sexta-feira, 24 de maio de 2013

A DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

  Divisão Internacional do Trabalho é o nome que se dá para o comércio mundial no qual cada país está voltado para produzir e exportar determinados bens ou serviços. É uma divisão do trabalho entre as economias nacionais. Tradicionalmente, a Divisão Internacional do Trabalho é marcada pela existência de dois principais grupos de países: os exportadores de produtos industrializados, uma minoria, e os exportadores de matérias-primas (gêneros alimentícios e minérios), a imensa maioria. Os primeiros compram (importam) as matérias-primas dos segundos e estes, por sua vez, compram os produtos industrializados daqueles países do primeiro grupo.
  Foi com a Primeira Revolução Industrial que se estabeleceu essa Divisão Internacional do Trabalho. Quando ela se iniciou, em meados do século XVIII, apenas o Reino Unido (Inglaterra) produzia em suas fábricas bens industrializados em grandes quantidades. Nessa época, ele pôde dominar o mercado internacional com seus produtos industrializados, que eram praticamente exclusivos. Em outras palavras, a Grã-Bretanha se especializou na produção industrial e começou a impor  ao restante do mundo uma divisão do trabalho que beneficiasse na medida em que os produtos industrializados eram e em parte ainda são mais valorizados que as matérias-primas.
Coalbrookdale - cidade britânica considerada um dos berços da Revolução Industrial
  Como a produção industrial se tornou possível graças à invenção de máquinas, como os teares mecânicos e a máquina a vapor, ambas inventadas nesse país, o Reino Unido conquistou o monopólio do desenvolvimento tecnológico. Também a existência de carvão mineral, principal fonte de energia no período, possibilitou que a industrialização se iniciasse no Reino Unido. Com isso, ele passou a exportar para os outros países da Europa e dos demais continentes produtos industrializados - principalmente tecidos - fabricados em grande quantidade e baixo custo.
  Essa foi a origem da Divisão Internacional do Trabalho, isto é, a formação de um mercado mundial integrando praticamente todos os países, em que um pequeno número deles exporta principalmente produtos industrializados enquanto o restante exporta basicamente matérias-primas.
Motor a vapor - impulsionou a Revolução Industrial na Inglaterra e no mundo
  Logo em seguida - principalmente no século XIX - vários outros países seguiram o exemplo do Reino Unido e se industrializaram, passando também a vender produtos industrializados no mercado mundial. Esses demais países foram Alemanha, França, Itália, Rússia e outros da Europa Ocidental, além de dois não europeus: os Estados Unidos e o Japão. São os atuais países desenvolvidos.
  Assim, a Divisão Internacional do Trabalho foi o resultado da formação de um mercado mundial, um comércio entre praticamente todos os continentes, todos os povos. Esse mercado mundial já havia sido iniciado anteriormente com a colonização da Oceania e da África. A África, desde o século XVI, já participava desse mercado mundial, apesar de ainda não ser ocupada e dividida em colônias dos países europeus (como ocorreu no século XIX), pois inúmeros povos africanos recebiam bugigangas (algodão, rum, armas, joias de pouco valor) e em troca forneciam para as potências europeias marfim, madeiras e principalmente escravos. Mas foi com a Revolução Industrial, iniciada em meados do século XVIII, que essa Divisão Internacional do Trabalho se consolidou, se expandiu e passou a ser em grande parte o que é até os dias de hoje.
Mapa político do mundo em 1700
  Na época da colonização do continente americano, do século XVI até o o final do século XVIII e início do século XIX, esse mercado mundial era pouco generalizado, pois as colônias só podiam comercializar com as suas respectivas metrópoles. Mas a partir do final do século XVIII ocorreu uma progressiva independência das colônias europeias na América. Estados Unidos em 1776, Haiti em 1804, Venezuela em 1810, Paraguai em 1811, Argentina em 1816, Chile em 1818, Brasil em 1822, etc. Com essas novas nações independentes, a Divisão Internacional do Trabalho se generalizou, pois agora elas podiam comercializar com qualquer país, e não mais apenas com sua metrópole. Contudo, esses países que se tornavam independentes, com exceção dos Estados Unidos, prosseguiram com a sua economia do tipo colonial, isto é, produtora de matérias-primas (algodão, açúcar, madeiras, minérios, produtos agrícolas diversos etc.) para o mercado mundial, agora não mais apenas para a metrópole, mas também para os países que se industrializavam, principalmente o Reino Unido.
Diversas etapas da Divisão Internacional do Trabalho
  A Divisão Internacional do Trabalho manteve e até mesmo agravou as desigualdades internacionais. Antes de tudo porque os gêneros agrícolas e os minérios - isto é, as matérias-primas - se valorizam menos com o decorrer do tempo do que os produtos industrializados. Os produtos com maior tecnologia - industrializados - com o tempo se valorizam mais do que os produtos brutos ou primários. Com isso, as economias não industrializadas, que só produzem matérias-primas, tendem a ficar para trás, cada vez mais atrasadas em relação às economias industrializadas.
FONTE: Vesentini, J. William. Projeto Teláris: Geografia / J. William Vesentini, Vânia Vlach. - 1. ed. - São Paulo: Ática, 2012. - (Projeto Teláris: Geografia) Obra em 4 v. para alunos do 6° ao 9° ano.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O CRESCIMENTO ECONÔMICO INDIANO

  Nas últimas décadas a Índia vem se destacando no cenário mundial devido ao acelerado crescimento da sua economia.
  A modernização econômica da Índia teve início na década de 1950, logo após o país se libertar da dominação inglesa. A partir de então, a política econômica do governo indiano deu prioridade ao desenvolvimento das indústrias de base (mineração, siderúrgicas, metalúrgicas, petroquímicas). Posteriormente, já nas décadas de 1970 e 1980, foram feitos grandes investimentos em infraestrutura (energia, transporte, comunicação) e também ao desenvolvimento científico e tecnológico.
Trânsito caótico em Hydebarad. As grandes cidades indianas são conhecidas pelo seu trânsito confuso e caótico.
  Grandes investimentos estrangeiros privados se instalaram no país a partir do início da década de 1990, atraídos pelo baixo custo da mão de obra e incentivos fiscais (redução e isenção de impostos) concedidos nas chamadas zonas de processamento de exportação (ZPEs), áreas criadas especificamente para atrair capital estrangeiro.
  Com a expansão da atividade industrial, o parque fabril indiano se diversificou. O país também dispõe de um grande potencial mineral, com importantes jazidas de ferro, bauxita, carvão, manganês, cobre, ouro e prata, o que contribui para o crescimento industrial.
Centro Comercial UB City, em Bangalore
  Outro destaque industrial do país está ligado à ampliação dos setores de alta tecnologia, como a produção de artefatos nucleares, satélites espaciais, informática (softwares, componentes eletrônicos, fibras óticas etc.). O país já desponta como o maior exportador mundial de softwares, cuja produção concentra-se principalmente em Bangalore, conhecida como "Vale do Silício indiano". O desenvolvimento desse setor tem se apoiado em grandes investimentos em instituições e centros de pesquisa e ensino universitário voltados para a formação de uma mão de obra altamente qualificada para as indústrias de alta tecnologia.
Satélite indiano INSAT 1B sendo preparado para ser enviado a bordo da missão STS-8
FONTE: Garcia, Valquíria Pires. Projeto radix: geografia / Valquíria Pires Garcia -- Beluce Bellucci. -- 2. ed. -- São Paulo: Scipione, 2012. -- (Coleção projeto radix)

terça-feira, 21 de maio de 2013

IRÃ - REVOLUÇÃO ISLÂMICA E OPOSIÇÃO AO OCIDENTE

  Até 1979, o Irã foi um dos principais aliados dos Estados Unidos entre os países do Oriente Médio. O país havia apoiado em 1953 o golpe de Estado promovido pelo xá Reza Pahlevi.
  Com Reza Pahlevi, o Irã construiu toda a política econômica e social do país apoiada no modelo ocidental. Ocorreu nesse período um profundo questionamento das correntes mais radicais do islamismo. Líderes religiosos foram perseguidos e alguns foram expulsos do país. Do ponto de vista econômico, foi um período de desenvolvimento industrial e de crescimento.
Mohammad Reza Pahlavi - o último  xá da dinastia Pahlavi
  Em 1979, uma onda de manifestações populares depôs o governo do xá (título dado aos soberanos do Irã) e empossou o líder xiita Aiatolá (autoridade máxima na hierarquia religiosa xiita) Khomeini. surgiu a República Islâmica do Irã, que se caracterizou pela busca de um caminho próprio, não alinhado a nenhuma das grandes potências (Estados Unidos e ex-União Soviética).
Ruhollah Khomeini - líder da Revolução Iraniana
  Desde então, o Irã rompeu relações com os Estados Unidos. É controlado pelos chefes religiosos (aiatolás), que estabeleceram normas sociais rígidas, de acordo com os princípios do islamismo, formalizando um Estado teocrático (o atual governo do Irã, apesar de civil, está submetido ao poder dos aiatolás).
  Apesar do controle do governo do Irã, no sentido de manter as tradições culturais-religiosas do islamismo, vêm ocorrendo mudanças de comportamento por parte de alguns iranianos, especialmente dos jovens, que buscam acesso à informação e à cultura ocidental, como filmes, música, internet.
Aiatolá Khamenei - atual chefe supremo da República Islâmica do Irã
  Atualmente o Irã é, entre os países islâmicos, aquele que exerce maior influência no Oriente Médio e tem mantido relações estáveis com praticamente todos os países vizinhos. É o maior opositor à existência de Israel e à presença dos Estados Unidos.
  O atual governo do país distanciou-se da Europa e dos Estados Unidos e fortaleceu as relações com a China e a Rússia. Essas relações incluem cooperação técnica, associação para exploração de petróleo em subsolo iraniano, venda de armas e de combustível para as usina termonucleares.
Teerã - capital e maior cidade do Irã
  Outro motivo de enfrentamento entre o Irã e o Ocidente é o desenvolvimento de um programa nuclear. Os Estados Unidos alertam que o governo iraniano tem a ambição de produzir armas de destruição em massa e que o país está próximo de conquistar a tecnologia necessária para alcançar tal objetivo.
  Alemanha, França e Reino Unido reforçam os argumentos estadunidenses sobre a ameaça que o programa nuclear representaria para o Oriente Médio e outras regiões do mundo. No entanto, o Irã afirma que seu programa nuclear tem objetivo exclusivamente pacífico e energético, negando qualquer intenção militar.
Mahmoud Ahmadinejad - atual presidente do Irã
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Geografia: homem & espaço, 9° ano / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco. - 23 ed. - São Paulo: Saraiva, 2010

YAKUTSK: A CIDADE MAIS FRIA DO MUNDO

  A 5 ºC negativos o frio é bem refrescante e um gorro e um cachecol são suficientes para se manter aquecido. A 20 ºC abaixo de zero, a umidade nas nossas narinas congela, e o ar frio começa a impossibilitar a tosse. A 35 ºC negativos, o ar esfria o suficiente para rapidamente paralisar a pele exposta, fazendo das feridas um perigo constante. E a 45 ºC negativos, até usar óculus torna-se arriscado: o metal gruda em suas bochechas e arranca um bocado de carne se você decidir tirá-los.
  Yakutsk é uma remota cidade do leste da Sibéria, com 235.600 habitantes, famosa por duas coisas: aparecer no clássico jogo de tabuleiro War, e, não sem razão, ter a pretensão de ser a cidade mais fria do mundo. Em janeiro, o mês mais frio, as elevações médias giram em torno de 40 ºC negativos, deixando a cidade submersa em opressiva cobertura de nevoeiro congelado, que restringe a visibilidade a 10 metros. Os moradores cobertos de pele, apressam-se rumo à praça central enfeitada com uma árvore de Natal de gelo (deixada para o feriado do Ano Novo) e uma estátua de Lênin, com um braço estendido apontando para a frente, estridente, completamente impassível ao frio.
Praça de Yakutsk com neve
  Yakutsk ganhou manchetes de jornais depois de uma série de rompimentos em tubulações ocorridas em Artyk e Markha, duas cidades próximas, tendo seu aquecimento suspenso por vários dias. As temperaturas, na ocasião, alcançaram 50 ºC abaixo de zero. Imagens televisivas do subsequente 'grande congelamento' mostraram grupos de pessoas amontoadas em rolos de cobertores junto a improvisados fornos à lenha para se aquecerem. Temperaturas de 40 ºC negativos são descritas como 'fria mas não tão frias'.
  A Rússia está cheia de regiões que podem reivindicar o status de muito grandes, muito remotas e muito frias, mas Yakutsk leva o (gélido) troféu. Lá é extremo, mesmo para os padrões siberianos. Yakútia, a região da qual é a capital, cobre mais de um milhão de quilômetros quadrados, mas abriga menos de um milhão de pessoas. A região ostenta o fato de ter poucas e grandes cidades, e ser dividida em unidades administrativas do tamanho da Grã-Bretanha, com centros regionais individuais que não passam de vilarejos.
Região da Yakútia em destaque
  Os moradores locais alegam que, na região, há tantos lagos e rios que cada habitante pode ter um de cada. Vangloriam-se de a região conter cada elemento da tabela periódica. De acordo com uma lenda local, o Deus da criação estava voando pelo mundo para distribuir riquezas e recursos naturais, mas, quando chegou a Yakútia, sentiu tanto frio que suas mãos ficaram paralisadas e ele soltou tudo.
  Até a Revolução Russa de 1917, Yakutsk permanecia como um insignificante posto porovincial. No século XIX ela era usada, como muitas cidades siberianas, como uma prisão aberta para dissidentes políticos. Juntamente com o seu fascínio misterioso e a vastidão de recursos naturais, a conotação de prisão sempre emprestou à Sibéria uma reputação de lugar cruel e infeliz, não apenas entre os estrangeiros, mas também entre os russos.
Taiga Siberiana - uma das formações vegetais de Yakutsk
FONTE: WALKER, Shaun. Yakutsk: journey to the coldest city on earth. The Independent, Londres, 21 jan. 2008.

domingo, 19 de maio de 2013

A QUESTÃO AGRÍCOLA NA ÁFRICA

  Os países situados na África Subsaariana apresentam, em geral, índices de crescimento econômico baixos, conflitos étnicos, guerras civis e economia dependente dos setores primários da agricultura e da mineração dirigidos para a exportação, apesar de terem ocorridos alguns avanços em termos de ampliação da capacidade de produção e da economia. Nesses países, a fome é um grave problema social, e os resultados das políticas de combate a ela são pouco animadores. De modo geral, esses problemas resultam do processo histórico do continente, marcado, desde o século XVI, pela escravidão e pelo colonialismo.
Mapa do tráfico negreiro
  A ocupação da África no século XIX, durante a expansão imperialista europeia, provocou a substituição das culturas de subsistência, nas regiões com solos mais férteis, pelas monoculturas de exportação, que permanecem até os dias atuais. Esse modelo de ocupação imperialista gerou concentração fundiária e impediu muitas comunidades de praticar a lavoura para o consumo, ampliando os problemas sociais e levando a fome a boa parte da população africana. Os efeitos do imperialismo também se fazem presentes na instabilidade política herdada da formação dos Estados africanos. As disputas pelo poder e as guerras civis desviam boa parte dos recursos para o financiamento dos conflitos, que ocorrem desde a época da descolonização.
Mapa dos principais conflitos na África
  A agricultura de subsistência, ou para o consumo próprio, se caracteriza pelo uso de instrumentos e técnicas rudimentares e tem baixo rendimento. É praticada principalmente no interior do continente, nas áreas de savanas. O lavrador faz a queimada para limpar o terreno e, posteriormente, com a enxada, tira os torrões de terra e faz a semeadura, utilizando as próprias cinzas, ricas em potássio, como fertilizante. O uso constante de queimadas prejudica o solo, obrigando o agricultor a se deslocar para outras áreas, onde reproduz o mesmo sistema de cultivo. O fogo ateado às matas destrói os microorganismos do solo e transforma troncos e folhas em cinzas, impedindo a formação da matéria orgânica fundamental à manutenção da fertilidade do solo.
Agricultores africanos preparando a terra para realizar a queimada e, posteriormente, o plantio
  As comunidades que habitam o Sahel, região que se estende ao sul do deserto do Saara, na África, são as mais atingidas pela tragédia da fome. A doação de alimentos promovida por organizações internacionais evita uma mortandade ainda maior e ameniza o sofrimento dos povos da região mas pouco tem sido feito para ajudá-los a garantir a própria sobrevivência
  A região saheliana é relativamente povoada e aos poucos tem sido incorporada ao Saara, devido ao rápido processo de desertificação. Desde a década de 1970, com o avanço do deserto, o drama da seca se intensificou, a agricultura tornou-se impraticável em boa parte da sua extensão, o capim não se desenvolve e não se formam pastagens adequadas ao rebanhos. Nos seus cerca de 5 milhões de km² de superfície, a produção agrícola tem ficado muito reduzida, e em várias áreas habitadas a criação de gado praticamente desapareceu. O deslocamento da população é constante, na maioria das vezes sem destino, em busca de água e pastagens.
Área desertificada na região do Sahel - África
  Na região do Magreb (Marrocos, Argélia e Tunísia) e no extremo sul da África do Sul, os cereais (centeio, trigo e cevada), oliveira e videira é feito na faixa de clima mediterrâneo. No Magreb, as fazendas foram implantadas pelos franceses durante o processo de colonização (do século XIX até a segunda metade do século XX, quando foram expulsos). A atividade agropecuária nessa região tem rendimento superior à média africana.
  Nas áreas mediterrâneas e nas regiões do Saara próximas ao relevo montanhoso da cadeia do Atlas, prevalece o pastoreio nômade (de ovelhas, cabras e camelos), com deslocamento do gado para as montanhas durante a primavera e o verão, devido à abundância de água formada pelo derretimento da neve dos cumes mais elevados.
Região agrícola de Cap Bon - Tunísia
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Território e sociedade no mundo globalizado: geografia: ensino médio, volume 2 / Elian Lucci Alabi, Anselmo Lázaro Branco, Cláudio Mendonça. - 1. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010. 

sábado, 18 de maio de 2013

AS FERROVIAS NO BRASIL: DO ABANDONO À PRIVATIZAÇÃO

  O sistema ferroviário brasileiro possui uma extensão de cerca de 30 mil quilômetros, distribuídos numa malha viária que se concentra, principalmente, nos estados da região Sul e Sudeste. No Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, seu traçado atinge os países vizinhos, como a Argentina, Uruguai e Bolívia.
  Ao contrário do que aconteceu em outros países, como os Estados Unidos, no Brasil as ferrovias não foram planejadas para integrar o território. Grande parte da malha ferroviária brasileira foi construída entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX, com o objetivo de ligar as áreas de produção de artigos primários aos portos exportadores.
Mapa ferroviário brasileiro
  Geralmente, os trens partiam do interior em direção ao litoral carregados de produtos agrícolas ou minerais e, na maior parte dos casos, voltavam praticamente vazios. Mesmo assim, as linhas ferroviárias eram um excelente negócio para os investidores particulares, muitos dos quais companhias estrangeiras, pois sempre havia carga a ser exportada. No estado de São Paulo, por exemplo, a malha ferroviária existente é principalmente uma herança da economia cafeeira: os ramais foram abertos em forma de leque, ligando as áreas produtoras do interior do estado ao Porto de Santos e avançando junto com a marcha do café.
Estação da Luz em São Paulo na década de 1900
  Com o processo de industrialização, o modelo ferroviário entrou em decadência no Brasil. Enquanto as rodovias cresciam em importância e em extensão, ligando as diferentes regiões brasileiras e articulando a troca de mercadorias e a circulação de pessoas pelo território, as ferrovias perdiam carga e se tornavam deficitárias. Paulatinamente, os investidores privados abandonaram o setor e a maior parte das ferrovias foi encampada pelo governo.
  Assim, surgiram a Rede Ferroviária Federal (RFFSA), unificando 18 linhas ferroviárias que passaram a ser controladas pelo governo federal, e a Companhia Paulista de Estradas de Ferro (Fepasa), abrangendo a malha ferroviária paulista, que passou a ser controlada pelo governo estadual.
Estação de Cruzeiro (SP) na Estrada de Ferro Minas e Rio em 1885
  A RFFSA, criada em 1957, já nasceu como a maior empresa brasileira do setor, responsável por 22 mil quilômetros de linhas férreas (73% de todas as existentes no país). A Fepasa, de 1971, foi criada a partir da centralização administrativa de companhias férreas que já eram do governo do estado de São Paulo. Pela Fepasa e pela RFFSA, circulavam cerca de 70% da carga transportada por ferrovia no Brasil. Isso incluía, por exemplo, derivados de petróleo, adubo, cimento, açúcar e trigo.
Locomotiva a vapor da RVPSC (Rede Viação Paraná Santa Catarina) no Viaduto do Carvalho pouco após a Estação de Marumby na Serra do Mar, na década de 1940
  Para o transporte do minério de ferro, a predominância absoluta era e continua sendo de duas linhas ferroviárias operadas pela Companhia Vale do Rio Doce (atualmente Vale), a maior empresa brasileira no setor de extração mineral. Uma delas é a Estrada de Ferro Carajás, que liga as jazidas minerais de ferro do sul do Pará, na Serra dos Carajás, ao Terminal Marítimo de Itaqui, no Maranhão. A outra é a Estrada de Ferro Vitória-Minas, que liga as jazidas de ferro de Minas Gerais ao Porto de Tubarão, no Espírito Santo.
Estrada de Ferro Vitória-Minas
A PRIVATIZAÇÃO DAS FERROVIAS
  Até o início da década de 1990, quase todo o sistema ferroviário brasileiro era de propriedade do governo. Isso valia também para as linhas férreas operadas pela Companhia Vale do Rio Doce, as mais modernas, já que ela era uma empresa estatal.
  Porém, a partir de meados da década de 1990, essa situação começou a mudar. Todas as malhas da RFFSA, a maior parte delas em situação de abandono total, foram cedidas em concessão para a iniciativa privada, e hoje a empresa não existe mais. O mesmo aconteceu com a Fepasa. As linhas da Companhia Vale do Rio Doce continuam operando e dando lucros, mas a empresa também foi privatizada e suas ferrovias passaram a ser operadas pelos novos proprietários.
Estrada de Ferro Carajás
  A privatização não alterou de maneira significativa o panorama ferroviário do país. Mas o governo tem planos para revitalizar o setor, obrigando as empresas concessionárias a investir na modernização da malha existente e atrair novos investidores, dispostos a construir novas linhas para o transporte de carga.
  Entre os planos de novos investimentos, destaca-se a Ferronorte, que está em construção para ligar Cuiabá, no Mato Grosso, e Uberaba, em Minas Gerais, facilitando o escoamento de soja do Brasil Central. A Ferrovia Norte-Sul, por sua vez, estabelecerá a conexão da malha viária do Sudeste e do Nordeste, a partir da ligação entre Goiânia, em Goiás, e Imperatriz, no Maranhão.
Locomotiva da Vale S.A. no Pátio Multimodal de Palmas-Porto Nacional (TO), situado no Ferrovia Norte-Sul
  Na Região Nordeste, está sendo implementada a Ferrovia Transnordestina, que vai ligar os portos de Pecem (CE) e de Suape (PE) com o município de Eliseu Martins, no Piauí. A intenção é permitir o escoamento de soja para exportação.
  Além disso, principalmente pelo trabalho da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), que procurou reunir os interessados na preservação e divulgação da história das ferrovias no país, alguns trechos ferroviários desativados estão sendo recuperados para fins turísticos. É o caso da antiga Estação de Ferro Oeste de Minas. É também resultado do trabalho dessa Associação a restauração de uma linha desativada da antiga Mogiana, de 24 km, em Campinas (SP). Nos finais de semana, trens turísticos com locomotiva a vapor percorrem o trecho Campinas-Jaguariúna.
Trem da ALL (América Latina Logística), a maior concessionária do Brasil, no trecho de Boa Vista - SP
FONTE: Ribeiro, Wagner Costa. Por dentro da geografia, 7° ano: Brasil / Wagner Costa Ribeiro. 1. ed. - São Paulo: Saraiva, 2012.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

A CABANAGEM

  A Cabanagem foi uma revolta ocorrida no Grão-Pará, entre 1835 e 1840, durante o período regencial brasileiro, que se alastrou até a província do Amazonas.
  A sociedade da província do Pará era pobre e instável se comparada à de outras regiões, marcada por pobreza extrema, fome e doenças. O nome dessa revolta se deu porque os revoltosos - chamados de cabanos -, habitavam as cabanas - precárias casas localizadas nas margens dos rios. Ali os proprietários rurais tinham pouca força política e pouco espaço social. Os comerciantes portugueses concentravam certo domínio  sobre uma sociedade composta por mestiços, índios, escravos e brancos pobres. O centro das atividades econômicas e políticas era a cidade de Belém.
Belém do Pará na segunda metade do século XIX
  Para agravar o quadro de instabilidade social e econômica, no início da década de 1830 ocorreram disputas políticas entre os setores da elite da província, devido à nova nomeação do presidente da província pelo poder central. Substituir o governador e reprimir a insatisfação não solucionou a questão nem os conflitos políticos, abrindo caminho para a explosão de uma autêntica rebelião popular.
  Em 1835, os cabanos se organizaram em tropas compostas por negros, mestiços e índios, que tomaram a cidade de Belém. Inicialmente houve disputas políticas entre os líderes revoltosos, como Clemente Malcher e Francisco Vinagre, que procuravam controlar a província e ao mesmo tempo manter vínculos com o governo regencial. Em agosto desse ano, as forças legalistas já haviam retomado a capital e prendido seus líderes, mas, no interior, Eduardo Angelim, um jovem cearense, resistiu e proclamou a República dos Cabanos, tornando-se seu terceiro líder.
Eduardo Angelim - um dos líderes da Cabanagem
  No ano seguinte, as forças repressivas do governo central conseguiram algumas vitórias contra os cabanos, inclusive a prisão de Angelim, em outubro. Todavia, a rebelião já havia se alastrado por várias áreas da região, interiorizando-se; por isso foi mais difícil acabar com ela. Venceram os últimos rebeldes em território do Amazonas, em março de 1840. Calcula-se que tenham morrido cerca de 30 mil pessoas nesses anos de revolta.
  A historiografia trata a Cabanagem como a mais representativa revolta regencial, por sua variada composição, a ampla participação popular, e por seus integrantes terem assumido temporariamente o poder na província.
Paisagem frequentada pelos rebeldes cabanos durante o movimento no século XIX, por Johann Bachta
FONTE: Moraes, José Geraldo de, 1960 - História: geral e do Brasil: volume único / José Geraldo Vinci de Moraes. - 2. ed. - São Paulo: Atual, 2005. - (Coleção Ensino Médio Atual) 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

ÁSIA: BERÇO DAS MAIORES RELIGIÕES DO PLANETA

  As três maiores religiões do mundo originaram-se na Ásia: a cristã, a islâmica e a hinduísta, sem contar nas outras religiões importantes, como o budismo, o xintoísmo, o sikiismo e o judaísmo.
BUDISMO 
  Originário da Índia, o budismo é uma religião e filosofia não-teísta (não inclui a ideia de um Deus ou vários deuses), abrangendo uma variedade de tradições, crenças e práticas, baseadas nos ensinamentos atribuídos a Siddhartha Gautama, mais conhecido como Buda. Buda viveu e desenvolveu seus ensinamentos no nordeste do subcontinente indiano, entre os séculos VI e IV a.C.
Gautama com seus cinco companheiros, que mais tarde compuseram a primeira Sangha (Comunidade Monástica Budista).
  O budismo chegou tardiamente à China, no século I d.C., vindo da Índia. O budismo chinês (e também o japonês) é diferente do primitivo budismo indiano, pois foi reelaborado no contato com a cultura chinesa. O fundamental no budismo é a ideia de "despertar" ou nirvana, um estágio de meditação profunda que conduz ao conhecimento último das coisas. Tudo é mutável, está em movimento, se transforma, dizia Buda. Não devemos nos apegar às coisas transitórias, a fatos e pessoas, nem ao próprio "eu", pois tudo seriam formas de ilusão.
  No budismo é a força de samsara sobre alguém. Boas ações (kusala), e/ou ações ruins (akisala) geram "sementes" na mente, que virão a aflorar nesta vida ou em um renascimento subsequente. Com o objetivo de cultivar as ações positivas, o sila é um conceito importante do budismo, geralmente, traduzido como "virtude", "boa conduta", "moral" e "preceito".
Porcentagem de budistas por país
  No budismo, o carma se refere especificamente a essas ações (do corpo, fala, mente) que brotam da intenção mental (cetana) e que geram consequências (frutos) e/ou resultados (vipaka). Cada vez que uma pessoa age, há alguma qualidade de intenção em sua mente e essa intenção muitas vezes não é demonstrada pelo seu exterior, mas está em seu interior e este determinará os efeitos dela decorrentes.

Estátua de Buda em Macau - China
 O budismo possui entre 230 milhões a 500 milhões de adeptos no mundo, sendo a quinta maior religião do planeta. A China é o país que tem a maioria dos adeptos do budismo no mundo, com mais de 113 milhões.
XINTOÍSMO
  Xintoísmo é o nome dado à espiritualidade tradicional do Japão e dos japoneses, considerado também uma religião pelos estudiosos ocidentais. A palavra Shinto ("Caminho dos Deuses") foi adotada do chinês escrito, através da combinação de dois kanjis: "shin", que significa "deuses" ou "espíritos" (originalmente da palavra chinesa shen), e "", ou "do", que significa "estudo" ou "caminho filosófico" (originalmente da palavra chinesa tao). Os termos yamato-kotoba e Kami no michi costumam ser usados de maneira semelhante, e apresentam significados similares.
Ise Jingu - Honden em Naku, principal dos santuários xintoístas japoneses.
  O xintoísmo incorpora práticas espirituais derivadas de diversas tradições pré-históricas japonesas, locais e regionais, porém, não surgiu como instituição religiosa formalmente centralizada até a chegada do budismo, confucionismo e daoísmo no país, a partir do século VI. O budismo gradualmente se adaptou, no Japão, à espiritualidade nativa, como por exemplo, na inclusão do kami, componente da crença xintoísta, entre os bodisatvas (bosatsu).
  O xintoísmo caracteriza-se pelo culto à natureza, aos ancestrais, e pelo seu politeísmo, com uma forte ênfase na pureza espiritual, e que tem como uma de suas práticas honrar e celebrar a existência de Kami, que pode ser definido como "espírito", "essência" ou "divindades", e é associado com múltiplos formatos compreendido pelos fiéis. Em alguns casos apresentam uma forma humana, em outros animística, e em outros é associado com forças mais abstratas, "naturais" do mundo (montanhas, rios, relâmpago, vento, ondas, árvores, rochas).
  Estima-se que no mundo todo sejam mais de 140 milhões de adeptos do xintoísmo, sendo o Japão o país com o maior número de seguidores, com cerca de 119 milhões.
Ficheiro:Itsukushima torii angle.jpg
Torii no santuário de Itsukushima
SIKHISMO
  O sikhismo é uma religião monoteísta fundada em fins do século XV em Punjab (região dividida entre o Paquistão e a Índia) pelo Guru Nanak (1469-1539). Habitualmente retratado como o resultado de um sincretismo entre elementos do hinduísmo e do islamismo (o sufismo), o sikhismo apresenta, contudo, elementos de originalidade que obrigam a um repensar desta fisão redutora.
  O termo sikh significa, na língua punjab, "discípulo forte e tenaz". A doutrina básica do sikhismo consiste na crença em um único Deus e nos ensinamentos dos Dez Gurus do sikhismo, recolhidas no livro sagrado dos sikhs, o Guru Granth Sahib, considerado o décimo-primeiro e último Guru.
Ficheiro:Golden Temple 3.jpg
O Templo de Ouro, em Amritsar, Índia
  Para o sikhismo, Deus é eterno e sem forma, sendo impossível captá-lo em toda a sua essência. Ele foi o criador do mundo e dos seres humanos e deve ser alvo de devoção e de amor por parte dos humanos.
  O sikhismo ensina que os seres humanos estão separados de Deus devido ao egocentrismo que os caracteriza. Esse egocentrismo (haumai) faz com que os seres humanos permaneçam presos no ciclo dos renascimentos (samsara) e não alcancem a libertação, que no sikhismo é entendida como a união com Deus. Os sikhs acreditam no karma, segundo o qual as ações positivas geram frutos positivos e permitem alcançar uma vida melhor e o progresso espiritual; a prática de ações negativas leva à infelicidade e ao renascer em formas consideradas inferiores, como em forma de planta ou de animal. Deus revela-se aos homens através de sua graça (Nadar), permitindo a estes alcançar a salvação. O Divino dá-se a ouvir, revelando-se enquanto nome. Segundo os ensinamentos do Guru Nanak e dos outros gurus, apenas a recordação constante do nome (nam simaram) e a repetição murmurada do nome (nam japam) permite os seres humanos libertar-se do haumai.
  O número de seguidores do sikhismo no mundo é de cerca de 25 milhões de adeptos, sendo que na Índia é onde se encontra o maior número de seguidores dessa religião.
Peregrino sikh no Templo de Ouro
JUDAÍSMO
  O judaísmo é uma das três principais religiões abraânicas, definida como a "religião, filosofia e modo de vida" do povo judeu. Originário da Bíblia Hebraica (também conhecida como Tanakh) e explorado em textos posteriores, como o Talmud, é considerado pelos judeus religiosos como a expressão do relacionamento e da aliança desenvolvida entre Deus com os Filhos de Israel. De acordo com o judaísmo rabínico tradicional, Deus revelou as suas leis e mandamentos a Moisés no Monte Sinai, na forma de uma Torá (instrução, apontamento, lei) escrita e oral. esta foi historicamente desafiada pelo caraítas, um movimento que floresceu no período medieval, que mantém vários milhares de seguidores atualmente e que afirma que apenas a Torá escrita foi revelada. Nos tempos modernos, alguns movimentos liberais, tais como o judaísmo humanista, podem ser considerados não-teístas.
Símbolos do judaísmo em sentido horário: castiçais do Shabat, cálice de lavagem das mãos, Chumash e Tanakh, ponteiro da Torá, shofar e caixa de etrog.
  O judaísmo afirma uma continuidade histórica que abrange mais de 3.000 anos. É uma das mais antigas religiões monoteístas e a mais antiga das três grandes religiões abraâmicas que sobrevive até os dias atuais. Os hebreus/israelitas já foram referidos como judeus nos livros posteriores ao Tanakh, como o Livro de Ester, com o termo judeus substituindo a expressão "Filhos de Israel". Os textos, tradições e valores do judaísmo foram fortemente influenciados mais tarde por outras religiões abraâmicas, incluindo o cristianismo, o islamismo e a Fé Bahá'í (uma religião monoteísta fundada por Bahá'u'llah na Pérsia do século XIX, que enfatiza a unidade espiritual da humanidade. Trata-se de uma religião independente que possui as suas próprias leis, escrituras sagradas, administração e calendário. Mas não possui dogmas, clero nem sacerdócio). Muitos aspectos do judaísmo também foram influenciados, direta e indiretamente, pela ética secular ocidental e pelo direito civil.
Edifício sede da Casa Universal da Justiça em Haifa - Israel, corpo administrativo da comunidade internacional bahá'í
  A história do judaísmo é a história de como se desenvolveu a religião principal da comunidade judaica que, ainda que não seja unificada, contém princípios básicos que a distingue de outras religiões. De acordo com a visão religiosa, o judaísmo é uma religião ordenada pelo Criador através de um pacto eterno com o patriarca Abraão e sua descendência. Já os estudiosos creem que o judaísmo seja fruto da fusão e evolução de mitologias e costumes tribais da região do Levante (localizada no Oriente Médio) unificadas posteriormente mediante a consciência de um nacionalismo judaico.
  Ainda que seja intimamente ligada à história do povo judeu, a história do judaísmo se distingue por enfatizar  somente a evolução da religião e como esta influenciou o povo judeu e o mundo.
O sacrifício de Abraão, por Rembrandt
  O princípio básico do judaísmo é a unicidade absoluta de YHWH (nome de Deus de Israel) como Deus e criador, onipotente, onisciente, onipresente, que influencia todo o universo, mas não pode ser limitado de forma alguma. A afirmação da crença no monoteísmo manifesta-se na profissão de fé judaica, conhecida como Shemá. Assim, qualquer tentativa de politeísmo é fortemente rechaçada pelo judaísmo, bem como é proibido seguir ou oferecer prece a outros que não seja YHWH.
  O judaísmo posterior ao exílio no entanto assumiu a existência de uma corte espiritual na qual Deus seria uma espécie de rei, o qual controlaria seres para execução de sua vontade (anjos). Esta visão era aceita pelos fariseus e passada para o posterior judaísmo rabínico, mas no entanto desprezada pelos saduceus.
Judeus rezando em Yom Kipur, de Maurycy Gottlieb
  O judaísmo defende uma relação especial entre Deus e o povo judeu, manifestada através de uma revelação contínua de geração a geração. O judaísmo crê que a Torá é a revelação eterna dada por Deus aos judeus. Os judeus rabinitas e caraítas também aceitam que homens através da história judaica foram inspirados pela profecia, sendo que muitas das quais estão explícitas nos Neviim e nos Kethuvim. O conjunto destas três partes formam as Escrituras Hebraicas conhecidas como Tanakh.
  A profecia dentro do judaísmo não tem caráter exclusivamente adivinhatório como assume em outras religiões, mas manifesta-se na mensagem da Divindade para com seu povo e o mundo, que poderia assumir o sentido de advertência, julgamento ou revelação quanto à Vontade da Divindade. Esta profecia tem um lugar especial desde o princípio do mosaísmo, seguindo pelas escolas de profetas posteriores (que serviam como conselheiros dos reis) e tendo seu auge com a época dos dois reinos. Oficialmente se reconhece que a época dos profetas encerra-se entre o período do exílio babilônico e do retorno a Judá. No entanto, o judaísmo reconheceu diversos profetas durante a época do Segundo Templo e durante o posterior período rabínico.
Estrela de Davi - principal símbolo do judaismo
  Em 2010, a população judaica foi estimada em cerca de 13,4 milhões de adeptos, sendo que Israel é o país com o maior número de seguidores dessa religião.
TAOÍSMO
  O taoísmo, também chamado daoísmo, é uma tradição filosófica e religiosa originária da China que enfatiza a vida em harmonia com Tao (romanizado atualmente como "Dao"). O termo Tao significa "caminho", "via" ou "princípio", e também pode ser encontrado em outras filosofias ou religiões chinesas. No taoísmo, no entanto, Tao se refere a algo que é tanto a fonte quanto a força motriz por trás de tudo que existe.
  É, basicamente, indefinível: "O Tao do qual se pode discorrer não é o eterno Tao". A principal obra do taoísmo é o Tao Te Ching, um livro conciso e ambíguo que contém os ensinamentos atribuídos a Lao Zi. Juntamente com os escritos de Zhuangzi, estes textos formam os alicerces filosóficos do taoísmo. Este taoísmo filosófico, individualista por natureza, não foi institucionalizado.
Símbolo do taoísmo
  Ao longo do tempo, no entanto, foram sendo criadas formas institucionalizadas do taoísmo por meio de diferentes escolas que, frequentemente, misturaram crenças e práticas que antecediam até mesmo os texto-chave do taoísmo - como, por exemplo, as teorias da Escola dos Naturalistas, que sintetizavam os conceitos como o do yin-yang e o dos cinco elementos. As escolas taoistas tradicionalmente reverenciam Lao Zi (Lao Tsé) e os "imortais" ou "ancestrais" e possuem diversos rituais de adivinhação e exorcismo, além de práticas que visam a atingir êxtase e obter mais longevidade ou mesmo a imortalidade.
Estátua de Lao Tsé, em Fujian - China
  Dentre as filososfias adotadas pelo taoísmo, estão:
  • Do "caminho", surge "um" (aquele que está consciente), de cuja consciência, por sua vez, surge o conceito de "dois" (yin e yang), dos quais o número "três" está implícito (céu, terra, humanidade); produzindo, finalmente, por extensão, a totalidade do mundo como o conhecemos, "as dez mil coisas", através da harmonia do wu xing. O caminho, enquanto passa pelos cinco elementos do wu xing, é também visto como circular, agindo sobre si mesmo através da mudança para simular um ciclo de vida e morte nas 10.000 coisas do universo fenomênico.
  • Aja de acordo com a natureza e com a sutileza, em lugar de força.
  • A perspectiva correta será encontrada pela atividade mental da pessoa, até chegar a uma fonte mais profunda que guie sua interação pessoal com o universo. O desejo obstrui a habilidade pessoal de entender o caminho, moderar o desejo gera descontentamento. Os taoístas acreditam que, quando um desejo é satisfeito, outro, mais ambicioso, brota para substituí-lo. Em essência, a maioria dos taoistas sente que a vida deve ser apreciada como ela é, em lugar de forçá-la a ser o que não é. Idealmente, não se deve desejar nada, "nem mesmo não desejar".
  • Unidade: ao perceber que todas as coisas (inclusive nós mesmos) são interdependentes e constantemente redefinidas pela mudança das circunstâncias, passamos a ver todas as coisas como elas são e a nós mesmos como apenas uma parte do momento presente. Essa compreensão da unidade nos leva a uma apreciação dos fatos da vida e do nosso lugar neles como simples momentos miraculosos que "apenas são".
  • Dualismo: a oposição e combinação dos dois princípios básicos yin e yang - do universo é uma grande parte da filosofia básica. Algumas das associações comuns com yang e yin, respectivamente, são: masculino e feminino, luz e sombra, ativo e passivo, movimento e quietude. Os taoístas acreditam que nenhum dos dois é mais importante ou melhor que o outro. Na verdade, nenhum pode existir sem o outro, porque eles são aspectos equiparados do todo. São, em última análise, uma distinção artificial baseada em nossa percepção das 10.000 coisas, portanto, é só a percepção delas que realmente muda.
Representação do tao, o conceito fundamental do taoísmo, na escrita chinesa
CRISTIANISMO
  O cristianismo é uma religião abraâmica monoteísta que está assentada na prática de cultuar Jesus Cristo, filho de Deus. Essa prática foi estabelecida por seus apóstolos (seguidores), chamados cristãos.
  Os primeiros cristãos, assim como Cristo fizera, seguiam a prática da religião judaica, mas com o diferencial de incluir referências a Jesus Cristo. O cristianismo passou a existir como religião autônoma quando se separou do judaísmo.
  A fé cristã baseia-se na crença de que Cristo viveu, morreu e ressuscitou para a redenção de todo aquele que crer em sua mensagem.
  A religião cristã possui três vertentes principais: o Catolicismo, a Ortodoxia Oriental (separada do catolicismo em 1504 após o Grande Cisma do Oriente) e o Protestantismo (que surgiu durante a Reforma Protestante do século XVI). O protestantismo é dividido em grupos menores chamados de denominações.

O Sermão da Montanha por Carl Heinrich Bloch - pintor denamarquês.
JESUS CRISTO
  Poucos são os registros da vida de Cristo. Praticamente tudo o que se sabe a seu respeito está nos Evangelhos, livros que fazem parte do Novo Testamento. Segundo a narrativa bíblica, Jesus nasceu em Belém, na Judeia, e passou a infância na cidade de Nazaré. Aos 30 anos de idade começou a propagar suas mensagens e, três anos depois, foi condenado a morrer na cruz.
  Os seguidores do cristianismo, conhecidos como cristãos, acreditam que Jesus seja o Messias profetizado na Bíblia Hebraica (a parte das escrituras comum tanto ao cristianismo quanto ao judaísmo). A teoria cristã ortodoxa alega que Jesus teria sofrido, morrido e ressuscitado para abrir o caminho para o céu aos humanos. Os cristãos acreditam que Jesus teria ascendido aos céus, e a maior parte das denominações ensina que Jesus irá retornar para julgar todos os seres humanos, vivos e mortos, e conceder a imortalidade aos seus seguidores. Jesus também é considerado para os cristãos como modelo de uma vida virtuosa, tanto como o revelador quanto a encarnação de Deus. Os cristãos chamam a mensagem de Jesus Cristo de Evangelho ("Boas Novas"), e por isto referem-se aos primeiros relatos de seu ministério como evangelhos.
Cristo crucificado
  O cristianismo iniciou-se como uma seita judaica e, como tal, da mesma maneira que o próprio judaísmo e o islamismo, é classificada como uma religião abraâmica (descendentes de Abraão). Após se originar no Mediterrâneo Oriental, rapidamente se expandiu em abrangência e influência, ao longo de poucas décadas; no século IV já havia se tornado a religião dominante no Império Romano. Durante a Idade Média, a maior parte da Europa foi cristianizada, e os cristãos também seguiram sendo uma significante minoria religiosa no Oriente Médio, Norte da África e em partes da Índia.
  Depois da Era das Descobertas, através do trabalho missionário e da colonização, o cristianismo se espalhou para as Américas e pelo resto do mundo. O cristianismo desempenhou um papel de destaque na formação da civilização ocidental, pelo menos desde o século IV.
  Atualmente, o cristianismo conta com cerca de 2,4 bilhões de fiéis, representando cerca de um quarto a um terço da população mundial, e é uma das maiores religiões do mundo, sendo também, a religião de Estado de diversos países.

O batismo de Cristo, por Francesco Albani
  A Bíblia, "livro" sagrado dos cristãos, é, na verdade, uma compilação de diversos livros. Compreende os livros do Antigo Testamento (anteriores a Cristo) e os do Novo Testamento (posteriores a Cristo). Reunindo um conjunto de códigos de conduta e moral, para os cristãos, ela é a palavra de Deus, enviada para guiá-los.
ISLAMISMO
  O elemento comum e unificador dos diversos povos e culturas que compõem a civilizaçãoislâmica é a religião criada por Maomé no século VII, conhecida como maometana ou muçulmana.
  A cultura muçulmana ou islâmica, é uma religião abraâmica que abrange atualmente uma imensa região que vai da Turquia, na parte leste da Europa, até o Paquistão e Bangladesh, no sul da Ásia, incluindo, também, o norte da África. A área onde a cultura islâmica é mais forte e estabelecida, é o Oriente Médio e parte do Sudeste Asiático.
Mapa do domínio da religião islâmica
  Os princípios fundamentais dessa religião são: a reza obrigatória cinco vezes ao dia, de cócoras e com o rosto voltado em direção à Meca, a cidade sagrada para os muçulmanos; a peregrinação ou ida pelo menos uma vez na vida à Meca; o jejum obrigatório durante o Ramadã, o mês sagrado, no qual vários alimentos são proibidos e a alimentação só pode ser feita depois que o sol se põe; e o dízimo ou doação obrigatória de uma parte de sua renda aos pobres.
  Existe também o Jihad ou "Guerra Santa" contra os infiéis, a submissão da mulher ao homem, os castigos exemplares aos ladrões e criminosos (tais como chicotear ou decepar a mão em público).
Mulheres islâmicas do Irã
  Logo após a fundação da religião por Maomé, a adoção da nova fé deu início à união dos povos árabes, primeiro na área próxima às cidades de Meca e Medina, na atual Arábia Saudita. Ao longo dos séculos VII e VIII, o maometismo se expandiu para regiões distantes da Ásia, África e Europa, num processo de conquista e domínio político e cultural sobre outros povos.
  Durante vários séculos, o mundo islâmico rivalizou com o Ocidente, não apenas conquistando terras e povos, mas também desenvolvendo uma rica cultura. Os povos islâmicos alcançaram progressos notáveis na matemática, astronomia, literatura, filosofia, construção naval etc. No século XV, os turcos otomanos construíram um império às margens do Mediterrâneo, e os persas dominaram a porção leste do atual Oriente Médio. Esses impérios sempre foram dominados pela cultura árabe-islâmica.
Nações que têm o islamismo como religião estatal:
  Islamismo (Sunita ou Xiita)
  Islamismo Sunita
  Islamismo Xiita
   A partir do século XIX, a dominação britânica atingiu o mundo muçulmano, com o enfraquecimento - e desmembramento - do Império Turco. No início do século XX, foram criados os atuais países árabes: o povo árabe foi dividido em dezesseis países diferentes, cada um dominado por uma elite privilegiada. Até hoje, existe uma aspiração popular de união e criação de uma imensa nação árabe.

Mapa da porcentagem da população muçulmana no mundo
HINDUÍSMO
  O hinduísmo é uma tradição religiosa que se originou no subcontinente indiano. Mistura religião e filosofia, tem como divindades principais a trindade Brahma - representação da força criadora ativa do universo -, Vishnu e Shiva. Também chamada de bramanismo, constitui o grande elemento unificador da civilização hindu, que apresenta culturas diversificadas.
  A área sob o domínio da civilização hindu abrange, em primeiro lugar, a Índia, e em segundo lugar, alguns países vizinhos - Sri Lanka, Mianmar, Nepal, Butão e Tailândia. Em algumas outras nações, como o Paquistão, Bangladesh, Malásia e Indonésia, a cultura indiana também exerce alguma influência, embora o islamismo seja mais forte. Em grande parte do Sudeste Asiático (Vietnã, Laos, Camboja), a civilização indiana disputa a supremacia cultural com a chinesa, que predomina.
Brahma - uma das divindades do hinduísmo
  Num sentido mais abrangente, o hinduísmo engloba o bramanismo, a crença na "Alma Universal", Brahma; num sentido mais específico, o termo se refere ao mundo cultural e religioso, ordenado por castas, da Índia pós-budista. De acordo com o livro História das Grandes religiões, "o hinduísmo é um estado de espírito, uma atitude mental dentro de seu quadro peculiar, socialmente dividido, teologicamente sem crença, desprovido de veneração em conjunto e de formalidades eclesiáticas ou de congregação".
  O hinduísmo é citado como "a religião mais antiga", a "mais antiga tradição viva" ou a "mais antiga das principais tradições existentes". É formado por diferentes tradições e composto por diversos tipos, e não possui um fundador. Estes tipos, sub-tradições e denominações, quando somadas, fazem do hinduísmo a terceira maior religião, depois do cristianismo e do islamismo, com aproximadamente um bilhão de fiéis, dos quais cerca de 905 milhões vivem na Índia e no Nepal. Outros países com populações significativas de hinduístas são: Bangladesh, Sri Lanka, Paquistão, Malásia, Cingapura, Ilhas Maurício, Ilhas Fiji, Suriname, Guiana, Trinidad e Tobago, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos.
Distribuição da população hindu no mundo
  O hinduísmo, uma mistura de religião e filosofia, é o elemento unificador dessa cultura bastante diversificada. Para alguns especialistas, o hinduísmo não é propriamente uma filosofia nem uma religião bem definida. Seria, antes de mais nada, um conjunto de ideias e de costumes que organiza ou cimenta uma sociedade extremamente complexa e hierarquizada. O hinduísmo tem uma enorme importância para manter a coesão social na Índia, onde convivem numerosos grupos étnicos.
  A fonte espiritual do hinduísmo encontra-se no Vedas, uma coleção de antigas preces, hinos e poemas. Os Vedas foram elaborados provavelmente por sábios anônimos e transmitidos durante muito tempo apenas oralmente, antes de serem escritos. Eles foram escritos pela primeira vez por sânscrito, uma língua morta que deu origem a inúmeros idiomas modernos.
Parte do Vedas
  Em síntese, os Vedas ensinam que todas as coisas e acontecimentos são manifestações diversas de uma mesma realidade, que existe dentro de cada um e no universo como um todo. O conhecer a si mesmo, passa a ser uma maneira de conhecer o mundo. A introspecção e a reflexão sobre si próprio em busca do equilíbrio, é essencial nessa cultura.
  Também a crença na transmigração da alma ou do carma de cada pessoa - ou seja, a existência numa época como ser humano de uma casta, ou de outra casta na geração seguinte, como peixe ou vaca em outra encarnação etc. - é fundamental nessa cultura, razão pela qual a própria vida humana não é tão valorizada quanto no Ocidente.
  Existem inúmeros deuses no hinduísmo, que variam conforme a área e o grupo étnico. Mas todos eles são apenas um ou este assume formas diversas conforme as circunstâncias. Na tentativa de absorver todas as religiões e filosofias importantes nessa imensa região - o hinduísmo chegou mesmo a considerar Buda, assim como Alá e Cristo, mais uma das facetas de seu Deus ou essência última de todas as coisas.
Shiva - principal Deus do hinduísmo
  A hierarquia é fundamental na cultura indiana. Ela assume a forma de castas, uma palavra que, para uns, deriva do latim castus, que significa "casto" ou "puro", e, para outros, deriva de sânscrito e significa "cor". As castas são grupos de pessoas - ou de famílias - que possuem determinadas tradições que os classificam hierarquicamente como mais "puros" ou "impuros" dentro da sociedade hinduísta.
  O conceito de "pureza", é fundamental no sistema de castas; ele se refere, não à higiene, e sim a hábitos e valores espirituais. Essas tradições são complexas e abrangem a alimentação, as vestimentas, as profissões etc. Comer carne de vaca, por exemplo, é considerado um hábito impuro, que só algumas castas - ou povos sem casta - muito inferior faria. Algumas profissões são tradicionalmente identificadas com certas castas, tais como as de sacerdotes, guerreiros, comerciantes, agentes funerários etc. Não existe nenhuma possibilidade de passar de uma casta para outra, nem por casamento nem por qualidades pessoais ou profissionais.
  Em ordem de posição social, são estas as principais castas tradicionais indianas, que possuem inúmeras subdivisões:
  • Brâmanes - sacerdotes;
  • Xátrias - guerreiros;
  • Vaixás - comerciantes, artesãos, camponeses;
  • Sudras - trabalhadores manuais;
  • Intocáveis - sem castas.  
FONTE: Projeto Araribá: geografia: ensino fundamental / obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna: editor executivo Fernando Carlo Vedovate. - 3. ed. - São Paulo: Moderna, 2010.

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