domingo, 6 de julho de 2014

A LUA: O SATÉLITE NATURAL DA TERRA

  A Lua é o único satélite natural da Terra e o quinto maior do Sistema Solar. É o maior satélite natural de um planeta no sistema solar em relação ao tamanho do seu corpo primário, tendo 27% do diâmetro e 60% da densidade da Terra.
  A Lua gira em torno do nosso planeta, mudando de posição a cada momento; como consequência muda também em relação aos raios do Sol. Dependendo da posição em que a Lua se encontra ao longo dos quase 28 dias de sua translação, sua parte iluminada é ora mais, ora menos visível da Terra. É por isso que, daqui, nós a enxergamos em formas e tamanhos diferentes, que chamamos de fases, das quais as mais conhecidas são: lua nova, quarto crescente, lua cheia e quarto minguante.
Paisagem da lua cheia sobre a cidade de Brasília - DF
  A Lua encontra-se em rotação sincronizada com a Terra, mostrando sempre a mesma face visível, marcada por mares vulcânicos escuros entre montanhas cristalinas e proeminentes crateras de impacto. Depois do Sol, é o objeto mais brilhante no céu.
  Desde a Antiguidade, a Lua serve como referência cultural para muitos povos, tanto na língua, quanto no calendário, na arte e na mitologia. A influência da gravidade da Lua está na origem das marés oceânicas e ao aumento do dia sideral da Terra.
  A Lua é também o único corpo celeste, além da Terra, no qual os seres humanos já pisaram.
A Lua iluminando a praia de Ponta Negra, em Natal - RN
ORIGEM E FORMAÇÃO DA LUA
   A origem da Lua se refere a qualquer das várias explicações para a formação da Lua, satélite natural da Terra. A principal teoria tem sido a hipótese do grande impacto. Há outras teorias que dizem que a Lua formou-se a partir da colisão entre planetas ou asteróides.
  Nos estados iniciais da formação do nosso planeta, um objeto com o tamanho aproximado de Marte, denominado Theia, chocou-se com a Terra, libertando matéria para a órbita terrestre e alterando o grau de inclinação do nosso planeta. Com a dimensão desse impacto, libertou-se matéria para a órbita terrestre e alterou o grau de inclinação da Terra, criando grande anel de fragmentos em volta do nosso planeta que então formou o sistema Terra-Lua.
Formação artística do impacto entre a Terra e Theia
  Os isótopos de oxigênio lunares, a princípio, são idênticos aos da Terra. As razões isotópicas, que podem ser medidas com bastante precisão, levam a uma assinatura distinta e única para cada corpo do sistema solar. Se Theia foi um protoplaneta sem separado, teria provavelmente levado a uma assinatura isotópica diferente da Terra, assim como o material ejetado.
  Novos estudos aprimoram teorias, pois mostram como Terra e Lua são muito mais parecidas como se acreditava. Prova disso é que a Lua tem a mesma composição química da Terra, e o grau de inclinação da Terra só pode ter sido resultado de uma colisão de grandes dimensões.
Lado oculto da Lua
 ESTRUTURA INTERNA DA TERRA
  A Lua é um corpo diferenciado: a sua crosta, manto e núcleo são distintos em termos geoquímicos. A Lua possui um núcleo interno sólido e rico em ferro com um raio 240 km, e um núcleo externo fluído composto essencialmente por ferro em fusão e um raio de aproximadamente 300 km. O núcleo é envolto por uma camada parcialmente em fusão, com um raio de cerca de 500 km.
  Provavelmente, essa estrutura se desenvolveu a partir da cristalização fracionada de um oceano de magma global, logo após a sua formação, há cerca de 4,5 bilhões de anos. A cristalização deste oceano de magma teria criado um manto máfico (rico em elementos químicos pesados) através de precipitação e afundamento dos minerais olivina, piroxena e ortopiroxena. Após a cristalização de cerca de três quartos do oceano de magma, formou-se a plagioclasses que permaneceram na superfície, formando a crosta.
Estrutura interna da Lua
  Os últimos líquidos a se cristalizar permaneceram entre a crosta e o manto, com elevada abundância de elementos incompatíveis e produtores de calor. Assim, o mapeamento geoquímico a partir da órbita revelou que a crosta é composta principalmente por anortosito (tipo de rocha magmática fanerítica, intrusiva e ígnea), enquanto que as amostras de rocha lunar dos rios de lava que emergiram à superfície a partir da fusão parcial do manto confirmou a composição máfica do manto, o qual é mais rico em ferro do que a Terra.
Vídeo sobre o lado oculto da Lua
GEOLOGIA DA LUA
  A topografia da Lua tem sido medida através de altimetria laser e análise estereoscópica. A  característica topográfica mais proeminente é a Bacia do Polo Sul Aitken (enorme cratera de impacto localizado no lado oculto da Lua), com cerca de 2.240 km de diâmetro, o que faz dela a maior cratera lunar e a maior cratera conhecida do Sistema Solar. Com 13 km de profundidade, a sua base é o ponto de menor altitude da Lua. Os pontos de maior altitude encontram-se a nordeste, onde alguns especialista sugerem que essa área possa ter sido formada através do próprio impacto na superfície que deu origem à bacia. As outras bacias de impacto de grande dimensão, como os mares Imbrium, Serenatis, Crisium, Smythii e Orientale, possuem pouca altitude e orlas elevadas. A face oculta da Lua tem uma altitude média de 1,9 km superior à face visível.
A Lua iluminando a Cidade do Cabo - África do Sul
Características vulcânicas
  As planícies lunares escuras e relativamente desertas, que podem ser facilmente observadas a olho nu são denominadas mares, já que na Antiguidade os astrônomos achavam que as mesmas continham água, mas que na verdade são grandes depósitos de lava basáltica. O basalto encontrado na Lua é muito abundante em ferro. A maioria das lavas foi projetada para depressões formadas por crateras de impacto, uma vez que eram regiões de menor altitude da topografia lunar. Na orla dos mares, encontram-se várias províncias geológicas com vulcões-escudo (que expelem uma enorme quantidade de lava e formam montanhas) e domo-lunares (tipo de vulcão-escudo lunar).
Topografia da Lua, tanto da face visível quanto da oculta
  Os mares encontram-se quase exclusivamente na face visível da Lua, cobrindo 31% da sua superfície, enquanto que na face oculta são raros e apenas cobrem 2% da superfície.
  A maior parte dos basaltos presentes nos mares surgiu durante erupções no período ímbrico (período de formação final da Lua), entre cerca de 3 a 3,5 bilhões de anos.
  As regiões mais claras da superfície lunar são denominadas terrae ou montanhas, uma vez que são mais elevadas do que a maior parte dos mares.
  A concentração de mares na face visível é provavelmente o reflexo de uma crosta substancialmente mais espessa nas montanhas da face oculta, as quais podem ter sido formadas durante o impacto a pouca velocidade de uma segunda lua terrestre.
A Lua iluminando o deserto do Saara
Crateras de impacto
  O outro principal processo geológico que afetou a superfície lunar foi a formação de crateras de impacto em consequência da colisão de asteroides e cometas com a superfície lunar. Estima-se que só na face visível existam trezentas mil crateras com diâmetro superior a 1 km. Algumas são batizadas em homenagem a investigadores, cientistas e exploradores.
  A escala de tempo geológico lunar baseia-se nos principais eventos de impacto, como o nectárico (3,85 a 3,92 bilhões de anos), o ímbrico (3,85 a 3,80 bilhões de anos) ou o Mare Orientale, estruturas caracterizadas por vários anéis de material envolto, geralmente com centenas ou dezenas de quilômetros de diâmetros e associadas a uma gama diversa de depósito de material projetado que formam um horizonte estratigráfico regional.
  A ausência de atmosfera, meteorologia e processos geológicos recentes significa que muitas destas crateras se encontram perfeitamente preservadas.
Cratera lunar Daedalus, no lado oculto da Lua
  A crosta lunar é revestida por uma superfície de rocha pulverizada denominada regolito, formada por processos de impacto. O regolito mais fino, o solo lunar de dióxido de silício, tem uma textura semelhante à neve e odor semelhante à pólvora usada. O regolito das superfícies mais antigas é geralmente mais espesso que o das superfícies mais jovens, variando entre 10  a 20 metros nas terras altas e 3 a 5 metros nos mares. Por baixo da camada de regolito encontra-se o megaregolito, uma camada de rocha matriz bastante fraturada com vários quilômetros de espessura.
A Lua iluminando a Torre Eiffel, em Paris - França
Presença de água
  Não é possível ocorrer água em estado líquido na superfície lunar pois, quando exposta à radiação solar, a água decompõe-se rapidamente através de um processo denominado fotólise, evaporando-se de forma bastante rápida. Porém, desde a década de 1960 os cientistas vêm levantando a hipótese de existir depósitos de água sólida na Lua. O gelo teria origem em impactos de cometas ou possivelmente produzido através da reação entre rochas lunares ricas em oxigênio e hidrogênio do vento solar, deixando vestígios de água que poderiam ter sobrevivido nas crateras frias e sem luz dos polos lunares.
Composição de imagens do polo sul lunar obtida pela sonda Clementine
Campo gravitacional
  O campo gravitacional da Lua tem sido medido através do efeito Doppler de sinais de rádio emitidos a partir de veículos em órbita. As principais características da gravidade lunar são concentrações de massa, anomalias gravitacionais positivas de grande dimensão, associadas a algumas das maiores bacias de impacto, causadas em parte pelos densos depósitos basálticos que preenchem estas crateras. Estas anomalias influenciam significativamente a órbita de veículos em torno da Lua.
Aceleração gravitacional na superfície da Lua: à direita a face oculta
Órbita
  A Lua descreve uma órbita completa em torno da Terra e em relação às estrelas fixas cerca de uma vez a cada 27,3 dias - que é o período sideral da Lua.
  Como o período de movimento de translação é realizado simultaneamente com a translação da Terra, o ciclo de fases da Lua dura, aproximadamente, 29 dias e meio.
Esquema das fases da Lua
  São quatro as fases da Lua:
  • Lua nova: a fase da lua nova ou novilúnio ocorre quando a Lua está praticamente entre o Sol e a Terra, numa posição chamada conjunção. Para o observador da Terra, a Lua não é visível no céu, pois sua parte iluminada pelo Sol está do lado oposto a Terra. Na primeira noite depois da lua nova, a parte da Lua torna-se visível no início da noite, próximo do poente. Ela aparece no céu com a forma de uma foice. É o início do conjunto de fases crescentes da Lua.
  • Quarto crescente: a cada noite, a parte iluminada pelo Sol torna-se maior até que, cerca de sete noites após a lua nova, a Lua está em quadratura; ela surge no céu com metade iluminada e metade escura; é a fase do quarto crescente.
  • Lua cheia: cerca de uma semana depois, a Lua está na direção oposta à do Sol, em relação a Terra; isto é: está em oposição. Logo que o Sol desaparece no poente, a Lua aparece toda iluminada e brilhante no céu: é a fase da lua cheia ou plenilúnio. Nessa posição, a luz solar atinge diretamente a face da Lua que está voltada para a Terra.
  • Quarto minguante: nas noites seguintes, ocorrem a fase minguante da Lua. A parte iluminada do satélite vai diminuindo até que, cerca de sete dias após o plenilúnio, a Lua fica novamente em quadratura e entra no quarto minguante. Nessa fase, o disco lunar parece de novo cortado ao meio. Sete dias depois da quadratura volta a ocorrer a lua nova e inicia-se um novo ciclo de fases, que se repete todo mês.
 Vídeo sobre as fases da Lua
  Os períodos  entre as quatro fases mais conhecidas da Lua, cada qual com cerca de sete dias, coincidem com as semanas. Por sua vez, o período entre duas luas novas - denominado lunação e que corresponde a 29 dias, 12 horas e 44 minutos - serviu de base para o estabelecimento dos meses do ano. A lunação não coincide com o tempo de uma volta da Lua ao redor da Terra, que é de 27 dias, 7 horas e 43 minutos, porque o nosso planeta não está imóvel, mas em movimento em volta do Sol, levando consigo o seu satélite natural.
  Antes da elaboração do calendário juliano e posterior do calendário gregoriano, os povos antigos utilizavam as fases da Lua como calendário: era o chamado calendário lunar. Esse tipo de calendário era usado pelos chineses e até mesmo a Bíblia já retratava esse tipo de calendário.
Calendário judaico
INFLUÊNCIA DA LUA SOBRE AS MARÉS
  A Lua exerce influência nas marés. Isso acontece da seguinte forma: a Terra tem seu próprio campo gravitacional, o que mantém tudo em seu devido lugar. Há, entretanto, outras forças presentes no Universo que influenciam diretamente a gravidade na Terra. É o caso da Lua. Como esse satélite tem também o seu próprio campo gravitacional, ela também atrai para si o que está ao seu redor. Dessa forma, a Terra e a Lua têm uma atração em comum: uma atrai a outra.
  Como a água presente na superfície é líquida, e por isso instável e maleável, ela acaba sendo atraída pela Lua com mais facilidade, gerando um movimento vertical de vaivém, o que provoca as marés.
Vídeo sobre a influência da Lua sobre as marés
  Em razão dessa influência exercida nas marés, muitas pessoas acreditam que a Lua influencia também os seres vivos. Desde os tempos antigos, agricultores - principalmente os que cultivam verduras, hortaliças e frutas - realizam certas ações, como semeaduras, transplante de mudas, etc., obedecendo às fases da Lua. Além dessas influências, a Lua também nos auxilia na orientação espacial.
  As marés oceânicas são ainda amplificadas por outros efeitos: a fricção do manto oceânico, a inércia do movimento da água, o estreitamento das bacias oceânicas perto de terra e oscilações entre diferentes bacias oceânicas. A atração gravitacional do Sol nos oceanos da Terra é de cerca de metade da Lua, sendo a interação entre ambas a responsável pela mudança das marés.
Lua cheia no deserto do Novo México - Estados Unidos
OS ECLIPSES
  Os eclipses ocorrem apenas quando o Sol, a Terra e a Lua se encontram alinhados. Os eclipses solares ocorrem durante a lua nova, quando a Lua está entre o Sol e a Terra. Por outro lado, os eclipses lunares ocorrem durante a lua cheia, quando a Terra se encontra entre o Sol e a Lua.
  O tamanho aparente da Lua é aproximadamente o mesmo do Sol, quando ambos são observados a aproximadamente meio ângulo de largura. O Sol é muito maior que a Lua, mas é precisamente esse maior afastamento que por coincidência faz com que tenha o mesmo tamanho aparente da Lua, muito mais próxima e mais pequena. As variações entre o tamanho aparente, devido às órbitas não circulares, são também muito coincidentes, embora ocorram em diferentes ciclos. Isto faz com que seja possível ocorrerem eclipses totais (em que a Lua aparenta ser maior que o Sol) e eclipses solares anulares (em que a Lua aparenta ser menor do que o Sol).
Esquema de um eclipse lunar
  Durante um eclipse total, a Lua cobre por completo o disco solar e a coroa solar torna-se visível a olho nu. Uma vez que a distância entre a Lua e a Terra aumentam muito devagar ao longo do tempo, o diâmetro angular da Lua também está a diminuir. Isto significa que há centena de milhões de anos a Lua cobriu por completo o Sol em eclipses solares, e que não era possível ocorrerem eclipses anulares. Da mesma forma, daqui a 600 milhões de anos, a Lua deixará de cobrir o Sol por completo, e só ocorrerão eclipses anulares.
  Uma vez que a órbita da Lua em volta da Terra tem uma inclinação de cerca de 5° em relação à órbita da Terra em volta do Sol, os eclipses não ocorrem em todas as luas novas e cheias. Para ocorrer um eclipse, a Lua deve estar perto da intersecção dos dois planos orbitais. O intervalo de tempo e recorrência dos eclipses é descrito no ciclo de Saros (a série Saros surgiram na Babilônia e possuem 70 eclipses cada), que tem uma duração de dezoito anos.
Esquema de um eclipse solar
  Uma vez que a Lua bloqueia permanentemente a nossa visão de uma área circular do céu com meio grau de diâmetro, o fenômeno relacionado de ocultação ocorre quando uma estrela ou planeta brilhante passam perto da Lua e são ocultados. Desta forma, um eclipse solar é uma ocultação do Sol. Como a Lua se encontra relativamente perto da Terra, a ocultação de estrelas individuais não é visível de todos os pontos do planeta, nem ao mesmo tempo. Devido à precessão da órbita lunar, em cada ano são ocultadas estrelas diferentes.
Vídeo sobre eclipses
FONTE: Moreira, Igor. Mundo da geografia: 6° ano / Igor Moreira; ilustrações Antônio Éder ... [et al.]. Curitiba: Positivo, 2012.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

A REFORMA PROTESTANTE E A CONTRA-REFORMA

  Na Europa do início do século XVI, a Igreja católica tinha grande poder e influência sobre a vida das pessoas. Como a Bíblia só existia em latim - língua que a maior parte da população não entendia - os textos bíblicos eram sempre explicados pelos membros do clero. Eles dominavam o latim e afirmavam ser os únicos capazes de intermediar a relação dos fiéis com Deus.
  De acordo com a Igreja católica, para garantir a salvação da alma e assegurar a vida eterna no Paraíso, era necessário realizar boas ações na Terra. Quem se desviava do que a Igreja considerava o caminho do bem era considerado pecador.
  Mas nem todas as pessoas aceitavam sem crítica os ensinamentos  da Igreja. E muitos questionavam o comportamento dos padres e do papa, alegando que a Igreja se desviara de seus princípios originais e vivia envolvida em situações comprometedoras.
A Vulgata - tradução da Bíblia para o latim, por São Jerônimo
  Eram frequentes os casos de nepotismo junto ao clero e muitos padres tinham filhos, embora fossem obrigados a manter a castidade. Além disso, os religiosos pareciam mais preocupados em acumular riquezas do que em divulgar os ensinamentos de Cristo - uma das principais críticas à Igreja se referia à venda de indulgências.
  Indulgência era o perdão que a Igreja oferecia aos fiéis que se arrependiam de seus pecados. Em 1513, o papa Leão X estabeleceu que esse perdão passaria a ser vendido sob a forma de um documento chamado carta de indulgência.
  Os representantes da Igreja católica percorriam as cidades europeias vendendo essas cartas a quem quisesse garantir o perdão dos pecados já cometidos e também dos que viesse a cometer. O comércio de indulgências tornou-se tão lucrativo e difundido que os fiéis podiam adquirir carta de indulgência na casa bancária dos Fuggers, um dos maiores banqueiros da época.
Venda de indulgências - pintura de Augsburg de cerca de 1530
  Outra atividade da Igreja que muitas pessoas condenavam, mas que dava muito lucro, era a venda de imagens e relíquias, objetos supostamente sagrados, como fios de cabelo da Virgem Maria ou pedaços da cruz de Cristo. Segundo a Igreja, quem comprasse essas mercadorias  também teria o perdão dos pecados.
  O dinheiro arrecadado pela Igreja era usado para manter o luxo em que viviam os representantes do alto clero e também para a compra de obras de arte e a construção de igrejas. Ao instituir as cartas de indulgência, o papa Leão X tinha como principal objetivo conseguir dinheiro para finalizar as obras de construção da Basílica de São Pedro, em Roma.
Papa Leão X (1475-1521)
A REFORMA PROTESTANTE
  Uma das pessoas que discordava da atuação da Igreja era Martinho Lutero, um monge católico que vivia na Saxônia - região do Sacro Império Romano-Germânico, na atual Alemanha. Lutero defendia a ideia de que a fé era a única forma de garantir a salvação. Para ele, os pecados só podiam ser perdoados por Deus, e não pela Igreja. Com isso, surgiu a Reforma Protestante.
  A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão culminado no início do século XVI por Martinho Lutero, quando através da publicação de suas 95 teses, em 31 de outubro de 1517 na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano. Os princípios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco Solas. Essas suas proposições se tornaram muito populares, pois tiravam da Igreja e davam a cada pessoa a responsabilidade por sua própria salvação. Essas teses, porém, iam contra os interesses da Igreja católica, que excomungou Lutero em 1521.
Martinho Lutero (1483-1546)
A Pré-Reforma
  Antes de acontecer a Reforma Protestante, existiu a Pré-Reforma, que teve suas origens em uma denominação cristã do século XII conhecida como Valdenses, que era formada pelos seguidores de Pedro Valdo, um comerciante de Lyon, França, que se converteu ao Cristianismo por volta de 1174. Ele decidiu encomendar uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregar ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou à sua atividade e aos bens, que repartiu entre os pobres. Desde o início, os valdenses afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, considerando ser a fonte de toda autoridade eclesiástica. Eles reuniam-se em casas de famílias ou mesmo em grutas, clandestinamente, devido à perseguição da Igreja Católica Romana, já que negavam a supremacia de Roma e rejeitavam o culto às imagens, que consideravam como sendo idolatria.
Igreja Valdense em Roma
  No século XIV, o inglês John Wycliffe, considerado como precursor da Reforma Protestante, levantou diversas questões sobre controvérsias que envolviam o Cristianismo, mais precisamente a Igreja Católica Romana. Entre outras ideias, Wycliffe queria o retorno da Igreja à primitiva pobreza dos tempos dos evangelistas, algo que, na sua visão, era incompatível com o poder político do papa e dos cardeais, e que o poder da Igreja devia ser limitado às questões espirituais, sendo o poder político exercido pelo Estado, representado pelo rei.
  Contrário à rígida hierarquia eclesiástica, Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os organizou em grupos. Estes padres foram conhecidos como "lordados".
John Wycliffe (1328-1384)
  Mais tarde, surgiu outra figura importante deste período: Jan Huss. Nascido na Tchecoslováquia, iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe. Seus seguidores ficaram conhecidos como Hussitas.
  Os hussitas foram divididos em dois grupos: os moderados utraquistas e os radicais taboritas (da cidade de Tábor, no sul da Boêmia). Os hussitas exigiam:
  • comunhão sob as duas espécies (os comungantes deveriam comer a hóstia e beber vinho);
  • a liberdade de pregação;
  • a pobreza da Igreja;
  • a punição dos pecados mortais sem distinção da posição de nascimento do pecador.
Jan Huss (1369-1415)
  Huss foi excomungado pela Igreja Católica em 1410 e, condenado pelo Concílio de Constança, foi queimado vivo e morreu cantando um cântico.
  A Reforma Protestante também foi impulsionada por razões políticas e sociais, como:
  • os conflitos políticos entre autoridades da Igreja Romana e governantes das monarquias europeias, cujos governantes desejavam para si o poder espiritual e ideológico da Igreja e do Papa, muitas vezes para assegurar o direito divino dos reis;
  • práticas como a usura eram condenadas pela ética católica romana, assim, a burguesia capitalista que desejava obter elevados lucros econômicos sentiria-se mais "confortável" se pudesse seguir uma nova ética religiosa, adequada ao espírito capitalista. Esta necessidade foi atendida pela ética protestante;
  • algumas causas econômicas para a aceitação da Reforma foram o desejo da nobreza e dos príncipes de se apossar das riquezas da Igreja católica e ver-se livre a tributação papal que, apesar de defender a simplicidade, era a instituição mais rica do mundo. Também na Alemanha, a pequena nobreza estava ameaçada de extinção em vista do colapso da economia senhorial. Muitos desses nobres desejavam as terras da Igreja. Somente com a Reforma, estas classes puderam expropriar as terras;
  • durante a Reforma na Alemanha, autoridades de várias regiões do Sacro Império Romano-Germânico, pressionadas pela população e pelos luteranos, expulsavam e até assassinavam sacerdotes católicos das igrejas, substituindo-os por religiosos com formação luterana;
  • Lutero era radicalmente contra a revolta camponesa iniciada em 1524 pelos anabatistas liderados por Thomas Münzer, que provocou a Guerra dos Camponeses. Münzer comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada; Lutero por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era vontade divina, motivo pelo qual eles romperam.
Gravura mostrando a Guerra dos Camponeses
O Luteranismo
  Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada na Alemanha, estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste Europeu, principalmente os Países Bálticos e a Hungria.
  As teses pregadas por Lutero condenavam a avareza e o paganismo na Igreja, e pediam um debate teológico sobre o que as indulgências significavam. As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Após um mês essas teses haviam se espalhado por toda a Europa.
  Após diversos acontecimentos, em junho de 1518, foi aberto um processo por parte da Igreja Católica contra Lutero. Alegava-se, com o exame do processo, que ele incorria em heresia. Em agosto do mesmo ano, o processo foi alterado para heresia notória. Finalmente, em junho de 1520 reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge Domini" e, em janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum Pontificem" excomungou Lutero. Devido a esses acontecimentos, Lutero foi exilado no Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde permaneceu por cerca de um ano. Durante esse período de exílio forçado, Lutero trabalhou na sua tradução da Bíblia para o alemão, da qual foi impresso o Novo Testamento, em setembro de 1522.
As 95 Teses de Martinho Lutero
  Enquanto isso, em meio ao clero saxônico, aconteceram renúncias ao voto de castidade. Muitos realizaram a troca das formas de adoração e terminaram com as missas, assim como a eliminação das imagens nas igrejas e a ab-rogação do celibato. O casamento de Lutero com a ex-freira Catarina von Bora incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Com estes e outros atos consumou-se o rompimento definitivo com a Igreja Romana. 
  Martinho Lutero criou então sua própria religião, o Luteranismo. Nas Igrejas luteranas não havia uma autoridade máxima e o celibato clerical foi eliminado. Lutero também traduziu a Bíblia do latim para o alemão, permitindo que as pessoas tivessem acesso direto aos textos bíblicos, deixando de depender do clero.
Extensão da Reforma Protestante na Europa
  Vários príncipes se converteram à nova religião e deram proteção militar a Lutero, que não foi mais perseguido pela Igreja católica. Essa aliança entre Lutero e os príncipes deu origem a maior liberdade religiosa no Sacro Império Romano-Germânico, e o luteranismo se difundiu na sociedade europeia.
  Em 1529, o imperador Carlos V tentou obrigar todos os príncipes subordinados a ele (inclusive o duque Frederico da Saxônia, protetor de Lutero) a retornar ao catolicismo. O protesto dos príncipes aliados de Lutero contra essa determinação do imperador deu origem ao nome da nova religião: o protestantismo. Com isso, os príncipes adquiriram o direito de escolher qual religião desejavam seguir.
Igreja Luterana de Nossa Senhora Frauenkirche, em Dresden - Alemanha
O Calvinismo
  Ao mesmo tempo em que ocorria uma reforma em um sentido determinado, alguns grupos protestantes realizaram a chamada Reforma Radical. Queriam uma reforma mais profunda. Foram parte importante dessa reforma radical os Anabatistas, cujas principais características eram a defesa da total separação entre a Igreja e o Estado e o "novo batismo".
  Na Suíça, a Reforma teve como principal líder o francês João Calvino e o alemão Ulrico Zuínglio.
  João Calvino foi integrante do clero romano, porém, não chegou a ser ordenado sacerdote, pois foi afastado por causa de discordar de certos preceitos da Igreja católica. Depois do seu afastamento da Igreja romana, começou a ser visto como um representante do movimento protestante. Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1533, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se um centro do protestantismo europeu e João Calvino permaneceu desde então como uma figura central da história da cidade e da Suíça.
João Calvino (1509-1564)
  Calvino publicou as Institutas da Religião Cristã, que são uma importante referência para o sistema de doutrinas adotado pelas Igrejas Reformadas. Ele discordava tanto do catolicismo quanto do luteranismo em relação à salvação da alma. Para Calvino, desde a criação do mundo Deus já havia destinado apenas alguns seres humanos à salvação. Somente após a morte cada um iria descobrir se era ou não predestinado à vida eterna. Ninguém podia fazer nada para mudar isso durante a vida, apenas aceitar a decisão divina.
  Os calvinistas acreditavam que cada um dos predestinados à salvação vinha à Terra para realizar uma missão. O sucesso no trabalho e nos negócios era entendido como um indicativo de que a missão divina estava sendo cumprida. Assim, o sucesso profissional e financeiro passou a ser entendido também como um sinal de predestinação à vida eterna.
Livro de João Calvino Institutas da Religião Cristã
  Calvino teve de deixar a França por causa de suas crenças religiosas. Mudou-se para Genebra, na Suíça, e converteu à população local à sua religião. Mais tarde surgiram calvinistas no Leste Europeu, na França (onde foram chamados huguenotes) e na Inglaterra (onde foram chamados de puritanos).
  O problema com os huguenotes somente concluíram quando o rei Henry IV, um ex-huguenote, emitiu o Edito de Nantes, declarando tolerância religiosa e prometendo um reconhecimento oficial da minoria protestante, mas sob condições muito restritas.
Catedral de Saint Pierre, em Genebra - Suíça
  Já Ulrico Zuínglio foi o líder da reforma na Suíça e fundador das igrejas reformadas suíças. Zuínglio não deixou igrejas organizadas, mas as suas doutrinas influenciaram as confissões calvinistas. A reforma de Zuínglio foi apoiada pelo magistrado e pela população de Zurique, levando a mudanças significativas na vida civil e em assuntos de Estado em Zurique.
Ulrico Zuínglio (1484-1531)
O Anglicanismo
  A Inglaterra também foi palco de uma crise da Igreja católica. Em 1527, o rei inglês Henrique VIII pediu ao papa Clemente VII autorização para se divorciar de sua esposa, a rainha Catarina de Aragão. O papa rejeitou o pedido, mas mesmo assim o rei se separou de sua mulher e, em 1533, casou-se com uma dama da corte, Ana Bolena.
  Por causa dessa desobediência, o papa Clemente VII excomungou o monarca. então, em 1534, Henrique VIII rompeu de vez com o papado: confiscou os bens da Igreja e fundou uma nova religião: o anglicanismo, cujo chefe é o próprio rei da Inglaterra. Durante o reinado de Elizabeth I, filha de Henrique VIII, o anglicanismo se consolidou como a religião oficial da Inglaterra.
Henrique VIII (1491-1547)
  O Ato de Supremacia, votado no Parlamento em novembro de 1534, colocou Henrique e os seus sucessores na liderança da Igreja. Os súditos deveriam submeter-se ou então seriam excomungados, perseguidos e executados, tribunais religiosos foram instaurados e os católicos foram obrigados à assistir aos cultos protestantes. Muitos opositores foram mortos, como Thomas More, o Bispo John Fischer e alguns sacerdotes, frades franciscanos e monges cartuxos. Quando Henrique foi sucedido pelo seu filho Eduardo VI em 1547, os protestantes viram-se em ascensão no governo. Uma reforma mais radical foi imposta, diferenciando o anglicanismo ainda mais do catolicismo.
  A Reforma na Inglaterra procurou preservar o máximo da tradição romana (episcopado, liturgia e sacramentos). A Igreja da Inglaterra sempre se viu como a ecclesia anglicanae, ou seja, a Igreja cristã na Inglaterra e não como uma derivação da Igreja de Roma e o protestantismo.
Palácio e Abadia de Westmineter e o Big Ben, em Londres
  Em 1561, apareceu uma confissão de fé com uma Exortação à Reforma da Igreja modificando seu sistema de liderança, pelo qual nenhuma igreja deveria exercer qualquer autoridade ou governo sobre outras, e ninguém deveria exercer autoridade na Igreja se isso não lhe fosse conferido por meio de eleição. Esse sistema, considerado "separatista" pela Igreja Anglicana, ficou conhecido como Congregacionalismo.
  Na Escócia, John Knox (1505-1572), que tinha estudado com João Calvino em Genebra, levou o Parlamento da Escócia a abraçar a Reforma Protestante em 1560, sendo estabelecido o Presbiterianismo. A primeira Igreja Presbiteriana, a Church of Scotland (Igreja da Escócia), foi fundada como resultado disso.
Catedral Metropolitana de Glasgow - Escócia
A Reforma nos Países Baixos
  A Reforma nos Países Baixos, ao contrário de outros países, não foi iniciada pelos governantes das Dezessete Províncias, mas sim por vários movimentos populares que, por sua vez, foram reforçados com a chegada dos protestantes refugiados de outras partes do continente. Enquanto o movimento Anabatista gozava de popularidade na região das primeiras décadas da Reforma, o calvinismo, através da Igreja Reformada Holandesa, tornou a fé protestante dominante no país desde a década de 1560 em diante.
Igreja Reformada Holandesa, em Vereeniging - Holanda
  No início de agosto de 1566, uma multidão de protestantes invadiu a Igreja de Hondschoote na Flandres (atualmente Norte da França) com a finalidade de destruir as imagens católicas. Esse incidente provocou outros semelhantes nas províncias do norte e do sul, até Beeldenstorm, em que calvinistas invadiram igrejas e outros edifícios católicos para destruir imagens e estátuas de santos em toda a Holanda, pois de acordo com os calvinistas, estas estátuas representavam culto de ídolos.
  Duras perseguições aos protestantes pelo governo espanhol de Felipe II contribuíram para um desejo de independência nas províncias, o que levou à Guerra dos Oitenta Anos e, eventualmente, a separação da zona protestante (atual Holanda, ao norte) da zona católica (atual Bélgica, ao sul).
Westerkerk - localizada em Amsterdã, é a maior igreja protestante da Holanda
Reforma na Escandinávia
  Na Dinamarca, a difusão das ideias de Lutero deveu-se a Hans Tausen. Em 1536, na Dieta de Copenhague, o rei Cristiano III aboliu a autoridade dos bispos católicos, tendo sido confiscado os bens das igrejas e dos mosteiros. O rei atribuiu a Johann Bugenhagen, discípulo de Lutero, a responsabilidade de organizar uma Igreja Luterana nacional.
  A Reforma na Noruega e na Islândia foi uma consequência da dominação da Dinamarca sobre estes territórios. Assim, em 1537 ela foi introduzida na Noruega e entre 1541 e 1550 na Islândia, tendo assumido neste último território características violentas.
Igreja Luterana de Hallgrimur, em Reykjavik - Islândia
  Na Suécia, o movimento reformista foi liderado pelos irmãos Olaus Petri e Laurentius Petri. Teve o apoio do rei Gustavo I Vasa, que rompeu com Roma em 1525, na Dieta de Vasteras. O luteranismo, então, penetrou neste país, estabelecendo-se em 1527. Em 1593, a Igreja sueca adotou a Confissão de Augsburgo.
  Na Finlândia, as igrejas faziam parte da Igreja sueca até o início do século XIX, quando foi formada uma igreja nacional independente, a Igreja Evangélica Luterana da Finlândia.
Catedral Luterana na Praça do Senado, em Helsinque - Finlândia
A Reforma em outras partes da Europa
  Na Hungria, a disseminação do protestantismo foi auxiliada pela minoria étnica alemã, que podia traduzir os escritos de Lutero. Enquanto o luteranismo ganhou uma posição de destaque entre a população de língua alemã, o calvinismo se tornou amplamente popular entre a etnia húngara.
  Fortemente perseguida, a Reforma praticamente não penetrou em Portugal e na Espanha. Porém, uma missão francesa enviada por João Calvino se estabeleceu em uma das ilhas da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, em 1557. Apesar de durar pouco tempo, essa missão deixou como herança a Confissão de Fé da Guanabara.
Confissão de Fé da Guanabara - primeiro escrito protestante no Brasil
  Por volta de 1630, durante o domínio holandês em Pernambuco, a Igreja Cristã Reformada (Igreja Protestante na Holanda) instalou-se no Brasil. Seu membro mais ilustre era o conde Maurício de Nassau. Esse período se encerrou com a Guerra de Restauração Portuguesa, quando os holandeses foram expulsos do Brasil.
Ata do Presbitério Reformado de Pernambuco, de dezembro de 1636
CONFLITOS E A REFORMA CATÓLICA OU CONTRA-REFORMA
  O surgimento de novas religiões na Europa nã aconteceu de forma pacífica. Na França, por exemplo, os protestantes foram vítimas de intensa perseguição por parte dos católicos. Isso provocou guerras entre os seguidores das duas crenças. Em um dos confrontos mais graves, 3 mil huguenotes foram assassinados por católicos na noite de 24 de agosto de 1572, conhecida como Noite de São Bartolomeu.
  Este foi o início de um massacre mais vasto, apesar do rei ter enviado mensageiro às províncias para manter o tratado de 1570 (Tratado de Paz de Saint-German), que tinha selado a paz entre católicos e protestantes.
  Para escapar da perseguição, muitos protestantes deixaram seus países de origem e decidiram se estabelecer na América. Alguns deles rumaram para a América portuguesa, onde estabeleceram a França Antártica (no atual Rio de Janeiro) e a França Equinocial (atual Maranhão).
Noite de São Bartolomeu, de François Dubois
  Nos países protestantes, por sua vez, foi feita a expulsão e o massacre de sacerdotes católicos, bem como a matança em massa de 30.000 anabatistas. Na Inglaterra, católicos foram executados em massa, tribunais religiosos foram instalados e muitos foram obrigados à assistir os cultos protestantes, forçando assim sua conversão ao protestantismo mediante o terror.
  Em reação a esses conflitos, no século XVI, a Igreja católica empreendeu certas reformas para alterar ou reforçar seus valores com o objetivo de evitar novas dissidências.
  Em 1540, o papa Paulo III autorizou as atividades da Companhia de Jesus, uma nova ordem religiosa fundada por Inácio de Loyola, em 1534. Seus membros, os jesuítas tinham como missão principal converter ao cristianismo os habitantes da América, da Ásia e da África, bem como administrar escolas conforme as orientações da reforma católica.
Santo Inácio de Loyola (1491-1556)
  Combinando motivação evangelizadora com disciplina militar e administração financeira independente da Igreja e das coroas europeias, a ordem teve uma grande e rápida expansão em todo o mundo. Em 1556, já atuava em várias regiões da Europa, na Índia, na China e nas colônias portuguesa, espanhola e francesa da América. Seu êxito atraiu inimigos, tanto políticos como religiosos. Pressionados pelos governos da França, da Espanha e de Portugal, o papa Clemente XIV aboliu a ordem em 1773, mas ela foi restaurada por Pio VII em 1814. Ainda assim, a Companhia de Jesus desempenhou importante papel nos primeiros tempos da colonização portuguesa na América.
Antigo mosteiro dos padres jesuítas, no Maciço de Baturité - CE
  O papa Paulo III também convocou um grupo de religiosos para rever  e formalizar as doutrinas da Igreja. Esse grupo, reunido em 1545, ficou conhecido como Concílio de Trento. Até 1563, com várias interrupções, o Concílio promoveu uma série de modificações na estrutura da Igreja católica. Entre outras reformas, estabeleceu a criação de seminários para a formação dos futuros sacerdotes, criou o catecismo (uma apresentação simplificada das crenças católicas), fortaleceu a Inquisição, para combater as heresias, e instituiu o Index Proibitorum - uma lista de livros proibido aos católicos que só foi oficialmente extinta em 1965 pelo papa Paulo VI.
Mosteiro São Bento, no Rio de Janeiro - RJ
  Um dos pontos de destaque da Reforma Protestante é o fato de ela ter possibilitado um maior acesso à Bíblia, graças às traduções feitas por vários reformadores a partir do latim para as línguas nacionais. Tal liberdade fez com que fossem criados diversos grupos independentes, conhecidos como denominações.
  Nas primeiras décadas após a Reforma Protestante, surgiram diversos grupos, destacando o Luteranismo, que foi o grupo originador do movimento de Reforma da Igreja Católica e as Igrejas Reformadas ou Calvinistas (Presbiterianismo e Congregacionalismo). Nos séculos seguintes, surgiram outras denominações, com destaque para os Batistas e os Metodistas.
Igreja Presbiteriana St. Giles, Escócia
FONTE: Cardoso, Oldimar. Leituras da história, 7° ano / Oldimar Cardoso. -- 1. ed. -- São Paulo: Escala Educacional, 2012. -- (Leituras da história)

ADSENSE

Pesquisar este blog