quarta-feira, 12 de junho de 2013

O CICLO DO OURO NO BRASIL: RIQUEZA E CONFLITOS

  As primeiras grandes jazidas de ouro foram encontradas no interior da colônia somente no final do século XVII. A partir da descoberta do ouro de aluvião no vale do rio das Mortes e no vale do rio Doce, entre 1693 e 1695, a região passou a ser chamada de Minas Gerais.
  A notícia do ouro espalhou-se rapidamente, provocando uma corrida de pessoas à região. Além dos que viviam nas outras capitanias, o ouro atraiu os reinós, como eram chamados os que nasciam no reino de Portugal. A partir do começo do século XVIII, de três a quatro mil reinós partiam todos os anos em direção às minas. Era muita gente saindo de um país pequeno e pouco populoso como Portugal. Por isso, em 1720, o governo português restringiu a emigração para o Brasil. Só podia emigrar quem tivesse autorização dada por meio de um passaporte parecido com o que as pessoas usam hoje em dia para viajar para o exterior. A ambição de enriquecer explorando o ouro era tanta que muita gente não media esforços para chegar até as minas. Para lá se dirigiam muitos brancos, mestiços, indígenas e negros (os dois últimos forçados), homens e mulheres, idosos e jovens, pobres e ricos, nobres e pessoas do povo.
Pintura de Carlos Julião retratando a mineração de diamantes em Minas Gerais no ano de 1720
  A população de Minas Gerais aumentou durante todo o século XVIII. Em 1796, havia mais de 390 mil habitantes naquela capitania, correspondendo a cerca de 15% da população total da América portuguesa.
A GUERRA DOS EMBOABAS
  Os bandeirantes paulistas descobriram o ouro em Minas Gerais e por isso queriam o direito de explorá-lo com exclusividade. Só que muitos reinós e colonos de outras capitanias também cobiçavam as riquezas.
  Em contraste com a riqueza concentrada nas mãos dos que encontravam ouro, havia miséria e fome entre muitos que o procuravam. Desde o final do século XVII, crises de abastecimento marcavam a região mineradora. Todos os que migravam para lá iam em busca do ouro, mas quase ninguém cuidava do transporte de produtos para o consumo.
  A tensão cresceu quando os portugueses passaram a controlar o abastecimento da região. O conflito mais violento entre paulistas e portugueses ficou conhecido como a Guerra dos Emboabas (1707-1709).
Pintura retratando a Guerra dos Emboabas
  Os paulistas chamavam os portugueses de emboabas, palavra de origem tupi que significa "aves de pés cobertos", em referência às botas que os reinós usavam. Os mamelucos que compunham as expedições saídas de São Paulo andavam descalços. Os paulistas também usavam o termo emboabas para designar os forasteiros.
  O principal líder dos paulistas na região das minas era Manuel Borba Gato, enquanto os emboabas eram chefiados por Manuel Nunes Viana, rico pecuarista do vale do São Francisco. Foi Viana quem comandou as tropas na luta contra os paulistas, vencendo-os em Sabará e em Cachoeira do Campo.
Estátua de Manuel da Borba Gato, de Nicola Rollo
  Em 1709, muitos paulistas foram mortos por cerca de mil emboabas, comandados por Bento do Amaral Coutinho, às margens do rio das Mortes.
  Até aquele momento, a presença do governo português na região era reduzida. Porém, para acabar com o conflito e garantir a posse sobre as riquezas locais, a Coroa interveio com mais rigor. O rei Dom João V elevou à vila de São Paulo à categoria de cidade e criou a capitania de São Paulo e Minas do Ouro, desmembrada do Rio de Janeiro. Em 1720, foram criadas duas capitanias separadas: São Paulo e Minas Gerais.
Ouro Preto - na época do ciclo da mineração era conhecida como Vila Rica
NOVAS DESCOBERTAS
  A Guerra dos Emboabas foi desfavorável aos paulistas e os levou a procurar metais preciosos em outras áreas. Eles acabaram descobrindo ouro nos atuais estados de Mato Grosso e Goiás, que na época faziam parte da capitania de São Paulo.
  Em 1719, paulistas liderados por Pascoal Moreira Cabral, que haviam partido em busca de indígenas para escravizar, descobriram jazidas de ouro em área próxima à atual Cuiabá. Apesar da resistência dos coxiponés que ali viviam, a conquista e a exploração do ouro prosseguiram. A Vila Real de Cuiabá foi fundada no mesmo ano e, em 1722, outras jazidas foram descobertas por Miguel Sutil. A corrida do ouro também atraiu muita gente àquela região.

Cuiabá - MT. Cidade que surgiu graças ao ciclo do ouro
  Anos depois, Bartolomeu Bueno da Silva (filho de outro paulista com o mesmo nome) encontrou ouro em Goiás (1725) e fundou a primeira povoação branca da região: o Arraial da Barra, em 1726.
  Além das riquezas geradas pela mineração, outro objetivo da Coroa portuguesa à época era ocupar uma região estrategicamente importante. Isso ocorreu por que as capitanias de Goiás e Mato Grosso estavam próximas às minas de prata exploradas pelos espanhóis nos atuais territórios da Bolívia e do Peru, e sua criação permitiu a posterior posse  ocupação da Amazônia.
Cidade de Goiás ou Goiás Velho - GO. Originou-se a partir da exploração do ouro.
CONTROLE E EXPLORAÇÃO DAS MINAS
  O ouro descoberto na colônia pertencia ao governo de Portugal, que concedia lotes (também chamados de datas) aos que tivessem condições de explorá-los. O trabalho era feito por escravos, em locais denominados de lavras. Com isso, o comércio de escravos africanos aumentou bastante, para abastecer os mineradores.
  Percebendo no ouro uma possibilidade de reerguer sua economia que enfrentava sérios problemas desde a Restauração (golpe de Estado, ocorrido em primeiro de dezembro de 1640, contra a tentativa de anulação da independência do Reino de Portugal pela governação da Dinastia Filipina Castelhana), o governo português organizou esquemas rígidos para controlar a região das minas. Fazia parte deste controle a cobrança de impostos sobre o ouro extraído. Estas formas de cobrança passaram por modificações ao longo do século XVIII.
Mariana - MG. Importante cidade da região das Minas Gerais
FONTE: Cotrim, Gilberto, 1955 - Saber e fazer história, 7º ano / Gilberto Cotrim, Jaime Rodrigues. - 7. ed. - São Paulo: Saraiva, 2012.

O CLIMA E A VEGETAÇÃO DA OCEANIA

  O fato de grande parte da Oceania estar localizada na região tropical da Terra coloca boa parte desse continente sob o domínio de climas quentes, como o tropical, o equatorial e até mesmo o desértico. Apenas a Nova Zelândia e a região sudeste da Austrália apresentam clima temperado.
  Na Austrália, cerca de 50% do território é dominado pelos climas desértico e semiárido. Somente a faixa litorânea norte e nordeste do país apresentam clima mais úmido, com média de 1.000 mm de chuva ao longo do ano.
Mapa das zonas climáticas da Austrália
  Em razão da presença da Cordilheira Australiana na porção leste do país, os ventos úmidos vindos do oceano Pacífico são barrados, acarretando chuvas orográficas na região. Os ventos que ultrapassam essa barreira natural e atingem o interior do país encontram-se secos, contribuindo, assim, para a baixa pluviosidade no interior do país.
Cordilheira Australiana
  A vegetação na Oceania, varia conforme os tipos de climas. Na região nordeste da Austrália, onde a pluviosidade é maior, desenvolvem-se as florestas tropicais, no entanto, conforme as chuvas diminuem em direção ao interior do país, gradativamente, a vegetação torna-se menos densa e de menor porte, como as savanas e por fim o deserto.
CLIMA EQUATORIAL
  O clima equatorial ocorre em grande parte das ilhas que compõem a Oceania sendo caracterizado por elevadas temperaturas durante todo o ano, geralmente superiores a 25 ºC. As intensas precipitações ao longo do ano, com índices que variam de 2 mil a 3 mil milímetros anuais, propiciam o desenvolvimento da floresta equatorial, marcada pela grande diversidade de espécies vegetais.
Floresta equatorial em Tonga
CLIMA TROPICAL
  Ocorre na região norte e nordeste da Austrália, apresentando temperaturas elevadas durante todo o ano (médias entre 22 ºC e 25 ºC) e verões chuvosos e invernos secos. As chuvas ao longo do ano apresentam índices pluviométricos em torno de 500 a 1.500 mm. No litoral nordeste encontra-se as florestas tropicais, composta de uma vegetação bastante densa. Já na região norte, a vegetação que se desenvolve é a savana, composta de árvores, arbustos e gramíneas.
Floresta tropical na Austrália
CLIMA TEMPERADO
  Na região sudeste da Austrália e por todo o território da Nova Zelândia atua o clima temperado. Em razão da forte influência das massas de águas oceânicas, que não permitem grandes amplitudes térmicas, esse clima apresenta verões frescos e invernos pouco rigorosos. A temperatura média é de 15 ºC e as precipitações, que são regulares ao longo do ano, ficam entre 500 mm e 1.000 mm anuais. A vegetação que se desenvolve nessas áreas são as florestas temperadas, compostas principalmente de caducifólias.
Floresta temperada na Nova Zelândia
CLIMA SEMIÁRIDO
  Ocorre em uma larga faixa que margeia as áreas de deserto na região central da Austrália. As áreas onde predomina o clima semiárido apresentam temperatura elevada durante todo o ano e as chuvas mostram-se irregulares e concentradas em alguns períodos do ano (cerca de 250 mm a 500 mm anuais).
  As plantas que se desenvolvem nestas áreas são as estepes, vegetação composta basicamente de arbustos e gramíneas.
Estepes na Austrália
CLIMA DESÉRTICO
  Com baixíssimos índices pluviométricos (abaixo dos 250 mm anuais) e elevadas temperaturas durante todo o ano, o clima desértico predomina na região central da Austrália, como os desertos de Vitória e de Simpson.
  A vegetação das áreas  de deserto são adaptadas às elevadas temperaturas e formadas sobretudo por plantas rasteiras e cactos.
Uluru Rock - no Deserto Australiano
FONTE: Garcia, Valquíria Pires. Projeto Radix: geografia / Valquíria Pires Garcia -- Beluce Belucci -- 2. ed. -- São Paulo: Scipione, 2012. -- (Coleção projeto radix)

sábado, 8 de junho de 2013

A ABDICAÇÃO DE DOM PEDRO I

  Diante do quadro crítico da década de 1820, repleto de tensões políticas e problemas econômicos, em razão do processo de independência e de construção de nosso Estado nacional, a autoridade e mesmo a popularidade de D. Pedro I foram enfraquecidas. No fim dessa década, a divisão política no campo governista tornou-se mais evidente. Os brasileiros reuniram-se no grupo liberal, e os portugueses juntaram-se aos conservadores. Gradativamente, os liberais afastaram-se do imperador, o que fortaleceu a posição dos portugueses/conservadores junto ao governo.
Exército do Imperador enfrentando a Confederação do Equador em 1824
  Um fato que reforçou essa postura foi a luta pela sucessão do trono  português em razão da morte de D. João VI, em 1826, o que possibilitaria a ascensão de D. Pedro I como rei de Portugal. Ele preferiu abdicar em favor de sua filha Maria da Glória, menor de idade, afastando os temores dos brasileiros de um possível restabelecimento de laços políticos entre os dois países. Seu irmão, D. Miguel, em 1828 deu um golpe e proclamou-se rei de Portugal, desencadeando uma verdadeira guerra sucessória. D. Pedro envolveu-se na disputa e gastou nela volumosas verbas do tesouro nacional brasileiro. Ao mesmo tempo, tentando fortalecer-se internamente, buscou mais apoio entre os membros do "partido português". Todos esses fatos fizeram crescer o sentimento antilusitano em setores do governo e sobretudo na imprensa.
Maria da Glória em 1826
  No início da década de 1830, o desgaste político do Imperador tornou-se irreversível. O assassinato do jornalista oposicionista Líbero Badaró, no dia 20 de novembro de 1830 e os confrontos entre portugueses e brasileiros contribuíram para o agravamento da situação, que culminaria nas ruas do Rio de Janeiro com a Noite das Garrafadas, quando os conflitos se tornaram abertos.
  A Noite das Garrafadas foi um episódio que envolvia os portugueses que apoiavam D. Pedro I, e os brasileiros que faziam oposição ao imperador.
  Em fevereiro de 1831, D. Pedro I viaja para Minas Gerais, sendo hostilizado pelo povo mineiro. No dia 11 de março ele retorna ao Rio de Janeiro, onde volta a encontrar oposição aberta nas ruas da cidade. O conflito culminou no dia 13, quando os portugueses organizavam uma grande festa para recepcionar o governante, mas os brasileiros revoltosos atacaram com pedras e garrafas. Esse episódio teve uma importância primordial na crise política, pois levaria D. Pedro a tomar medidas que iriam mudar a história do Brasil.
Paço Imperial por volta de 1820. Aqui aconteceu a Noite das Garrafadas
  D. Pedro I tentou ainda resolver os problemas nomeando um novo ministério, mas não obteve sucesso. Rapidamente, estabeleceu-se uma crise de governo, com alguns militares aderindo às insatisfações populares. O insustentável quadro político impôs a abdicação de D. Pedro I em 7 de abril de 1831. O imperador deixou o trono para seu filho Pedro de Alcântara, então com 5 anos de idade, e partiu para a Europa a fim de recuperar o trono português, ocupado por seu irmão.
D. Pedro I entrega ao Major Frias a carta de abdicação do trono brasileiro
  O fim do Primeiro Reinado significou o término da primeira etapa de constituição do Estado nacional. Os conflitos diretos entre brasileiros e portugueses, a velha e a nova burocracia, etc., desapareceram parcialmente, dando lugar a outros tipos de confrontos. Durante as Regências, as crises sociais e políticas permaneceram, e algumas delas tornaram-se ainda mais radicais, demonstrando que a independência política não era suficiente para construir uma nação, organizar a sociedade e pôr fim aos conflitos de interesses existentes.
Dom Pedro I e a coroa imperial do Brasil, de Henrique José da Silva
FONTE: Moraes, José Geraldo de, 1960 - História: geral e do Brasil: volume único / José Geraldo Vinci de Moraes. - 2. ed. - São Paulo: Atual, 2005. - (Coleção Ensino Médio Atual)

sexta-feira, 7 de junho de 2013

CAUSAS DA POBREZA

  Sempre houve pobreza - tanto absoluta como, principalmente, relativa - na história da humanidade, e as suas causas são muito variadas. Elas variam tanto no tempo (época) como no espaço (lugar). No passado, muitas vezes, ela existia em decorrência da falta de conhecimento e da precariedade tecnológica, que resultavam numa baixa produtividade na agricultura, a principal atividade da humanidade, especialmente dos povos mais pobres, na época.
  A pobreza também podia ser eventualmente o resultado do meio ambiente ou de catástrofes naturais: clima muito frio (com os solos congelados) ou muito árido (com carência de água), que impossibilitam ou dificultam a agricultura, desastres naturais (terremotos, inundações, pragas que arruínam os cultivos, etc.) ou epidemias de doenças como malária ou a peste, por exemplo.
Estimativas do Relatório de Perspectivas da População Mundial das Nações Unidas (2005-2010) sobre a esperança de vida a partir do nascimento (anos)
  Mais que 80                  67,5-70,0                     45,0-50,0  
  77,5-80,0                    65,0-67,5                     Menos de 45 
  75,0-77,5                    60,0-65,5                     Sem dados
  72,5-75,0                    55,0-60,0
70,0-72,5                   50,0-55,0  

  Também as frequentes guerras e conflitos armados que sempre ocorreram na história da humanidade como regra geral aumentam a fome e a pobreza de amplas camadas da população, pois eliminam pessoas em idade de trabalhar e destroem edificações (armazéns, pontes, manufaturas, residências) e campos de cultivo. A submissão de um povo, que sofre o domínio colonial por parte de um Estado mais poderoso, quase sempre vem acompanhada pela pobreza de enormes camadas da população, pois as riquezas produzidas na colônia (minérios, ouro ou prata, diamantes, carvão ou petróleo, produtos agrícolas etc.) são destinadas ao abastecimento da metrópole, e não à população local.
Distribuição do PIB per capita no mundo
  Nos dias atuais, em pleno século XXI, teoricamente não haveria muitos motivos para existir fome e pobreza extrema. Diferentemente do passado, hoje predomina um diálogo entre os governos na tentativa de evitar guerras; temos atualmente amplos conhecimentos, ao alcance de todos os povos, sobre como aumentar a produtividade do trabalho e da terra, ou sobre como cultivar em solos que antes eram considerados improdutivos; existe uma ampla rede internacional de ajuda às nações atingidas por catástrofes naturais ou por conflitos armados; a imensa maioria dos Estados nacionais, e também as organizações internacionais, já não aceitam a dominação colonial sobre uma nação; e há também um programa da ONU de combate à pobreza e à fome no mundo. Mas tanto a fome como a pobreza - não apenas relativa, mas até mesmo extrema ou absoluta - ainda existem por vários motivos.
  Um desses motivos é a geração de empregos, que acontece num ritmo menor que o do crescimento demográfico, ou uma crise econômica, que fecha inúmeras empresas, aumentando a taxa de desemprego entre a população. As pessoas desempregadas, mais cedo ou mais tarde, vão engrossar as estatísticas da pobreza.
Fila de pessoas desempregadas
  Outro fator é a má distribuição de renda. Vários estudos mostram que existe uma correlação entre maior concentração na distribuição social da renda e pobreza. Os países onde há maior pobreza geralmente são também países com grandes desigualdades sociais, onde, ao lado de milhões de pobres, sempre existem minorias extremamente ricas.
  O recente aumento da pobreza relativa nos Estados Unidos fornece um exemplo dessa relação  entre desigualdade e pobreza. Estatísticas oficiais daquele país, apontavam a existência de 32,5 milhões de pobres em 2000 e 43,6 milhões em 2010. Isso foi em parte - além da estagnação econômica e do aumento no desemprego - resultado de políticas do governo George W. Bush (2001-2009), que concentraram a renda nacional: houve diminuição dos impostos pagos pelos mais ricos (e pelas grandes empresas), ao lado da permanência dos impostos pagos pelo restante da população, além de ter ocorrido um corte dos investimentos na área social.
Diferenças na igualdade de renda nacional em todo o mundo, medidas pelo Coeficiente Gini nacional
  Também países como Brasil ou México, ambos com renda per capita em torno de 10 mil dólares, só possuem amplas camadas da população vivendo em situação de pobreza (não apenas relativa, mas às vezes até extrema) por causa principalmente da péssima distribuição social da renda nacional.
  Outros fatores que ocasionam a pobreza são a corrupção, a falta de oportunidades para alguns, como a exclusão de amplas camadas da população, que não têm acesso à escolaridade, à saúde, a um trabalho bem remunerado ou a um meio ambiente sadio.
  O que mede a desigualdade de um país é o Coeficiente Gini, que é uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini, e publicada no documento "Variabilitá e mutabilitá" ("Variabilidade e mutabilidade" em italiano), em 1912. É comumente utilizada para calcular a desigualdade de distribuição de renda. Consiste em um número de 0 a 1, onde 0 corresponde à completa igualdade de renda e 1 corresponde à completa desigualdade.
Visão do Rio de Janeiro, onde bairros luxuosos se misturam a favelas
FONTE: Vesentini, J. William. Projeto Teláris: Geografia / J. William Vesentini; Vânia Vlach. 1. ed. - São Paulo: Ática, 2012. - (Projeto Teláris: Geografia). O Sul geoeconômico, 8° ano.

terça-feira, 4 de junho de 2013

O ACESSO DO MEIO DE PRODUÇÃO DA TERRA

  Ao longo de décadas, megapropriedades serviam mais como reserva de valor e/ou para afirmação do poder político e econômico do que para garantir produção e produtividade, não cumprindo a sua função social. Em 1964, foi promulgada a Lei n. 4.504/64, conhecida como Estatuto da Terra, que buscava reforçar o cumprimento desse princípio. Além disso, houve "desinteresse" durante décadas em se utilizar as terras devolutas da União para proceder às famílias sem terra. Por mais de um século, os dirigentes de nossa nação não foram capazes de dar uma solução razoável a uma questão explosiva.
  Outros países, como foi o caso dos Estados Unidos, a maior potência econômica do planeta, equacionaram a questão logo no início do século XIX, antes mesmo do início do seu processo de industrialização. A enorme área no meio-norte, compreendendo os melhores solos, conhecidas como "corn belt" (Cinturão do Milho), teve uma ocupação baseada numa estruturação fundiária planejada. Glebas com menos de 150 acres foram vendidas a preços pouco mais que simbólicos, ao longo de uma grande faixa de terras desde o estado de Michigan até o de Arkansas. Os estados e os municípios participaram do programa de assentamento. A cada 5 quilômetros, construíram-se uma escola e uma igreja. Assim, todos tinham acesso a essas duas atividades básicas de sua cultura, sem grande esforço de deslocamento. Mais tarde as glebas foram aumentando de tamanho até chegar ao tamanho médio atual da ordem de 400 hectares, tendendo para a faixa de 500 a 700 hectares, que é o módulo mais adequado para lavouras de grãos com os equipamentos modernos.
Mapa agrícola dos Estados Unidos
  No Brasil, além de vedar o acesso a tanta terra disponível, foram criadas dificuldades adicionais. Uma delas foi a institucionalização da figura do "coronel", com poderes de polícia em jurisdição definida, substituindo a presença do Estado, que se declarava incapaz de prestar esse indispensável serviço de natureza pública pelo interior do país. Isso fez com que criasse um quase senhor feudal, com direito a força militar e a faculdade de praticar o arbítrio. Essa peça na estrutura político-administrativa serviu também para garantir a intocabilidade dos latifúndios.
Latifúndio
  Outros resquícios de formas atrasadas de organizar o sistema produtivo ainda está vigente no país: a "meiação" pela qual troca-se o direito de plantio pelo pagamento de parcela da produção; e a concessão do "direito" de plantar em troca de pagamento com serviço nas terras do proprietário (na Idade Média, isso era chamado de "corveia"). Ainda hoje, assiste-se a práticas "generosas" de grandes proprietários em áreas de expansão de fronteira. Cedem parcelas de mata virgem às famílias para que desmatem, à mão, com técnicas rudimentares à base de machado e fogo, plantem arroz, milho ou feijão e devolvam a gleba  com pastagem formada. Em seguida, oferecem uma nova área para desmatamento. Milhares de famílias estão aceitando essa parceria, por falta de alternativa de vida.
Agricultura itinerante - uso da queimada para desmatar uma área para o posterior plantio
  A administração da posse e do uso da terra era uma questão de poder político, além de econômico. A relação social de produção manteve as conveniências do poder estabelecido até a fase da chamada "República Velha". Contudo, a economia de mercado não convive com formas pré-capitalistas de produção. Um desses exemplos é o Japão. Os Estados Unidos, após derrotarem aquele país na Segunda Guerra Mundial, implantaram a reforma agrária como uma das primeiras medidas de política econômica para modernizar a economia nipônica.
Propriedade agrícola no Japão
FONTE: SANTO, Benedito Rosa do E. Os caminhos da agricultura brasileira. São Paulo: Evoluir, 2001. p. 95-6.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

O AUMENTO DA POBREZA E O RACISMO NOS ESTADOS UNIDOS

  O número de pessoas pobres nos Estados Unidos vem crescendo nos últimos anos. Em 2010, esse número atingia cerca de 43,6 milhões de pessoas, correspondendo a aproximadamente 15% da população. São consideradas pobres nos Estados Unidos as famílias de quatro pessoas com renda anual igual ou inferior a 22,31 mil dólares.
  A pobreza é maior entre os hispânicos e os afrodescendentes, dos quais cerca de 27% vivem abaixo do limite de pobreza. Essa situação se reflete na expectativa de vida da população negra, que é de 71 anos, enquanto a dos brancos é de 80 anos. No caso das crianças negras, a taxa de pobreza é bem mais elevada - chega a 39%, sendo três vezes maior que a verificada entre as crianças brancas, nas quais atingem cerca de 12%.
Mendigo nas ruas de Nova York
  Um dado preocupante revelado pelo censo de 2010 foi o número de pessoas sem seguro-saúde: 50 milhões.
  Em 2010, cerca de 14 milhões de norte-americanos estavam desempregados. Isso representava uma taxa de desemprego de 9,1%. Alguns analistas entendem que mesmo uma recuperação econômica não traria uma queda acentuada desse índice, uma vez que atribuem o desemprego também ao fato de muitas empresas de setores que empregam  bastante terem migrado para países onde a mão de obra é mais barata, como a China. Daí a necessidade de requalificar intensivamente a mão de obra desempregada, já que os setores que têm crescido nos Estados Unidos são aqueles que exigem maior qualificação.
Fila de desempregados nos Estados Unidos
  Outro grave problema da sociedade norte-americana é o racismo, que atinge os imigrantes (hispânicos e asiáticos) e principalmente os afrodescendentes. Segundo o FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, em cada dez crimes, três são motivados por racismo contra esses grupos.
  Nos estados do sul, onde, no período colonial, a economia se baseava na monocultura do algodão, foi utilizada intensamente a mão de obra de africanos escravizados.  Nesses estados, o racismo manifestou-se com mais intensidade.
Mexicanos tentando entrar ilegalmente nos Estados Unidos
  Até o início dos anos 1960, em três estados do sul - Alabama, Mississípi e Carolina do Sul - havia discriminação racial até mesmo na educação: escolas para afrodescendentes e escolas para brancos. Apesar da discriminação racial ser considerada crime nos Estados Unidos desde 1964, a segregação ainda persiste.
  A eleição de Barack Obama, primeiro presidente afrodescendente dos Estados Unidos, representou um marco na sociedade norte-americana, e ao mesmo tempo vem demonstrar que a luta dos afrodescendentes por melhores condições de vida e uma participação mais ativa na sociedade vão surtindo efeitos bastante positivos.
Barack Obama - primeiro negro a assumir a presidência dos EUA
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Geografia: homem & espaço, 8° ano / Elian AlabiLucian, Anselmo Lázaro Branco. -  22. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.

domingo, 2 de junho de 2013

TURQUIA: ENTRE O ORIENTE MÉDIO E A EUROPA

  A Turquia descende de um importante império do passado. Trata-se do Império Otomano, cujo núcleo se concentrava nos limites territoriais turcos atuais.
  Depois da Primeira Guerra mundial, o Império Otomano perdeu sua influência, o que repercutiu internamente. Em 1923 foi criada a República da Turquia, que pregava um estado laico, diferentemente da tradição islâmica otomana, na qual os líderes políticos eram escolhidos por razões religiosas e de consanguinidade.
Império Otomano
  Com um território de 783.562 km² (sendo o 36° maior país em território do mundo) e uma população de 78.785.548 habitantes (sendo o 17° país mais populoso do mundo). A densidade demográfica da Turquia é de 100, 54 hab./km², sendo o 75° mais povoado do mundo. A Turquia está em uma posição estratégica, pois permite a ligação terrestre entre a Europa e o Oriente Médio por meio de pontes sobre o estreito de Bósforo.
  Além das pontes, está prevista para esse ano (2013), uma linha férrea subterrânea, que vai aumentar ainda mais a capacidade de transporte de carga entre a Europa e o Oriente Médio.
Parte do Estreito de Bósforo
  Istambul, maior cidade do país, com mais de 13 milhões de habitantes na área metropolitana, é dividida pelo Estreito de Bósforo. Parte de seu território está localizada na Europa e parte na Ásia, o que dá à cidade um caráter muito particular.
  Ancara é a capital da Turquia, com mais de 4,5 milhões de habitantes. Assim como Istambul, apresenta atividades industriais, culturais e econômicas, mas em menor quantidade que Istambul, que constitui o polo econômico e cultural do país.
  A terceira maior cidade do país é Esmirna, onde em 2012 sua população era de 3.366.947 habitantes.
Cidadela de Ancara - construída entre os século VII e IX pelos Bizantinos
  Com relação às exportações, a Turquia se apresenta tipicamente como um país emergente, conseguindo vender alguns produtos industrializados, mas o maior volume de exportações é de recursos naturais. A pauta de exportação turca é bastante diversificada, o que constitui uma vantagem para o país, pois se algum produto tem seu preço diminuído, outro pode compensar com um eventual aumento do valor. O país destaca-se com a exportação de aço e de frutas.
Paisagem peculiar da Capadócia, onde serviu de cenas para a novela Salve Jorge
  Outro produto que merece destaque é o ouro, que chegava a 3% do total exportado. Mas o principal produto vendido foram os veículos de passeio, com 5,5% das exportações turcas, representando 1,2% do total comercializado entre países no mundo. A Turquia também se destaca com o comércio de roupas femininas, com 2,3% do total exportado pelo país no ano passado.
  De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2011, o PIB do país era de 778,089 bilhões de dólares, possuindo o 18° maior PIB entre os Estados analisados. O PIB per capita do país é de 10.522 dólares, possuindo o 62° maior PIB per capita do mundo.
Esmirna - terceira maior cidade da Turquia
  De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2010, a expectativa de vida ao nascer na Turquia era de 72,96, ocupando a 91ª colocação no ranking mundial nesse quesito. Quanto à taxa de alfabetização, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 2007/2008, essa taxa era de 88,7%, ocupando o país a colocação 101° no ranking mundial. Nesse levantamento a média de anos de estudo era de 6,5 anos, menos que o necessário para concluir o Ensino Fundamental, que em geral é de 8 anos. Apenas 27,1% das mulheres haviam concluído o Ensino Médio, enquanto entre os homens esse indicador chegava a 46,8%. A presença feminina na política era de 9,1% no Parlamento.
Istambul - maior cidade da Turquia
  Uma das dificuldades que o governo turco enfrenta internamente é o movimento separatista dos curdos.
  Os curdos, estimados em mais de 30 milhões de pessoas, lutam pela reconstrução de seu país, o Curdistão, que no passado situava-se em terras que hoje pertencem a Armênia, Azerbaijão, Geórgia, Irã, Iraque, Síria e Turquia. Na Turquia está a maior concentração de curdos, cerca de 15 milhões de pessoas. Os curdos são a maior nação sem território do mundo.
  Na Turquia, os curdos conseguiram algumas vitórias, como o ensino do curdo como língua opcional, ainda que o turco seja obrigatório para todos. Também foram autorizadas a produção e a veiculação de jornais, rádios e programas de TV falados em curdo.
Em rosa área habitada pelos curdos
  A Turquia aumentou seu poder regionalmente, mas a economia ainda depende da venda de recursos naturais, apesar de o país exportar carros e roupas em grande escala. Recentemente, uma série de eventos promoveu a aproximação do país com o Brasil.
  Em 2011, durante uma visita da presidente Dilma Rousseff à Turquia, foi emitida uma declaração conjunta que reafirmou um compromisso assumido no ano anterior de maior cooperação entre os dois países.
  Entre os setores que devem ser estimulados estão o de geração de energia, para exploração de petróleo no Mar Negro; o desenvolvimento científico e tecnológico dos dois países; e o aprimoramento dos sistemas educacionais.
  Consta também desse compromisso o apoio do Brasil para que a Turquia seja membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU, e da Turquia para que o Brasil se torne um membro permanente desse Conselho.
  Brasil e Turquia são países que estão passando por mudanças internas que se refletem externamente. Os dois aumentaram sua atividade econômica, o que permitiu melhorar as condições de vida de suas populações. Apesar das diferenças culturais, ambos almejam ampliar sua influência nas decisões mundiais.
Dilma cumprimenta o presidente turco Abdullah Gül em 2011
  Apesar da Turquia ser um Estado secular sem religião oficial, a religião predominante da Turquia é o islamismo, com 96,1% de seguidores; 0,9% da população são Ateus; 2,3% são Agnósticos (visão de que o valor de verdade de certas reivindicações, especialmente afirmações sobre a existência ou não existência de qualquer divindade, mas também de outras reivindicações religiosas e metafísicas); 0,6% são Cristãos e 0,1% professam outras religiões.
Mesquita do Sultão Ahmet, conhecida como Mesquita Azul, em Istambul
FONTE: Ribeiro, Wagner Costa. Por dentro da geografia, 8° ano: mundo / Wagner Costa Ribeiro. 1. ed. - São Paulo: Saraiva, 2012.

sábado, 1 de junho de 2013

A TEMPERATURA DO AR ATMOSFÉRICO

  A superfície terrestre não recebe toda a energia enviada pelo Sol. Apenas parte dela (43%) chega até a superfície, que a retém por certo tempo sob a forma de calor, liberando-a depois para a atmosfera.
  A atmosfera é aquecida, em parte, pela radiação proveniente do Sol e pela radiação devolvida pela superfície (do solo para a atmosfera).
  Por isso, o aquecimento da atmosfera ocorre de forma direta e indireta. Esse aquecimento provoca um aumento na agitação das partículas dos gases que compõem a atmosfera. O estado de agitação das partículas é medido pela temperatura.
Esquema da radiação solar
  As temperaturas são registradas pelos termômetros ou termógrafos, e seus valores, expressos em graus. No Brasil, esses valores são comumente  divulgados em graus Celsius, cujo símbolo é °C.
  As temperaturas sofrem variações de um lugar para outro principalmente por causa das diferenças de latitude (distância ou proximidade do Equador), da altitude e do aquecimento desigual das terras e das águas.
Mapa da temperatura média anual no planeta
VARIAÇÕES DAS TEMPERATURAS CONFORME A LATITUDE
  Tendo por base a linha do Equador, conforme se distancia dessa linha, a latitude vai aumentando e as temperaturas vão diminuindo.
  Isso acontece porque, em razão da forma geoide da Terra, os raios solares atingem a superfície terrestre de forma diferenciada. À área próxima da linha do Equador, atingida mais diretamente, recebe maior quantidade de calor.
  À medida que se caminha em direção aos círculos polares, o aquecimento vai se tornando menor. Por causa da curvatura da Terra, essas regiões recebem os raios solares de maneira inclinada.
Incidência dos raios solares no planeta Terrra
A INFLUÊNCIA DA ALTITUDE SOBRE AS TEMPERATURAS
  A altitude é outro fator que provoca alteração nas temperaturas.
  A temperatura diminui com o aumento da altitude. A cada 200 metros, a temperatura diminui em média 1°C. É por isso que lugares situados na zona intertropical da Terra, mas com altitudes superiores a cinco mil metros, permanecem cobertos de neve. Isso ocorre porque à medida que a altitude vai aumentando, diminui a circulação de gases e, consequentemente, a temperatura. A altitude também influencia na vegetação e na precipitação.
Efeito da altitude na vegetação e na temperatura
AQUECIMENTO DESIGUAL DAS TERRAS E DAS ÁGUAS
  Outro fator que condiciona a alteração das temperaturas na superfície terrestre é a desigualdade no aquecimento das terras e das águas.
  Os continentes se aquecem mais rapidamente que os oceanos. Quando os continentes já estão liberando o calor recebido, os oceanos ainda estão se aquecendo, para depois liberar, por meio da irradiação, o calor recebido. Por causa dessa diferença de aquecimento entre as terras e as águas, ocorrem constantes trocas de ar quente e ar frio entre os continentes e os oceanos. Em razão desse fenômeno de troca de calor entre terras e águas, as regiões litorâneas apresentam menores variações de temperatura do que as regiões do interior dos continentes.
Efeito da continentalidade e maritimidade
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Geografia: homem & espaço, 6° ano / Elian AlabiLucian, Anselmo Lázaro Branco. -  22. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.

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