quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A GUERRA DO PARAGUAI

  A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul no século XIX. Rivalidades platinas e a formação de Estados nacionais deflagraram o confronto, que destruiu a economia e a população paraguaias. É também chamada Guerra da Tríplice Aliança na Argentina e Uruguai e de Guerra Grande, no Paraguai.
  A Guerra do Paraguai durou seis anos. Teve início em dezembro de 1864 e só chegou ao fim do ano de 1870, com a morte de Francisco Solano López em Cerro Corá.
  As razões dessa guerra são bastante diversas. O Paraguai no século XIX era um país que discordava do conjunto latino-americano por ter alcançado certo progresso econômico, a partir da independência em 1811. Durante os longos governos de José Francía (1811-1840) e Carlos López (1840-1862), erradicara-se o analfabetismo no país e haviam surgido fábricas - inclusive de armas e pólvora -, indústrias siderúrgicas, estradas de ferro e um eficiente sistema de telégrafo. As "estâncias da pátria" (unidades econômicas formadas por terras e instrumentos de trabalho distribuídos pelo Estado aos camponeses, desde o governo Francía) abasteciam o consumo nacional de produtos agrícolas e garantiam à população emprego e bom padrão alimentar.
Carlos Antonio López (1792-1862)
  Também, desde a sua independência, os governantes paraguaios afastaram o país dos conflitos armados na região Platina. A política isolacionista paraguaia, porém, chegou ao fim com o governo do ditador Francisco Solano López. Solano promoveu a industrialização do país graças a ajuda financeira recebida pela Grã-Bretanha. Essa industrialização contribuiu para o forte crescimento econômico do país.
  Com relativo sucesso socioeconômico e de alguma autonomia internacional, Solano López, cujo governo iniciou-se em 1862, teria enfatizado a política militar expansionista, a fim de ampliar o território paraguaio. Segundo essa versão, divulgada pela ótica dos vencedores, Solano pretendia criar o "Paraguai Maior", anexando, para isso, regiões da Argentina, do Uruguai e do Brasil (como Rio Grande do Sul e Mato Grosso). Obteria, dessa forma, acesso ao Atlântico, tido como imprescindível para a continuação do progresso econômico do país. Enfim, a guerra teria como motivo a agressão paraguaia, obrigando o Império a reagir. Porém, certamente foi a política externa brasileira no Prata, marcada pelo intervencionismo, que colaborou para criar uma situação potencialmente explosiva.
Francisco Solano López (1827-1870)
  Em 1864, o Brasil estava envolvido num conflito armado com o Uruguai. Havia organizado tropas, invadido e deposto o governo uruguaio do ditador Aguirre, que era líder do Partido Blanco e aliado de Solano López. O ditador paraguaio se opôs à invasão brasileira no Uruguai, porque contrariava seus interesses.
  O estopim para o conflito foi a intervenção brasileira no Uruguai  e a reação de Solano López que, contando com um exército bem mais numeroso que o brasileiro, tomou a ofensiva ao ordenar o aprisionamento do navio brasileiro Marquês de Olinda, no Rio Paraguai, retendo, entre seus passageiros e tripulantes, o presidente da província do Mato Grosso, Carneiro de Campos. A resposta brasileira foi o imediato rompimento de relações diplomáticas com o Paraguai, seguida do revide paraguaio e declaração de guerra.
  Mantendo-se na ofensiva, o Paraguai invadiu o Mato Grosso e o norte da Argentina, e os governos do Brasil, Argentina e Uruguai criaram a Tríplice Aliança contra Solano López.
Países e áreas envolvidas na Guerra do Paraguai
FASES DA GUERRA
Primeira fase: ofensiva paraguaia (1864-1865)
  Durante a primeira fase da guerra a iniciativa esteve com os paraguaios. Os exércitos de López definiram as três frentes de batalha iniciais invadindo o Mato Grosso, entre dezembro de 1864 e janeiro de 1865, primeiramente com a invasão de Corrientes (Argentina) e depois o Rio Grande do Sul.
  A invasão de Mato Grosso foi feita ao mesmo tempo por dois corpos de tropas paraguaias. A província achava-se quase desguarnecida militarmente, e a superioridade numérica dos invasores permitiu-lhes realizar uma campanha rápida e bem-sucedida.
  Um destacamento de cinco mil paraguaios, transportados em dez navios e comandados pelo coronel Vicente Barros, subiu o rio Paraguai e atacou o Forte de Nova Coimbra. A guarnição de 155 homens resistiu durante três dias, sob o comando do tenente-coronel Hermenegildo de Albuquerque Porto Carrero, depois barão de Forte de Coimbra. Quando as munições se esgotaram, os defensores abandonaram a fortaleza e se retiraram, rio acima, a bordo da canhoneira Anhambaí, em direção a Corumbá. Depois de ocupar o forte, que já estava vazio, os paraguaios avançaram rumo ao norte, tomando, em janeiro de 1865, as cidades de Albuquerque e Corumbá.
Forte Coimbra
  A segunda coluna paraguaia, comandada pelo coronel Francisco Isidoro Resquin e integrada por quatro mil homens, penetrou, por terra, em uma região mais ao sul do Mato Grosso, e logo enviou um destacamento para atacar a colônia militar fronteiriça de Dourados. O cerco, dirigido pelo major Martín Urbieta,, encontrou forte resistência por parte do tenente Antônio João Ribeiro, atual patrono do Quadro Auxiliar de Oficiais, e de seus 16 companheiros, que morreram sem se render. Os invasores prosseguiram até Nioaque e Miranda (ambos no atual estado do Mato Grosso do Sul), derrotando as tropas do coronel José Dias da Silva. Enviaram em seguida um destacamento até Coxim (MS), tomada em abril de 1865.
  Apesar de as primeiras vitórias da guerra terem sido paraguaias, o país possuía uma população muito menor que os países da Tríplice Aliança e não conseguiu resistir a uma guerra prolongada. Além disso, Brasil, Argentina e Uruguai puderam contar com o apoio inglês, recebendo empréstimos para equipar e manter poderosos exércitos.
Mapa da primeira fase da guerra
Segunda fase da guerra: contra-ataque aliado (1865-1866)
  A primeira reação brasileira foi enviar uma expedição para combater os invasores em Mato Grosso. A coluna de 27.800 homens comandados pelo coronel Manuel Pedro Drago saiu de Uberaba - MG, em abril de 1865, e só chegou a Coxim em dezembro do mesmo ano, após uma difícil marcha de mais de dois mil quilômetros através de quatro províncias do Império. Ao chegar, Coxim já estava abandonada. O mesmo aconteceu em Miranda, onde chegou em setembro de 1866.
  No dia 1° de maio de 1865, Brasil, Argentina e Uruguai assinaram, em Buenos Aires, o Tratado da Aliança contra o Paraguai. As forças militares da Tríplice Aliança eram, no início da guerra, francamente inferiores às do Paraguai.
  Foi no setor naval que o Brasil, mais bem preparado, infligiu, logo no primeiro ano de guerra, uma pesada derrota aos paraguaios na Batalha de Riachuelo. Essa batalha foi travada no dia 11 de junho de 1865, no rio Paraná, na qual a esquadra comandada pelo chefe de divisão Francisco Manuel Barroso da Silva derrotou a esquadra paraguaia comandada por Pedro Inacio Meza, cortando as comunicações com o tenente-coronel paraguaio Antonio de la Cruz Estigarribia, que estava atacando o Rio Grande do Sul.
Batalha Naval de Riachuelo
  A vitória brasileira do almirante Barroso na Batalha do Riachuelo, já em 1865, levou à destruição da frota paraguaia. A partir daí, as forças da Tríplice Aliança passaram a ter a iniciativa na guerra, controlando os rios, principais meios de comunicação da Bacia Platina, até a vitória definitiva em 1870.
  Simultaneamente ao ataque naval, uma força de 10 mil paraguaios atravessou a província argentina das Missões. Alcançando o rio Uruguai, a força se dividiu em duas colunas e rumaram para o sul, marchando em ambas as margens do rio. O tenente-coronel Antonio de la Cruz Estigarribia, liderou cerca de 7.500 homens na margem leste, e o major Pedro Duarte comandou 5.500 homens na margem oeste. Os paraguaios encontraram pouca resistência dos argentinos na margem oeste ou dos brasileiros na margem leste. López acreditava que se conseguisse controlar o Rio Grande do Sul e invadir o Uruguai, os escravos brasileiros iriam subelevar-se e os recém expulsos blancos uruguaios voltariam a pegar em armas.
Terceira fase da guerra: estagnação (1866-1868)
  No segundo período da guerra, os desentendimentos entre Osório (comandante das forças brasileiras) e o presidente argentino, que se opunha às perseguições aos paraguaios, levou o governo brasileiro a substituí-lo. Designado em 10 de outubro de 1866 para o comando das forças brasileiras, o marechal Luís Alves de Lima e Silva, marquês e, posteriormente, Duque de Caxias. Assumiu suas funções em Tuiuti, em 19 de novembro, encontrando o exército praticamente paralisado. Os contingentes argentinos e uruguaios vinham sendo retirados aos poucos do exército dos aliados, assolado por epidemias. Desentendimentos entre Venâncio Flores (Uruguai) e Mitre (Argentina) e problemas internos fizeram ambos se retirarem do combate e voltarem a seus países, deixando o Brasil praticamente sozinho. Tamandaré foi substituído no comando da esquadra pelo almirante Joaquim José Inácio, futuro visconde de Inhaúma. Paralelamente, Osório organizou um 3º corpo de exército no Rio Grande do Sul, com mais de cinco mil homens. Na ausência de Mitre, Caxias assume o comando geral e providenciou a reestruturação do exército.
Rendição de Uruguaiana, em 1865
  Entre novembro de 1866 e julho de 1867, Caxias organizou um corpo de saúde e um sistema de abastecimento das tropas. Conseguiu também que a esquadra imperial, que se ressentia do comando de Mitre, colaborasse nas manobras contra Humaitá. Nesse período, as operações militares limitaram-se aos conflitos com os paraguaios e a bombardeios da esquadra contra Curupaiti, na província de Santa Fé (Argentina).
  Apesar dos esforços de Caxias, a ofensiva pelos aliados só teve reinício no dia 22 de julho de 1867. A base tática de Caxias era atacar pela ala esquerda das fortificações paraguaias, objetivando ultrapassar o reduto fortificado, cortar as ligações entre Assunção e Humaitá e submete-la a um cerco. A manobra de Caxias foi bem-sucedida, porém, devido o tempo decorrido para essa operação ter sido muito longo, permitiu que López fortificasse a região.
Operação das forças aliadas para a passagem de Humaitá (1866-1868)
Quarta fase: os aliados retomam a ofensiva (1868-1869)
  Mitre deu ordens para que a esquadra imperial forçasse a passagem em Curupaiti e Humaitá. No dia 15 de agosto de 1867, duas divisões de cinco encouraçados ultrapassaram Curupaiti, mas foram detidos pelos poderosos canhões da fortaleza de Humaitá. Os aliados completaram o cerco à fortaleza após terem tomado São Solano, Vila do Pilar e Tavi, às margens do rio Paraguai, cortando as comunicações fluviais entre Humaitá e Assunção. López reagiu, atacando a retaguarda da posição aliada em Tuiuti, mas os aliados conseguiram derrotar as tropas paraguaias graças ao reforço trazido de Porto Alegre.
  Em janeiro de 1868, com o afastamento definitivo de Mitre, que retornou à Argentina, Caxias voltou a assumir o comando geral dos aliados. Em 19 de fevereiro a esquadra imperial capitão-de-mar-e-guerra Delfim Carlos de Carvalho, forçou a passagem de Humaitá. Apesar de os navios encouraçados terem ultrapassado a fortaleza, chegando a bombardear Assunção, só em 25 de julho de 1868 Humaitá foi totalmente cercada e tomada pelos aliados.
Passagem de Humaitá
Quinta fase: caça a Solano López e fim da guerra (1869-1870)
  No terceiro período da guerra (1869-1870), o genro do imperador Dom Pedro II, Luís Filipe Gastão de Orléans, o Conde d'Eu - marido da princesa Isabel -, foi nomeado para dirigir a fase final das operações militares no Paraguai, objetivando derrotar o governo paraguaio e fortalecer o Império brasileiro. Ele era um dos poucos da família imperial com experiência militar, já que na década de 1850 participara, como oficial subalterno, da campanha espanhola na Guerra do Marrocos. A indicação de um membro da família imperial pretendia diminuir as dificuldades operacionais das forças brasileiras, problema agravado pelos muitos anos de campanha, pela insatisfação dos veteranos e pelos conflitos, políticos e pessoais, que se alastravam entre os oficiais mais experientes.
  Em agosto de 1869, a Tríplice Aliança instalou em Assunção um governo provisório fantoche, aliado de pessoas contrárias à Solano, encabeçado pelo paraguaio Cirilo Antonio Rivarola. O Império acelerou o processo para a formação do governo, realizando eleições no ano seguinte e criando uma assembleia constituinte.
Unidade de Cavalaria do Paraguai, atacado pelas tropas aliadas
  Solano López tentando resistir, refez um pequeno exército de 5.000 homens, a maioria velhos, crianças e veteranos semi-inválidos e 36 canhões, na região montanhosa de Ascurra-Caacupê-Peribebuí, aldeia que transformou em sua capital. À frente de 12 mil homens estava o conde d'Eu, que chefiou a campanha contra a resistência paraguaia na chamada Campanha das Cordilheiras, encerrada em 12 de agosto de 1869.
  O exército brasileiro defendeu as posições inimigas de Ascurra e venceu a batalha de Peribebuí. Na batalha seguinte, na região do atual Mato Grosso do Sul, as forças brasileiras se defrontaram com um exército formado, em sua maioria, por adolescentes, crianças e idosos, recrutados a força pelo ditador paraguaio. A derrota paraguaia encerrou o ciclo de batalhas da guerra. López abandonou Ascurra e adentrou-se nas matas fugindo das tropas brasileiras, marchando sempre para o norte.
Rendição de Uruguaiana, por Victor Meireles
  Dois destacamentos foram enviados em perseguição ao presidente paraguaio. No dia 1º de março de 1870, as tropas do general José Antônio Correia da Câmara, o Visconde de Pelotas, surpreenderam o último acampamento paraguaio, em Cerro Corá, onde Solano López foi ferido a lança pelo cabo Chico Diabo e depois baleado, nas barrancas do arroio Aquidabanigui, após recusar-se à rendição. Depois de Cerro Corá, as tropas brasileiras ficaram eufóricas, assassinando civis, pondo fogo em acampamentos e matando feridos e doentes que se encontravam nos ranchos. Esse não era o desejo de Dom Pedro II, que preferia ter López preso do que morto. No Rio de Janeiro, a morte de López fez com que a popularidade do Imperador aumentasse - já que havia caído bruscamente com a guerra. Em 20 de junho de 1870, Brasil e Paraguai assinaram um acordo preliminar de paz.
Cadáveres paraguaios após a Batalha de Boquerón, em 1866
  Apesar de todas as dificuldades, o Paraguai resistiu perto de cinco anos de guerra, mostrando o grau relativamente alto de desenvolvimento e autossuficiência que havia obtido, além do engajamento de sua população em defesa do país.
  O maior contingente das tropas da Aliança foi fornecido pelo exército brasileiro, que até então praticamente inexistia. Naquela época, a Guarda Nacional cumpria, ainda que mal, as funções normalmente destinadas ao exército. Já em janeiro de 1865, por decreto imperial, foram criados os corpos dos Voluntários da Pátria, com vantagens de soldo e gratificações para cidadãos entre 18 e 50 anos que se alistassem. Enquanto boa parte da elite - representada pela Guarda Nacional - resistia em ir para a guerra, populares engrossaram com entusiasmo as convocações, chegando rapidamente a 10 mil voluntários, total programado pelo governo.
Preparativos para o festejo da vitória no Brasil, em 1870
  Para ampliar o contingente de soldados, em novembro de 1866 foi decretado que os escravos que voluntariamente se apresentassem  para lutar na guerra obteriam a liberdade. Muitos se alistaram dessa maneira, mas outros foram obrigados a fazê-lo no lugar dos filhos dos seus senhores que haviam sido recrutados. Esses soldados, recrutados à força, receberam, depois, o apelido de "voluntários a pau e corda". Junto a eles, outro grupo destacou-se em meio aos confrontos: os indígenas.
  Em 1868, o Brasil alcançou expressiva vitória na Batalha de Tuiuti. Luís Alves de Lima e Silva, o barão de Caxias, assumiu o comando das forças militares imperiais, vencendo rapidamente importantes batalhas que foram chamadas de "dezembradas", por terem acontecido no mês de dezembro de 1868. Essas batalhas abriram caminho para a invasão de Assunção, capital paraguaia, tomada em janeiro de 1869. O conde D'Eu, genro do imperador, liderou a última fase da guerra, conhecida como Campanha da Cordilheira, completada com a morte de Solano López em 1870.
  A guerra devastou o território paraguaio, desestruturando sua economia e causando a morte de mais de 300 mil pessoas, número que nas Américas só foi inferior às perdas humanas da Guerra de Secessão, nos Estados Unidos. Acredita-se que a Guerra do Paraguai tenha sido responsável pela morte de mais de 90% da população masculina paraguaia com mais de 20 anos, sobrevivendo a população formada predominantemente por velhos, crianças e mulheres.
Em laranja, os territórios perdidos após a derrota paraguaia para os Aliados
  Além das mortes em combate, foram devastadoras as epidemias, principalmente a de cólera, que atingiram os homens de ambos os lados da guerra. Acrescente-se ainda que os governos da Tríplice Aliança adotaram uma política genocida contra a população paraguaia.
  Para o Brasil, além da morte de aproximadamente 40 mil homens (sobretudo negros e mestiços), a guerra trouxe forte endividamento com os ingleses. Tida como principal beneficiária do conflito, a Inglaterra forneceu armas e empréstimos, ampliando seus negócios na região e acabando com a experiência peculiar da economia paraguaia.
  O Brasil conseguiu a manutenção da situação na Bacia do Prata, embora a um preço exorbitantemente alto, dadas as grandes perdas geradas pela guerra. Mas a principal consequência da Guerra do Paraguai foi o fortalecimento e a institucionalização do exército, com o surgimento de um grande e disciplinado corpo de oficiais experientes, pronto a defender os interesses da instituição. Além disso, seu poder bélico tornava-o uma organização capaz de impor suas ideias à força, caso necessário - o que acrescentou uma dose de instabilidade ao regime imperial.
Prisioneiros paraguaios durante a ocupação de Assunção
FONTE: Vicentino, Cláudio. História geral e do Brasil / Claúdio Vicentino, Gianpaolo Dorigo - 2. ed. - São Paulo: Scipione, 2013.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

CORDILHEIRA DOS ANDES: A TERRA DOS VULCÕES

  A Cordilheira dos Andes é uma vasta cadeia montanhosa formada por um sistema contíguo de montanhas ao longo da costa ocidental da América do Sul, surgida durante o período Terciário. Possui uma extensão aproximada de oito mil quilômetros, sendo a maior cadeia em termos de comprimento do mundo. A cordilheira se estende da Venezuela até a Patagônia, caracterizando a paisagem do Chile, Argentina, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia e Venezuela.
  A cordilheira dos Andes surgiu como resultado de um choque ocorrido entre a placa de Nazca e a Sul-Americana. A placa de Nazca moveu-se em direção à placa Sul-Americana e, por ser mais densa, penetrou por baixo, causando a elevação do terreno sobre essa zona de choque, dando origem às elevadas montanhas que hoje formam a cordilheira dos Andes.
Mapa da América do Sul. A área em marrom escuro corresponde à cordilheira dos Andes
  Ao sul da Colômbia, na fronteira com o Equador, os Andes constituem uma só cordilheira com picos vulcânicos de até 5 mil metros de altitude. Ao norte, a cordilheira se divide em duas, chamadas de Ocidental e Central, e da Central, se desprende a Oriental.
  A parte ocidental, chamado Serranía del Perijá, se desprende desta para o norte formando a fronteira natural entre a Colômbia e a Venezuela e, gradualmente, vai perdendo altitude até alcançar o mar do Caribe, em Punta Gallinas na península de La Guajira, no extremo norte da Colômbia. Em El Perijá se aproxima a Sierra Nevada de Santa Marta formando um vale banhado pelo rio Cesar. A Sierra Nevada de Santa Marta é a estrutura montanhosa mais elevada da Colômbia, com 5.775 metros.
Sierra Nevada de Santa Marta
  As três cordilheiras possuem picos, principalmente, de formação vulcânica com mais de 4 mil metros. Muitos desses vulcões são ativos e já causaram destruição e mortes devido às explosões de gás e cinza, bem como as avalanches de gelo e lodo.
  Os Andes podem ser considerados um cordão de fogo: os dez maiores vulcões ativos do mundo, todos com mais de 5 mil metros de altitude, estão entre o Equador e o Chile. No Equador, esse fenômeno fica mais interessante porque a cordilheira não é contínua. O que nossos olhos enxergam são elevações bem isoladas, bem distantes uma das outras. A impressão que fica é de um grupo de monstros pré-históricos a reclamar um pouco de atenção. Cada um deles tem seu espaço, seu ecossistema e sua hora de explodir.
Vulcão Parinacota - localizado entre o Chile e a Bolívia, possui 6.348 m.
  Desde sempre, o homem andino aprendeu a lidar com os elementos provenientes do magma, seja construindo cidades inteiras atingidas por enxurradas de lodo, seja protegendo suas vias respiratórias com máscaras cirúrgicas e guarda-chuvas, nas ruas da capital. Os mais de dois milhões de habitantes de Quito estão acostumados com o humor dos vulcões. Cerca de vinte quilômetros separam o mais preservado conjunto arquitetônico colonial dos Andes da cratera do vulcão ativo Guagua Pichincha (4.675 m), que em setembro de 1999 lançou, no céu azul de uma manhã, um dos cogumelos de fumaça mais bem-acabados de que se tem notícia. Para os equatorianos, compactuar com os ecos de pachamama (a terra onde nascem seus filhos) é um ato simbólico de evolução espiritual e humilde reverência aos vulcões que os cercam.
  Mais da metade dos 12 milhões de habitantes do Equador vive próxima a um vulcão. Deste ambiente hostil, os camponeses das montanhas tiram seu parco sustento, proveniente sobretudo do fértil solo de terra preta de origem vulcânica. Enquanto plantam batata, trigo e cenoura, convivem em harmonia com a falta de ar e os tremores que, à noite, anunciam erupções.
Erupção do vulcão Guagua Pichincha em 1999
  Os Andes Centrais se estendem desde o Nudo de Pasco, no Peru, até o Macizo de las Tres Cruces, entre o Chile e a Argentina. A disposição dos cabos montanhosos é de dois cabos separados por um altiplano. O ponto mais elevado dessa porção dos Andes é o monte Pissis, localizado na Argentina, que possui uma altitude de 6.795 metros, sendo também a terceira maior elevação do continente americano. Nessa região se originam dois rios: o Titicaca e o Poopo. Os planaltos interiores correspondem a área do território boliviano, onde o clima é árido e quente e o bioma predominante é o desértico. A população dessa área se concentra principalmente no Altiplano e na área costeira.
Monte Pissis
  A grande beleza cênica de suas montanhas faz com que a Cordilheira dos Andes apresente um grande potencial turístico, que ainda é sub-explorado na maior parte dos países por onde se estendem suas montanhas.
  A região de Mendoza, na Argentina é o destino escolhido por muitas pessoas que procuram por neve. Um dos marcos da viagem é atravessar uma estrada que cruza regiões semidesérticas até chegar ao Parque Nacional do Aconcágua, que fica no lado argentino da Cordilheira dos Andes, e visualizar o monte Aconcágua, o ponto mais elevado do continente americano, com 6.962 metros de altitude, sendo também o ponto culminante de todo o hemisfério Sul. Por ser o ponto mais elevado das Américas, o Aconcágua atrai todos os anos numerosos montanhistas, que buscam escalar o monte.
Monte Aconcágua - ponto culminante das Américas
  Outra atração da cordilheira dos Andes é o deserto do Atacama, no Chile. Com cerca de mil quilômetros de extensão, é considerado o deserto mais alto e mais árido do mundo, devido as baixas precipitações pluviométricas decorrentes das correntes marítimas do Pacífico, que não conseguem levar umidade para o deserto devido às elevadas altitudes. As temperaturas no deserto variam de 0°C à noite e 40°C durante o dia.
Paisagem do deserto do Atacama
  No Peru se destaca a região de Machu Picchu, a cidade perdida dos Incas. Localizada a 2.400 metros de altitude, Machu Picchu está situado no alto de uma montanha, cercada por outras montanhas e circundada pelo rio Urubamba, o que lhe proporciona uma atmosfera única de extrema beleza paisagística. O local é, provavelmente, o símbolo mais típico do Império Inca, quer devido à sua original localização e características geológicas, quer devido à sua descoberta tardia, que só ocorreu em 1911.
As ruínas de Machu Picchu
FONTE: Boligian, Levon. Geografia espaço e vivência, vol. 1 / Levon Boligian, Andressa Turcatel Alves Boligian. -- 2. ed. -- São Paulo: Saraiva, 2013.

domingo, 24 de agosto de 2014

O PLANO MARSHALL

  Após a Segunda Guerra Mundial, a Europa Ocidental, o centro original de irradiação do capitalismo, estava destruída. Vitoriosos saíram os Estados Unidos e a União Soviética, com os soviéticos amplamente favorecidos no quadro europeu ocidental. Isso porque os partidos comunistas haviam tido um papel decisivo na resistência antinazista em diversos países, como a Itália, França e Grécia. Para o capitalismo internacional, cujo centro indiscutível agora eram os Estados Unidos, erguia-se o perigo do surgimento de regimes socialistas.
  A decisão da Casa Branca foi, então, de bancar a reconstrução do capitalismo na Europa Ocidental e no Japão, para impedir uma vitória global do socialismo. Com isso, os Estados Unidos criaram o Plano Marshall. O plano, um aprofundamento da Doutrina Truman, recebeu esse nome em referência ao seu criador, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, George Marshall.
George Marshall (1880-1959)
  Por meio do Plano Marshall, iniciado a partir de julho de 1947, os Estados Unidos injetaram na Europa Ocidental cerca de 12 bilhões de dólares em um prazo de três anos e meio. Esse dinheiro serviu para dinamizar as antigas estruturas capitalistas por meio de créditos às grandes corporações privadas e para garantir condições mínimas de vida para os trabalhadores, que os desencorajassem a embarcar em aventuras revolucionárias.
  O plano de reconstrução foi desenvolvido em um encontro dos Estados europeus participantes. A União Soviética e os países da Europa Oriental foram convidados, mas Josef Stalin, então presidente soviético, viu o plano como uma ameaça e não permitiu a participação dos países que estavam sob o controle soviético.
  Com a devastação provocada pela guerra, a Europa enfrentava cada vez mais manifestações de contestação aos governos constituídos. Os Estados Unidos analisaram a crise europeia e, concluíram que ela punha em risco o futuro do capitalismo, o que poderia prejudicar sua própria economia, dando espaço para a expansão do socialismo. Com isso, os norte-americanos optaram por ajudar na recuperação dos países europeus.
George Marshall após o discurso de apresentação do plano, em 1947
  O plano durou cerca de quatro anos. Quando foi completado, a economia de cada país participante, exceto a Alemanha, tinha crescido consideravelmente acima dos níveis pré-guerra. Pelas próximas duas décadas, a Europa Ocidental iria gozar de prosperidade e crescimento. O welfare state, o estado de bem-estar social que vemos hoje na Europa Ocidental, é fruto do Plano Marshall, aplicado com a colaboração dos partidos socialistas e social-democratas. Era um modelo liberal do ponto de vista econômico, mas que assegurava a cada habitante dos países em que o plano foi adotado, um salário digno. Os benefícios do plano foram o resultado de políticas de laissez faire - expressão símbolo do liberalismo econômico - que permitiram a estabilização de mercados através do crescimento econômico.
  No início os recursos foram utilizados para comprar alimentos, fertilizantes e rações. Logo depois, foram adquirindo matérias-primas, produtos semi-industrializados, combustíveis, veículos e máquinas. Aproximadamente, 70% desses bens eram de procedência norte-americana.
Mapa da Europa mostrando a quantidade de ajuda recebida pelos países europeus durante a realização do Plano Marshall
  Além de se beneficiar com o Plano Marshall, a  França elaborou seu próprio plano de recuperação econômica, o Plano Monnet, proposto pelo funcionário público Jean Monnet. Por meio desse plano, a França deveria obter o controle sobre o carvão e o aço das zonas alemãs do Vale do Ruhr e Sarre para poder usar esses recursos e fazer com que suas indústrias crescessem ao índice de 150%, comparando com a produção industrial do pré-guerra. O plano foi adotado por Charles de Gaulle no início de 1946.
Jean Monnet (1888-1979) - propositor do Plano Monnet
  A Inglaterra também se recuperou com a ajuda do Plano Marshall, porém, perdeu a importância política e econômica. A Alemanha e a Itália também entraram em ritmo de recuperação. Com a criação da Otan, os Estados Unidos visavam garantir a exportação de excedentes e concretizar a hegemonia econômica sobre o Velho Continente.
  Alguns historiadores criticam o plano por estabelecer uma tendência dos Estados Unidos a ajudar economias estrangeiras em dificuldades, valendo-se do dinheiro dos impostos dos cidadãos norte-americanos. Além do mais, a civilização do cotidiano europeu ocidental ou norte-americano não seria possível sem a exploração extrema da mão de obra em Bangladesh, na Bolívia ou em outros países subdesenvolvidos.
Muitas vezes a riqueza se beneficia com a pobreza de grande parte da população mundial
FONTE: Antunes, Celso Avelino. Geografia e participação: 9° ano / Celso Avelino Antunes, Maria do Carmo Pereira e Maria Inês Vieira. - 2. ed. São Paulo: IBEP, 2012.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O RIO CONGO, A REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO E A REPÚBLICA DO CONGO

  O rio Congo, também conhecido como rio Zaire, é o segundo maior rio da África (sendo superado apenas pelo rio Nilo) e o sétimo maior do mundo, com uma extensão total de 4.700 km, sendo o primeiro da África e o segundo do mundo em volume de água.
  O rio Congo separa a área onde está situada a República Democrática do Congo, a cidade de Kinshasa, da capital da República do Congo, a cidade de Brazzaville. A população da área urbana centralizada por Kinshasa está representada por mais de 10 milhões de habitantes, já a de Brazzaville possui cerca de 1,5 milhão de habitantes. As duas capitais nacionais estão localizadas em um aglomerado urbano úmido, que reúne em sua área conurbada, duas capitais de países diferentes: a da República Democrática do Congo (RDC) e da República do Congo.
Rio Congo
  Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo, está situada em uma das margens do Rio Congo. Na margem oposta, encontra-se Brazzaville, capital da República do Congo. Os dois países, assim como o rio, herdaram seu nome de um antigo reino africano que cobria vastos territórios da África centro-oriental. Apesar de pertencerem hoje a países diferentes, Kinshasa e Brazzaville formam uma mancha urbanizada contígua, separadas pelas águas do Rio Congo, o segundo maior da África.
Em primeiro plano a cidade de Brazzaville e ao fundo a cidade de Kinshasa
REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO (RDC)
  A República Democrática do Contigo (antigo Zaire), por vezes designada RDC, RD Congo ou Congo-Kinshasa, é o terceiro maior país africano, e apresenta um quadro natural dos mais ricos do mundo. Cerca de 47% das florestas africanas (mais de 1 milhão de quilômetros quadrados) estendem-se por seu território e abrigam grande diversidade de fauna e flora. Nesse país há madeiras de lei como ébano, mogno, carvalho-africano e cedro-vermelho, de alto valor no mercado internacional.
Mapa da República Democrática do Congo
História da RDC
  A região que hoje compreende a República Democrática do Congo foi ocupada na Antiguidade por povos bantos da África Oriental e povos vindos da região do rio Nilo, que ali fundaram os reinos de Luba, Baluba e do Congo, além de outros reinos menores.
  A presença europeia na região teve início no século XV, com a chegada dos primeiros aventureiros portugueses. Porém, a colonização da margem esquerda do rio só teve início em 1878, quando o explorador britânico Henry Morton Stanley, que estava a serviço do rei belga Leopoldo II, fundou uma rede de entrepostos comerciais. Durante a Conferência de Berlim, realizada entre 19 de novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885, o continente africano foi partilhado entre as potências europeias, e a região passou a ser uma possessão pessoal do rei Leopoldo II, sendo então denominada Estado Livre do Congo. Em 1908, ela se transformou em uma colônia da Bélgica, o Congo Belga, cuja capital era Léopoldville, em homenagem ao rei.
Mapa do Congo Belga
  O Movimento Nacionalista do Congo (MNC) teve início nos anos 1950 sob a liderança de Patrice Lumumba. Em 30 de junho de 1960, Congo tornou-se independente com o nome de República do Congo, também denominada de Congo Léopoldville para ser distinguida de Congo-Brazzaville, ex-colônia francesa localizada na outra margem do rio. Em 1964, foi acrescentado o adjetivo Democrática, onde também passou a ser conhecida como RDC.
  Com a independência, Lumumba foi eleito primeiro-ministro, tendo Joseph Kasavubu como presidente. A maioria dos colonos europeus deixou o país. em julho de 1960, eclodiu uma rebelião contra Lumumba, liderado por Moise Tshombe, que recebia o apoio da Bélgica, dos Estados Unidos e da França. Com essa rebelião, Kasavubu afastou Lumumba, que fora eleito de forma democrática, do cargo de primeiro-ministro por meio de um golpe de Estado. Lumumba alegou que o ato foi incostitucional e deu-se início a uma grave crise no país. Com o apoio dos Estados Unidos, da  França e da Bélgica, Lumumba é sequestrado e assassinado em janeiro de 1961.
Patrice Lumumba (1925-1961)
  Tropas de diversos países foram enviadas pela ONU para restabelecer a ordem, o que ocorreu em 1963, com a fuga de Tshombe. Em junho de 1964 as tropas da ONU retiraram-se do país.
  A Guerra Fria teve papel preponderante na política interna da RDC, principalmente na década de 1960, quando o país foi vitimado pelo conflito. No seu interior houve confrontos entre forças internacionais dos blocos capitalista e socialista.
  Em 1965, Che Guevara veio ao país, onde lutava na linha de frente pela restauração do governo democrático derrubado pelas forças imperiais. Disfarçado e com cerca de 120 guerrilheiros cubanos ele combateu nas selvas úmidas africanas. As forças que apoiavam a volta de um governo democrático e anti-imperialista eram formadas por guerrilheiros de vários países, como os rebeldes de Ruanda. Após diversos combates, Tshombe regressou e assumiu a presidência do país com o apoio da Bélgica e dos Estados Unidos, fazendo com que o país se alinhasse ao bloco capitalista. Em 1965, ele foi derrubado num golpe liderado pelo polêmico futuro ditador Mobuto Joseph Desiré (Mobuto Sese Seko).
Moise Tshombe (1919-1969)
  Mobutu estabeleceu uma ditadura personalista, tornando o país um estratégico aliado das potências capitalistas na África. No início dos anos 1970 lançou sua política de "africanização", proibindo nomes ocidentais e cristãos. Em 1971, o ditador rebatizou o país, que passou a se chamar República do Zaire, e a capital recebeu o nome de Kinshasa. Ele próprio passou a se chamar Mobutu Sese Seko Koko Ngbendu wa za Banga, que significa "o todo-poderoso guerreiro que, por sua resistência e inabalável vontade de vencer, vai de conquista em conquista deixando fogo à sua passagem". A corrupção tornou-se algo comum e Mobutu designou este fato como o "mal do Zaire".
Mobutu Sese Seko (1930-1997)
  Líderes rivais de Mobutu Sese Seko, se uniram em 1988 para organizar a oposição, mas foram presos e alguns exilados. Pressões internacionais levaram Mobutu a adotar o pluripartidarismo em 1990. Em outubro de 1991, o líder oposicionista Etienne Tshisekedi foi nomeado como primeiro-ministro, mas recusou-se a prestar juramento a Mobutu e é substituído. Após os Estados Unidos porem em dúvida a legitimidade do governo e a Alemanha cortar a ajuda financeira, Mobutu cancelou as eleições e, no ano seguinte, Tshisekedi é reconduzido ao cargo.
  Em 1993, o Alto Conselho da República, criado pela conferência nacional, ordenou o desligamento de Mobutu dos negócios do Estado e convocou uma greve geral no país. Uma rebelião deixou mais de mil mortos no país e Mobutu responsabilizou Tshisekedi por este ato.
Etienne Tshisekedi
  Em 1994, mais de 1 milhão de ruandeses (em sua maioria hutus) foragidos do genocídio em seu país, ingressaram no leste do Zaire. A chegada dos refugiados desestabilizou a região, habitada há mais de 200 anos pelos tutsis bniamulenges, inimigos históricos dos hutus. Sentindo-se negligenciados por Mobutu, que permitiu a presença dos hutus na região, os tutsis iniciaram uma rebelião em outubro de 1996, liderados por Lautent-Desiré Kabila. O movimento contou com o apoio decisivo da Uganda e do regime tutsi de Ruanda, ganhando rapidamente a adesão da população, insatisfeita com a pobreza e a corrupção no governo. 
  Nos meses seguintes aumentaram os choques entre a guerrilha, batizada de Aliança das Forças Democráticas pela Libertação do Congo-Zaire (AFDL) e o Exército, que enfrentou uma deserção em massa. A escalada da violência coincidiu com a ausência de Mobutu, que viajou para a Europa em agosto para submeter-se a tratamento médico para câncer na próstata. Apesar de muito doente, retornou ao território em dezembro com o objetivo de deter a rebelião.
Soldados do Exército da RDC e da ONU patrulham as ruas das cidades do país
  Em 1997, a guerra civil alastrou-se pelo território. Após a conquista de várias cidades e a tomada da capital Kinshasa pelos rebeldes, Kabila assumiu a presidência do país em 17 de maio de 1997. Ao chegar ao poder, Kabila teve como um dos seus primeiros atos mudar o nome do país, que voltou a se chamar República Democrática do Congo. A guerra, porém, prosseguiria nos dez anos seguintes, deixando mais de 4 milhões de mortos.
  Em 2007, foi lançado o programa nacional de desarmamento, desmobilização e reinserção, que contou com o apoio da Missão de Observação das Nações Unidas no Congo. A maior parte das milícias foi desmobilizada, apesar das resistências de alguns grupos mais radicais.
  No dia 16 de janeiro de 2001, Kabila foi morto por um guarda-costas, assumindo o poder o seu filho Joseph Kabila.
Joseph Kabila
Geografia da RDC
  Servido pelo Rio Congo e seus afluentes, o país conta com vias navegáveis, seu principal meio de transporte. Rico também em reservas minerais, o subsolo congolês tem imensos depósitos de diamantes, ouro, cobre e cobalto.
  O rio Congo nasce na Zâmbia e entra no país pela parte sul, percorrendo no sentido norte com o nome de Lualaba, formando uma das maiores bacias hidrográficas do mundo, a Bacia do Congo, recebendo água do sistema Luapula-Luvua, vindos da região norte da Zâmbia, onde localiza-se sua real nascente no rio Chambeshi, além de outras águas oriundas do lago Tanganica pelo rio Lukuga a leste. Contornando a enorme planície congolesa para oeste e novamente para sul e sudoeste, fazendo fronteira com a República do Congo, o rio Congo recebe águas dos seus outros grandes afluentes, como os rios Ubangi e Cassai, desaguando no oceano Atlântico, na fronteira com Angola.
Rio Congo
  A leste dessa imensa planície florestal selvagem, erguem-se os maciços e montanhas, formando vales e desfiladeiros provenientes do tectonismo do Rift Valley Ocidental, no qual se originaram os Grandes Lagos Africanos. O ponto mais elevado da RDC é o monte Stanley, localizado na divisa com Uganda, cuja altitude é de 5.109 metros, sendo também a terceira mais elevada da África.
  O clima predominante na RDC é o equatorial, quente e úmido, com elevada pluviosidade, cujas chuvas caem o ano todo. Nos planaltos e montanhas a leste, predomina o clima tropical de altitude e o subtropical, cujas temperaturas são mais amenas.
Monte Stanley - ponto culminante da RDC
Demografia da RDC
  Com aproximadamente 75 milhões de habitantes, a RDC abriga cerca de 300 tribos de etnias diferentes. Entre os povos, os pigmeus são os habitantes mais antigos, seguido dos bantos, que ocupam dois terços do território congolês, dos nilóticos, pouco numerosos, e dos hamitas. A maioria da população da RDC é rural, com apenas 34% dos habitantes residindo nas cidades.
Mapa étnico da RDC
Economia da RDC
  A economia nacional sofre as consequências dos conflitos armados no país: redução dos investimentos estrangeiros, destruição de infraestrutura, inflação, entre outros aspectos.
  A mineração é a principal atividade da República Democrática do Congo, responsável por grande volume de exportações do país. Porém, sua maior riqueza está no potencial hidrelétrico da Bacia do Congo, que, se explorado, pode abastecer grande parte do continente africano.
Garimpeiros na RDC
  As terras congolesas são aproveitáveis; porém, apenas 6% delas são cultivadas, em razão da falta de estradas que alcancem as regiões mais afastadas. Os principais produtos agrícolas do país são: café, óleo de palma, palmito, chá, cacau, cana-de-açúcar, algodão e borracha. A agricultura de subsistência inclui o cultivo de milho, mandioca, banana, arroz e batata-doce.
  O parque industrial do país está se desenvolvendo e conta principalmente com a produção de cimento e refino de petróleo, além de ter unidades têxteis e alimentícias.
Propriedade rural na RDC
  A beleza das paisagens são as grandes atrações turísticas congolesas. Os parques nacionais de Virunga, Upemba e Garamba, os três mais importantes do país, abrigam milhares de elefantes, antílopes, búfalos, leões zebras e girafas. Esses parques guardam ainda exemplares de muitas espécies que correm o risco de extinção, como os gorilas-das-montanhas e o antílope-negro.
Paisagem da RDC
  A principal mudança recente no plano econômico da RDC foi o aumento da presença chinesa. Em troca da reconstrução de parte das infraestruturas viária e urbana devastadas pela guerra, as empresas chinesas assumiram o controle sobre grande parte das enormes jazidas de cobalto, cobre e ouro. Essa gigantesca operação financeira está transformando a paisagem urbana de Kinshasa, que recebe filiais de vários conglomerados chinês em seus novos arranha-céus.
Modernos edifícios fazem parte da paisagem de Kinshasa
ALGUNS DADOS DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO
NOME: República Democrática do Congo
CAPITAL: Kinshasa
Bairro de La Gombe, em Kinshasa - capital da RDC
GENTÍLICO: congolês, congolense e conguês
LÍNGUA OFICIAL: francês, porém, há diversas línguas nacionais, como o lingala, quicongo, kituba, sualí e tshiluba.
GOVERNO: República Semipresidencialista
INDEPENDÊNCIA: da Bélgica, em 30 de junho de 1960
LOCALIZAÇÃO: África Central
ÁREA: 2.344.858 km² (11º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2013): 75.507.308
habitantes (19°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 32,2 hab./km² (148°)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2013):

Kinshasa: 10.624.897 habitantes

Kinshasa - capital e maior cidade da RDC
Lubumbashi: 1.598.256 habitantes
Lubumbashi - segunda maior cidade da RDC
Mbuji-Mayi: 1.040.365 habitantes
Mbuji-Mayi - terceira maior cidade da RDC
PIB (FMI - 2013): U$ 17,689 bilhões (108°)
IDH (ONU - 2012): 0,338 (186°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2012): 47,42 anos (190°)
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - 2005/2010): 3,22% ao ano (9°)
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook - 2013): 4,95 (20°)
MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2012): 115,81/mil (190°). Obs: essa mortalidade é contada de menor para o maior.
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2011): 67,2%
TAXA DE URBANIZAÇÃO (Pnud - 2009/2010): 34% (150°)
PIB PER CAPITA (CIA World Factbook - 2013): U$ 397 (180°)
MOEDA: Franco Congolês
RELIGIÃO: cristianismo (95,2%, sendo 49,7% de católicos, 20,8% de cristãos independentes, 19% de protestantes e 5,7% de outras religiões cristãs), outras religiões (4,3%) e sem religião (0,5%).
DIVISÃO: até 2005, a República Democrática do Congo dividia-se em 11 províncias: 1. Bandundu 2. Baixo Congo 3. Equateur 4. Kasai Ocidental 5. Kasai Oriental 6. Katanga 7. Kinshasa 8. Maniema 9. Nord Kivu 10. Orientale 11. Sud Kivu.
Antiga divisão da RDC
  A Constituição de 2005, que entrou em vigor em fevereiro de 2006, dividiu a República Democrática do Congo em 25 províncias e uma cidade independente (Kinshasa), com estatuto de província: 1. Kinshasa 2. Congo Central 3. Kwango 4. Kwilu 5. Mai N'dombe 6. Kasai 7. Lulua 8. Kasai Oriental 9. Lomami 10. Sankuru 11. Maniema 12. Sud Kivu 13. Nord Kivu 14. Ituri 15. Uele Superior 16. Tshopo 17. Bas Uele 18. Nord Ubangi 19. Mongala 20. Sud Ubangi 21. Equateur 22. Tshuapa 23. Tanganyica 24. Haut Lomami 25. Lualaba 26. Haut Katanga.
Nova divisão da RDC
REPÚBLICA DO CONGO
  A República do Congo, que por vezes é chamado de Congo-Brazzaville, é um país da África Central cortado pela linha do Equador. Banhado pelo oceano Atlântico a sudoeste, faz fronteira com o Gabão a oeste, Camarões a noroeste, com a República Centro-Africana a norte, com o enclave de Cabinda (Angola) a sudoeste e com a República Democrática do Congo a leste e sul.
Mapa da República do Congo
História
  A República do Congo tornou-se independente da França em 1960, e logo passou a sofrer com a instabilidade política. Seu primeiro presidente foi o padre Fulbert Youlou, que foi forçado a deixar o poder em 1963, quando um grupo de esquerda promoveu um golpe de Estado, no qual assumiu o poder Alphonse Massamba Delbat que, em 1964, fundou um partido de índole marxista-leninista, adotando uma economia planificada de base socialista. A adoção de um Plano Quinquenal promoveu a expansão da agricultura e da indústria no país.
  Em 1968, ocorreu a tensão entre governo e militares, onde o Exército promove um golpe de Estado, liderado pelo major Marien Ngouabi. Em 1969, o presidente Ngouabi anuncia a nova República Popular durante a solenidade de fundação do Partido Congolês dos Trabalhadores (PCT), presidido por ele e dirigido por um comitê central composto de 30 membros.
Marien Ngouabi (1938-1977)
  Em janeiro de 1970, o país passa a se chamar República Popular do Congo, adotando como símbolos nacionais A Internacional, uma bandeira vermelha, a foice e o machado emblemático dos países socialistas. O ex-Congo francês consolida seu regime ligado ao marxismo-leninismo, tornando-se o primeiro país comunista da África. Neste mesmo ano, o exército esmaga uma tentativa de golpe contra o presidente, liderada pelo ex-tenente paraquedista Pierre Xitonga, e executa todos os conspiradores, com exceção do ex-ministro da Defesa, Augustin Poignet, que conseguiu fugir. Aproveitando-se desta situação, Delbat persegue e tortura todos os suspeitos de serem contrários ao seu governo.
Fulbert Youlou (1917-1972) primeiro presidente da República do Congo
  O Partido Congolês do Trabalho (PTC) permanece como sendo o único legal e, em 1977, o presidente foi assassinado, assumindo o poder uma junta militar.  Em 1979, assume a presidência o coronel Sassou Nguesso, que exerce poderes ditatoriais até 1989, quando o colapso no sistema socialista do Leste Europeu o leva a anunciar reformas políticas e a transição para a economia de mercado. O governo mantém uma política internacional de neutralidade, relacionando-se tanto com o capitalismo como com o socialismo.
  Em 1990, o PTC abandona o marxismo-leninismo. No ano seguinte, tropas cubanas estacionadas no país desde 1977, deixam o Congo. Em 1992 é aprovada a nova Constituição, onde está previsto um sistema político multipartidário.
  Em 1993 milícias promovem ataques contra tropas do governo, cujo presidente é Pascal Lissouba. A situação persiste até 1995, com greves e motins no país. Em 1997, com o apoio de Angola (até então em guerra civil), Sassiv Nguesso dá um golpe de Estado. Em 1998 e 1999 tropas do novo governo e aliados enfrentam rebeldes orientados pelo antigo governo. Em 1999 é assinado um cessar-fogo, pondo fim à guerra civil.
  Atualmente, o país vem enfrentando uma grave doença, uma febre desconhecida que já matou várias pessoas. Esses casos ocorreram na região onde o ebola foi descoberto em 1976. Os sintomas são muito parecidos com o ebola: febre, vômito, diarreia e hemorragia.
A nova doença já afetou diversos países africanos
Geografia
  Localizado no centro-oeste da África Subsaariana, com uma pequena porção de costa no oceano Atlântico e cortado pela linha do Equador, a República do Congo possui um clima quente e úmido. Cerca de 55% do seu território é coberto por florestas tropicais.
  O sudoeste do país é uma planície costeira drenada principalmente pelo rio Kouilou-Niari. O interior consiste de um planalto central entre as duas bacias hidrográficas, a norte e a sul. Seguindo para o interior, o relevo torna-se mais elevado e acidentado, onde surgem planaltos, montanhas e vales férteis. O norte do país é uma vasta planície irrigada pelos rios Sangha, Likouala e Congo. Grande parte dessa região encontra-se coberta por florestas e por pântanos. O ponto culminante do país é o Monte Nabeba, com 1.020 metros.
Floresta do Congo
Economia
  A economia da República do Congo depende basicamente da agricultura de subsistência, do artesanato e da extração de madeira, petróleo e gás natural. As indústrias extrativas exploram algumas quantidades de zinco, chumbo e ouro. Os cultivos mais importantes são mandioca, cana-de-açúcar, banana, milho, amendoim, abacate, óleo de palma, inhame, ananás, cacau e café.
  No início da década de 1980, a rápida escalada dos preços do petróleo possibilitou ao governo financiar projetos de desenvolvimento em larga escala, o que levou o país a ter um crescimento econômico médio de 5% ao ano. Porém, a queda do preço do petróleo e os conflitos existentes no país, fez com que o país acumulasse déficit na sua balança comercial. Com a elevação dos preços do petróleo e o fim dos conflitos, o país passou a crescer economicamente.
Moradias de pigmeus, na República do Congo
ALGUNS DADOS DA REPÚBLICA DO CONGO
NOME: República do Congo
CAPITAL: Brazzaville

Torre Nabemba, em Brazzaville - capital da República do Congo
GENTÍLICO: congolês, conguês e congolense
LÍNGUA OFICIAL: francês
GOVERNO: República Presidencialista
INDEPENDÊNCIA: da França, em 15 de agosto de 1960
LOCALIZAÇÃO: África Central
ÁREA: 342.000 km² (64º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2013):
3.905.010 habitantes (126°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 11,41 hab./km² (184°)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2013):

Brazzaville: 1.520.087 habitantes
Brazzaville - capital e maior cidade da República do Congo
Pointe-Noire: 980.006 habitantes
Pointe-Noire - segunda maior cidade da República do Congo
Dolisie: 208.562 habitantes
Dolisie - segunda maior cidade da República do Congo
PIB (FMI - 2013): U$ 13,743 bilhões (119°)
IDH (ONU - 2012): 0,564 (140°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2012): 56,02 anos (166°)
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - 2005/2010): 2,11% ao ano (45°)
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook - 2013): 5,49 (11°) 
MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2012): 72,43/mil (159°). Obs: essa mortalidade é contada de menor para o maior.
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2011): 84,7%
TAXA DE URBANIZAÇÃO (Pnud - 2009/2010): 61% (87°)
PIB PER CAPITA (CIA World Factbook - 2013): U$ 3.295 (118°)
MOEDA: Franco CFA
RELIGIÃO: católicos (41,9%), crenças tradicionais (33,8%), protestantes (22,9%), outras religiões (1,4%).
DIVISÃO: a República do Congo divide-se em 12 departamentos: Bouenza, Brazzaville, Cuvette, Cuvette Oeste, Kouilou, Lekoumou, Likouala, Niari, Plateaux, Pointe-Noire, Pool e Sangha. Os departamentos estão subdivididos em distritos e comunas.
Regiões administrativas da República do Congo
FONTE: Araújo, Regina. Observatório de geografia / Regina Araújo, Ângela Corrêa da Silva, Raul Borges Guimarães. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2009.

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