domingo, 14 de setembro de 2014

OS SOLOS DA AMAZÔNIA

  Solo é um corpo de material inconsolidado que cobre a superfície emersa da Terra, entre a litosfera e a atmosfera. Os solos são constituídos de três fases: sólida (minerais e matéria orgânica), líquida (solução do solo) e gasosa (ar). É produto do intemperismo sobre um material de origem, cuja transformação se desenvolve em um determinado relevo, clima, bioma e ao longo de um tempo.
  O solo pode ser visto sob diferentes óticas. Para um engenheiro agrônomo o solo é a camada na qual pode-se desenvolver vida (vegetal e animal). Para um engenheiro civil, sob o ponto de vista da mecânica dos solos, solo é um corpo possível de ser escavado, sendo utilizado como suporte para construções ou material de construção. Para um biólogo, através da ecologia e da pedologia, o solo infere sobre a ciclagem biogeoquímica dos nutrientes minerais e determina os diferentes ecossistemas e habitats dos seres vivos. Os solos possuem várias camadas no seu perfil.
Camadas do solo
  A Amazônia é uma enorme floresta localizada na América do Sul, ocupando uma área de mais de 7 milhões de km². A região que abriga a Amazônia é caracterizada pela temperatura elevada, grande umidade atmosférica e enorme quantidade de rios. Esses fatos garantem a Floresta Amazônica ser a maior floresta equatorial do mundo.
  Apesar da exuberância apresentada pela floresta, os solos nos quais está fixada não possuem grande riqueza em nutrientes.  A Amazônia caracteriza-se por ser um ambiente extremamente complexo, em que tanto as altitudes do relevo como as águas dos rios influem diretamente na fertilidade dos solos da região.
Floresta Amazônica
  Os solos mais férteis da Amazônia são encontrados principalmente ao longo das várzeas, ou seja, das planícies situadas às margens dos principais rios. Essas áreas são constantemente inundadas, na época das cheias, pelas águas ricas em nutrientes que descem das encostas da cordilheira dos Andes. Além das várzeas, algumas áreas dos estados de Rondônia e do Acre se destacam pela boa fertilidade de terras.
  Entretanto, os demais solos amazônicos são, na maior parte, pobres em nutrientes, apresentando apenas uma fina camada superficial de matéria orgânica (húmus). O húmus é produzido pela própria floresta, e promove uma espécie de reciclagem ao se decompor, o que leva à autos-sustentação desse ambiente. As folhas caídas das árvores, os galhos e os excrementos dos animais acumulam-se no chão da floresta, formando uma espessa camada denominada serrapilheira.
Esquema do processo da serrapilheira
  Devido às precipitações e as temperaturas elevadas, o solo sofre alterações em seu material de origem (minerais) e lixiviação em suas bases, tornando-se profundos e bem drenados, apresentando coloração vermelha ou amarela, pouco férteis e ácidos. Caracteriza-se, então, como:
  • Oxissolo (latossolo) - excelente textura granular, baixíssima fertilidade natural, propriedade uniforme em sua profundidade, ocupando 45% da área amazônica.
  • Ultissolo (podzólico vermelho-amarelo) - horizonte de acumulação de argila, propriedade física menos favorável para a agronomia e baixa fertilidade natural. Ocupa 30% da Amazônia.
Serrapilheira
  Aproximadamente 6% da área são ocupados por solos férteis bem drenados; 2% por solos de espessos horizontes de areais quartzosas e solos aluviais, alguns bastante férteis.
FONTE: Geografia espaço e vivência: a organização do espaço brasileiro. 7° ano / Levon Boligian ... [et al.]. -- 4. ed. -- São Paulo: Saraiva, 2012.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O CULTIVO DE COCA NA AMÉRICA LATINA

  A coca é uma planta nativa de países localizados na região dos Andes, por isso o cultivo deste arbusto é um costume antigo entre os índios da região. Ela é uma das quatro plantas cultivadas na família Erythroxylaceae. A planta é uma importante fonte de renda na Argentina, Bolívia, Colômbia e Peru. Também desempenha um importante papel em áreas fora da América do Sul, como na Sierra Nevada de Santa Marta (um prolongamento da Cordilheira dos Andes na América Central).
  A coca é conhecida em todo o mundo pela sua alcaloide psicoativo - cocaína. O teor de alcaloides da folha da coca é baixa, entre 0,25% e 0,77%. Isso significa que mascar as folhas ou beber chá de coca não produz a sensação que a cocaína produz (euforia, megalomania, depressão). O extrato de folha de coca tinha sido utilizado pela Coca-Cola nos seus produtos a partir de 1885.
Cultivo de coca na Bolívia
  O cultivo da coca passou a ser de interesse comercial para determinados grupos que utilizam suas folhas para a produção da pasta base de cocaína, uma droga de consumo proibido na maioria dos países do mundo, mas que gera volumosa renda no comércio ilegal de drogas, chamado de narcotráfico.
  Atualmente, em alguns países da América Latina, principalmente Colômbia, Bolívia e Peru, é possível encontrar lavouras de coca em várias propriedades agrícolas. Nesses países, milhares de camponeses deixaram de cultivar os produtos tradicionalmente comerciais, como frutas, cereais e cana-de-açúcar, e passaram a sobreviver do cultivo da coca, já que seu comércio é mais rentável.
  A extração de cocaína da coca requer vários solventes e de um processo químico conhecido como um ácido - extração de base, que pode facilmente extrair os alcaloides a partir da planta.
Secagem da folha de coca no Peru
  A planta da coca se assemelha a um arbusto Blackthorn - tipo de ameixa nativa da Europa -, e cresce a uma altura de 2 a 3 metros. Os ramos são retos e as folhas são finas, opacas, oval e com cone nas extremidades. A característica marcante da folha é uma porção aréola delimitada por duas linhas de curvas longitudinais, uma linha de cada lado da nervura central, sendo mais visível na face inferior da folha.
  Há duas espécies de coca cultivada, cada uma com duas variedades:
Erythroxylum coca
  • Erythroxylum coca var coca (Coca Boliviana) - bem adaptado no leste dos Andes, principalmente no Peru e na Bolívia, em área úmida, tropical e de floresta montanhosa.
  • Erythroxylum coca var ipadu (Coca Amazônica) - cultivada na planície da bacia amazônica, principalmente no Peru e na Colômbia.
 Erythoroxylum novogranatense
  •  Erythroxylum novogranatense var novogranatense (Coca Colômbia) - variedade de montanhas que é utilizado em áreas de várzea. É cultivada em regiões mais secas da Colômbia, sendo também bastante adaptável a diferentes condições ecológicas. As folhas têm linhas paralelas de cada lado da nervura central.
  • Erythroxylum novogranatense var truxillense (Coca de Trujillo) - cultivada principalmente no Peru e na Colômbia, suas folhas não possuem linhas paralelas de cada lado da nervura central, como ocorre com as outras variedades.
Espécie Erythoroxylum novogranatense
  Todos os quatro tipos de coca cultivadas foram domesticados em tempos pré-colombianos e são bastante estreitamente relacionados entre si.
  O extrato de coca possui compostos orgânicos e inorgânicos, como a maioria das plantas. Há proteínas, vitaminas, carboidratos, gorduras, fibras, cálcio, fósforo e ferro, entre outros elementos. As propriedades analgésicas da coca foram descobertas pelos incas e até hoje as suas folhas são habitualmente mascadas na região dos Andes. O efeito do alcaloide (cocaína) pode moderar a fome e a fadiga.
  Alguns refrigerantes, como Coca-Cola, utilizam extrato de espécies do mesmo gênero Erythoroxylum, com menores teores de cocaína, e outros imitavam a sua composição. Porém, tais refrigerantes passaram a ser produzidos de noz-de-cola e não possuem mais folha de coca em sua formulação.
  A confusão sobre o conteúdo do refrigerante Coca-Cola e até mesmo sobre sua formulação, deve-se ao fato de ter sido este o refrigerante precursor do uso da cocaína como medicamento antiemético - medicamentos que possuem como principal característica o alívio de sintomas relacionados com o enjoo, as náuseas, as diarreias e os vômitos. No início a Coca-Cola era "remédio", continha traços da droga e seu uso era indicado sempre após as refeições.
Soldados bolivianos buscando plantações de coca
O NARCOTRÁFICO
  Devido à grande importância das lavouras de coca para a produção de cocaína e, sobretudo, para seu comércio internacional, atualmente vários grupos guerrilheiros e narcotraficantes estimulam o cultivo desta planta entre camponeses, também denominados cocaleros.
  Na Colômbia, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), obrigam os agricultores a cultivarem a coca. Criada em 1964, as Farc inicialmente tinham o objetivo de reivindicar a distribuição igualitária de terras na Colômbia. No entanto, atualmente esse grupo guerrilheiro vem desenvolvendo ações que utilizam da violência, como assassinatos e sequestros, para contrapor o governo nacional. Essas ações, na maioria das vezes, são financiadas pelo dinheiro do narcotráfico.
  A droga processada e refinada na Colômbia tem como maior consumidor os Estados Unidos. Na tentativa de combater a entrada ilegal da droga em seu território, os Estados Unidos passaram a apoiar o governo colombiano no combate à produção de cocaína.
Mapa das áreas de cultivo de coca na América Latina
FONTE: Garcia, Valquíria Pires. Projeto radix: geografia / Valquíria Pires Garcia, Beluce Bellucci. -- 2. ed. -- São Paulo: Scipione, 2012. -- (Coleção projeto radix)

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A REPÚBLICA DO KOSOVO

  A República do Kosovo é um território disputado na península balcânica onde, na Antiguidade, correspondia à região da Dardânia. O território fez parte dos impérios Romano, Bizantino, Búlgaro, Sérvio e Otomano e, no século XX, passou a fazer parte do Reino da Sérvia, do Império Italiano e da Iugoslávia.
HISTÓRIA
  A região atualmente conhecida como "Kosovo" tornou-se uma região administrativa em 1946, como Província Autônoma de Kosovo e Metohija, tendo sido reduzida em 1974 para "Kosovo" com o nome de Província Socialista Autônoma do Kosovo, voltando a ser Província Autônoma de Kosovo e Metohija em 1990.
Província Autônoma de Kosovo e Metohija
  Kosovo foi parte do Império Otomano entre 1389 e 1912. A região esteve sob dependência de Skopje (capital da Macedônia), tendo constituído uma província separada apenas em 1877.
  Em 1912, apesar de ser uma zona de maioria albanesa, foi integrada à Sérvia e não ao Principado da Albânia, criado naquele ano. Ocorreram rebeliões albanesas entre 1878 e 1881 e entre 1918 e 1924. Entre 1941 e 1944 foi anexada à Albânia, sob ocupação italiana. Após a reintegração à Iugoslávia tornou-se região autônoma integrada à República da Sérvia.
  Em 1991, Kosovo declarou sua independência, que não foi reconhecida pela comunidade internacional. A tensão entre separatistas de origem albanesa  e o governo central da Iugoslávia, liderado pelo presidente nacionalista Slobodan Milosevic aumentou ao longo de 1998. No ano seguinte, um grupo de líderes iugoslavos e da comunidade albanesa em Kosovo junto com representantes das principais potências mundiais se reuniram para negociar um acordo de paz que colocasse fim aos conflitos entre os guerrilheiros do Exército de Libertação do Kosovo (ELK) e as forças iugoslavas de Slobodan Milosevic, mas a reunião, que estava marcada para acontecer em fevereiro de 1999, na região do castelo de Rambouillet, na França, fracassou. A Otan atacou a Iugoslávia em 24 de março de 1999, dando início à Guerra do Kosovo.
Slobodan Milosevic (1941-2006)
Guerra do Kosovo
  A Guerra do Kosovo foi o último conflito da antiga Iugoslávia. O Kosovo era uma província autônoma na federação da Iugoslávia, mas integrada à república da Sérvia, e perdeu sua autonomia em 1989. A maioria de sua população é de origem albanesa (92%) e professa a religião muçulmana. Nessa província, a ex-Iugoslávia tentou promover mais uma vez uma "limpeza étnica", como já tinha tentado em outras de suas ex-repúblicas.
  O Kosovo tem uma área de 10.887 km² e localiza-se no sul da Sérvia, fazendo fronteira com a Macedônia (a sudeste) e com a Albânia e Montenegro (a oeste). Cerca de 2 milhões de pessoas viviam no Kosovo em 1997, mas o conflito de 1998-1999 provocaram milhares de mortes e cerca de 1 milhão de refugiados.
Localização do Kosovo
  Em 1996, formou-se um grupo guerrilheiro, o Exército de Libertação do Kosovo (ELK), oriundo da etnia albanesa, para lutar pela independência da província. Em 1998, as atrocidades sérvias, que já ocorriam havia anos, aumentaram: o governo iugoslavo deixou de agir de forma "sutil" ou disfarçada e passou a massacrar abertamente a etnia albanesa, expulsando as famílias de suas casas e da própria região, fuzilando pessoas simplesmente porque eram jovens e poderiam tornar-se guerrilheiros ou dar à luz mais albaneses.
  Nesse momento o apoio popular ao ELK era cada vez maior no Kosovo. Além disso, os conflitos na região estavam chamando a atenção do mundo. Graças à mídia internacional (redes de televisão, jornais, revistas, etc.), uma opinião favorável à independência do Kosovo começava a crescer em vários países, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Para tentar que isso acontecesse, e também para diminuir drasticamente a presença da etnia albanesa na região, o então governo iugoslavo iniciou um verdadeiro genocídio (matança em massa) contra os kosovares.
Guerrilheiros do ELK
  Contudo, de abril a junho de 1999, as forças armadas da Otan, lideradas pelos Estados Unidos, promoveram milhares de operações aéreas de bombardeios na ex-Iugoslávia e nas áreas do Kosovo dominadas pelas tropas sérvias. Houve uma enorme destruição na Sérvia e no Kosovo: estradas, aeroportos, pontes, usinas, edifícios do governo foram bombardeados. Finalmente, em junho de 1999, líderes ocidentais e o governo iugoslavo assinaram um tratado de paz, onde a Iugoslávia concordaria em retirar suas tropas do Kosovo e permitiria o controle desse território por tropas da ONU (milhares de soldados norte-americanos, britânicos, alemães, franceses e russos). Após o acordo de paz, mais de 800 mil refugiados albaneses retornaram ao território na tentativa de reconstruir sua vida. No sentido oposto, cerca de 200 mil sérvios abandonaram a província desde então, temendo o aumento da violência étnica dos albaneses.
Cidade de Mitrovica destruída após os bombardeios na Guerra do Kosovo
  Em março de 2004, estourou o pior conflito entre albaneses e sérvios em Kosovo desde 1999, na cidade de Mitrovica. O estopim foi a morte por afogamento de duas crianças albanesas, pela qual membros da minoria sérvia foram responsabilizados. Mais de 30 pessoas foram assassinadas, e a Otan anunciou reforço nas tropas de ocupação.
  Os kosovares ou albaneses não se entendem com a minoria sérvia, principalmente porque os sérvios foram cúmplices no massacre que a Iugoslávia promoveu contra eles. Os massacres e os bombardeios arrasaram o território e a economia, que necessitam de muitos recursos, e provavelmente muito tempo, para voltar a uma situação estável e sem miséria.
  Em fevereiro de 2008, o Kosovo declarou-se independente da Sérvia. Sua independência foi logo reconhecida por vários países, como Estados Unidos, Alemanha e França, mas outros, como Rússia e Espanha, ainda não reconheceram.
Kosovares comemoram a independência do Kosovo, em 2008
  A Rússia está em negociação com a ONU, pedindo para que ela não reconheça a atual independência, por temer que isso vire um novo estopim de movimentos separatistas e reivindicações unilaterais de regiões que se auto-declararam independentes. A Sérvia, junto a seus aliados econômicos e étnicos, temem pelas minorias não albanesas na região do Kosovo (principalmente ao norte), por tratados de livre-circulação antes estabelecido pelos Estados dos Balcãs e pela região ser considerada um coração cultural e religioso.
  A Sérvia não só não aceita a independência de sua província como também procura impedir o reconhecimento internacional do Kosovo. Isso, no entanto, pode ser uma questão de tempo. A Sérvia pretende ingressar na União Europeia, mas só conseguirá realizar essa pretensão após reconhecer a independência do Kosovo.
Reação internacional: uma outra interpretação
  Kosovo
  Estados que reconhecem Kosovo formalmente como independente
  Estados que têm a intenção de reconhecer Kosovo como independente
  Estados que demoraram ou expressam neutralidade no reconhecimento da independência de Kosovo
  Estados que expressam preocupação sobre os movimentos unilaterais ou desejam negociações adicionais
  Estados que recusaram reconhecer Kosovo como independente
  Estados sem posição informada a partir de 19 fevereiro
GEOGRAFIA
  O clima do Kosovo é continental, com verões quentes e invernos frios e com neve. A maior parte do território kosovar é montanhoso, sendo o Deravica o ponto culminante, com 2.656 metros. O país tem duas regiões principais planas, a bacia do Metohija, localizada na parte ocidental do Kosovo, e a planície do Kosovo, que ocupa a parte oriental. Os principais rios são o Drin Branco, que desagua no mar Adriático, o Erenik, um de seus afluentes, o Sitnica, o Morava do Sul, na região de Goljak, o Lepenac, no sul, e o Ibar, no norte. Os maiores lagos são o Gazivoda, o Radonjic, o Batlava e o Badovac.
  Cerca de 39,1% do território do Kosovo é coberto por florestas e 52% é classificado como terra utilizada para a agricultura, das quais 31% são usados como pasto e 69% como terras aráveis.
Deravica - ponto culminante do Kosovo
DEMOGRAFIA
  Etnicamente, a população do Kosovo é composta por 92% de albaneses, 3% de sérvios, 2% de bósnios e goranis, 1% de turcos, 1% de ciganos e 1% de outros povos. Os albaneses, com sua população aumentando constantemente, formam uma maioria no Kosovo desde o século XIX; a composição étnica anterior a esse período é controversa. As fronteiras políticas do Kosovo, não coincidem com suas fronteiras étnicas; os sérvios formam uma maioria local no Norte e em diversos enclaves, enquanto existem áreas de maioria albanesa fora do Kosovo, em regiões da antiga Iugoslávia - mais especificamente no noroeste da República da Macedônia e na região de Presevo, na Sérvia Central.
Mapa étnico do Kosovo
  Os albaneses do Kosovo tem a maior taxa de crescimento populacional da Europa, 1,3% ao ano. Entre 1921 e 2003, a população do Kosovo cresceu cerca de 460% de seu tamanho original. Desde a declaração de independência do Kosovo, os sérvios vêm abandonando continuamente a região, causando certa ansiedade entre os líderes kosovares e controvérsias entre os políticos sérvios.
ECONOMIA
  A economia do Kosovo é uma das menos desenvolvidas da Europa, com uma renda per capita de cerca de 2.800 euros por ano (US$ 3,454). O grande destaque da economia do Kosovo é o setor mineral, destacando-se a produção de zinco, chumbo, níquel, cromo, ouro e, principalmente, carvão mineral, tendo a terceira maior reserva desse mineral no continente.
Boulevard Bill Clinton, em Pristina
  Kosovo tinha a maior companhia de exportação da República Federal da Iugoslávia, a Trepca, mas era também a mais pobre das províncias do país, recebendo subsídios para seu desenvolvimento de todas as outras repúblicas iugoslavas. Além disso, ao longo da década de 1990 um misto de políticas econômicas equivocadas, sanções internacionais, pouco comércio com o exterior e conflitos étnicos acabaram por danificar seriamente a economia.
  A inflação no país é baixa. O dinheiro enviado por kosovares que vivem no exterior representa cerca de 13% do PIB, e a assistência externa é de cerca de 34%.
  A maior parte do desenvolvimento econômico desde 1999 ocorreu nos setores da construção civil, comércio e varejo. O setor privado, que surgiu após os conflitos, é, em sua maior parte, de pequeno porte. O setor industrial ainda é incipiente e o fornecimento de eletricidade é bastante fraco, o que dificulta o seu desenvolvimento econômico. O desemprego afeta entre 40% e 50% da força de trabalho no país.
  Recentemente, o turismo vem despontando como uma das principais fontes de renda, graças as belezas naturais que o país dispõe, principalmente para a prática de esportes radicais.
Estação de esqui nas Montanhas Sar
ALGUNS DADOS SOBRE KOSOVO
NOME: República do Kosovo
CAPITAL: Pristina

Centro de Pristina
GENTÍLICO: kosovar
LÍNGUA OFICIAL: albanês, sérvio e turco
GOVERNO: República Parlamentarista
INDEPENDÊNCIA: da Sérvia (declarada em 17 de fevereiro de 2008
LOCALIZAÇÃO: Europa Centro-Meridional (Península Balcânica)
ÁREA: 10.887 km² (161º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2013):
1.847.708 habitantes (143°)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 169,71 hab./km² (47°)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2013):

Pristina: 217.632 habitantes
Visão noturna de Pristina - capital e maior cidade de Kosovo
Prizren: 183.521 habitantes
Urosevac: 81.2365 habitantes
Urosevac - terceira maior cidade de Kosovo
PIB (Banco Mundial - 2013): U$ 5.627 bilhões (142°)
IDH (ONU - 2013): 0,714 (97°)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2012): 70,5 anos (115°)
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - 2005/2010): 1,19% ao ano (113°)
TAXA DE FECUNDIDADE (CIA World Factbook - 2013): 1,50 (190°)
MORTALIDADE INFANTIL (CIA World Factbook - 2012): 18,27/mil (89°). Obs: essa mortalidade é contada de menor para o maior.
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2011): 91,9% (108°) Obs: essa taxa se refere a todas as pessoas com 15 anos ou mais que sabem ler e escrever.
TAXA DE URBANIZAÇÃO (Pnud - 2009/2010): 35,8% (147°)
PIB PER CAPITA (CIA World Factbook - 2013): U$ 3,454 (115°)
MOEDA: Euro
RELIGIÃO: islamismo (92%), cristãos ortodoxos (6%), outras religiões (2%).
DIVISÃO: para fins administrativos, Kosovo está dividido em sete distritos. A população do Norte de Kosovo mantém seu próprio governo, infraestrutura e instituições no distrito de Kosovska Mitrovica, especialmente nos municípios de Leposavic, Zvecan e Zubin Potok e na parte norte de Kosovska Mitrovica. Os sete distritos são: Dakovica, Gnjilane, Kosovska Mitrovica, Pec, Pristina, Prizren e Urosevac.
Distritos de Kosovo
  Os distritos de Kosovo são subdivididos em municípios. Os municípios são (os números correspondem aos municípios no mapa): 1. Decani 2. Dragash 3. Dakovica 4. Glogovac 5. Gnjilane 6. Istok 7. Kacanik 8. Kosovska Kamenica 9. Klina 10. Kosovo Polje 11. Leposavic 12. Lipjan 13. Malisevo 14. Kosovska Mitrovica 15. Novo Brdo 16. Obilic 17. Rahovec 18. Pec 19. Podujevo 20. Pristina 21. Prizren 22. Skenderaj 23. Shterpce 24. Shtime 25. Suhareke 26. Urosevac 27. Vitina 28. Vushtrri 29. Zubin Potok 30. Zvecan.
Divisão de Kosovo

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A GUERRA DO PARAGUAI

  A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul no século XIX. Rivalidades platinas e a formação de Estados nacionais deflagraram o confronto, que destruiu a economia e a população paraguaias. É também chamada Guerra da Tríplice Aliança na Argentina e Uruguai e de Guerra Grande, no Paraguai.
  A Guerra do Paraguai durou seis anos. Teve início em dezembro de 1864 e só chegou ao fim do ano de 1870, com a morte de Francisco Solano López em Cerro Corá.
  As razões dessa guerra são bastante diversas. O Paraguai no século XIX era um país que discordava do conjunto latino-americano por ter alcançado certo progresso econômico, a partir da independência em 1811. Durante os longos governos de José Francía (1811-1840) e Carlos López (1840-1862), erradicara-se o analfabetismo no país e haviam surgido fábricas - inclusive de armas e pólvora -, indústrias siderúrgicas, estradas de ferro e um eficiente sistema de telégrafo. As "estâncias da pátria" (unidades econômicas formadas por terras e instrumentos de trabalho distribuídos pelo Estado aos camponeses, desde o governo Francía) abasteciam o consumo nacional de produtos agrícolas e garantiam à população emprego e bom padrão alimentar.
Carlos Antonio López (1792-1862)
  Também, desde a sua independência, os governantes paraguaios afastaram o país dos conflitos armados na região Platina. A política isolacionista paraguaia, porém, chegou ao fim com o governo do ditador Francisco Solano López. Solano promoveu a industrialização do país graças a ajuda financeira recebida pela Grã-Bretanha. Essa industrialização contribuiu para o forte crescimento econômico do país.
  Com relativo sucesso socioeconômico e de alguma autonomia internacional, Solano López, cujo governo iniciou-se em 1862, teria enfatizado a política militar expansionista, a fim de ampliar o território paraguaio. Segundo essa versão, divulgada pela ótica dos vencedores, Solano pretendia criar o "Paraguai Maior", anexando, para isso, regiões da Argentina, do Uruguai e do Brasil (como Rio Grande do Sul e Mato Grosso). Obteria, dessa forma, acesso ao Atlântico, tido como imprescindível para a continuação do progresso econômico do país. Enfim, a guerra teria como motivo a agressão paraguaia, obrigando o Império a reagir. Porém, certamente foi a política externa brasileira no Prata, marcada pelo intervencionismo, que colaborou para criar uma situação potencialmente explosiva.
Francisco Solano López (1827-1870)
  Em 1864, o Brasil estava envolvido num conflito armado com o Uruguai. Havia organizado tropas, invadido e deposto o governo uruguaio do ditador Aguirre, que era líder do Partido Blanco e aliado de Solano López. O ditador paraguaio se opôs à invasão brasileira no Uruguai, porque contrariava seus interesses.
  O estopim para o conflito foi a intervenção brasileira no Uruguai  e a reação de Solano López que, contando com um exército bem mais numeroso que o brasileiro, tomou a ofensiva ao ordenar o aprisionamento do navio brasileiro Marquês de Olinda, no Rio Paraguai, retendo, entre seus passageiros e tripulantes, o presidente da província do Mato Grosso, Carneiro de Campos. A resposta brasileira foi o imediato rompimento de relações diplomáticas com o Paraguai, seguida do revide paraguaio e declaração de guerra.
  Mantendo-se na ofensiva, o Paraguai invadiu o Mato Grosso e o norte da Argentina, e os governos do Brasil, Argentina e Uruguai criaram a Tríplice Aliança contra Solano López.
Países e áreas envolvidas na Guerra do Paraguai
FASES DA GUERRA
Primeira fase: ofensiva paraguaia (1864-1865)
  Durante a primeira fase da guerra a iniciativa esteve com os paraguaios. Os exércitos de López definiram as três frentes de batalha iniciais invadindo o Mato Grosso, entre dezembro de 1864 e janeiro de 1865, primeiramente com a invasão de Corrientes (Argentina) e depois o Rio Grande do Sul.
  A invasão de Mato Grosso foi feita ao mesmo tempo por dois corpos de tropas paraguaias. A província achava-se quase desguarnecida militarmente, e a superioridade numérica dos invasores permitiu-lhes realizar uma campanha rápida e bem-sucedida.
  Um destacamento de cinco mil paraguaios, transportados em dez navios e comandados pelo coronel Vicente Barros, subiu o rio Paraguai e atacou o Forte de Nova Coimbra. A guarnição de 155 homens resistiu durante três dias, sob o comando do tenente-coronel Hermenegildo de Albuquerque Porto Carrero, depois barão de Forte de Coimbra. Quando as munições se esgotaram, os defensores abandonaram a fortaleza e se retiraram, rio acima, a bordo da canhoneira Anhambaí, em direção a Corumbá. Depois de ocupar o forte, que já estava vazio, os paraguaios avançaram rumo ao norte, tomando, em janeiro de 1865, as cidades de Albuquerque e Corumbá.
Forte Coimbra
  A segunda coluna paraguaia, comandada pelo coronel Francisco Isidoro Resquin e integrada por quatro mil homens, penetrou, por terra, em uma região mais ao sul do Mato Grosso, e logo enviou um destacamento para atacar a colônia militar fronteiriça de Dourados. O cerco, dirigido pelo major Martín Urbieta,, encontrou forte resistência por parte do tenente Antônio João Ribeiro, atual patrono do Quadro Auxiliar de Oficiais, e de seus 16 companheiros, que morreram sem se render. Os invasores prosseguiram até Nioaque e Miranda (ambos no atual estado do Mato Grosso do Sul), derrotando as tropas do coronel José Dias da Silva. Enviaram em seguida um destacamento até Coxim (MS), tomada em abril de 1865.
  Apesar de as primeiras vitórias da guerra terem sido paraguaias, o país possuía uma população muito menor que os países da Tríplice Aliança e não conseguiu resistir a uma guerra prolongada. Além disso, Brasil, Argentina e Uruguai puderam contar com o apoio inglês, recebendo empréstimos para equipar e manter poderosos exércitos.
Mapa da primeira fase da guerra
Segunda fase da guerra: contra-ataque aliado (1865-1866)
  A primeira reação brasileira foi enviar uma expedição para combater os invasores em Mato Grosso. A coluna de 27.800 homens comandados pelo coronel Manuel Pedro Drago saiu de Uberaba - MG, em abril de 1865, e só chegou a Coxim em dezembro do mesmo ano, após uma difícil marcha de mais de dois mil quilômetros através de quatro províncias do Império. Ao chegar, Coxim já estava abandonada. O mesmo aconteceu em Miranda, onde chegou em setembro de 1866.
  No dia 1° de maio de 1865, Brasil, Argentina e Uruguai assinaram, em Buenos Aires, o Tratado da Aliança contra o Paraguai. As forças militares da Tríplice Aliança eram, no início da guerra, francamente inferiores às do Paraguai.
  Foi no setor naval que o Brasil, mais bem preparado, infligiu, logo no primeiro ano de guerra, uma pesada derrota aos paraguaios na Batalha de Riachuelo. Essa batalha foi travada no dia 11 de junho de 1865, no rio Paraná, na qual a esquadra comandada pelo chefe de divisão Francisco Manuel Barroso da Silva derrotou a esquadra paraguaia comandada por Pedro Inacio Meza, cortando as comunicações com o tenente-coronel paraguaio Antonio de la Cruz Estigarribia, que estava atacando o Rio Grande do Sul.
Batalha Naval de Riachuelo
  A vitória brasileira do almirante Barroso na Batalha do Riachuelo, já em 1865, levou à destruição da frota paraguaia. A partir daí, as forças da Tríplice Aliança passaram a ter a iniciativa na guerra, controlando os rios, principais meios de comunicação da Bacia Platina, até a vitória definitiva em 1870.
  Simultaneamente ao ataque naval, uma força de 10 mil paraguaios atravessou a província argentina das Missões. Alcançando o rio Uruguai, a força se dividiu em duas colunas e rumaram para o sul, marchando em ambas as margens do rio. O tenente-coronel Antonio de la Cruz Estigarribia, liderou cerca de 7.500 homens na margem leste, e o major Pedro Duarte comandou 5.500 homens na margem oeste. Os paraguaios encontraram pouca resistência dos argentinos na margem oeste ou dos brasileiros na margem leste. López acreditava que se conseguisse controlar o Rio Grande do Sul e invadir o Uruguai, os escravos brasileiros iriam subelevar-se e os recém expulsos blancos uruguaios voltariam a pegar em armas.
Terceira fase da guerra: estagnação (1866-1868)
  No segundo período da guerra, os desentendimentos entre Osório (comandante das forças brasileiras) e o presidente argentino, que se opunha às perseguições aos paraguaios, levou o governo brasileiro a substituí-lo. Designado em 10 de outubro de 1866 para o comando das forças brasileiras, o marechal Luís Alves de Lima e Silva, marquês e, posteriormente, Duque de Caxias. Assumiu suas funções em Tuiuti, em 19 de novembro, encontrando o exército praticamente paralisado. Os contingentes argentinos e uruguaios vinham sendo retirados aos poucos do exército dos aliados, assolado por epidemias. Desentendimentos entre Venâncio Flores (Uruguai) e Mitre (Argentina) e problemas internos fizeram ambos se retirarem do combate e voltarem a seus países, deixando o Brasil praticamente sozinho. Tamandaré foi substituído no comando da esquadra pelo almirante Joaquim José Inácio, futuro visconde de Inhaúma. Paralelamente, Osório organizou um 3º corpo de exército no Rio Grande do Sul, com mais de cinco mil homens. Na ausência de Mitre, Caxias assume o comando geral e providenciou a reestruturação do exército.
Rendição de Uruguaiana, em 1865
  Entre novembro de 1866 e julho de 1867, Caxias organizou um corpo de saúde e um sistema de abastecimento das tropas. Conseguiu também que a esquadra imperial, que se ressentia do comando de Mitre, colaborasse nas manobras contra Humaitá. Nesse período, as operações militares limitaram-se aos conflitos com os paraguaios e a bombardeios da esquadra contra Curupaiti, na província de Santa Fé (Argentina).
  Apesar dos esforços de Caxias, a ofensiva pelos aliados só teve reinício no dia 22 de julho de 1867. A base tática de Caxias era atacar pela ala esquerda das fortificações paraguaias, objetivando ultrapassar o reduto fortificado, cortar as ligações entre Assunção e Humaitá e submete-la a um cerco. A manobra de Caxias foi bem-sucedida, porém, devido o tempo decorrido para essa operação ter sido muito longo, permitiu que López fortificasse a região.
Operação das forças aliadas para a passagem de Humaitá (1866-1868)
Quarta fase: os aliados retomam a ofensiva (1868-1869)
  Mitre deu ordens para que a esquadra imperial forçasse a passagem em Curupaiti e Humaitá. No dia 15 de agosto de 1867, duas divisões de cinco encouraçados ultrapassaram Curupaiti, mas foram detidos pelos poderosos canhões da fortaleza de Humaitá. Os aliados completaram o cerco à fortaleza após terem tomado São Solano, Vila do Pilar e Tavi, às margens do rio Paraguai, cortando as comunicações fluviais entre Humaitá e Assunção. López reagiu, atacando a retaguarda da posição aliada em Tuiuti, mas os aliados conseguiram derrotar as tropas paraguaias graças ao reforço trazido de Porto Alegre.
  Em janeiro de 1868, com o afastamento definitivo de Mitre, que retornou à Argentina, Caxias voltou a assumir o comando geral dos aliados. Em 19 de fevereiro a esquadra imperial capitão-de-mar-e-guerra Delfim Carlos de Carvalho, forçou a passagem de Humaitá. Apesar de os navios encouraçados terem ultrapassado a fortaleza, chegando a bombardear Assunção, só em 25 de julho de 1868 Humaitá foi totalmente cercada e tomada pelos aliados.
Passagem de Humaitá
Quinta fase: caça a Solano López e fim da guerra (1869-1870)
  No terceiro período da guerra (1869-1870), o genro do imperador Dom Pedro II, Luís Filipe Gastão de Orléans, o Conde d'Eu - marido da princesa Isabel -, foi nomeado para dirigir a fase final das operações militares no Paraguai, objetivando derrotar o governo paraguaio e fortalecer o Império brasileiro. Ele era um dos poucos da família imperial com experiência militar, já que na década de 1850 participara, como oficial subalterno, da campanha espanhola na Guerra do Marrocos. A indicação de um membro da família imperial pretendia diminuir as dificuldades operacionais das forças brasileiras, problema agravado pelos muitos anos de campanha, pela insatisfação dos veteranos e pelos conflitos, políticos e pessoais, que se alastravam entre os oficiais mais experientes.
  Em agosto de 1869, a Tríplice Aliança instalou em Assunção um governo provisório fantoche, aliado de pessoas contrárias à Solano, encabeçado pelo paraguaio Cirilo Antonio Rivarola. O Império acelerou o processo para a formação do governo, realizando eleições no ano seguinte e criando uma assembleia constituinte.
Unidade de Cavalaria do Paraguai, atacado pelas tropas aliadas
  Solano López tentando resistir, refez um pequeno exército de 5.000 homens, a maioria velhos, crianças e veteranos semi-inválidos e 36 canhões, na região montanhosa de Ascurra-Caacupê-Peribebuí, aldeia que transformou em sua capital. À frente de 12 mil homens estava o conde d'Eu, que chefiou a campanha contra a resistência paraguaia na chamada Campanha das Cordilheiras, encerrada em 12 de agosto de 1869.
  O exército brasileiro defendeu as posições inimigas de Ascurra e venceu a batalha de Peribebuí. Na batalha seguinte, na região do atual Mato Grosso do Sul, as forças brasileiras se defrontaram com um exército formado, em sua maioria, por adolescentes, crianças e idosos, recrutados a força pelo ditador paraguaio. A derrota paraguaia encerrou o ciclo de batalhas da guerra. López abandonou Ascurra e adentrou-se nas matas fugindo das tropas brasileiras, marchando sempre para o norte.
Rendição de Uruguaiana, por Victor Meireles
  Dois destacamentos foram enviados em perseguição ao presidente paraguaio. No dia 1º de março de 1870, as tropas do general José Antônio Correia da Câmara, o Visconde de Pelotas, surpreenderam o último acampamento paraguaio, em Cerro Corá, onde Solano López foi ferido a lança pelo cabo Chico Diabo e depois baleado, nas barrancas do arroio Aquidabanigui, após recusar-se à rendição. Depois de Cerro Corá, as tropas brasileiras ficaram eufóricas, assassinando civis, pondo fogo em acampamentos e matando feridos e doentes que se encontravam nos ranchos. Esse não era o desejo de Dom Pedro II, que preferia ter López preso do que morto. No Rio de Janeiro, a morte de López fez com que a popularidade do Imperador aumentasse - já que havia caído bruscamente com a guerra. Em 20 de junho de 1870, Brasil e Paraguai assinaram um acordo preliminar de paz.
Cadáveres paraguaios após a Batalha de Boquerón, em 1866
  Apesar de todas as dificuldades, o Paraguai resistiu perto de cinco anos de guerra, mostrando o grau relativamente alto de desenvolvimento e autossuficiência que havia obtido, além do engajamento de sua população em defesa do país.
  O maior contingente das tropas da Aliança foi fornecido pelo exército brasileiro, que até então praticamente inexistia. Naquela época, a Guarda Nacional cumpria, ainda que mal, as funções normalmente destinadas ao exército. Já em janeiro de 1865, por decreto imperial, foram criados os corpos dos Voluntários da Pátria, com vantagens de soldo e gratificações para cidadãos entre 18 e 50 anos que se alistassem. Enquanto boa parte da elite - representada pela Guarda Nacional - resistia em ir para a guerra, populares engrossaram com entusiasmo as convocações, chegando rapidamente a 10 mil voluntários, total programado pelo governo.
Preparativos para o festejo da vitória no Brasil, em 1870
  Para ampliar o contingente de soldados, em novembro de 1866 foi decretado que os escravos que voluntariamente se apresentassem  para lutar na guerra obteriam a liberdade. Muitos se alistaram dessa maneira, mas outros foram obrigados a fazê-lo no lugar dos filhos dos seus senhores que haviam sido recrutados. Esses soldados, recrutados à força, receberam, depois, o apelido de "voluntários a pau e corda". Junto a eles, outro grupo destacou-se em meio aos confrontos: os indígenas.
  Em 1868, o Brasil alcançou expressiva vitória na Batalha de Tuiuti. Luís Alves de Lima e Silva, o barão de Caxias, assumiu o comando das forças militares imperiais, vencendo rapidamente importantes batalhas que foram chamadas de "dezembradas", por terem acontecido no mês de dezembro de 1868. Essas batalhas abriram caminho para a invasão de Assunção, capital paraguaia, tomada em janeiro de 1869. O conde D'Eu, genro do imperador, liderou a última fase da guerra, conhecida como Campanha da Cordilheira, completada com a morte de Solano López em 1870.
  A guerra devastou o território paraguaio, desestruturando sua economia e causando a morte de mais de 300 mil pessoas, número que nas Américas só foi inferior às perdas humanas da Guerra de Secessão, nos Estados Unidos. Acredita-se que a Guerra do Paraguai tenha sido responsável pela morte de mais de 90% da população masculina paraguaia com mais de 20 anos, sobrevivendo a população formada predominantemente por velhos, crianças e mulheres.
Em laranja, os territórios perdidos após a derrota paraguaia para os Aliados
  Além das mortes em combate, foram devastadoras as epidemias, principalmente a de cólera, que atingiram os homens de ambos os lados da guerra. Acrescente-se ainda que os governos da Tríplice Aliança adotaram uma política genocida contra a população paraguaia.
  Para o Brasil, além da morte de aproximadamente 40 mil homens (sobretudo negros e mestiços), a guerra trouxe forte endividamento com os ingleses. Tida como principal beneficiária do conflito, a Inglaterra forneceu armas e empréstimos, ampliando seus negócios na região e acabando com a experiência peculiar da economia paraguaia.
  O Brasil conseguiu a manutenção da situação na Bacia do Prata, embora a um preço exorbitantemente alto, dadas as grandes perdas geradas pela guerra. Mas a principal consequência da Guerra do Paraguai foi o fortalecimento e a institucionalização do exército, com o surgimento de um grande e disciplinado corpo de oficiais experientes, pronto a defender os interesses da instituição. Além disso, seu poder bélico tornava-o uma organização capaz de impor suas ideias à força, caso necessário - o que acrescentou uma dose de instabilidade ao regime imperial.
Prisioneiros paraguaios durante a ocupação de Assunção
FONTE: Vicentino, Cláudio. História geral e do Brasil / Claúdio Vicentino, Gianpaolo Dorigo - 2. ed. - São Paulo: Scipione, 2013.

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