessidades e possibilidades das comunidades podem ser consideradas como uma espécie de domesticação dos territórios.
A domesticação de plantas e animais e a sedentarização foi uma das principais mudanças na vida do homem
BANDOS E TRIBOS
  Quando grande parte dos agrupamentos ainda estava no estágio da caça e da coleta, as comunidades se organizavam na forma de bandos, compostos por um número limitado de pessoas vagando por uma área, com a finalidade de garantir alimentos para a sobrevivência do grupo: calcula-se que eram necessários 26 km² para manter uma única pessoa nas comunidades organizadas dessa maneira. Em consequência disso, se um bando ficasse numeroso, sua abrangência territorial teria de ser maior.
  Os estudiosos consideram que grupos maiores de caçadores/coletores tinham maiores possibilidades de garantir sua sobrevivência, já que podiam deslocar com mais agilidade e necessitavam de áreas menos extensas.
A organização da vida humana em bandos era uma forma de se proteger das adversidades da época
  Os bandos tinham suas lideranças - algumas vezes os indivíduos mais fortes, outras os mais ágeis ou mais experientes etc. -, mas todos participavam do conjunto de tarefas necessárias para a sobrevivência. À medida que essa coletividade ficavam mais complexas, surgia a necessidade de pessoas que pudessem resolver conflitos e disputas internas, para que estas não degenerassem em confrontos e ameaçassem a própria sobrevivência do bando. Em geral, as pessoas que desempenhavam esse papel de mediação eram sacerdotes ou feiticeiros, reconhecidos pelos demais componentes do bando ou da tribo como portadores de conhecimentos e poderes fora do comum, com base nos quais passaram a ditar normas de comportamento para o grupo.
Na vida em bandos, geralmente o mais forte ou o mais experiente era o líder do grupo
  Para que essas pessoas pudessem executar tais funções o tempo todo, as tarefas que deveriam desempenhar para garantir a própria sobrevivência eram assumidas por outras pessoas da comunidade. É provável que esse tipo de diferenciação social somente tenha aparecido quando as comunidades atingiram o estágio de produção de excedentes (quando as comunidades são organizadas de tal forma que alguns de seus componentes produzem - por convicção ou por obrigação - uma quantidade de produtos de subsistência maior do que a necessária para a própria manutenção). A apropriação de uma parte desses excedentes pelas pessoas que são reconhecidas como portadoras de autoridade ou liderança permite que elas sejam liberadas das funções rotineiras ligadas à sobrevivência e se dediquem em tempo integral às funções de representação política, militar ou religiosa.
Na vida Pré-História, cada pessoa da comunidade desempenhava uma função específica no bando
  Como as comunidades organizadas centralmente apresentavam maiores possibilidades de organização e mobilização de recursos, o bando transformavam-se em tribos centralizadas ou eram conquistados ou dominados pelas comunidades que já se organizavam dessa maneira. Durante um longo período da história da humanidade, esses foram os principais agentes de apropriação territorial em diversos lugares, estruturando dessa forma a geografia política do planeta.
  Quando começou a passagem para a agricultura sedentária muita coisa mudou. Em alguns lugares que apresentavam condições propícias, como na Mesopotâmia e nos vales dos rios Nilo, Indo e Amarelo, as populações que haviam feito a transição encontraram um ambiente favorável para prosperar e se multiplicar, formando coletividades que não existiam no estágio anterior.
Mapa que mostra as áreas onde surgiram as primeiras civilizações da humanidade
  A organização das coletividades humanas espalhadas pelos mais diversos lugares do planeta estruturou-se de forma diferenciada e específica. O mundo era constituído de comunidades dotadas de características particulares, e os contatos se davam, sobretudo, entre as que se localizavam relativamente próximas. Com o passar do tempo, algumas comunidades humanas ampliaram seus horizontes e suas fronteiras e lançaram-se por territórios mais amplos, mas a maioria tinha abrangência restrita a determinada região, mesmo que sua extensão fosse significativa.
  Era fundamental manter o domínio do lugar onde cada comunidade se alojava e, na medida do possível e do necessário, conquistar outras terras, mesmo à custa de conflitos com as comunidades que as habitavam. Os vitoriosos podiam então estender seus domínios por uma superfície maior e mais bem servida de recursos. Durante muito tempo, essa foi uma das principais características da geografia do planeta.
  A vastidão dos territórios dominados dava a medida da importância de uma sociedade. Um exemplo disso foi o Império Romano: com base na cidade de Roma, estendeu-se por grande parte da Europa, Oriente Médio e norte da África, subjugando os diversos povos que habitavam esses lugares. No entanto, desmoronou-se depois de alguns séculos de existência, e todos aqueles territórios que se haviam unificado sob sua hegemonia dispersaram-se, e cada qual readquiriu sua autonomia política.
Império Romano
O MUNDO ESTRUTURADO EM PAÍSES
  A geografia política do mundo sofreu sua alteração mais notável em tempos mais recentes, quando todas as comunidades humanas passaram a se relacionar em escala planetária.
  Diferentemente do que ocorria nos primórdios da distribuição do homem pelo planeta, hoje as sociedades organizadas em países são a forma predominante de organização política.
  Os países são os lugares geográficos dos Estados Nacionais. Cada país tem significação geográfica, na medida em que uma parcela da superfície mundial é submetida à sua soberania: organiza-se na forma de estado independente, com governo próprio, leis, regulamentos e instituições que devem ser respeitados pelas pessoas que habitam seu território. Com base nessa autoridade constituída e reconhecida, cada um relaciona-se de forma independente com os demais.
Mapa-múndi atual
  Quando observa-se o mapa-múndi, com os contornos dos países minuciosamente definidos, tem-se a sensação de que as fronteiras são um fato permanente e que o interior de cada país não apresenta diversidade entre as populações que o habitam. No entanto, observando-se um mapa de séculos atrás, deduz-se que em muitos países a população é muito diversificada, pois as atuais fronteiras resultam de prolongada evolução histórica das formas de organização política das sociedades e da apropriação de territórios. Assim, o que hoje parece tão bem estabelecido passou, na verdade, por situações muito diferenciadas ao longo da história.
Mapa-múndi no século XVIII
  Os países formaram-se antes na Europa, geralmente a partir de unificações de comunidades diferenciadas. Entretanto, a maior parte dos territórios mundiais ainda estava organizada de maneira diferente: mesmo a Europa apresentava ainda um quadro bem diferente do atual, pois vários países que conhecemos hoje sequer haviam se formado (como a Itália e a Alemanha, por exemplo).
Mapa da unificação da Itália
  Valendo-se do poderio militar, alguns países europeus iniciaram a conquista de territórios em diversos lugares do mundo e neles instituíram colônias, subordinada aos seus interesses. Essas colônias, em geral, agrupavam povos diferentes, mas o que interessava aos países dominantes era desfrutar as vantagens advindas da soberania sobre esses territórios, mesmo que povoados por comunidades com grandes diferenças entre si. Posteriormente, essas colônias transformaram-se em países independentes, sendo que alguns deles conseguiram manter intacta grande parte do antigo território colonial, como o Brasil, e outros se dividiram, como os territórios dominados pelos espanhóis na América.
Continente africano dividido entre as potências europeias por meio da Conferência de Berlim
  O estabelecimento das fronteiras de um país não deve ser encarado como um fator permanente e definitivo. Da mesma maneira que a formação de impérios absorve países, cujos territórios passam a fazer parte da potência dominante, a dissolução dessas formas de organização política resulta na formação de vários países.  Um exemplo relativamente atual desse processo ocorreu quando a União Soviética (constituída após uma revolução, em 1917) dissolveu-se, em 1991. Praticamente da noite para o dia, quatorze das repúblicas que a compunham transformaram-se em países independentes.
CEI (Comunidade dos Estados Independetes) - repúblicas que faziam parte da antiga União Soviética
  Alguns países que se formaram por meio da unificação de vários territórios, muitas vezes mediante conflitos e guerras, estão às voltas, na atualidade, com movimentos pacíficos que visam mobilizar e motivar a população para conquistar a independência ou, na pior das hipóteses, maior autonomia em relação ao poder central. No Canadá, por exemplo, foi feita uma consulta aos habitantes da província de Quebec, para saber se concordavam com a transformação em país independente: a maioria preferiu manter-se como província canadense. Na Escócia também se faz notar um movimento político para conseguir a independência em relação ao Reino Unido, mas que ainda não atingiu o mesmo estágio de Quebec.
Província canadense de Quebec
  Em outros países a situação não é tão pacífica, por existirem movimentos políticos estruturados que, além de lutarem pela independência, se opõe radicalmente à atual situação. É o caso, por exemplo, do IRA (Exército Republicano Irlandês), que luta pela separação da Irlanda do Norte do Reino Unido, e do grupo ETA (sigla derivada da expressão Euzkadi Ta Askatasuna, que significa "Pátria Basca e Liberdade"), lutando para separar as províncias bascas da Espanha.
  Há outros povos em processo permanente de luta para estabelecer seus territórios independentes, como os palestinos, que perderam suas terras para Israel, e os curdos, cujo espaço nacional foi dividido entre Turquia, Iraque, Irã, Armênia, Azerbaijão e Síria. Nesses casos percebe-se a existência de movimentos políticos ativos e com forte base popular, absolutamente empenhados em traçar novas fronteiras para alojar seus territórios.
Curdistão
  Mas, já há bastante tempo, a disputa por poder e hegemonia não se limita a conquistas territoriais ou intervenções armadas em outros países; a imposição na escala internacional se faz, sobretudo, por meio do poderio econômico. As potências reservam as intervenções militares, de maneira geral, apenas para casos específicos. Assim, as fronteiras não são alteradas e o controle político dos territórios permanece intacto.
  Em geral, os países que dispõem de menores condições econômicas não conseguem impor seus interesses e incorporam-se nas relações internacionais de maneira subordinada. Assim, apesar de serem, formalmente, países independentes, veem-se obrigados a executar políticas que acentuam ainda mais o poder das grande potências internacionais.
O INCREMENTO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
  Houve um tempo em que a humanidade era constituída de comunidades isoladas que vagavam incessantemente por vastos territórios e mantinham relações esporádicas com os seus vizinhos, em geral, apenas para disputar territórios. Hoje, o mundo é formado por países cada vez mais interligados em uma cadeia de relações, e suas atitudes devem levar em conta a participação internacional em diferentes aspectos, moldando a geografia política do planeta e definindo um novo conteúdo para a açãode cada país.
  A autoridade dos países sobre seus assuntos internos é uma das características dos sistemas políticos atuais. Quando um país participa de uma organização ou assina um tratado internacional, manifesta autonomia política porque se trata de uma ação que ocorre por decisão interna do próprio país. Por outro lado, significa também que está abrindo mão da autoridade exclusiva sobre os assuntos da organização ou tratado, pois deverá seguir os regulamentos e acordos que foram negociados com a comunidade internacional em suas diversas manifestações e dimensões.
Símbolo da Comunidade Internacional da Paz
  Muitas vezes um país é levado a assinar um acordo ou a participar de um órgão internacional, mesmo considerando que esse não seria o melhor caminho para a defesa de seus interesses. Entretanto, nesses casos, a adesão a tais acordos ou órgãos é o mal menor, pois de outra forma seria marginalizado de algum aspecto importante das relações internacionais. A participação, então, segue a estratégia de tentar influir na condução das políticas estabelecidas, embora países com menor poder econômico tenham menor influência política e poucas chances de alterar a dinâmica de funcionamento desses organismos internacionais.
  Para tornar as relações internacionais menos instáveis, os países criaram organizações em escala global e regional. Embora diversas e com diferentes objetivos, essas organizações partem da ideia de que é mais conveniente, para os participantes, estabelecer algumas regras de comum acordo, de modo que as relações não deem origem a conflitos dos mais diversos tipos.
  Entre essas organizações, a maior e mais complexa é a Organização das Nações Unidas (ONU), estruturada após a Segunda Guerra Mundial com o fim de estabelecer algumas regras de convivência internacional. Vários temas foram objeto de atenção, e o resultado foi o estabelecimento de uma série de acordos e procedimentos que grande parte dos países aceita como válidos para garantir a estabilidade mundial.
Símbolo da ONU
  Seus órgãos atuam sobre os diversos aspectos das relações entre os diferentes países, como o comércio, as finanças, a agricultura e alimentação, a cultura etc. Evidentemente, como se trata de um organismo de participação internacional, sua atuação e implementação de políticas não está isenta de discordâncias e polêmicas, além de imposições por parte de países com maior poderio econômico e maior influência política.
Órgãos da ONU
OS PAÍSES E A GESTÃO POLÍTICA
  Os países desempenham um papel extremamente importante  e determinante para a geografia do planeta. A existência dos países materializa-se na apropriação de uma determinada parte da superfície terrestre, sobre a qual impõe a sua soberania, ou seja, exerce autoridade.
  A soberania do país é a afirmação de sua independência que se manifesta em diversos aspectos: cria as leis, executa-as e fiscaliza o seu cumprimento, define regras de relacionamento com os outros países (inclusive com seus cidadãos e empresas), protege a integridade do território frente a possíveis ameaças externas e também implementa a gestão dos recursos e a proteção do meio ambiente.
Países da Europa
  A execução das diversas políticas por parte dos países deve levar em consideração as potencialidades do seu território, abrangendo seu meio físico e biológico, sua população, as atividades econômicas e a relação entre esses fatores.
  Para indicar essas potencialidades é importante saber quais são os diversos aspectos dessa realidade. O conhecimento da estrutura geológica, por exemplo, indicará a necessidade ou não de se estabelecerem regras de edificação para resistir a terremotos ou a deslizamentos, bem como uma avaliação da ocorrência de jazidas de recursos minerais, como petróleo, carvão mineral, ferro etc., para poder tomar decisões fundamentais para a sociedade e a economia com absoluto conhecimento de causa.
As políticas exercidas pelos países podem diminuir os prejuízos causados por catástrofes naturais, como o do terremoto que devastou a capital do Haiti, Porto Príncipe em janeiro de 2010
  Da mesma forma, a implementação de políticas ligadas à produção agropecuária exige conhecimentos dos solos, dos climas e da adaptabilidade das plantas e animais ao meio ambiente.
  A partir desse conhecimento podem-se ainda formular propostas em relação à formação escolar da população, aos rumos que deve tomar a pesquisa científica, quais setores industriais incentivar etc.
  Mesmo que haja conhecimento profundo da realidade, porém, nem sempre são tomadas medidas adequadas para promover o desenvolvimento dos países. Entretanto, sem esse conhecimento, as possibilidades de ação eficaz frente aos problemas são praticamente nulas.
Conhecer bem o terreno de um país é essencial para a prática da agricultura, como a agricultura de terraceamento realizada em muitos países, como na Indonésia
  O estudo do país é a condição para que se possa entender sua realidade específica, como ele implementa suas potencialidades e como se articula internacionalmente.
FONTE: Carvalho, Marcos Bernardino de. Geografias do mundo: fundamentos, 6° ano / Marcos Bernardino de Carvalho, Diamantino Alves Correia Pereira. - 1. ed. renovada. - São Paulo: FTD, 2009. - (Coleção geografias do mundo). p.161-170

quarta-feira, 16 de maio de 2012

O NÓ E A REDE: CINGAPURA ALÉM DAS FRONTEIRAS

  O mundo atual apresenta como uma de suas principais características o fantástico aumento de intensidade das conexões entre os lugares e as pessoas. As cidades são os pontos centrais desse processo, e por isso recorre-se à imagem do nó e da rede para simbolizar o mundo atual. Na rede, como sabemos, o nó não existe de forma isolada, mas somente ligado a outros nós.
  A participação da cidade na rede e a sua isenção na dinâmica econômica, política e cultural do mundo são intermediadas pelos modernos meios de comunicação e de transporte. Entretanto, para que haja essa comunicação e transporte, deve existir o que transportar e comunicar, além da necessidade de uma infraestrutura vinculada a esses serviços.
Rede de cidades do Paraná
  A cidade é o ponto, o nó, a área de convergência, mas é também a zona de origem dos fluxos, que partem com intensidades e direcionamentos diferenciados. Mesmo as cidades que estão conectadas densamente na rede urbana mundial e, por isso mesmo, são denominadas cidades mundiais não possuem no interior de seus próprios limites territoriais todos os insumos e meios de produção necessários para manter e desenvolver sua dinâmica.
  As cidades mundiais da atualidade nem mesmo têm essa pretensão. Ao invés, espalham suas relações e contatos por uma imensa área de influência e a ela se ligam de forma a conseguir acesso a tudo de que necessitam, sem que as unidades produtoras ou fornecedoras estejam incrustadas em seus territórios. Para que essa forma de funcionamento apresente resultado e seja eficiente, é necessário que a infraestrutura de comunicações e de transporte suporte uma inevitável intensificação dos fluxos.
  Portanto, a importância de uma cidade mundial é medida, de um lado, pela qualidade e intensidade dos fluxos que ela emite em direção aos diversos outros componentes da rede. Mas, para que isso aconteça, a cidade mundial deve também ser capaz de receber os fluxos que complementam as suas necessidades.
Londres - exemplo de cidade mundial
  A força de uma cidade mundial é dada justamente por sua imensa capacidade de vencer os obstáculos ao estabelecimento desses fluxos, tanto em relação à sua emissão quanto à sua recepção e ao alargamento de sua área de influência. Grandes cidades, como Nova York, Paris e Londres, inegavelmente, apresentam essas características privilegiadas, mas outras cidades enfrentam alguns obstáculos adicionais para se estabelecer como polos importantes na rede mundial. Uma dessas cidades é Cingapura, na verdade uma Cidade-Estado situada no extremo sul da Malásia, no sudeste asiático.
  A área territorial de Cingapura é pouco maior que a do município de Salvador, na Bahia, e quase totalmente urbanizada, com exceção de uma pequena reserva florestal e algumas áreas de mangues. A população da ilha é um pouco superior a 4 milhões de habitantes, e a intensificação do desenvolvimento econômico tem levado o poder público a executar obras de extensão do território por meio de aterros e diques.
Visão de parte de Cingapura
  Independente desde 1965, Cingapura levou a efeito uma estratégia econômica de incentivo à industrialização voltada para a exportação e investiu pesadamente na sofisticação de suas atividades produtivas. Como resultado dessa estratégia, as taxas de crescimento econômico foram fortemente aceleradas, com o PIB apresentando um crescimento anual médio de 10% durante os vinte primeiros anos após a independência do país.
  Apesar de muitos considerarem que a dinamização das economias dos países asiáticos, sobretudo dos denominados "tigres" ou "dragões", teria sido um resultado apenas das forças do mercado, o papel da intervenção do Estado foi fundamental. No caso de Cingapura, essa ação estatal materializou-se na criação de empresas como estaleiros navais, extração e refino de petróleo, siderúrgicas, indústrias eletrônicas, alimentares etc., além de gerenciar a atividade econômica em vários setores através de órgãos especializados.
Estaleiro da empresa Jurong em Cingapura
  Além disso, os investimentos estrangeiros foram estimulados por meio de um conjunto de medidas, como a isenção fiscal, os incentivos à exportação ou a isenção dos impostos de importação para as matérias-primas.
  O crescimento econômico da cidade-estado levou, a partir da década de 1980, a um fortalecimento das relações com os territórios dos países próximos, configurando uma nova divisão regional das atividades econômicas, cujo centro dinâmico passou a ser Cingapura.
Visão noturna de Cingapura
  Inicialmente estabeleceram-se conexões visando à integração regional com as províncias de Johore (Malásia) e Riau (Indonésia). Em função disso, essa área de cooperação passou a ser conhecida como "triângulo de crescimento" SIJORI, incorporando as iniciais dos três participantes. Posteriormente, esses acordos foram ampliados para outras províncias, e o nome deixou de se limitar apenas às províncias parceiras de Cingapura, mas passou a fazer referência aos países, constituindo-se então o "triângulo" IMS (Indonésia, Malásia e Cingapura). Ao lhes dar estatuto jurídico, esses acordos facilitaram os fluxos de investimentos e a integração de atividades que já vinham progressivamente se incrementando.
Rede de conexões SIJORI
  Os investimentos em atividades industriais dependentes de mão de obra semiqualificada foram sendo paulatinamente aplicados em Johore (Malásia) e Riau (Indonésia), enquanto em Cingapura destacou-se o polo das indústrias de ponta e de alta tecnologia, que utilizam mão de obra qualificada. No arquipélago de Riau, as empresas ligadas a Cingapura constituem quase a totalidade da movimentação econômica, que é mais intensa na ilha de Batan. A província de Johore, na Malásia, além da complementaridade em relação à atividade industrial, também é um importante fornecedor de matérias-primas e produtos agropecuários.
  Praticamente desprovida de recursos naturais e dispondo de um território exíguo, a ilha de Cingapura depende de seus vizinhos até mesmo para o abastecimento de água. Premida por essas condições desfavoráveis, a alternativa seguida desde a sua independência foi a de ampliar as suas relações internacionais. Na verdade, a cidade-estado já nasceu internacional: três quartos de sua população são de origem chinesa, complementada por contingentes minoritários de malaios e indianos.
  Esse direcionamento internacional tem sido ampliado com o fortalecimento do papel da cidade como um importante porto de uma das principais rotas marítimas mundiais (1º porto do mundo em movimentação de carga e 2º em tráfego de contêineres, logo após o porto de Hong Kong). Além do movimento próprio da cidade, aproximadamente 40% das exportações de Cingapura são reexportações, principalmente da Malásia, mas também da China (Hong Kong e outras cidades), Japão, Taiwan e Tailândia.
Porto de Cingapura - um dos mais movimentados do mundo
  As ligações externas de Cingapura são mundiais, mas entre elas destacam-se as conexões com a Ásia, particularmente com a China. Ao lado disso, estabeleceu uma sólida área de influência regional ao articular sob o seu comando territórios da Malásia e da Indonésia.
  O exemplo de Cingapura e da constituição do denominado "triângulo de crescimento" demonstra que a cidade mundial, concentradora de atividades e pessoas em seu território, necessita estabelecer uma área de influência que lhe forneça suporte para a ampliação de sua economia. Se, como Cingapura, o seu território for limitado em termos territoriais, uma das poucas alternativas que restam será a articulação internacional com as economias regionais e o estabelecimento de fluxos na escala mundial.
  A participação na rede mundial de cidades exige, pois, uma base sólida, mesmo que ela tenha de ser conseguida com conexões à distância.
DADOS GERAIS SOBRE CINGAPURA
NOME OFICIAL: República de Cingapura
INDEPENDÊNCIA: do Reino Unido 
Fundação: 29 de janeiro de 1819 
Autogoverno: 3 de junho de 1959 
Fusão com a Malásia: 16 de setembro de 1963 
Separação da Malásia: 9 de agosto de 1965 
LOCALIZAÇÃO: extremo sul da península Malaia 
CAPITAL: Cidade de Cingapura
 
Centro financeiro da Cidade de Cingapura
ÁREA: 683 km² (177º)
POPULAÇÃO (ONU - 2011): 4.608.167 habitantes (118º)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA (ONU): 6.746,95 hab./km² (2°)
LÍNGUA: inglês (principal), malaio (nacional), mandarim e tamil.
IDH (ONU - 2011): 0,866 (26°)
PIB (FMI - 2011): US$ 259,849 bilhões (38°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2005/2010): 80,0 anos (15°)
MORTALIDADE INFANTIL (ONU - 2005/2010): 3,0/mil (2°)
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA WORLD FACTBOOK - 2008): 100% (1°)
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (PNUD - 2007/2008): 94,4% (74°)
MOEDA: dólar de Cingapura
RELIGIÃO (2010): budismo, taoísmo e religiões tradicionais (54,4%), islamismo (14,9%), cristianismo (12,9%), hinduísmo (3,3%), sem filiação (14,5%).
FONTE: Carvalho, Marcos Bernardino de. Geografias do mundo: redes e fluxos, 9° ano / Marcos Bernardino de Carvalho, Diamantino Alves Correia Pereira. - 1. ed. renovada. - São Paulo: FTD, 2009. - (Coleção geografias do mundo). p. 204-206.

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