sexta-feira, 9 de novembro de 2012

MANEJO SUSTENTÁVEL E OCUPAÇÃO DO SOLO

  Para garantir o intercâmbio genético e reforçar o sistema de UCs (Unidades de Conservação), o Ibama pretende instalar corredores ecológicos, no interior dos quais seriam tomadas medidas tanto de preservação da fauna e da flora quanto de manejo sustentável dos ecossistemas. Sete desses corredores já estão em fase de implantação: cinco na Amazônia e dois na Mata Atlântica.
  A realidade das UCs brasileiras é bem precária. De acordo com o SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), todas as Unidades de Proteção Integral devem estar instaladas em áreas de domínio público, e muitas delas não admitem sequer visitantes, menos ainda moradores. No caso de terras particulares, a lei prevê que os proprietários sejam indenizados e removidos. Na realidade, porém, poucas entre as Unidades de Conservação foram originalmente criadas em áreas de propriedade do Estado. A maioria delas se estendem sobre verdadeiros mosaicos patrimoniais, mesclando terras públicas, particulares e de posse. A regularização fundiária dessas áreas demandaria um enorme volume de recursos por parte do poder público.
  A questão não é só fundiária, mas também social. Em sua maioria, as UCs são habitadas. Além dos fazendeiros e turistas, existem centenas de comunidades indígenas que vivem nessas áreas muito antes de elas se tornarem UCs, ainda que frequentemente não possuam o título legal da terra. Alguns grupos ambientalistas defendem que a preservação desses ambientes implica a retirada de todos os seus habitantes. Outros, porém, alegam que simplesmente não faz sentido expulsar comunidades inteiras dos lugares onde moram e de onde extraem o seu sustento. Pelo menos por enquanto, a lei está a favor dos primeiros.
  Os parques nacionais estadunidenses, nos quais os legisladores brasileiros se inspiraram,  cumprem efetivamente uma função importante como alternativa de lazer para as populações urbanas. A maior parte dos parques brasileiros, porém, está fechada para visitantes devido à precariedade das instalações implantadas. Mesmo aqueles que funcionam  apresentam problemas crônicos de falta de estrutura, como trilhas mal sinalizadas e ausência de monitores adequadamente treinados.
FONTE: Terra, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil / Lygia Terra, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. 1 -- ed. São Paulo: Moderna, 2010.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

PAÍSES ÁRABES DO ORIENTE MÉDIO

  Líbano, Síria, Iraque, Jordânia, Arábia Saudita, Omã, Iêmen, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Catar, Kuwait, Irã, Palestina (no Oriente Médio), mais Egito, Djibouti, Somália, Sudão, Líbia, Tunísia, Argélia, Marrocos e Mauritânia (África), são considerados países árabes. Esses países possuem tradições comuns, principalmente a religião. A principal diferença entre eles é que alguns exportam petróleo e outros não. Os grandes exportadores de petróleo em geral possuem uma renda per capita muito alta. Já os países árabes cuja economia é baseada na agropecuária possuem renda per capita baixa.
Mapa do Mundo Árabe
  No Oriente Médio destacam-se pela produção e exportação de petróleo os seguintes países: Arábia Saudita, Kuwait, Irã, Iraque, Omã, Catar, Bahrein, Síria, Emirados Árabes Unidos e Iêmen. Os demais países - Líbano e Jordânia - não exportam petróleo. Possuem uma economia pobre, baseada na agropecuária, destacando-se o cultivo de trigo, legumes, frutas cítricas, algodão, sorgo, gergelim e a criação de gado ovino.
Economia do Oriente Médio
  O regime político dos países árabes é muito variado. Aí encontramos:
  • monarquias absolutistas semifeudais - Arábia Saudita, Omã, Bahrein e Catar;
  • monarquias constitucionais - Kuwait e Jordânia;
  • repúblicas presidencialistas - Síria, Líbano, Iêmen e Iraque;
  • regimes políticos originais - Irã, um país teocrático; Emirados Árabes Unidos, uma federação de emirados.
  Contudo, essas diferenças entre os regimes políticos são apenas formais. Na realidade, em praticamente todos esses países a regra geral é a concentração do poder nas mãos de duas ou três famílias. Geralmente o sogro ou o irmão do presidente ou do emir é o ministro do Exército; o cunhado, o ministro da Economia; um primo cuida do Banco Central ou da política secreta; e assim por diante. Ou seja, apesar das diferenças formais (emirados, monarquias, repúblicas), o poder político está sempre monopolizado por uma minoria da população, que dispõe também da maior parte das propriedades e da renda.
Rei Abdullah bin Abdul Aziz al-Saud da Arábia Saudita
LÍBANO: A DIFÍCIL RECONQUISTA DA SOBERANIA
  O Líbano já foi um dos países mais prósperos da região - possui solos férteis e excelente posição geográfica para o comércio mundial -, mas hoje é um dos mais pobres e enfrenta enormes problemas internos. O país apresenta uma grande diversidade cultural e religiosa. Os muçulmanos - divididos em sunitas e xiitas - abrangem cerca de 60% da população. No entanto, é grande a presença de católicos, cristãos ortodoxos, armênios, protestantes, entre outros.
Beirute - capital do Líbano
  As lutas entre essas comunidades, agravadas ainda mais pela presença de refugiados palestinos, têm sido frequentes e violentas, e quase constituem um reflexo das lutas entre Israel e os vizinhos. Em 1975, iniciou-se uma verdadeira guerra civil no país, principalmente entre cristãos - apoiados por Israel - e muçulmanos - apoiados pelos árabes. Além disso, o sul do país foi frequentemente bombardeado por forças israelenses, que respondiam aos ataques dos palestinos, instalados nessa parte do Líbano. Essa terrível guerra civil, que conheceu alguns períodos de trégua, terminou em 1991. Mas com frequência Israel invade e/ou bombardeia o sul do Líbano, com o pretexto de revidar as ações terroristas do Hezbollah, grupo xiita radical apoiado pelo Irã e que possui milícias no sul do Líbano.
Miliciano cristão lutando contra os palestinos na guerra civil libanesa próximo ao Porto de Beirute em 1976
  Se a paz se confirmar internamente no Líbano; se a paz entre Israel e a Autoridade Palestina se consolidar na região; se Israel parar de bombardear esse território, o Líbano poderá, enfim, começar a se reconstruir  como um Estado soberano. E, por conseguinte, recuperar o antigo prestígio de centro turístico e financeiro do Oriente Médio.
IRÃ: EM BUSCA DE REFORMAS POLÍTICAS
  O Irã, com uma área de 1.628.750 km² e uma população de 78.785.548 habitantes, tem a maior população e o segundo maior território do Oriente Médio (perdendo apenas para a Arábia Saudita, que possui 2.149.690 km²). A revolução islâmica de 1979 instalou um regime político profundamente religioso e antiliberal.
  Com base no Alcorão, o governo baixou, entre outros, os seguintes atos:
  • Proibiu a música e a dança ocidentais;
  • Proibiu homens e mulheres de frequentarem juntos praias ou piscinas;
  • Determinou que, nas universidades, as mulheres devem sentar-se atrás dos homens durante as aulas, e nunca olhar diretamente nos olhos do professor nem dirigir-lhe a palavra.
Mulheres usam véu em Teerã, capital do Irã, onde ainda prevalece um regime islâmico fundamentalista que restringe a liberdade da mulher
  Esses atos e muitos outros, fundamentados no islamismo mais radical - o xiismo -, são estranhos para os ocidentais, embora não sejam para esse povo que há séculos convive com eles.
  A partir da revolução islâmica, esse Estado contestou radicalmente a hegemonia dos Estados Unidos, a quem qualificou como o "grande Satã" e com o qual suas relações permanecem tensas até hoje.
  O Irã ainda não se refez das consequências provocadas pela longa guerra contra o Iraque, que se estendeu de 1980 a 1988 e só terminou pelo esgotamento da capacidade de continuação dos combates, por parte do Irã. Na verdade, encerraram-se os combates, mas os dois Estados ainda não assinaram um tratado de paz. A economia, arruinada pela destruição de inúmeras instalações industriais (especialmente petroquímicas), ainda não se recuperou, apesar da renda obtida com a exportação de petróleo. O país depende da importação de bens de consumo, de produtos industrializados e também de alimentos.
Guerra Irã X Iraque - deixou um grande número de mortos e os dois países arrasados
  O precário desempenho da economia é uma das fontes da insatisfação do povo iraniano, que reivindica melhores condições de vida. Talvez isso tenha contribuído para o retorno de políticos da linha radical ao governo nas eleições de 2005.
GUERRA DO GOLFO
  Após a guerra contra o Irã, o Iraque encontrava-se em precárias condições econômicas. Para tentar conseguir recursos financeiros, o governo do Iraque, em 1989 e 1990, procurou empréstimos nos países vizinhos e acordos com os demais países exportadores de petróleo para elevar os preços desse combustível. Como não conseguiu nenhum desses objetivos - os países árabes vizinhos já lhe haviam emprestado grandes somas durante a guerra contra o Irã -, o Iraque invadiu o Kuwait, em agosto de 1990, procurando anexá-lo ao seu território.O Kuwait é um país pequeno e vizinho do Iraque, com grandes reservas de petróleo e com saída para o mar, algo que os iraquianos sempre almejaram.
Caças norte-americanos e artilharia antiaérea iraquiana se enfrentam em 18 de janeiro de 1990 na cidade de Bagdá, capital do Iraque
  Mas a reação a essa invasão, em especial dos Estados Unidos, pegou o Iraque de surpresa. A ONU decretou um boicote comercial: nenhum país comprava nem vendia nada a ele. Além disso, foi dado ao governo iraquiano um prazo, até o início de 1991, para a retirada de suas tropas do Kuwait sob pena de as tropas das forças aliadas - lideradas pelos Estados Unidos e com a participação do Reino Unido, Itália, França, Egito e Arábia Saudita - iniciarem uma guerra contra o Iraque pela libertação do Kuwait. A antiga União Soviética, que até o fim dos anos 1980 sempre ajudou os países adversários dos Estados Unidos, nada fez pelo Iraque.
Aviões F-15 e F-16 dos Estados Unidos sobrevoam poços de petróleo incendiados pelo governo iraquiano em 1991
  Após intensos bombardeios, as tropas iraquianas foram desalojadas do Kuwait em março de 1991 e o saldo dessa breve mas intensa guerra foi catastrófico para esses dois países árabes:
  • cidades e instalações industriais, principalmente petroquímicas, em ruínas;
  • derramamento de petróleo no mar, o que causou grande poluição;
  • poços de petróleo em chamas, o que provocou enorme concentração de gases venenosos na atmosfera e nas poucas fontes de água potável.
Poços de petróleo em chamas no deserto iraquiano em 1991
GUERRA DO IRAQUE
  Em 2003, a ameaça norte-americana de invadir o Iraque mobilizou centenas de milhares de manifestantes em todo o mundo. Essas manifestações foram convocadas, basicamente, pela internet e se singularizaram pelo fato de que, rompendo as esferas de mobilização social, acompanharam os avanços da conjuntura internacional.
 Apesar da rejeição por parte da opinião pública internacional e da ausência de aval do Conselho de Segurança da ONU, em 19 de março de 2003, os Estados Unidos invadiram o Iraque, como um desdobramento do combate ao "Eixo do Mal" (países que representam uma ameaça aos seus interesses, ou pretendem desenvolver um arsenal atômico fora do controle de inspeções feitas por órgãos da ONU, ou, ainda, fomentam o terrorismo). Paralelamente, os governos da França e da Alemanha protestaram veemente contra essa intervenção militar.
Prédio do governo iraquiano em chamas após ser bombardeado pelas tropas norte-americanas em 21/03/2003
  A uma ocupação, aparentemente fácil, do território iraquiano, seguiu-se um período de grande instabilidade política: os árabes xiitas, que constituem 60% da população, após a queda do ditador Saddam Hussein, coordenaram uma série de atentados contra os cerca de 150 mil soldados estadunidenses e seus tradicionais aliados britânicos que se encontravam no país. Em um desses atentados, o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Melo, representante da ONU no esforço de reconstrução do país, perdeu a vida, juntamente com outros funcionários dessa instituição.
Sérgio Vieira de Melo - diplomata brasileiro que foi morto após um atentado terrorista no Iraque em 19 de agosto de 2003
  Em dezembro de 2006, Saddam Hussein, que havia sido capturado pelos soldados norte-americanos após inúmeras tentativas, foi julgado e condenado à morte por enforcamento. À revelia das inúmeras manifestações contrárias, tanto nos Estados Unidos, quanto no exterior, a guerra no Iraque prossegue com um saldo de mais de 40 mil mortos nos anos de ocupação norte-americana.
Saddam Hussein se preparando para ser enforcado em 30 de dezembro de 2006
FONTE: Vesentini, José William. Geografia crítica / José William Vesentini, Vânia Vlach. -- 4. ed. -- São Paulo: Ática, 2009.

sábado, 3 de novembro de 2012

O COMPLEXO AGROINDUSTRIAL DO CENTRO-SUL

  A concentração e a diversificação das atividades fabris no Centro-Sul criaram, a partir da segunda metade do século XX, as condições tecnológicas necessárias para a produção em série de maquinários e insumos agrícolas, até então importado dos países ricos e industrializados do hemisfério Norte. Como consequência da fabricação desses produtos agroindustriais, estabeleceu-se na região, sobretudo a partir da década de 1970, uma série de empresas voltadas ao desenvolvimento da biotecnologia, principalmente à criação de técnicas de melhoramento genético, tanto de plantas e sementes como de rebanhos.
O melhoramento genético contribuiu para aumentar a produtividade, tanto de plantas como de animais
  Essas inovações foram a base para a expansão do agronegócio, que desencadearia, a partir de então, profundas mudanças na paisagem agrária desse complexo regional, promovendo saltos de produtividade e a ocupação de extensas áreas com lavouras monocultoras, principalmente com commodities, como o café, a cana-de-açúcar, a laranja, a soja e, na porção mais meridional do país, o trigo, gêneros agrícolas destinados, sobretudo, à exportação e ao abastecimento das indústrias. Os estímulos concedidos a essas culturas comerciais, tanto pelo mercado como pelo Estado, causaram a redução da área ocupadas com culturas alimentares, como feijão, mandioca, batata, frutas e hortaliças, nessa região.
  Ainda nesse período, destacou-se também a pecuária bovina, com a criação extensiva de gado em grandes propriedades, valendo-se da aplicação de tecnologias avançadas, como vacinação, inseminação artificial e ração balanceada. Outro destaque foi a criação de suínos e de aves por meio do chamado sistema de integração, modelo de trabalho muito difundido no interior dos estados sulistas. Nesse sistema, é estabelecida uma parceria direta entre os criadores, em geral pequenos e médios proprietários rurais que oferecem seus estabelecimentos e sua mão de obra para criar animais, e as grandes empresas de alimentos, como laticínios e frigoríficos, que oferecem técnicos especializados, insumos e filhotes para o desenvolvimento das criações nesse minifúndios.
Criação de aves no sistema de integração em Santa Catarina
  Essas foram as principais estratégias criadas de acordo com o modelo agroexportador implantado pelo Estado brasileiro, que passou a colocar as tecnologias do campo a serviço do aumento da produção, como forma de abastecer em larga escala as agroindústrias com matéria-prima (farelo de cereais, suco concentrado, carne, couro, leite, entre outras) e de cumprir as metas estatais de exportação de grãos, angariando novas divisas econômicas para o país.
O DESLOCAMENTO DAS FRONTEIRAS AGRÍCOLAS
    Boa parte dos centros urbanos fundados no Brasil a partir da década de 1960 tem origem no movimento de expansão das fronteiras agrícolas em direção à porção ocidental do território nacional. No Centro-Sul houve, nas últimas décadas, uma intensificação desse processo por meio do deslocamento dos investimentos para atividades ligadas ao agronegócio, como a cultura da soja, do algodão e do milho, e a pecuária extensiva tecnificada.  Empresas de beneficiamento desse tipo de produção foram implantadas no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, sul do Tocantins e oeste da Bahia, assim como no Distrito Federal.
Agronegócio - provocou uma mudança significativa no campo brasileiro
  Entre as principais causas dessa migração de capitais para o interior, podemos citar: o esgotamento das bases de expansão agrícola nas porções mais antigas da região Centro-Oeste (com o aumento do valor da terra, o intenso fracionamento das propriedades rurais em estados como Santa Catarina e Rio Grande do Sul e, ao mesmo tempo, a concentração de terras no interior do Paraná e de São Paulo); os incentivos fiscais concedidos pelos governos estaduais e federal para a compra de terras nas áreas de fronteira agrícola, em geral, latifúndios; o desenvolvimento da infraestrutura necessária para o escoamento da produção e para o afluxo de pessoas em direção a essas porções interioranas; o desenvolvimento de tecnologias apropriadas à exploração do cerrado, disponibilizando extensas áreas para a introdução de lavouras monocultoras e para a pecuária bovina de corte.
Solo do Cerrado sendo preparado para o plantio em Goiás
  Além do incremento na criação de animais e na produção de lavouras comerciais, tem sido notório o crescimento das atividades de beneficiamento, com a implantação de empreendimentos agroindustriais (frigoríficos, indústrias de óleos vegetais, usinas de álcool e açúcar, entre outros) com capital de grupos empresariais estrangeiros, como Bunge e Unilever, e nacionais, como Seara, Perdigão, Sadia e Batavo.
Fábrica da Sadia em Concórdia - SC
  Na realidade, esse processo vem consolidar o plano de metas instituído pelo governo federal a cerca de cinquenta anos, que visava à ocupação do interior do território nacional por meio do deslocamento das fronteiras agrícolas a partir do Sul-Sudeste em direção ao Centro-Oeste e à Amazônia.
FRONTEIRAS AGRÍCOLAS E OS BIOMAS DO CENTRO-SUL
  O avanço acelerado das fronteiras agrícolas, provocado sobretudo pelas atividades agropecuária e madeireira, devastou grande parte dos biomas localizados no Centro-Sul do país, como as áreas de mata de Araucárias, de floresta tropical, de campos e de cerrados.
  No período de aproximadamente cinquenta anos, as áreas de mata de Araucárias ficaram reduzidas a pequenas áreas com relevo de maior altitude no interior dos estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. As áreas com floresta tropical foram confinadas a parques estaduais e nacionais. O cerrado, por sua vez, foi o bioma que sofreu maior devastação, tendo sua extensão reduzida drasticamente.
Mapa do desmatamento do Cerrado
FONTE: Boligian, Levon. Geografia espaço e vivência, volume único / Levon Boligian, Andressa Turcatel Alves Boligian. -- 3. ed. -- São Paulo: Atual, 2011.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O PARQUE INDUSTRIAL RUSSO

  As duas principais concentrações industriais na Rússia são a região dos Urais e a de Moscou, mas há concentrações menores na Sibéria Ocidental.
  Nas proximidades dos Montes Urais há uma predominância de indústrias de bens intemediários, como as siderúrgicas, devido à disponibilidade do minério de ferro e de carvão mineral. As duas maiores empresas mineradoras e siderúrgicas do país - Sever Stal e a Evraz Group - possuem minas de ferro e carvão e usinas siderúrgicas em diversos lugares do país e do exterior (ambas aparecem entre as 500 maiores da revista Fortune). Há também indústrias de bens de capital, como a de máquinas e equipamentos. As principais refinarias e petroquímicas do país estão próximas aos grandes lençóis petrolíferos, principalmente na bacia do Volga-Urais, que fica entre Moscou e os Urais.
Montes Urais na Rússia
  Em torno da capital predominam indústrias de bens de consumo e de bens de capital por causa da existência de um amplo mercado consumidor e da boa infraestrutura de transportes e telecomunicações.
  A porção asiática possui algumas indústrias, mas a grande distância em relação às principais aglomerações urbano-industriais, localizadas na porção europeia, limitam a expansão da exploração dos recursos minerais da Sibéria.
  Com o fim do socialismo, iniciou-se um processo de privatização e adoção de mecanismos da economia de mercado nas ex-repúblicas soviéticas, além da instauração de um processo de modernização da economia.
  Na Rússia, durante o governo de Bóris Yeltsin (1991-1999), uma parte das antigas empresas estatais foi privatizada. Dessas, algumas foram compradas por corporações estrangeiras ou por fundos de investimento, outras tiveram suas ações distribuídas entre os empregados, mas muitas delas acabaram caindo nas mãos de grupos criminosos que corromperam agentes do Estado para conseguir o domínio de antigas estatais sem pagar praticamente nada por isso. Esses grupos foram um dos setores da sociedade russa que mais enriqueceu. Desde a época da União Soviética controlavam uma economia paralela que floresceu  nos interstícios da economia planificada em decorrência da escassez dos mais variados produtos. Entretanto, ainda há muitas empresas sob o controle total ou parcial do Estado russo.
Eurokhim - líder em produção de fertilizantes nitrogenados da Rússia
  Depois de um período de profunda crise, houve a retomada do crescimento econômico e nesse processo surgiram grandes corporações russas de capital aberto, isto é, com ações cotadas na Bolsa de Valores de Moscou. É o caso da Gazprom (principal produtora de gás natural do planeta, maior empresa russa e 22ª na lista das 500 maiores da revista Fortune), da Lukoil e da Rosneft Oil, ambas também listadas naquela pesquisa. Essas três empresas são responsáveis por extrair petróleo e gás natural em diversos lugares do território russo e também no exterior. Não é por acaso que as maiores corporações russas sejam do setor energético: o petróleo e o gás natural são duas das maiores riquezas do país.
Gazprom - maior empresa russa
  Apesar do avanço do processo de privatização, diversas empresas, principalmente desses setores estratégicos, continuam pertencendo, em parte, ao Estado. Em 2009, a Gazprom ainda tinha 50% de suas ações nas mãos do governo russo, seu maior acionista. Do capital da Rosneft Oil, 75% das ações pertenciam ao Estado russo. A Lukoil começou a ser privatizada em 1993: o governo foi se desfazendo de suas ações e em 2004 vendeu o restante do que possuía do capital da empresa.
  O presidente Vladimir Putin (governou entre 2000 e 2008, quando foi sucedido por Dmitri Medvedev) planejava vender, das empresas estatais que restaram, aquelas que não fossem competitivas ou estratégicas para sanear as contas públicas e garantir um crescimento de 7% ao ano em seu segundo mandato (2004-2008). Com isso, o governo russo projetava dobrar o PIB do país até o final daquela década.
  Com o rápido crescimento econômico nos anos 2000, ao mesmo tempo em que as empresas russas têm ganhado importância no mundo, vêm crescendo o fluxo de investimentos no país. De acordo com a UNCTA, os capitais estrangeiros têm sido atraídos pelo crescimento do mercado interno e pela possibilidade de exploração dos recursos naturais, especialmento do setor energético. 
FONTE: Sene, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, volume 2: espaço geográfico e globalização: ensino médio / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. - São Paulo: Scipione, 2010.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O FORDISMO NO JAPÃO

  O Japão introduziu novos métodos de produção. Nos anos 1920, as três grandes firmas norte-americanas, todas de Detroit, criaram filiais no arquipélago. Em 1933 surge a primeira empresa automobilística japonesa de certa importância, a Nissan (primeiramente chamada Datsun), que introduz o fordismo.
  Mas o que podiam fazer os japoneses diante do poderio norte-americano? Os fabricantes dos Estados Unidos tinham tamanha vantagem no domínio da produção em massa que podia inundar o Japão com veículos baratos, tarefa impossível para os concorrentes locais. O governo fascista de Tóquio decidiu então proteger a produção japonesa, indispensável aos seus projetos de expansão. Em 1936, editou a lei da indústria automobilística, que criou obstáculos para as importações e, o mais importante, proibiu a produção estrangeira no território japonês. Assim, as empresas norte-americanas são convidadas a se retirarem do país. Só podem permanecer, provisoriamente, na ausência de similares locais, sobretudo para a fabricação de certos componentes. Em 1939, as três companhias de Detroit deixam definitivamente o arquipélago.
Nissan - primeira empresa automobilística do Japão
  Mas, em 1945, o Japão perde a guerra e retorna a intervenção norte-americana, não em certos setores, mas no conjunto do aparelho econômico, político e militar. Então, volta à discussão sobre a oportunidade de uma indústria automobilística autônoma.
  Se esse setor deve ser mantido e sustentado, precisa fabricar automóveis competitivos como os dos Estados Unidos. Ora, o mercado japonês não se presta a isso:
  1. É demasiadamente restrito. O nível de vida dos japoneses não é o dos norte-americanos. A possibilidade do consumo de massa é, no momento, limitadíssima. Desde o início, os fabricantes devem produzir pelo menos com custos equivalentes aos da produção em massa.
  2. A demanda não é apenas débil. Ela dirige-se preferencialmente para veículos menores, que correspondem melhor ao bolso dos japoneses e à configuração acidentada e pouco espaçosa do país.
  3. A demanda é também mais diversificada. O que obriga a produzir mais modelos, cada um deles em pequena quantidade. Um desafio a mais.
  4. Acrescente-se a falta de espaço, que acarreta custos imobiliários mais elevados. Ora, o fordismo exige espaço, especialmente para estocar a produção em massa de veículos.
Fábrica da Ford nos Estados Unidos nos anos 1920
  O sistema norte-americano de produção não pode funcionar no Japão. É preciso adaptá-lo.
  Em 1948, a discussão sobre a importância do setor não foi resolvida. Mas a Guerra da Coreia, a partir de 1950, traz encomendas salvadoras para as empresas nipônicas. Ao fim do conflito, três anos mais tarde, o recém-criado Miti, Ministério do Comércio Internacional e da Indústria, declara a indústria automobilística setor prioritário da economia nacional e apoia os fabricantes nacionais em toda a linha.
  1. Estabelece objetivos para a indústria, que aparecem como planos estratégicos globais na luta contra os concorrentes estrangeiros, principalmente norte-americanos.
  2. Ergue barreiras alfandegárias para proteger o setor local da invasão procedente dos Estados Unidos.
  3. Concede empréstimos subsidiados para ajudar projetos das companhias nacionais.
  4. Tenta racionalizar a indústria automobilística. Entre outras iniciativas, encoraja a concentração, pois, quanto menos numerosas forem as empresas, mais fortes serão diante da concorrência externa.
  5. Racionaliza o ramo das autopeças. Rapidamente percebe que esse é um problema essencial na luta contra firmas norte-americanas. Em 1956, decreta também que a indústria de autopeças é o setor prioritário. Seu objetivo será torná-la eficiente e sólida, principalmente financiando investimentos, associando-as aos programas de pesquisa tecnológica e favorecendo a concentração.
  6. Desenvolve a infraestrutura. Por exemplo: em 1960, não havia uma só autopista no Japão; em 1965 havia 181 km e, em 1970, 649 km. O desenvolvimento da malha rodoviária fomenta a indústria automobilística.
  7. Por fim, organiza programas de pesquisa, sobretudo na esfera da alta tecnologica, associados não só às empresas do setor, mas também às de outros ramos. As descobertas surgem quase imediatamente.
  Nessas condições nasce o sistema produtivo próprio do Japão, que conforme o caso, recebe o nome de métodos flexíveis, just in time, método kanban ou toyotismo, já que a Toyota foi a primeira a empregá-lo.
O TOYOTISMO
  A nova organização do trabalho foi implantada progressivamente, nas duas décadas de 1950 a 1970, na Toyota. Tem uma dupla origem: primeiramente, as empresas japonesas precisavam ser tão competitivas quanto as americanas, e depressa, sob pena de desaparecerem. Em 1945, logo após a derrota japonesa e no momento da ocupação aliada, o presidente da Toyota, Kiichiro Toyoda, declara que é vital alcançar os norte-americanos em três anos, sem o que será o fim da indústria automobilística japonesa.
  A segunda origem é a necessidade de aplicar o fordismo no Japão, mas conforme as condições próprias do arquipélago. Kiichiro Toyoda escreve, já em 1933:
  'Quanto ao método produtivo, tiraremos partido da experiência norte-americana de produção em série. Mas não o copiaremos. Vamos lançar mão de nosso potencial de pesquisa e criatividade para conceber um método produtivo adaptado à situação de nosso país'.
Kiichiro Toyoda
  Taiichi Ohno, que foi por muito tempo vice-presidente da Toyota e é considerado o pai do toyotismo, acrescenta: 'Creio que foi essa origem da ideia do tempo justo (just in time)'.
  Em que consistem os novos métodos de produção? Pode-se resumi-los em seis pontos:
1. A produção é puxada pela demanda e o crescimento, pelo fluxo. No sistema fordista, a meta era produzir o máximo, em grandes séries. Vender era tarefa do departamento comercial. No Japão, isso não é rentável. É preciso produzir  muitos modelos, cada um em pequena quantidade, e é a demanda que deve fixar o número de veículos de cada modelo. O sistema baseia-se um pouco no exemplo dos supermercados: enchem-se as prateleiras, os clientes vêm, se servem e, conforme fazem as compras, a loja volta a encher as prateleiras. Assim, a empresa só produz o que é vendido e o consumo condiciona toda a organização da produção. Existe um estoque mínimo de veículos apresentados aos clientes; estes escolhem seus carros; a Toyota então reconstitui o estoque em função do que foi vendido; produz os carros que faltam; mas, para isso, precisa dos componentes específicos dos modelos comprados; retira-os dos estoques; as indústrias de autopeças renovam então as reservas esgotadas; também elas devem ter peças e se aprovisionam em estoques propriamente constituídos; e assim por diante. Dessa maneira, a produção é puxada pela demanda e o crescimento, pelo fluxo.
  Esquema do Fordismo
2. A carência de espaço no Japão e a obrigação de ser rentável incitam a Toyota a combater todo o desperdício. A empresa decompõe o trabalho de uma fábrica em quatro operações:
  • transporte;
  • produção propriamente dita;
  • estocagem;
  • controle de qualidade. 
  Dessas atividades, apenas a produção agrega valor ao produto. As outras, embora indispensáveis, não agregam valor. Representam custos, e portanto é preciso limitar ao máximo o tempo de transporte, estocagem e controle de qualidade. Eis por que a máxima fluidez da produção é o objetivo supremo. Ela significa situar tanto quanto possível as operações, uma ao lado da outra, limitar o transporte no espaço mas multiplicá-lo no tempo, evitar que se formem estoques em qualquer ponto da cadeia. O único estoque realmente tolerado é a reserva por onde escoa o fluxo da cadeia.
Esquema do Toyotismo
3. A flexibilidade do aparato produtivo e sua adaptação às flutuações da produção acarretam a flexibilização da organização do trabalho. O parcelamento das tarefas do fordismo já não é suficiente. As operações essenciais do operário passam a ser, por um lado, deixar as máquinas funcionarem e, por outro, preparar os elementos necessários a esse funcionamento de maneira a reduzir ao máximo o tempo de não produção. Assim, rompe-se a relação um homem/uma máquina. Na Toyota, desde 1955 um trabalhador opera em média cinco máquinas. Enquanto quatro delas funcionam automaticamente, ele carrega, descarrega, prepara a quinta. Se há duas máquinas para operar ao mesmo tempo, ele chama um colega. Isso tem duas consequências imediatas: o trabalho não é mais individualizado e racionalizado conforme o taylorismo; é um trabalho de equipe; a relação homem-máquina torna-se a de uma equipe de operários frente a um sistema automatizado; em segundo lugar o trabalhador deve tornar-se polivalente para operar várias máquinas diferentes em seu trabalho cotidiano, mas também para poder ajudar o colega quando preciso.
4. Para organizar concretamente a produção instala-se o kanban. É uma espécie de placa que indica muitas coisas, porém a mais importante é a peça ou elemento ao qual está ligada. Assim, quando a equipe precisa de um painel para o carro que está montando, pega um painel na reserva. Nesse momento, retira o kanbankanban da peça empregada. Este volta ao departamento que fabrica painéis. Essa unidade sabe então que precisa reconstituir o estoque esgotado. Portanto, o kanbankanbankanbankanbankanbankanbankanbankanban serve antes de mais nada como senha de comando. Mas na organização flexível da produção, puxada pela demanda, é um método rápido, facil e essencial.
5. O objetivo da Toyota é produzir muitos modelos, mas cada um em série reduzida. Isso quer dizer que uma mesma linha de montagem deve produzir veículos diferentes. Cada vez que há um novo modelo, é preciso mudar as máquinas, adaptá-las. Mas isso exige tempo, no início muito tempo. É um obstáculo de vulto à implantação do sistema Toyota. Fabricar vários modelos diferenciados e não um só é uma vantagem. Porém, se são necessários quatro horas para adaptar os instrumentos, torna-se um inconveniente. É mais interessante realizar de uma só vez a produção mensal de um modelo, só depois modificar os instrumentos e passar ao modelo seguinte. Mas isso é puro fordismo. Está em contradição com o ponto 1, a produção puxada pela demanda. E o professor Shigeo Shingo resolve o problema, em 1969, graças a SMED, single minute exchange of die. Pouco a pouco ele consegue reduzir o tempo de adaptação de uma máquina - por exemplo uma prensa de mil toneladas - de quatro horas para três minutos. Ele baseia-se no princípio de que é preciso preparar ao máximo, antecipadamente, as operações de mudança, para reduzir ao mínimo a intervenção no momento em que a máquina está parada.
Fábrica da Toyota em São Bernardo do Campo - SP
6. Muito já se falou da importância do conjunto da linha de produção na indústria automobilística. Se os fabricantes japoneses são mais competitivos, devem sê-lo em toda a linha. Em vez de aproveitar a integração vertical, como as empresas norte-americanas, eles desenvolvem relações de subcontratação com os fornecedores de autopeças. Os fabricantes de autopeças são empresas à parte, embora as montadoras as mantenham sob controle por meio de participações de capital, ajuda em investimentos e a incorporação em associações dos subcontratados titulares de cada empresa automobilística. A Toyota impõe aos fornecedores seu sistema de produção: máxima flexibilidade, obrigação de instalar-se em um raio de 20 km de suas fábricas, para reduzir o transporte, emprego do kanban dentro da fábrica de autopeças e entre esta e a Toyota. Aproveitando as condições mais penosas de trabalho nas subcontratadas (os custos salariais são geralmente 30 a 50% inferiores), a montadora fixa as condições de preço, prazo e qualidade dessas empresas, de modo a produzir veículos a baixo custo, just in time e de qualidade impecável. É uma aspecto fundamental da vantagem dos fabricantes japoneses [sobre a] concorrência. 
 
Taiichi Ohno - um dos idealizadores do toyotismo


  Se fosse para resumir o sistema toyotista em uma frase, diríamos que é um sistema de organização da produção baseado em uma resposta imediata às variações da demanda e que exige, portanto, uma organização flexível do trabalho (inclusive dos trabalhadores) e integrada. Frequentemente também se caracteriza o toyotismo pelos cinco zeros: 
  •  Zero atrasos: a demanda puxa a produção, o fluxo comanda o crescimento; um cliente não deve esperar para comprar um carro;
  • Zero estoques: só são permitidos as reservas de bases;
  • Zero defeitos: cada posto de trabalho controla a qualidade do trabalho do posto de trabalho precedente;
  • Zero panes: as máquinas nunca são usadas com capacidade plena e são escolhidas não em função na cadeia; para uma operação simples é preferível uma máquina simples;
  • Zero papéis: o kanban reduz bastante as ordens administrativas e a papelaria em geral.
Modelo do just in time

 FONTE: GOUNET, Thomas. Fordismo e toyotismo na civilização do automóvel. São Paulo: Boitempo, 1999. p. 23-29.

ADSENSE

Pesquisar este blog